Nomes de estabelecimentos comerciais em Belo ... - Fale - UFMG
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Organizadora<br />
Maria Cândida Trinda<strong>de</strong> Costa <strong>de</strong> Seabra<br />
<strong>Nomes</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>estabelecimentos</strong><br />
<strong>comerciais</strong> <strong>em</strong><br />
<strong>Belo</strong> Horizonte<br />
V.2<br />
<strong>Belo</strong> Horizonte<br />
FALE/<strong>UFMG</strong><br />
2009
Diretor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letras<br />
Jacyntho José Lins Brandão<br />
Vice-Diretor<br />
Wan<strong>de</strong>r Emediato <strong>de</strong> Souza<br />
Comissão editorial<br />
Eliana Lourenço <strong>de</strong> Lima Reis<br />
Elisa Amorim Vieira<br />
Lúcia Castello Branco<br />
Maria Cândida Trinda<strong>de</strong> Costa <strong>de</strong> Seabra<br />
Maria Inês <strong>de</strong> Almeida<br />
Sônia Queiroz<br />
Capa e projeto gráfico<br />
Glória Campos<br />
Mangá – Ilustração e Design Gráfico<br />
Preparação <strong>de</strong> originais<br />
Nelson Sá Fortes<br />
Formatação<br />
Eduardo <strong>de</strong> Lima Soares<br />
Revisão <strong>de</strong> provas<br />
Flávia Gomes Xavier<br />
Tatiana Alvarenga<br />
En<strong>de</strong>reço para correspondência<br />
FALE/<strong>UFMG</strong> – Setor <strong>de</strong> Publicações<br />
Av. Antônio Carlos, 6627 – sala 2015A<br />
31270-901 – <strong>Belo</strong> Horizonte/MG<br />
Telefax: (31) 3409-6007<br />
e-mail: vivavozufmg@yahoo.com.br<br />
Sumário<br />
Apresentação . 5<br />
Maria Cândida Trinda<strong>de</strong> Costa <strong>de</strong> Seabra<br />
Análise morfológica <strong>de</strong> nomes <strong>de</strong> livrarias<br />
do município <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte . 7<br />
Bárbara Marques Barbosa <strong>de</strong> Carvalho<br />
Cassandra Cláudia Lima<br />
Haydée Cristina da Silva<br />
Tiago Quintela Chaves<br />
Análise morfológica dos nomes <strong>de</strong><br />
lanchonetes <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte . 31<br />
Felipe Lopes Porto Pereira<br />
Gabriela Freitas <strong>de</strong> Paula<br />
Gar<strong>de</strong>nia Barbosa Neubaner Nascimento<br />
Izabela Tolentino Vignoli Fe<strong>de</strong>rman<br />
<strong>Nomes</strong> próprios <strong>de</strong> oficinas mecânicas <strong>de</strong><br />
<strong>Belo</strong> Horizonte . 53<br />
Bianca Cruz Gomes<br />
Jessica Rejane Silva Albergaria<br />
Stephanie Paes Rodrigues
Apresentação<br />
Maria Cândida Trinda<strong>de</strong> Costa <strong>de</strong> Seabra<br />
Reunimos aqui, <strong>em</strong> dois volumes, pesquisas <strong>de</strong>senvolvidas<br />
pelos alunos da disciplina Morfologia, ministrada por mim, no<br />
primeiro s<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 2008, na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letras da <strong>UFMG</strong>.<br />
São trabalhos que resultam <strong>de</strong> uma reflexão sobre a morfologia<br />
lexical, mais especificamente sobre os processos <strong>de</strong> criação<br />
lexical – análise morfológica e motivação <strong>em</strong> nomes <strong>de</strong> <strong>estabelecimentos</strong><br />
<strong>comerciais</strong> <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte.<br />
No primeiro volume, encontram-se quatro textos: o pri-<br />
meiro <strong>de</strong>les versa sobre os nomes <strong>de</strong> padarias; o segundo é<br />
fruto <strong>de</strong> uma observação sobre os nomes <strong>de</strong> supermercados,<br />
