centro federal de educação tecnológica do ceará – cefet/ce

Desta forma, Fortaleza/CE resolveu um “problema” - a questão dos seus
lixões - e criou outro: o fato de expor muitos trabalhadores ao contato diário (direto
ou indireto) com diversos tipos de resíduos sólidos sem levar em conta as
repercussões para a saúde dessas pessoas. Portanto, consideramos que essa
pesquisa representou um passo para sistematizar tais informações à medida que
resgatou historicamente a problemática dos RSD em Fortaleza/CE interligando-a
com a visão de alguns trabalhadores do Sistema de Gerenciamento de Resíduos
Sólidos Domiciliares (SGRSD).
A abordagem qualitativa dada pesquisa possibilitou compreender que os
entrevistados percebem uma (inter)relação entre os RSD, o ambiente e a saúde na
medida em que mencionaram os componentes dos RSD (vidros, agulhas, ferros,
plásticos, papéis, etc.) com o quais lidam e que podem representar riscos à saúde;
expressaram o que esses RSD significam; apontaram alguns problemas
ocupacionais e destacaram a importância das suas atividades na melhoria das
condições sanitárias e ambientais da cidade. Certamente, conflitos e contradições
também foram percebidos em suas falas, mesmo resguardando o “mundo” de cada
grupo entrevistado.
As entrevistas com os garis e catadores permitiram revelar um pouco de como
eles vêem o mundo; as suas concepções de saúde, doença, “sujeira”, limpeza,
dignidade, entre outras. Permitiram ainda revelar aspectos do cotidiano dessas
pessoas, um pouco sobre seus conhecimentos, trabalho, relação trabalho-capital e
das relações com o trabalho mediado pelos donos dos depósitos (no caso dos
integrantes da Usina de Triagem e ASCAJAN) e pelo patrão (no caso dos garis).
No âmbito das colocações dos entrevistados, observamos: i) a atribuição de
significados à prática de lidar com os RSD, ii) a diversidade dos problemas que tal
atividade gerou, gera e ainda poderá gerar à saúde e iii) o agravamento dessas
“morbidades” numa perspectiva de futuro porque, entre os vários fatores, não há
uma política de saúde do trabalhador e os serviços de saúde, de um modo geral, de
Fortaleza - na visão dos entrevistados - não “resolvem” demandas tão específicas à
contento. Além disso, as precárias condições de vida e saúde (ou adoecimento)
desses sujeitos não devem ser esquecidas.
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