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centro federal de educação tecnológica do ceará – cefet/ce

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Apesar da <strong>de</strong>svalorização <strong>do</strong> próprio trabalho, um entrevista<strong>do</strong> afirmou que<br />

trabalhar com os RSD é digno, como se per<strong>ce</strong>be no seu <strong>de</strong>poimento:<br />

“...eu consi<strong>de</strong>ro digno porque tem muita gente aí que<br />

tem estu<strong>do</strong> e tá fazen<strong>do</strong> coisa errada. Pessoa que tem<br />

tu<strong>do</strong> pra ganhar alguma coisa pela frente, e eu to aqui<br />

trabalhan<strong>do</strong> pra sustentar minha família até porque eu<br />

aju<strong>do</strong> minha mãe também...” (Entrevista<strong>do</strong> 6, Integrante da<br />

Usina <strong>de</strong> Triagem).<br />

O relato acima possui uma característica bem interessante: o trabalho com os<br />

RSD é classifica<strong>do</strong> como digno em comparação a, por exemplo, atos <strong>de</strong>lituosos<br />

cometi<strong>do</strong>s por pessoas que tiveram ou têm a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudar. Dito <strong>de</strong> outra<br />

forma, o trabalho com os RSD não é digno por si só, mas passa a ser quan<strong>do</strong><br />

compara<strong>do</strong> a “referenciais piores” e quan<strong>do</strong> é visto como meio <strong>de</strong> sobrevivência.<br />

No estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Paixão (2005) emergiu um <strong>de</strong>poimento semelhante, pois as<br />

cata<strong>do</strong>ras assumem, sem constrangimentos, que trabalham num lixão, mas tentam<br />

escon<strong>de</strong>r a negativida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ofício (que lembra sujeira) se comparan<strong>do</strong> as pessoas<br />

que estão rouban<strong>do</strong>, matan<strong>do</strong> ou mesmo não trabalhan<strong>do</strong>. Nessa perspectiva, as<br />

cata<strong>do</strong>ras enfrentam a <strong>de</strong>squalificação afirman<strong>do</strong> que o que importa é que estão<br />

trabalhan<strong>do</strong>, garantin<strong>do</strong> a sobrevivência da família com honestida<strong>de</strong>, sem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> ter<strong>ce</strong>iros.<br />

Aparentemente, o <strong>de</strong>poimento acima traz ainda a idéia <strong>de</strong> que “trabalhar com<br />

os RSD” é um mo<strong>do</strong> legítimo <strong>de</strong> se obter renda e meio <strong>de</strong> se diferenciar <strong>de</strong> um<br />

mendigo ou <strong>de</strong> um vadio. A pesquisa <strong>de</strong> Tosta (2003, p.219) mostrou que é “sempre<br />

retomada pelos mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> rua a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se diferenciarem socialmente e<br />

se distinguir <strong>do</strong> ‘mendigo profissional’ que vive somente à custa <strong>de</strong> esmolas”. O que<br />

há <strong>de</strong> semelhante entre o integrante da Usina <strong>de</strong> Triagem aqui entrevista<strong>do</strong> e os<br />

mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> rua entrevista<strong>do</strong>s por Tosta (2003) é a pobreza.<br />

O trabalho que os integrantes da Usina <strong>de</strong> Triagem realizam não é um<br />

trabalho qualquer. Além <strong>de</strong> não ser reconheci<strong>do</strong>, “<strong>de</strong>squalifica” socialmente esses<br />

sujeitos. Suas vidas são reguladas pela luta cotidiana pela sobrevivência e pela<br />

tentativa <strong>de</strong> provar aos outros e a si mesmos que são trabalha<strong>do</strong>res dignos. Paixão<br />

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