“análise <strong>de</strong> nomes <strong>de</strong> pré-escolas da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte”<br />
é o título do terceiro texto e o quarto artigo analisa os nomes<br />
<strong>de</strong> pizzarias da capital mineira.<br />
O segundo volume apresenta outros três textos: nomes<br />
<strong>de</strong> livrarias são abordados no primeiro artigo, os outros dois<br />
artigos <strong>de</strong>sse volume tratam dos nomes <strong>de</strong> lanchonetes e<br />
“nomes próprios <strong>de</strong> oficinas mecânicas <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte”.<br />
Todos esses trabalhos constitu<strong>em</strong> uma primeira reflexão<br />
sobre um t<strong>em</strong>a instigante no mundo cont<strong>em</strong>porâneo – os nomes<br />
<strong>comerciais</strong> –, e nos fornec<strong>em</strong> um gran<strong>de</strong> e complexo material<br />
que v<strong>em</strong> enriquecer os estudos sobre a palavra.<br />
5
Análise morfológica <strong>de</strong> nomes <strong>de</strong><br />
livrarias do município <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte<br />
Introdução<br />
Apresentação<br />
Bárbara Marques Barbosa <strong>de</strong> Carvalho<br />
Cassandra Cláudia Lima<br />
Haydée Cristina da Silva<br />
Tiago Quintela Chaves<br />
A escassez <strong>de</strong> estudos voltados para a análise do processo<br />
<strong>de</strong> formação dos nomes <strong>de</strong> <strong>estabelecimentos</strong> <strong>comerciais</strong> nos<br />
motivou a pesquisar esse t<strong>em</strong>a especificamente no segmento<br />
<strong>de</strong> livrarias.<br />
A pesquisa contou com a seleção e a análise <strong>de</strong> nomes<br />
<strong>de</strong> livrarias do município <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte, com foco na<br />
i<strong>de</strong>ntificação do processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> palavras, baseada<br />
na abordag<strong>em</strong> das gramáticas tradicionais <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> da<br />
relevância <strong>de</strong>ssa abordag<strong>em</strong> – a mais usual nos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong><br />
ensino fundamental e médio do país – para o ensino superior,<br />
e na motivação dos nomes, com base na inferência dos autorespesquisadores.<br />
Objetivos<br />
O presente trabalho t<strong>em</strong> por objetivos os seguintes procedi-<br />
mentos:<br />
• selecionar e analisar nomes <strong>de</strong> livrarias do município<br />
<strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte, com foco no processo <strong>de</strong> formação<br />
das palavras que compõ<strong>em</strong> os respectivos nomes;<br />
• <strong>de</strong>terminar qual processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> palavras é<br />
predominante no corpus <strong>em</strong> estudo;<br />
• verificar a frequência <strong>de</strong> termos latinos, termos estrangeiros,<br />
<strong>em</strong>préstimos linguísticos, hibridismos, substituição<br />
<strong>de</strong> letra por s<strong>em</strong>elhança fonética e vocábulos<br />
portugueses, nos nomes <strong>em</strong>pregados;<br />
7
• inferir a intenção <strong>de</strong>sses nomes, sob o ponto <strong>de</strong> vista<br />
do consumidor;<br />
• verificar a associação entre o nome do estabelecimento<br />
comercial e o segmento no qual ele atua.<br />
Justificativa<br />
Esta pesquisa justifica-se <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> da nossa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
estudar os processos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> palavras. A escassez <strong>de</strong><br />
