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BIOGRAFIA DE VLADIMIR CARVALHO

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Quadro 22<br />

Pantasmas<br />

A estranha palavra não saíra de minha cabeça desde<br />

que o preto Manuel a pronunciou na despedida<br />

das filmagens de Aruanda, em 1959. Protagonista<br />

do filme, ele se afeiçoara à equipe e estava desolado<br />

enquanto encaixotávamos o equipamento.<br />

Alguém apontou as latas de negativo e disse que<br />

ali estava contido todo o nosso duro trabalho. Ao<br />

que ele respondeu, lapidar: Vosmecês são uma<br />

nação de gente fina, não sei prá quê estão levando<br />

a minha pantasma presa aí nessas latas...”<br />

Eram farrapos de palavras antigas, talvez restos de<br />

um português quinhentista que ainda não tinham<br />

sido apagados da oralidade nordestina. Pantasma,<br />

para ele, certamente equivaleria a sombra, vulto,<br />

alma, retrato, qualquer cópia imperfeita das coisas.<br />

Podia ser uma derivação de grafias antigas com ph.<br />

Fantasma em inglês é phantom; e tela de cinema<br />

em espanhol é pantalla.<br />

O fato é que a expressão ficou ecoando em meu<br />

espírito, sugerindo uma certa definição de arte.<br />

A arte não é a realidade, mas apenas o signo<br />

dela, pantasma. Penso que isso tem a ver com um<br />

aspecto mágico da realidade nordestina – a possibilidade<br />

mutante, os exageros de imaginação que<br />

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