centro federal de educação tecnológica do ceará – cefet/ce
centro federal de educação tecnológica do ceará – cefet/ce centro federal de educação tecnológica do ceará – cefet/ce
A transação de dinheiro entre catadores e deposeiros traz a possibilidade de os primeiros contraírem dívidas com os segundos, que podem piorar a realidade dos catadores até porque a Prefeitura de Fortaleza não vem acompanhado a comunidade. Observamos que para a melhoria direta do trabalho e das condições de vida dos integrantes da Usina é preciso romper o “elo” com os deposeiros porque os prejuízos superam os benefícios 32 , portanto, esse é o primeiro desafio. Além disso, aos poucos, a cidade de Fortaleza vem criando uma rede de mercado alternativo entre associações e cooperativas que podem viabilizar o acesso direto às indústrias de reciclagem, o que deve excluir a participação desses intermediários. De forma auxiliar a esse processo, o Poder Público - em valorização dos catadores - não deve permitir que prevaleçam os interesses particulares (intermediários, industriais, etc.) em detrimento dos coletivos para que haja o empoderamento das categorias de catadores de resíduos recicláveis aqui estudadas, garantindo a sustentação da rede de catadores de Fortaleza e não a lógica de mercado, que é a da competição e dos interesses econômicos. De forma complementar a essa idéia, Zaneti (2006, p.223) nos traz que: Para manter vivo o caráter de rede solidária do processo de gestão de resíduos é necessário que a regulação seja feita pelo poder público e não pelo mercado. A regulação do mercado só regula o lucro. O poder público deve fazer a reordenação do processo, ele deve perceber as desordens e atuar com novas regulações garantindo o caráter socioeconômico e ambiental do sistema. Já nas falas dos catadores pertencentes à ASCAJAN compreendemos que só há uma solução quando acometidos por agravos à saúde durante o trabalho com os recicláveis: ir ao hospital porque “postos de saúde são ausentes na comunidade 33 ”: “Quando ocorre qualquer doença tem que ir pro hospital porque posto de saúde por aqui não tem...” (Entrevistado 9, Membro da Associação de Catadores). 32 O “benefício” que o deposeiro traz aos catadores da Usina de Triagem do Jangurussu é a compra dos materiais recicláveis. 33 Conforme ouvimos da comunidade não há posto de saúde próximo a Usina de Triagem. - há apenas no Bairro São Cristóvão, que dista de 3 a 5Km. 95
Observamos que além das alternativas anunciadas, alguns entrevistados adotam o auto-tratamento quando adquirem doenças ou sofrem agravos ao trabalharem com os RSD. No discurso que se segue, observamos que o sujeito utiliza drogas variadas: 4.4.2 - Os Significados do Lixo “...as vezes a gente se corta, mas toma o comprimido, passa o mertiolate e sara, poucos dias sara...” (Entrevistado 2, Integrante da Usina de Triagem). Ao serem entrevistados sobre o que significa os RSD, os garis e os integrantes da Usina de Triagem e da ASCAJAN, polarizaram seus discursos em três linhas principais: “O Lixo como Perigo”, “O Lixo como Meio de Sobrevivência” e o “O Trabalho com o Lixo como Necessidade”. 4.4.2.1 - O Lixo como Perigo Essa categoria reuniu os depoimentos acerca do “medo” que o RSD representa para alguns trabalhadores do SGRSD de Fortaleza/CE. Compreendemos que o indivíduo (no caso, o gari) teme o trabalho com o RSD mesmo utilizando luvas e tendo experiência no desempenho das suas atividades pelas possibilidades de adquirir alguma doença: “...o lixo significa uma coisa muito perigosa não é?!, em termos do mau cheiro, do contato com a pessoa. É uma coisa que tem que usar muita cautela...tem que tomar muito cuidado porque ele é um risco à saúde e a qualquer momento a gente pode ser contaminado e pegar uma infecção. Eu tenho medo de não ficar bom com uma infecção do lixo. Tem umas que se a pessoa pegar tem medo de não ser curado..” (Entrevistado 5, Gari). “...a gente tenta se recuperar para não pegar uma infecção no lixo, porque o lixo é um bicho muito perigoso...” (Entrevistado 2, Gari). 96
- Page 59 and 60: Dupas (1999, p.9), que esse “êxo
- Page 61 and 62: Com a desativação do Lixão do An
- Page 63 and 64: metropolitana. Aos catadores restou
- Page 65 and 66: Em Fortaleza/CE esse quadro é simi
- Page 67 and 68: Não observamos, nos documentos at
- Page 69 and 70: em mercadorias e alimentos) para ma
- Page 71 and 72: Fontes Geradoras (residências, por
- Page 73 and 74: (contentores, por exemplo) à esper
- Page 75 and 76: a unidade) e vale-transporte. Dois
- Page 77 and 78: de seleção dos materiais reciclá
- Page 79 and 80: O trabalho na esteira é organizado
- Page 81 and 82: Quadro 6 - Distribuição da Área
- Page 83 and 84: Quadro 7 - Quantidade de RSD Destin
- Page 85 and 86: Figura 18 - Vista Frontal do Galpã
- Page 87 and 88: Os membros da ASCAJAN desenvolvem u
- Page 89 and 90: de Fortaleza os materiais chegam à
- Page 91 and 92: e a saúde que foram resguardadas n
- Page 93 and 94: sobre os resíduos sólidos, e dos
- Page 95 and 96: atravessadores sempre “estão por
- Page 97 and 98: Observamos que os entrevistados ele
- Page 99 and 100: O Fórum Lixo e Cidadania é um esp
- Page 101 and 102: fluxo de outros veículos nas ruas
- Page 103 and 104: Na ausência de Planos de Saúde, o
- Page 105 and 106: 50,0% dos funcionários da coleta u
- Page 107 and 108: empregador. Nossos entrevistados n
- Page 109: produtividade ou por acumulação d
- Page 113 and 114: lixo, sob o nome de “a doença do
- Page 115 and 116: de um modo geral, que são as pesso
- Page 117 and 118: Observamos em Paixão (2005) que es
- Page 119 and 120: - Miura (2004) apud Medeiros e Mac
- Page 121 and 122: notar a diversidade dos RSD gerados
- Page 123 and 124: meiões, camisas, etc.) é um proce
- Page 125 and 126: (odor do ovo podre), especialmente.
