centro federal de educação tecnológica do ceará – cefet/ce

de um modo geral, que são as pessoas que integram a “classe média ou alta” que
têm a oportunidade de estudar por um tempo maior, alcançar a universidade e até
cursar pós-graduações.
É imprescindível dizer que não estamos afirmando que os “menos
favorecidos” não têm acesso à escola, que não podem traçar um brilhante caminho
nos estudos e consequentemente no mercado de trabalho formal, mas os desafios a
serem enfrentados por esse “grupo” são nitidamente maiores, até porque muitos
precisam dividir o dia entre o “tempo da escola” e o “de ajudar em casa”, como nos
trouxe Paixão (2005) ao estudar um grupo de catadoras, suas condições de vida e
seus contatos com a escola. Há uma desigualdade de oportunidade.
Pesquisas têm explorado a relação entre a escolarização dos pais e a dos
filhos. Há evidente relação entre capital escolar dos pais e chances de
sucesso escolar dos filhos. Pais mais escolarizados têm mais capital
cultural, compreendem o sistema educacional, fazem escolhas sobre o tipo
de instituição e de professores que propiciam escolaridades consideradas
de sucesso para seus filhos e têm melhores condições de responder às
expectativas do colégio no acompanhamento dos filhos, de assumir as
funções de professor oculto (PAIXÃO, 2005, p.149).
Bourdieu (1998) apud Paixão (2005) mostrou, já anos 1960, que a
possibilidade de o indivíduo seguir uma trajetória escolar regular e longeva depende
de pré-requisitos que não compõem o universo cultural de camadas sociais não
dominantes. Portanto, quando observamos o cenário de vida e trabalho dos
catadores e garis de Fortaleza/CE percebemos que tais pessoas surgiram (e ainda
permanecem) imersos em um quadro pouco propício aos estudos e que
precocemente os demandou trabalhar em decorrência das precárias condições de
vida da família de origem.
Nos parece que as condições socioeconômicas dos garis e catadores
estudados apenas reproduzem as vivenciadas por seus pais, avós, entre outros, e,
pelo que observamos, tais condições permanecerão para seus filhos, pois se
olharmos os depoimentos perceberemos que o trabalhador associa sua atual
condição à “falta de estudo” [auto-culpabilização], e dentro das suas condições
econômicas, ele não proverá bons estudos para seus filhos.
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