estudos morfológicos sobre nomes <strong>de</strong> <strong>estabelecimentos</strong> <strong>comerciais</strong><br />
motivou-nos a escolher nomes <strong>de</strong> livrarias como nosso<br />
corpus <strong>de</strong> análise. Desta maneira, esperamos po<strong>de</strong>r oferecer<br />
uma contribuição aos estudos morfológicos relacionados a<br />
esse t<strong>em</strong>a.<br />
Metodologia<br />
Descrição do corpus<br />
O corpus do presente estudo foi composto por 70 nomes <strong>de</strong><br />
<strong>estabelecimentos</strong> <strong>comerciais</strong> do segmento <strong>de</strong> livrarias (<strong>em</strong> um<br />
universo <strong>de</strong> 209 <strong>estabelecimentos</strong>).<br />
Os nomes foram obtidos na Lista telefônica <strong>de</strong> en<strong>de</strong>reços<br />
<strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte (2007), especificamente na seção “Lista Classificada”,<br />
sob o título “Livrarias”.<br />
Critérios <strong>de</strong> seleção<br />
a) Critérios <strong>de</strong> inclusão<br />
Para compor o corpus <strong>de</strong> análise do presente trabalho, os<br />
nomes <strong>de</strong> livrarias <strong>de</strong>veriam satisfazer os seguintes critérios:<br />
• Constar na seção “Lista Classificada”, sob o título <strong>de</strong><br />
“Livrarias”, da Lista telefônica <strong>de</strong> en<strong>de</strong>reços <strong>de</strong> <strong>Belo</strong><br />
Horizonte (2007).<br />
• Não conter nenhuma das características apresentadas<br />
nos critérios <strong>de</strong> exclusão.<br />
b) Critérios <strong>de</strong> exclusão<br />
Foram excluídos os nomes cujos <strong>estabelecimentos</strong><br />
continham uma ou mais das seguintes características:<br />
• ser bazar, cafeteria ou sebo;<br />
• ser distribuidora ou editora <strong>de</strong> livros;<br />
• ser <strong>de</strong>signado, exclusivamente, como papelaria ou<br />
como revistaria;<br />
• atuar <strong>em</strong> áreas específicas: religião, técnica, concur-<br />
sos, cursos;<br />
• ter o nome composto por nomes próprios <strong>de</strong> santos,<br />
<strong>de</strong> personagens literárias e/ou mitológicas, <strong>de</strong> pessoas<br />
ou ainda pelas letras iniciais <strong>de</strong> nomes próprios<br />
(exceto aqueles que nomeiam localida<strong>de</strong>s – edificações,<br />
bairros, regiões – <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte);<br />
• ter o nome formado por sigla;<br />
• conter algum termo que <strong>de</strong>scaracterize o estabelecimento<br />
comercial como sendo do segmento <strong>de</strong> livraria<br />
(por ex<strong>em</strong>plo, enca<strong>de</strong>rnadora, fundação).<br />
Critérios <strong>de</strong> análise<br />
A abordag<strong>em</strong> adotada na análise dos processos <strong>de</strong> formação<br />
das palavras que compõ<strong>em</strong> o corpus <strong>em</strong> estudo baseou-se nos<br />
conceitos apresentados <strong>em</strong> gramáticas tradicionais.<br />
Os nomes <strong>de</strong> livrarias do estudo <strong>em</strong> apreço não foram<br />
consi<strong>de</strong>rados como uma expressão, mas foram analisados<br />
termo a termo, avaliando o processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> cada<br />
palavra – salvo os nomes cuja proximida<strong>de</strong> formava uma<br />
expressão já consagrada, por ex<strong>em</strong>plo, entre amigos. Tal expressão,<br />
segundo Cunha e Cintra (2001), po<strong>de</strong> ser classificada<br />
como uma composição por justaposição, na qual os termos<br />
