Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...
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<strong>Er<strong>em</strong>itismo</strong> <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> 111<br />
Montefurado..., mas somadas todas as experiências e transformações por que,<br />
mercê dos <strong>homens</strong> e das canónicas exigências eclesiásticas, foi passando, o<br />
er<strong>em</strong>itismo, mesmo se se continuava a reclamar-se dos Onofres..., dos<br />
Jerónimos... e dos Antões, não seria propriamente algo <strong>em</strong> vias de<br />
desaparecimento n<strong>em</strong> no imaginário n<strong>em</strong> <strong>na</strong> realidade dos t<strong>em</strong>pos, mesmo dos<br />
da Ilustração... Também, a seu modo, o poderia test<strong>em</strong>unhar – é certo que para<br />
Itália –, Bénoît-Joseph Labre († 1783), um er<strong>em</strong>ita itinerante que, apesar das<br />
suas tentativas, a nenhuma ord<strong>em</strong> conseguiu adaptar-se e mendigo – o único até<br />
hoje canonizado – entre os mendigos que dormiam nos antros do Coliseu<br />
romano 95 .<br />
Como se orquestram estas variadas realidades da vida solitária <strong>na</strong><br />
literatura de espiritualidade – incluindo a de dimensão hagiográfica – desses<br />
t<strong>em</strong>pos desde, grosso modo, a segunda metade do século século XVI até aos<br />
começos do século XVII, isto é, nesses setenta anos compactamente posttridentinos?<br />
É o que tentar<strong>em</strong>os responder, <strong>na</strong> convicção de que <strong>na</strong>s suas<br />
pági<strong>na</strong>s se contêm propostas «especializadas» que pod<strong>em</strong> representar uma<br />
excelente brecha para observar como se tentava prolongar e/ou renovar os ideais<br />
do ermo – e, consequent<strong>em</strong>ente, as marcas de coincidência ou contraste de tal<br />
prolongamento e/ou renovação no imaginário colectivo desses dias – <strong>em</strong> uma<br />
sequência – um tanto longínqua já, é certo – dos esforços que, nos começos do<br />
século XVI, Paolo Giustiniani se <strong>em</strong>penhara <strong>na</strong> renovação dos «er<strong>em</strong>itismo<br />
legítimo» – o de organização cenobítica, quase s<strong>em</strong>pre, de acordo com a sua<br />
concepção de legitimidade – que, por confronto com o mo<strong>na</strong>quismo dos seus<br />
dias, porque lhe parecia o er<strong>em</strong>itismo ser o único meio de solum inquirere<br />
Deum propter Deum solum, o levou à reforma dos camaldulenses 96 . As poucas<br />
obras que, por estes ângulo e a título de ex<strong>em</strong>plo, abordar<strong>em</strong>os n<strong>em</strong> todas são,<br />
evident<strong>em</strong>ente, de alta espiritualidade, mas todas serão, quer pelo seu autor quer<br />
pela difusão que obtiveram quer ainda pelo test<strong>em</strong>unho directo que aportam –<br />
ou pretend<strong>em</strong> aportar – significativas do seu <strong>em</strong>penho de valorização da vida<br />
solitária quer <strong>na</strong> sua forma a<strong>na</strong>corética – e são as mais – quer nos seus modos<br />
95<br />
Agnés DE LA GORCE, Un povero che trovò la gioia, San Benedetto Giuseppe Labre, Roma,<br />
1994 (1ª ed., Paris, 1936).<br />
96<br />
Jean LECLERCQ, Un humaniste ermite: le Bx Paul Giustiniani (1476-1528), Rome, 1951; a<br />
célebre carta que, juntamente com Pietro Quirini, dirigiu a Leão X sobre a reforma da vida religiosa<br />
– «el programa más grandioso y más radical de reforma desde la era conciliar» segundo Hubert<br />
JEDIN, Historia del Concilio de Trento, Pamplo<strong>na</strong>, 1972, I, 142 – e depois editada com o título de<br />
Libellus ad Leon<strong>em</strong> X, pode acessívelmente ler-se <strong>na</strong> sua tradução e edição – Lettera al papa – por<br />
G<strong>em</strong>iniano BIANCHINI, Mode<strong>na</strong>, 1995 com apresentação de Franco Cardini; E. MASSA, L’er<strong>em</strong>o,<br />
la Bibbia e il Medioevo in umanisti veneti del primo Cinquecento, Napoli, 1952 representa uma dos<br />
mais importantes estudos para a compreensão de um grupo de humanistas («Compagnia di Amici»<br />
de que faziam parte Giustiniani e Quirini) que, por anseios espirituais e de liberdade, se faz<strong>em</strong>,<br />
primeiro sob certas condições negociadas com os camaldulenses («liberi e laici nell’er<strong>em</strong>o»),<br />
er<strong>em</strong>itas <strong>em</strong> Camaldoli.