centro federal de educação tecnológica do ceará – cefet/ce
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As variadas perspectivas apresentadas pelos entrevista<strong>do</strong>s sobre o “lidar com<br />
o lixo”, sobre a relação <strong>de</strong>ste com a saú<strong>de</strong> e com o ambiente permitiram<br />
compreen<strong>de</strong>r o local <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vivem e trabalham. Assim, os garis falam <strong>de</strong> um lugar<br />
repleto <strong>de</strong> muito trabalho: são 8 horas/dia com a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coletar<br />
9.000Kg <strong>de</strong> RSD em menos <strong>de</strong> 3 horas, com esforço físico (correr, <strong>de</strong>s<strong>ce</strong>r/subir ruas,<br />
levantar peso, pular para o estribo <strong>do</strong> veículo) e marca<strong>do</strong> por más relações <strong>de</strong><br />
trabalho. Deve-se ainda consi<strong>de</strong>rar que não existe pausa durante o pro<strong>ce</strong>sso da<br />
coleta e que os coletores realizam suas tarefas em ritmo a<strong>ce</strong>lera<strong>do</strong>.<br />
Os integrantes da Usina <strong>de</strong> Triagem falam <strong>de</strong> um lugar aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> pelos<br />
órgãos competentes e socieda<strong>de</strong>, subordina<strong>do</strong> aos interesses <strong>de</strong> <strong>do</strong>nos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>pósitos e claramente propício à problemas ocupacionais: são 10 horas/dia <strong>de</strong><br />
trabalho em pé e em contato com materiais diversos. Já os membros da ASCAJAN<br />
falam <strong>de</strong> um lugar mais salubre, entretanto com ganhos reduzi<strong>do</strong>s e que espera<br />
materiais recicláveis provenientes da “solidarieda<strong>de</strong> alheia”.<br />
Vale ressaltar que o trabalho com o RSD <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pelos entrevista<strong>do</strong>s<br />
não tem uma única representação ou senti<strong>do</strong>, ou é <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> características ruins<br />
ou <strong>de</strong> características boas. Ele abarca tanto aspectos positivos quanto negativos na<br />
visão <strong>do</strong>s sujeitos, por isso, a relação trabalho-RSD é complexa e porta<br />
ambivalências, refletin<strong>do</strong> a dialética inclusão/exclusão, saú<strong>de</strong>/<strong>do</strong>ença,<br />
orgulho/humilhação, vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> continuar/aban<strong>do</strong>nar.<br />
Os <strong>de</strong>poimentos permitiram i<strong>de</strong>ntificar que há um <strong>ce</strong>nário <strong>de</strong> riscos ambientais<br />
e ocupacionais durante o lidar com os RSD em Fortaleza/CE e, em <strong>de</strong>corrência da<br />
omissão e/ou <strong>de</strong>spreparo <strong>do</strong>s órgãos competentes e da socieda<strong>de</strong>, os responsáveis<br />
por esse ofício se tornam “invisíveis” - porque suas condições <strong>de</strong> trabalho e vida<br />
estão para a socieda<strong>de</strong> em geral e órgãos competentes, esquecidas.<br />
Neste trabalho, acreditamos que sujeitos envolvi<strong>do</strong>s - ainda ocultos e<br />
camufla<strong>do</strong>s na nossa cida<strong>de</strong> - pu<strong>de</strong>ram ter um pouco <strong>de</strong> “vez e voz”, mesmo lidan<strong>do</strong><br />
com os “ex<strong>ce</strong>ssos da cida<strong>de</strong>” e com a “escuridão da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>”.<br />
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