não são hifenizados. Já Bechara (1999) apresenta as <strong>de</strong>signações<br />
lexia complexa, <strong>de</strong> Bernardo Pottier, e sinapsia, <strong>de</strong><br />
Emílio Benveniste (esta última é originária do grego e significa<br />
junção, conexão, coleção <strong>de</strong> coisas juntas), para nomear os<br />
sintagmas complexos que po<strong>de</strong>m ser constituídos <strong>de</strong> mais <strong>de</strong><br />
dois el<strong>em</strong>entos (por ex<strong>em</strong>plo, negócio da China).<br />
Para efeito <strong>de</strong> análise do processo <strong>de</strong> formação das pala-<br />
vras, foram <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rados os termos que <strong>de</strong>limitavam e/ou<br />
<strong>de</strong>screviam o tipo <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> referente ao estabelecimento<br />
8 9
(por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> Agência Leitura Livros e Revistas Ltda. e<br />
Siciliano SA, os termos Ltda e SA não foram analisados).<br />
I<strong>de</strong>ntificação do processo <strong>de</strong> formação das palavras<br />
A formação das palavras contidas nos nomes selecionados foi<br />
analisada <strong>de</strong> acordo com as categorias apresentadas por Cunha<br />
e Cintra (2001), a saber:<br />
• palavras simples/palavras compostas (composição:<br />
justaposição, aglutinação, compostos eruditos, recom-<br />
posição);<br />
• palavras simples primitivas/palavras simples <strong>de</strong>rivadas<br />
(<strong>de</strong>rivação: prefixal, sufixal, parassintética,<br />
regressiva, imprópria);<br />
• hibridismo;<br />
• onomatopeia;<br />
• abreviação vocabular.<br />
A categoria <strong>em</strong>préstimo linguístico, não cont<strong>em</strong>plada<br />
por Cunha e Cintra (2001), foi acrescentada às classificações<br />
do presente trabalho e teve como referência o conceito<br />
apresentado por Cipro Neto e Infante (2007). Essa categoria<br />
abarca as palavras <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> estrangeira, aportuguesas ou<br />
não, que estão incorporadas à nossa língua (ex.: status).<br />
Os termos <strong>em</strong> língua estrangeira cont<strong>em</strong>porânea, não incorporados<br />
à língua portuguesa, não foram tratados como <strong>em</strong>préstimos,<br />
e sim como “termos estrangeiros” (ex.: book). Já os<br />
termos proce<strong>de</strong>ntes do grego antigo ou do latim foram especificados<br />
como tais.<br />
Os nomes formados por siglas, cont<strong>em</strong>plados <strong>em</strong> Cunha<br />
e Cintra (2001) e <strong>em</strong> outras gramáticas tradicionais, não foram<br />
consi<strong>de</strong>rados neste estudo.<br />
A consulta acerca dos afixos encontrados no corpus <strong>em</strong><br />
questão foi realizada nas gramáticas <strong>de</strong> Cegalla (1981), Cunha<br />
e Cintra (2001), Cipro Neto e Infante (2007) e Bechara (1999),<br />
b<strong>em</strong> como no dicionário <strong>de</strong> Houaiss (2004).<br />
Motivação<br />
A motivação dos nomes <strong>de</strong> livrarias selecionados foi<br />
consi<strong>de</strong>rada como sendo o efeito que o nome do estabelecimento<br />
provocaria no consumidor e se seria possível o consumidor<br />
associar o nome do estabelecimento ao segmento no qual<br />
este atua. Em caso afirmativo, explicitamos essa associação.<br />
Em caso negativo, informamos a falta <strong>de</strong> associação.<br />
O corpus<br />
1) A Nossa Livraria <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte Ltda.<br />
2) Acta Livraria e Papelaria Ltda.<br />
