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Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...

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118 José Adriano de Freitas Carvalho<br />

«de tam de perto, que está <strong>em</strong> seu coração praticando com elles» 137 .<br />

Curiosamente, mesmo que saiba que «as palavras [são] descobridoras dos<br />

corações» 138 , o Peregrino português, coerent<strong>em</strong>ente, não recomenda, como fará<br />

Teresa de Jesus e algum outro er<strong>em</strong>ita, a fuga à própria linguag<strong>em</strong> do mundo e a<br />

consequente utilização de um «estilo de ermitaños», pois o seu er<strong>em</strong>ita está<br />

totalmente separado do mundo e da «vida tumultuosa»... Neste contexto – a<br />

ex<strong>em</strong>plo dos «santos no deserto quando soltavam os olhos ao choro, ajuntando<br />

<strong>em</strong> seu pranto o dia com a noyte» 139 –, pois «nossos cantos ham-de ser suspiros,<br />

e os nossos versos, e cantigas ham-de ser entoados com saluços e lágrimas, e<br />

não com vãs alegrias, e ociosas práticas, e falsas deleitações...» 140 , penitências e<br />

lágrimas ganham o seu pleno sentido tanto de oposição ao mundo, como<br />

também, consequent<strong>em</strong>ente, de «contriçam [pelas] culpas passadas» 141 que, no<br />

texto, são s<strong>em</strong>pre cedências ao mundo. Ou, como recordava Santo Agostinho,<br />

não fosse «a fonte das lágrimas um segundo baptismo» 142 . O mesmo se diga das<br />

virtudes, pois o solitário, «carregado de virtudes» 143 , ao «contrario [dos]<br />

distrahidos e transtor<strong>na</strong>dos, [que] falando estam mudos, e acompanhados, estam<br />

sós, porque n<strong>em</strong> falam com Deos, n<strong>em</strong> estam acompanhados de virtudes»,<br />

«calando falam com Deos, e andando sós, estam acompanhados de virtudes» 144 .<br />

Compreende-se, deste modo, que sendo, <strong>em</strong> síntese, «a vida solitária e recolhida<br />

grande r<strong>em</strong>edio para evitar peccados, e grande mezinha para a lepra da alma»,<br />

«qu<strong>em</strong> quiser sarar da lepra de suas culpas, aparte-se das más conversações, e<br />

meta-se no seo de si mesmo, entrando <strong>em</strong> conta consigo, e averá saude, e<br />

repouso» 145 . Mas, convém não esquecer que esta «vida totalmente solitaria, nua<br />

de toda pratica e conversaçam» 146 que é o deserto, só ganha pleno sentido pelo<br />

amor de Cristo e que «o amor de Christo [lhe] tira essas asperezas, e faz parecer<br />

a cousa suave» 147 . De S. Ber<strong>na</strong>rdo a Santa Teresa de Jesus, passando pela<br />

literatura de «recolhimento», não encontramos outra lição, mas para essa<br />

imag<strong>em</strong> do er<strong>em</strong>ita como habitante de um deserto simbolicamente identificado<br />

com as montanha fragosas..., as covas..., as lapas... que algumas epístolas de<br />

Jerónimo e as Vitae Patrum e os «Flos sanctorum» ajudaram a fixar, Heitor<br />

137 Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da vida solitaria, 6, I, 348.<br />

138 Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da vida solitaria, 8, I, 362.<br />

139 Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da vida solitaria, 10, I, 379.<br />

140 Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da vida solitaria, 10, I, 379.<br />

141 Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da vida solitaria, 9, I, 377.<br />

142 Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da vida solitaria, 9, I, 377-378.<br />

143 Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da vida solitaria, 2, I, 314.<br />

144 Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da vida solitaria, 8, I, 365.<br />

145 Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da vida solitaria, 10, I, 381.<br />

146 Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da vida solitaria, 8, I, 365.<br />

147 Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam..., ed. cit., Dialogo da vida solitaria, 10, I, 379.

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