centro federal de educação tecnológica do ceará – cefet/ce
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Assim, o mo<strong>do</strong> simples <strong>de</strong> viver reflete na forma <strong>de</strong> pensar - como<br />
conseqüência <strong>de</strong> muitos anos trabalhan<strong>do</strong> com os RSD sem registros <strong>de</strong> melhorias,<br />
sem apoio <strong>do</strong>s órgãos competentes e sem contribuição da socieda<strong>de</strong> na segregação<br />
<strong>do</strong>s resíduos (seco e úmi<strong>do</strong>) -, conforme seus <strong>de</strong>poimentos:<br />
“...ganho pouco, mas o pouco pra mim, já dá..”<br />
(Entrevista<strong>do</strong> 6, Integrante da Usina <strong>de</strong> triagem)<br />
“...aqui o camarada ganha uma coisa só; aqui ninguém<br />
ganha mais que o outro...” (Entrevista<strong>do</strong> 10, Membro da<br />
Associação <strong>de</strong> Cata<strong>do</strong>res).<br />
É possível situar os <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um olhar complementar e trazi<strong>do</strong><br />
por Mello (2004). Segun<strong>do</strong> a autora (p.4), “um <strong>do</strong>s traços comumente encontra<strong>do</strong>s<br />
nas relações econômicas <strong>do</strong>s sujeitos que ‘catam’ o lixo é o que chamamos da<br />
economia das trocas”, assim entendida:<br />
4.4.3 - Que Lixo é Esse?<br />
Os objetos são valora<strong>do</strong>s, porém o próprio valor é re-significa<strong>do</strong>, já que há<br />
pouca ou nenhuma circulação <strong>de</strong> moeda entre os sujeitos. Prática habitual<br />
é a troca <strong>de</strong> valores por outros valores. Trabalha-se em troca <strong>de</strong> dívidas; se<br />
um sujeito ajuda outro em alguma tarefa, fica lhe <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> um favor, que<br />
po<strong>de</strong> ser “pago” <strong>de</strong> diferentes formas: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> um outro trabalho ou serviço<br />
ou até através <strong>de</strong> objetos <strong>de</strong> valor encontra<strong>do</strong>s no lixo. Fica também resignificada<br />
a compreensão <strong>do</strong> que seja a dívida: nada é favor, tu<strong>do</strong> a<br />
princípio vale. E <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> se espera a retribuição, ainda que compreendida<br />
<strong>de</strong> forma peculiar (MELLO, 2004, p.4).<br />
Se a existência <strong>de</strong> uma par<strong>ce</strong>la <strong>de</strong> pessoas em situação socialmente<br />
precária <strong>de</strong>corre, também, <strong>de</strong> pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> ruptura <strong>do</strong>s laços <strong>de</strong><br />
solidarieda<strong>de</strong>, por parte <strong>de</strong> um conjunto da socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> grupo<br />
comunitário esse tem si<strong>do</strong> um elemento importante para que essa par<strong>ce</strong>la<br />
possa tanto sobreviver quanto buscar superar suas precárias condições <strong>de</strong><br />
vida. [...] essas relações <strong>de</strong> auto-ajuda e <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> são básicas, em<br />
vários casos, para a composição <strong>de</strong> uma estrutura social entre eles ten<strong>do</strong><br />
como base a re<strong>de</strong> econômica (DAVID DE OLIVEIRA, 2003, p.186).<br />
Essa categoria traz os <strong>de</strong>poimentos <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res a<strong>ce</strong>rca <strong>do</strong>s tipos <strong>de</strong><br />
materiais com os quais diariamente lidam, seja na Coleta Domiciliar, na Associação<br />
ou Usina <strong>de</strong> Triagem, resguardadas as proporções. Nos <strong>de</strong>poimentos, é fundamental<br />
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