3) Agência Leitura Livros e Revistas Ltda.<br />
4) Agência Opus Ltda.<br />
5) Agência Status Ltda.<br />
6) Alameda Livraria e Papelaria<br />
7) Armazém do Livro<br />
8) Bookeria Livros e Papéis Ltda.<br />
9) Brasil Livros<br />
10) Brook Store<br />
11) Canto do Livro<br />
12) Comércio <strong>de</strong> Livros Ouvidor Ltda.<br />
13) Conhecer Livraria e Papelaria Ltda.<br />
14) Cultural News<br />
15) Entre Amigos Livraria<br />
16) Etiketa Sion Papelaria e Livraria Ltda.<br />
17) Feirão dos Livros<br />
18) Imaginário Livros – Re<strong>de</strong> Copas<br />
19) Império dos Livros<br />
20) Leitura<br />
21) Livraria Acaiaca<br />
22) Livraria Alfarrábio Ltda.<br />
23) Livraria Ao Macaco Que Lê<br />
24) Livraria Atual Ltda.<br />
25) Livraria Brasil<br />
26) Livraria Cultura Brasileira Ltda.<br />
27) Livraria Educação e Cultura<br />
10 11
28) Livraria Etiqueta<br />
29) Livraria Granito Ltda.<br />
30) Livraria Interlivros Ltda.<br />
31) Livraria Interminas Ltda.<br />
32) Livraria Juruá Ltda.<br />
33) Livraria Lagoa Center<br />
34) Livraria Livre Arbítrio<br />
35) Livraria Maria Papel<br />
36) Livraria Materlivros Ltda.<br />
37) Livraria Mente Sana<br />
38) Livraria Opus<br />
39) Livraria Ouvidor<br />
40) Livraria e Papelaria Bika<br />
41) Livraria e Papelaria Can<strong>de</strong>ia Ltda.<br />
42) Livraria e Papelaria Copas Ltda.<br />
43) Livraria e Papelaria Del Ltda.<br />
44) Livraria e Papelaria Educar Ltda.<br />
45) Livraria e Papelaria Gutierrez Ltda.<br />
46) Livraria e Papelaria Lápis <strong>de</strong> Cera<br />
47) Livraria e Papelaria Leitores Ltda.<br />
48) Livraria e Papelaria Rex<br />
49) Livraria Prazer <strong>de</strong> Ler Ltda.<br />
50) Livraria São José<br />
51) Livraria Seara<br />
52) Livraria Só Livros<br />
53) Livraria Telebook<br />
54) Livraria Terminal JK Ltda.<br />
55) Livraria Travessa<br />
56) Livraria Universitária Ltda.<br />
57) Livraria do Usina<br />
58) Livraria Verso e Prosa Ltda.<br />
59) Mercado <strong>de</strong> Livros<br />
60) Multbooks Ltda.<br />
61) Opção Cultural<br />
62) Ouvidor Livros e Papéis Ltda.<br />
63) Papelaria e Livraria Brasília<br />
64) Portal do Livro<br />
65) Santo Agostinho Livraria e Papelaria Ltda.<br />
66) Scriptum Livraria e Papelaria Ltda.<br />
67) Siciliano SA.<br />
68) Soba Livros e CDs Ltda.<br />
69) Star Livraria e Papelaria Ltda.<br />
70) Trivium Livraria e Papelaria<br />
Resultados e discussão<br />
Formação das palavras<br />
Os resultados das análises foram submetidos a quatro etapas:<br />
1) foram categorizados os calcos linguísticos e as expressões;<br />
2) criou-se um inventário com as palavras que ocorreram nos<br />
nomes <strong>em</strong> estudo, s<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rar as repetições e as flexões;<br />
3) as palavras elencadas foram agrupadas <strong>em</strong> uma das seguintes<br />
categorias: termo latino, termo estrangeiro, <strong>em</strong>préstimo linguístico,<br />
hibridismo, substituição <strong>de</strong> letra por s<strong>em</strong>elhança fonética<br />
e vocábulos portugueses;<br />
4) os vocábulos portugueses – categoria criada pelos autorespesquisadores,<br />
para efeito <strong>de</strong> síntese dos resultados, e que<br />
representa as palavras registradas <strong>em</strong> dicionário do léxico da<br />
língua portuguesa do Brasil – foram classificados <strong>em</strong> simples<br />
ou compostos, b<strong>em</strong> como <strong>em</strong> primitivos ou <strong>de</strong>rivados.<br />
Foram encontradas 13 expressões e um calco linguístico.<br />
