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As falas dos nossos entrevistados abrem possibilidades ainda para discutir a relação que existe entre a produção de chorume - chamado por um dos nossos entrevistados de “a água do lixo” e a contaminação ambiental. Nesse sentido, além dos trabalhos de Cintra, Hamada e Filho (2002), Pacheco e Peralta-Zamora (2004), Capelo Neto e Castro (2005), resgatamos alguns resultados alcançados por Sisinno e Moreira (1996), em um estudo que avaliou as concentrações de contaminantes químicos e biológicos no líquido percolado (chorume) da área do aterro controlado do Morro do Céu (Niterói - RJ) e por Mattos (2006), que caracterizou e avaliou as pressões ambientais provocadas pelos resíduos sólidos urbanos nos recursos hídricos na área de influência do Aterro Controlado de Rio Branco-AC. Conforme os resultados de Sisinno e Moreira (1996), a área estudada apresenta uma baixa contaminação por metais (Cádmio, Cromo, Cobre, Ferro, Manganês, Níquel, Chumbo e Zinco), mas elevada contaminação orgânica e microbiológica das águas subterrâneas e superficiais, dos solos e sedimentos, contribuindo para um agravamento na degradação ambiental e um decréscimo na qualidade de vida dos moradores das proximidades. Para os autores, o chorume caracterizado na área do aterro controlado do Morro do Céu (Niterói - RJ) é altamente poluidor em decorrência da alta carga de compostos orgânicos transportada e da presença de coliformes (totais e termo-tolerantes). No estudo de Mattos (2006), observamos que a toxicidade do chorume - medida através de variáveis microbiológicas, físico-químicas e de metais pesados -, implica em degradação ambiental da sub-bacia do Igarapé Batista, pois foram encontradas concentrações elevadas de metais pesados (Mercúrio, Cromo, Manganês e Zinco) em pontos de amostragens do aterro controlado de Rio Branco- AC, além de altas concentrações de coliformes totais e termo-tolerantes. Os resultados apresentados pelos autores nos tocam no sentido de associar que tais contaminações podem estar acontecendo nas áreas que comportaram os cinco lixões de Fortaleza/CE (Lixão do Monte Castelo, da Barra do Ceará, do Antônio Bezerra, do Henrique Jorge e do Jangurussu) e, mais recentemente nos três aterros sanitários da Região Metropolitana de Fortaleza (01 em Caucaia, 01 um Maracanaú e 01 em Aquiraz). 117
Como bem ressaltou Mattos (2006, p.21) “é de se presumir, também, que muitos aterros controlados e sanitários mal construídos, podem estar alterando a qualidade ambiental dos recursos hídricos e comprometendo conseqüentemente a sustentabilidade dos ecossistemas aquáticos”. Assim, preocupações como a contaminação dos solos e dos recursos hídricos, das plantas, dos animais e do homem, decorrentes da presença de elementos metálicos ou biológicos, provenientes da inadequada disposição de resíduos sólidos urbanos, conduzem pesquisadores a direcionarem seus objetivos de pesquisas a estes problemas. Além dessas visões, nossos entrevistados recomendaram que o ambiente deve ser preservado, porém, uma responsabilidade coletiva - a preservação do ambiente - vem, na perspectiva dos RSD, se transformando num trabalho individual, conforme os seguintes depoimentos: “Eu acho que esse negócio de meio ambiente era pra ser assim: todo mundo limpando seu próprio quintal...” (Entrevistado 10, Membro da Associação de Catadores). “...o meio ambiente é pra ser bem tratado não é?! porque se você tratar meio ambiente tá favorecendo a você mesmo, não tá favorecendo a ninguém não...” (Entrevistado 8, Integrante da Usina de Triagem). Relatos dessa natureza - que também apareceram no estudo de Zaneti (2006) - são importantes para evidenciar que os trabalhadores entrevistados percebem uma interdependência entre o ambiente e os humanos. Ainda nessa seção os sujeitos entrevistados relataram outros aspectos que inter-relacionam o trabalho com os RSD e o ambiente, conforme os seguintes depoimentos: “...tem uma rampa como daqui aquele menino ali, uma rampa, a gente vai passa o carro direto e não alimpa a rampa, aquilo ali com dois ou três dias já ta poluindo o ar, que a pessoa respira, ta entendendo?!...” (Entrevistado 4, Gari). Nesse relato há duas preocupações básicas. A primeira está relacionada com a poluição do ar pelos RSD e que, inclusive, foi discutida no referencial teórico dessa 118
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