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Eremitismo em Portugal na época Moderna : homens e imagens ...

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94 José Adriano de Freitas Carvalho<br />

sua penitência radicalizada e «imobilizada», uma vez para s<strong>em</strong>pre, pelo<br />

retrato..., cont<strong>em</strong>plados <strong>na</strong>s galerias que ador<strong>na</strong>vam ou nos retábulos onde se<br />

inseriam, como ex<strong>em</strong>pla, antes de mais, do abandono total do mundo que, ao<br />

fim e ao cabo, era a lição maior desses Onofres, dos Jerónimos, dos Antões e<br />

das Marias, foss<strong>em</strong> elas Egipcíacas ou Madale<strong>na</strong>s 55 . E o radical abandono do<br />

mundo não se revela, propriamente, <strong>na</strong>s penitências, mas <strong>na</strong> radical oposição ao<br />

mundo, quer dizer, <strong>na</strong> solidão que é «a vida totalmente solitaria, nua de toda a<br />

pratica e conversaçam» 56 . Ora, se isto for aceitável, a história dos jovens<br />

er<strong>em</strong>itas lia-se – geralmente, não se cont<strong>em</strong>plava como «retrato» de galeria –<br />

como uma educação para a solidão. E, por isso, Cristóbal Acosta, o velho<br />

médico e botânico que, viúvo, se terá feito er<strong>em</strong>ita, pôde dizer no seu Tratado<br />

en contra y pro de la vida solitaria, que «el mas oportuno y sazo<strong>na</strong>do ti<strong>em</strong>po<br />

para la perpetuación de la religiosa o quieta vida solitaria es la juventud, porque<br />

entonces assentado en ella tarde se despega para otra...» 57 . E se tivermos <strong>em</strong><br />

conta que «a vida a<strong>na</strong>coretica requere incli<strong>na</strong>ção, madura idade, robustas forças<br />

e firmes propositos de perseverar <strong>em</strong> tam sublime estado, cousas que poucas<br />

vezes se achão juntas <strong>em</strong> mancebos» – doutri<strong>na</strong> que terá ditado a recusa de<br />

admissão de um jóv<strong>em</strong> português <strong>em</strong> Monserrate 58 – pod<strong>em</strong>os mais facilmente<br />

perceber a admiração <strong>em</strong> que eram tidos esses casos dos Alcalá..., dos Antões e<br />

Bentos portugueses..., dos Hieronimos de Anco<strong>na</strong> ou dos Gregorios López,<br />

também eles depois apresentados como altos ex<strong>em</strong>pla. Com efeito, velhos ou<br />

mancebos, <strong>em</strong> petrificados desertos ou <strong>em</strong> loca amoe<strong>na</strong>, o que todos<br />

proclamavam era a necessidade e a urgência de fugir, o mais radicalmente<br />

possível, ao mundo, para tal conjugando, para além das <strong>imagens</strong>, velhos textos<br />

dos Padres do Deserto..., de S. Jerónimo Ad Rusticum..., dos De cont<strong>em</strong>ptu<br />

mundi – de Inocêncio III ou de T. K<strong>em</strong>pis – de S. Ber<strong>na</strong>rdo..., de Petrarca...<br />

Uma lição b<strong>em</strong> tradicio<strong>na</strong>l que, apesar dissso, depois de Trento dir-se-ia invadir<br />

toda a literatura de espiritualidade e que se terá gostado de meditar, como<br />

poderiam sugerir as inúmeras edições – no origi<strong>na</strong>l e <strong>em</strong> tradução – da Imag<strong>em</strong><br />

da Vida Cristã de Heitor Pinto, obra <strong>em</strong> que, e não ape<strong>na</strong>s no Diálogo da Vida<br />

Solitária, se orquestra, como um autêntico leit-motif, a urgência do cont<strong>em</strong>ptus<br />

mundi...<br />

55<br />

Francisco LOSA, Vida que el siervo de Dios Gregorio Lopez..., ed. cit., 7v: «Consideracion<br />

advertida pide la salida de Gregorio a la soledad y que u<strong>na</strong> gran eloquencia se <strong>em</strong>pleara a ponderar<br />

sus circunstancias, valdrème de la que ilustra a la Iglesia; de la de el Gran P. S. Geronimo, en la<br />

pintura que haze de la ida de san Hilario al yermo y que se ajusta cabalmente a la de nuestro<br />

Gregorio. No trato de comparar, y parear mucho menos aqueste nuevo Soldado, con los antiguos<br />

Heroes del desierto, ass<strong>em</strong>ejarle si, afirmando que los procurò imitar...».<br />

56<br />

Hector PINTO, Imag<strong>em</strong> da vida christam orde<strong>na</strong>da per dialogos..., ed. cit., Dialogo da vida<br />

solitaria, 9, I, 365.<br />

57<br />

Cristóbal ACOSTA, Tratado en contra y pro de la vida solitaria, Veneza, Presso Giacomo<br />

Cornetti, 1598, 43r.<br />

58<br />

Jorge CARDOSO, Agiologio Lusitano, I, ed. cit., 486

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