No inventário das palavras que compõ<strong>em</strong> os nomes <strong>de</strong> livrarias,<br />
houve 7 termos latinos, 7 termos estrangeiros, 6 <strong>em</strong>préstimos<br />
linguísticos, 3 hibridismos, 2 substituições <strong>de</strong> letra por<br />
s<strong>em</strong>elhança fonética e 45 vocábulos portugueses.<br />
Entre os chamados “vocábulos portugueses”, encontrouse<br />
maior número <strong>de</strong> palavras simples (43) <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong><br />
palavras compostas (2). Dessa maneira, é possível afirmar que<br />
houve uma preferência pela simplicida<strong>de</strong> dos termos.<br />
Houve uma pequena diferença entre a ocorrência <strong>de</strong><br />
palavra primitiva (25) e a <strong>de</strong> palavra <strong>de</strong>rivada (18). As palavras<br />
<strong>de</strong>rivadas eram formadas, <strong>em</strong> sua gran<strong>de</strong> maioria, por sufixação<br />
12 13
(16), tendo sido <strong>em</strong>pregados 14 sufixos distintos. Apenas duas<br />
palavras eram formadas por prefixação e ambas usaram o<br />
mesmo prefixo inter.<br />
Motivação<br />
Do total <strong>de</strong> 70 nomes que compuseram o corpus, dois nomes<br />
eram formados por apenas um termo (“Leitura” e “Siciliano”)<br />
e os <strong>de</strong>mais (68) eram formados por dois ou mais termos.<br />
Dos 70 nomes, 49 apresentaram o termo livraria (sendo que<br />
<strong>em</strong> três <strong>de</strong>sses nomes havia também o termo livro), dois<br />
apresentaram o termo leitura (sendo que um <strong>de</strong>sses também<br />
possuía o termo livro), 12 apresentaram o termo livro (s<strong>em</strong> os<br />
termos livraria ou leitura) e 7 não apresentaram nenhum dos<br />
termos citados. Assim, é possível afirmar que apenas 7 nomes<br />
<strong>de</strong> livrarias não permitiram uma associação, <strong>em</strong> nenhum nível,<br />
com o segmento ao qual se refer<strong>em</strong>. O termo leitura sugere<br />
a existência <strong>de</strong> um local on<strong>de</strong> é possível praticar a ação <strong>de</strong> ler<br />
– não necessariamente apenas livros. Já o nome que possui<br />
os termos leitura e livros direciona o objeto-alvo, mas não<br />
esclarece o tipo <strong>de</strong> segmento (comércio <strong>de</strong> livros). Os 12 nomes<br />
que apresentaram o termo livro faz<strong>em</strong> uma associação com o<br />
objeto-alvo do estabelecimento, sendo que 8 permit<strong>em</strong> uma<br />
associação implícita com o segmento <strong>de</strong> comércio, enquanto 4<br />
explicitam o segmento no qual atuam <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> da presença<br />
dos termos armazém, comércio, feirão, mercado (<strong>em</strong> substituição<br />
ao termo livraria). A gran<strong>de</strong> maioria dos nomes (49)<br />
permite uma associação direta entre o nome do estabelecimento<br />
e o segmento <strong>de</strong> comércio <strong>de</strong> livros pelo fato <strong>de</strong> apresentar<strong>em</strong><br />
o termo livraria.<br />
Conclusão<br />
Os resultados obtidos nos permit<strong>em</strong> afirmar que os nomes <strong>de</strong><br />
livrarias integrantes do corpus <strong>em</strong> questão apresentaram, <strong>em</strong><br />
sua maior parte, as seguintes características:<br />
• possu<strong>em</strong> mais <strong>de</strong> um termo;<br />
• <strong>em</strong>pregam termos da língua portuguesa utilizada no<br />
Brasil;<br />
• são formados por palavras simples, com uma pequena<br />
tendência para as primitivas (nos casos <strong>em</strong> que há<br />
