centro federal de educação tecnológica do ceará – cefet/ce
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As entrevistas realizadas com os trabalhadores do SGRSD de Fortaleza foram fundamentais para o conhecimento de todo um cenário de riscos ambientais e ocupacionais. Porto (2007) traz - de forma muito instigante - a complexidade inerente à compreensão de tais riscos e elucida um primeiro passo nesse sentido quando destaca que [...] os valores, interesses e conhecimentos situados (relativos à vivência do cotidiano) dos trabalhadores, moradores e cidadãos em geral devem ser levados em consideração ao compreendermos os riscos. Ainda segundo Porto (2007, p.33), À medida que as discussões sobre os riscos ocupacionais e ambientais modernos tornam-se mais relevantes e buscam apreender suas complexidades, fica cada vez mais claro que tais riscos não são somente assunto de interesse para técnicos e especialistas das áreas tecnológicas, biomédica e ecológica. [...] os riscos ocupacionais e ambientais envolvem dimensões éticas, políticas e culturais que têm mais a ver com as vidas das pessoas e as relações de poder na sociedade e nas empresas do que com o mundo restrito da ciência, da técnica e da economia. Sem perceber os inconvenientes do trabalho com os RSD, alguns entrevistados (membros da Associação de Catadores) afirmaram que esse ofício não é ‘ruim”, como se ilustra nos pronunciamentos a seguir: “...trabalhar com o lixo é bom não é?!, porque aqui o trabalho tá bom, é um trabalho tranqüilo, calmo, não tem vexame nem nada e ninguém se aperreia, nem nada; trabalha até dez hora, dez e meia, aí vai pra casa...” (Entrevistado 10, Membro da Associação de Catadores). “...É um serviço que eu gosto. A gente trabalha a hora que quer, a gente ganha o dinheiro da gente, compra o que comer, as coisas da gente. Acho bom trabalhar...” (Entrevistado 9, Membro da Associação de Catadores). Cabe aqui pontuar alguns aspectos acerca ‘do lugar’ de onde falam os Membros da Associação de Catadores, ou seja, de um espaço no qual se trabalha apenas com resíduos recicláveis que já vem separados das ‘’fontes geradoras e doadoras”; de um lugar onde há distribuição de tarefas e limite nas cargas horárias de trabalho - diferente, portanto, da Usina de Triagem. 81
Observamos que os entrevistados elegem como vantagem primeira do trabalho na ASCAJAN a autonomia na gestão do tempo, pois quase todos cumprem jornadas de trabalho de apenas um turno e que dá uma espécie de “sensação de liberdade”. É como se eles não precisassem pedir licença ao patrão ou à patroa para descansar ou conversar com os colegas. Essa sensação de liberdade agrada aos catadores, pois o estudo de Velloso (2005) nos mostra que um dos seus entrevistados trabalhava como motorista, perdeu o emprego e começou a catar papel. Mais tarde teve a oportunidade de retornar a antiga profissão, mas optou por ser catador, justificando sua escolha pelo desejo de não se submeter a um patrão, o que levaria a abrir mão da sua autonomia. Tal sensação também foi observada por Zaneti (2006) nos diálogos com seus catadores. As visitas à ASCAJAN permitiram observar que o trabalho com os resíduos recicláveis conta com o auxílio de alguns Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), o que deve representar para os entrevistados um meio para se sentirem mais seguro, porém é comum encontrá-los desprotegidos. É importante lembrar que apenas o acesso aos Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) não cessa os problemas inerentes a qualquer atividade que apresente potencial impacto à saúde dos trabalhadores. Porto (2007, p.27) lembra que: [...] uma análise contextualizada, com apoio de disciplinas como a ergonomia e a ergologia, poderia revelar que muitas vezes os EPI’s são ineficientes, custosos, extremamente desconfortáveis em ambiente quentes ou ainda incompatíveis com as exigências de produtividade exigidas pela gerência. Ainda segundo Porto (2007, p.27): [...] os trabalhadores cada vez mais aprendem e se capacitam para o desenvolvimento de suas atividades e, com isso, tendem a aceitar certas situações como parte do jogo. Porém, os responsáveis técnicos pela segurança denominam essas situações como “falta de consciência” ou “ato inseguro” dos trabalhadores, desprezando o contexto de fundo e rapidamente passando a figura do trabalhador de vítima para culpado. 82
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<strong>de</strong>scansar ou conversar com os colegas.<br />
Essa sensação <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> agrada aos cata<strong>do</strong>res, pois o estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Velloso<br />
(2005) nos mostra que um <strong>do</strong>s seus entrevista<strong>do</strong>s trabalhava como motorista,<br />
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As visitas à ASCAJAN permitiram observar que o trabalho com os resíduos<br />
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[...] uma análise contextualizada, com apoio <strong>de</strong> disciplinas como a<br />
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ou ainda incompatíveis com as exigências <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> exigidas pela<br />
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Ainda segun<strong>do</strong> Porto (2007, p.27):<br />
[...] os trabalha<strong>do</strong>res cada vez mais apren<strong>de</strong>m e se capacitam para o<br />
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