- Page 127 and 128: Catadores do Jangurussu passaram po
- Page 129 and 130: sujeitos permitiu observar o reconh
- Page 131 and 132: Os resíduos sólidos contêm espé
- Page 133 and 134: Como bem ressaltou Mattos (2006, p.
- Page 135 and 136: O reconhecimento da própria ativid
- Page 137 and 138: (2005), quando analisa cenário sem
- Page 139 and 140: uma praga ou uma epidemia que já h
- Page 141 and 142: de abandonar o trabalho com os RSD
- Page 143 and 144: 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trab
- Page 145 and 146: As variadas perspectivas apresentad
- Page 147 and 148: 6. REFERÊNCIAS ABREU, M. de F. Do
- Page 149 and 150: BURSZTYN, M. (Org.). No Meio da Rua
- Page 151 and 152: DUARTE, R. Pesquisa Qualitativa: re
- Page 153 and 154: GORNI, L. F.; PAIVA, J. L. A Insalu
- Page 155 and 156: MARQUES, A. E. O. O Potencial dos R
- Page 157 and 158: OLIVEIRA, M. R. L. Caracterização
- Page 159 and 160: RIGOTTO, R. M.; AUGUSTO, L. G. da S
Observamos que além das alternativas anunciadas, alguns entrevista<strong>do</strong>s<br />
a<strong>do</strong>tam o auto-tratamento quan<strong>do</strong> adquirem <strong>do</strong>enças ou sofrem agravos ao<br />
trabalharem com os RSD. No discurso que se segue, observamos que o sujeito<br />
utiliza drogas variadas:<br />
4.4.2 - Os Significa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Lixo<br />
“...as vezes a gente se corta, mas toma o comprimi<strong>do</strong>,<br />
passa o mertiolate e sara, poucos dias sara...”<br />
(Entrevista<strong>do</strong> 2, Integrante da Usina <strong>de</strong> Triagem).<br />
Ao serem entrevista<strong>do</strong>s sobre o que significa os RSD, os garis e os<br />
integrantes da Usina <strong>de</strong> Triagem e da ASCAJAN, polarizaram seus discursos em<br />
três linhas principais: “O Lixo como Perigo”, “O Lixo como Meio <strong>de</strong> Sobrevivência” e<br />
o “O Trabalho com o Lixo como Ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>”.<br />
4.4.2.1 - O Lixo como Perigo<br />
Essa categoria reuniu os <strong>de</strong>poimentos a<strong>ce</strong>rca <strong>do</strong> “me<strong>do</strong>” que o RSD<br />
representa para alguns trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> SGRSD <strong>de</strong> Fortaleza/CE. Compreen<strong>de</strong>mos<br />
que o indivíduo (no caso, o gari) teme o trabalho com o RSD mesmo utilizan<strong>do</strong> luvas<br />
e ten<strong>do</strong> experiência no <strong>de</strong>sempenho das suas ativida<strong>de</strong>s pelas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
adquirir alguma <strong>do</strong>ença:<br />
“...o lixo significa uma coisa muito perigosa não é?!, em<br />
termos <strong>do</strong> mau cheiro, <strong>do</strong> contato com a pessoa. É uma<br />
coisa que tem que usar muita cautela...tem que tomar<br />
muito cuida<strong>do</strong> porque ele é um risco à saú<strong>de</strong> e a<br />
qualquer momento a gente po<strong>de</strong> ser contamina<strong>do</strong> e<br />
pegar uma infecção. Eu tenho me<strong>do</strong> <strong>de</strong> não ficar bom<br />
com uma infecção <strong>do</strong> lixo. Tem umas que se a pessoa<br />
pegar tem me<strong>do</strong> <strong>de</strong> não ser cura<strong>do</strong>..” (Entrevista<strong>do</strong> 5, Gari).<br />
“...a gente tenta se recuperar para não pegar uma<br />
infecção no lixo, porque o lixo é um bicho muito<br />
perigoso...” (Entrevista<strong>do</strong> 2, Gari).<br />
96