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Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...

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122 José Adriano de Freitas Carvalho<br />

realidade através deles 165 – e, entre outros referentes, os loca <strong>em</strong> que quis<br />

realizar os seus ideais de er<strong>em</strong>itismo.<br />

Não valerá a pe<strong>na</strong> d<strong>em</strong>orar a ponderar a célebre recordação da sua<br />

infância <strong>em</strong> que a leitura de «vidas de santos» – a Legenda Aurea de G. da<br />

Varazze, seguramente – despertaram nela e <strong>em</strong> seu irmão, como estilo de vida<br />

mais fácil de imitar no jardim da casa pater<strong>na</strong> do que ir a terra de mouros<br />

padecer martírio 166 , o desejo de ser ermitãos, a menos que, aceitando o jogo dos<br />

estilos hagiográficos, queiramos ver nesses jogos infantis uma antecipação<br />

pr<strong>em</strong>onitória de uma vocação futura. Os er<strong>em</strong>itas que perpassam, alguns com<br />

força decisiva <strong>na</strong> sua obra de reformadora, no Libro de las Fundaciones são<br />

suficientes para, <strong>na</strong> sua função de actualisantes apontamentos r<strong>em</strong>issivos,<br />

vivificar a imag<strong>em</strong> que a Madre Teresa se fazia da sua obra «restauradora» da<br />

vida er<strong>em</strong>ítica numa ord<strong>em</strong> que se reclamava da de Elias no deserto. Foi esse o<br />

sentido mais profundo da sua reforma – regressar à primitiva forma – traduzida<br />

<strong>na</strong> fundação do Carmelo descalço 167 . Dado o fito destas breves notas, ape<strong>na</strong>s<br />

interessa recordar que Teresa de Jesus s<strong>em</strong>pre insistiu junto das suas monjas que<br />

«el estilo que pretend<strong>em</strong>os llevar es no sólo ser monjas sino ermitañas» 168 e que,<br />

desde este ponto de vista, o «caminho de perfeição» consistia <strong>em</strong> imitar a vida<br />

«de nuestros padres pasados y santos ermitaños» 169 . Compreende-se o seu<br />

alvoroço quando um dia D. Leonor de Mascarenhas lhe anuncia que «alli<br />

(Madrid) un ermitaño [la] deseaba conocer y que le parecía que la vida que<br />

hacían él y sus compañeros conformava mucho con [su] regla». Eram, como é<br />

b<strong>em</strong> sabido, os Fr. Mariano Azzaro e Fr. Juan Narduch que tinham estado,<br />

segundo Madre Teresa, oito anos, er<strong>em</strong>itas <strong>em</strong> El Tardón (Córdova) e que,<br />

convencidos pela santa, vieram a ser os fundadores do convento de Pastra<strong>na</strong>. Ao<br />

165 Daniel RUSSO, Saint Jérôme en Italie..., ed. cit., 193-195 traz algumas considerações<br />

pertinentes sobre as distâncias da escrita literária – hagiográfica, nomeadamente – e a representação<br />

pictórica.<br />

166 Teresa de JESÚS, Libro de la vida, I,5-6, in Obras Completas..., ed. cit., 17: «Tenia uno<br />

[hermano] casi de mi edad; juntávamonos entrambos a leer vidas de santos [...] como vía los<br />

martirios que por Dios las santas pasavan, parecíame compravan muy barato el ir a gozar de Dios y<br />

deseava yo mucho morir ansí [...] y juntávame com este mi hermano a tratar que medio havría para<br />

esto; concertávamos irnos a tierra de moros, pidiendo por amor de Dios, para que allá nos<br />

descabezasen [...] De que vi que era imposible ir adonde me matasen por Dios, ordenávamos ser<br />

ermitaños; y en u<strong>na</strong> huerta que havía en casa procurávamos, como podíamos, hacer ermitas,<br />

puniendo u<strong>na</strong>s pedrecillas, que luego se nos caían. Y ansí no hallávamos r<strong>em</strong>edio en <strong>na</strong>da para<br />

nuestro deseo...».<br />

167 Ildefonso MORIONES, A<strong>na</strong> de Jesus y la herencia teresia<strong>na</strong>. Humanismo cristiano o rigor<br />

primitivo?, Roma, 1968, 5-63 discute a pertinencia desta dicotonomia de reforma e de fundação <strong>na</strong><br />

obra teresia<strong>na</strong>, sendo de imprescindível consulta a obra do mesmo autor, El carmelo teresiano y sus<br />

probl<strong>em</strong>as de m<strong>em</strong>oria histórica, Vitoria, 1997.<br />

168 Teresa de JESÚS, Camino de Perfección, 20, 1 in Obras Completas..., ed. cit., 223.<br />

169 Teresa de JESÚS, Camino de Perfección, 16,4 in Obras Completas..., ed. cit., 217.

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