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26.07.2013 Views

Pela intensidade das falas dos garis, aparentemente, o medo de contrair alguma infecção ao lidar com os RSD se refere a doenças mais graves e não passíveis de cura com o uso de medicação e/ou tratamento, ou seja, a possibilidade de cura determina a importância de uma doença. O contato freqüente com agentes nocivos à saúde torna a coleta do lixo uma das atividades profissionais mais arriscadas e insalubres (YANG et al 2001 apud NUNES e CUNHA, 2004). Contraditoriamente, os trabalhados deveriam por isso receber redobrada atenção, informações necessárias relativas à saúde, proteção e segurança no trabalho, além de supervisão constante, sendo observados quanto à utilização adequada de equipamentos de proteção (NUNES e CUNHA, 2004). No estudo de Dall’Agnol e Fernandes (2007), as manifestações das catadoras participantes convergiram para uma única certeza: ter saúde é não contrair uma doença grave como o câncer, AIDS e tuberculose, sendo tais moléstias evocadas a partir de situações que vivenciaram na família ou muito próximas de si. Rêgo, Barreto e Killinger (2002) desenvolveram um estudo que buscou conhecer os efeitos do lixo sobre a saúde humana tomando como ponto de partida as definições de lixo dadas pelos sujeitos envolvidos no processo de catação de recicláveis. De acordo com os autores (p.1586), [...] as mulheres demonstraram no seu discurso que o lixo é um problema na medida em que, acumulado no ambiente, é capaz de produzir odor desagradável, contribuir com mecanismos que provocam desastres como enchentes e alagamentos, servir como foco de atração de animais (gatos, cães, ratos, baratas, cobras, insetos) e provocar doenças em crianças e adultos. No estudo de Rêgo, Barreto e Killinger (2002) as principais patologias, sinais ou sintomas referidos pelas entrevistadas como decorrentes do contato com o lixo foram: verminoses, infecção intestinal (diarréia), gripe, leptospirose, dengue, meningite, dor de cabeça, dor de dente, febre, alergia e náusea. No estudo de Dall’Agnol e Fernandes (2007), a leptospirose também emergiu nos discursos das catadoras entrevistadas como um dos receios do contato com o 97

lixo, sob o nome de “a doença do rato”. Além da leptospirose, Ferreira e Anjos (2001, p.691), ao discursarem sobre as populações expostas à problemas de saúde provocados indiretamente pelo lixo, apontaram a dengue, “quando chuvas fortes carregam os resíduos sólidos e, acumuladas, propiciam condições favoráveis a epidemias”. Saindo um pouco do “mundo dos garis” e indo ao “mundo dos catadores da Usina de Triagem” observamos que o lixo também traz “medo” para os trabalhadores ali existentes e suas falas pontuam em que freqüência o lixo significa um perigo - que exige precauções constantes para se evitar quaisquer problemas de saúde até porque os RSD são o meio de sobrevivência dos catadores: “...a todo momento a gente tá em perigo com o lixo. O lixo é perigo...é muito perigoso...afeta a saúde” (Entrevistado 7, Integrante da Usina de Triagem). Deve ser muito difícil para os trabalhadores da Usina de Triagem conviver com o “medo” todo tempo, portanto, era de se esperar que eles desenvolvessem estratégias coletivas ou individuais de defesa, negação, sublimação, etc. para suportar o cotidiano 34 . Provavelmente, a diversidade de RSD despejada diariamente no pátio da Usina de Triagem os faz encontrar coisas tão diversas que “cada caminhão é uma caixa de surpresas”, portanto, o “medo” reluz. Os catadores da Usina de Triagem lidam com os RSD desde a sua criação em 1998, como já descrito anteriormente. Hoje, além das péssimas condições de trabalho, observamos que os integrantes da Usina estão expostos à produtos químicos (pilhas e baterias estouradas, óleos e graxas, pesticidas/herbicidas, solventes, tintas, produtos de limpeza, cosméticos, remédios e aerossóis) e biológicos (microorganismos que residem nos lenços de papel, curativos, fraldas descartáveis, papel higiênico, absorventes e agulhas). 34 Não descartamos a possibilidade de que estas estratégias já existirem na Usina de Triagem, mas elas não emergiram nas falas. 98

lixo, sob o nome <strong>de</strong> “a <strong>do</strong>ença <strong>do</strong> rato”. Além da leptospirose, Ferreira e Anjos (2001,<br />

p.691), ao discursarem sobre as populações expostas à problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

provoca<strong>do</strong>s indiretamente pelo lixo, apontaram a <strong>de</strong>ngue, “quan<strong>do</strong> chuvas fortes<br />

carregam os resíduos sóli<strong>do</strong>s e, acumuladas, propiciam condições favoráveis a<br />

epi<strong>de</strong>mias”.<br />

Sain<strong>do</strong> um pouco <strong>do</strong> “mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s garis” e in<strong>do</strong> ao “mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res da<br />

Usina <strong>de</strong> Triagem” observamos que o lixo também traz “me<strong>do</strong>” para os trabalha<strong>do</strong>res<br />

ali existentes e suas falas pontuam em que freqüência o lixo significa um perigo -<br />

que exige precauções constantes para se evitar quaisquer problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> até<br />

porque os RSD são o meio <strong>de</strong> sobrevivência <strong>do</strong>s cata<strong>do</strong>res:<br />

“...a to<strong>do</strong> momento a gente tá em perigo com o lixo. O<br />

lixo é perigo...é muito perigoso...afeta a saú<strong>de</strong>”<br />

(Entrevista<strong>do</strong> 7, Integrante da Usina <strong>de</strong> Triagem).<br />

Deve ser muito difícil para os trabalha<strong>do</strong>res da Usina <strong>de</strong> Triagem conviver<br />

com o “me<strong>do</strong>” to<strong>do</strong> tempo, portanto, era <strong>de</strong> se esperar que eles <strong>de</strong>senvolvessem<br />

estratégias coletivas ou individuais <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, negação, sublimação, etc. para<br />

suportar o cotidiano 34 . Provavelmente, a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> RSD <strong>de</strong>spejada diariamente<br />

no pátio da Usina <strong>de</strong> Triagem os faz encontrar coisas tão diversas que “cada<br />

caminhão é uma caixa <strong>de</strong> surpresas”, portanto, o “me<strong>do</strong>” reluz.<br />

Os cata<strong>do</strong>res da Usina <strong>de</strong> Triagem lidam com os RSD <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua criação<br />

em 1998, como já <strong>de</strong>scrito anteriormente. Hoje, além das péssimas condições <strong>de</strong><br />

trabalho, observamos que os integrantes da Usina estão expostos à produtos<br />

químicos (pilhas e baterias estouradas, óleos e graxas, pesticidas/herbicidas,<br />

solventes, tintas, produtos <strong>de</strong> limpeza, cosméticos, remédios e aerossóis) e<br />

biológicos (microorganismos que resi<strong>de</strong>m nos lenços <strong>de</strong> papel, curativos, fraldas<br />

<strong>de</strong>scartáveis, papel higiênico, absorventes e agulhas).<br />

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Não <strong>de</strong>scartamos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que estas estratégias já existirem na Usina <strong>de</strong> Triagem, mas elas não emergiram nas<br />

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