<strong>de</strong>rivação, a gran<strong>de</strong> maioria ocorre por sufixação).<br />
É possível afirmar ainda que a principal motivação dos<br />
nomes <strong>de</strong> livrarias <strong>de</strong>ste estudo seria evi<strong>de</strong>nciar que o estabelecimento<br />
comercializa livros.<br />
A realização <strong>de</strong>sta pesquisa tornou evi<strong>de</strong>nte a dificulda<strong>de</strong><br />
<strong>em</strong> estudar a morfologia das palavras. A primeira dificulda<strong>de</strong><br />
surgiu com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolher uma linha <strong>de</strong> estudo<br />
(tradicional, funcional, gerativa). Ao optarmos pela linha tradi-<br />
cional, outra dificulda<strong>de</strong> foi a falta <strong>de</strong> consenso entre os gramáticos.<br />
Por esse motivo, foi necessário buscar os conceitos utilizados<br />
neste trabalho <strong>em</strong> mais <strong>de</strong> uma gramática. No que<br />
concerne à i<strong>de</strong>ntificação dos afixos, os gramáticos não classificam<br />
tais el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> maneira homogênea, exigindo tomada<br />
<strong>de</strong> posição por parte dos autores-pesquisadores e, até mesmo,<br />
o estabelecimento <strong>de</strong> alguns conceitos (por ex<strong>em</strong>plo, “substituição<br />
<strong>de</strong> letra por s<strong>em</strong>elhança fonética”).<br />
A princípio, o critério adotado para sintetizar os dados,<br />
apesar <strong>de</strong> parecer prolixo e fragmentado, foi o único que<br />
se mostrou viável. Posteriormente, esse critério satisfez os<br />
objetivos do estudo.<br />
Tendo <strong>em</strong> vista a importância das discussões geradas<br />
durante todas as etapas <strong>de</strong>ste estudo, b<strong>em</strong> como a aquisição <strong>de</strong><br />
conhecimento teórico e prático alcançada pelos autores-pesquisadores,<br />
esperamos que esta pesquisa possa contribuir com os<br />
estudos morfológicos referentes a nomes <strong>de</strong> <strong>estabelecimentos</strong><br />
<strong>comerciais</strong>. Para efeito <strong>de</strong> comparação ou acréscimo, consi<strong>de</strong>ramos<br />
importante que este mesmo corpus seja analisado sob a<br />
luz <strong>de</strong> outras abordagens teóricas, permanecendo com foco na<br />
morfologia das palavras.<br />
14 15
Referências<br />
BECHARA, Evanildo. Mo<strong>de</strong>rna gramática portuguesa. 37. ed. rev. e ampl.<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro: Lucerna, 1999.<br />
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 22. ed.<br />
São Paulo: Nacional, 1981.<br />
CIPRO NETO, Pasquale; INFANTE, Ulisses. Gramática da língua portuguesa. 2. ed.<br />
São Paulo: Scipione, 2007.<br />
CUNHA, Celso; CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português cont<strong>em</strong>porâneo.<br />
3. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2001.<br />
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />
Objetiva, 2004.<br />
LISTA telefônica <strong>de</strong> en<strong>de</strong>reços <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte. <strong>Belo</strong> Horizonte: Guiatel, 2007.<br />
16 17<br />
Anexo<br />
QUADRO 1<br />
Universo da pesquisa<br />
Bazar 2 (0,9%)<br />
Cafeteria 3 (1,4%)<br />
Distribuidora 9 (4,3%)<br />
Editora 13 (6,3%)<br />
Nome Próprio 35 (16,8%)<br />
Papelaria 3 (1,4%)<br />
Religioso 20 (9,6%)<br />
Revistaria 1 (0,45%)<br />
Sebo 7 (3,4%)<br />
Sigla 8 (3,8%)<br />
Técnico/concurso/curso 8 (3,8%)<br />
Outros (Enca<strong>de</strong>rnadora, Fundação) 2 (0,9%)<br />
Repetições 28 (13,4%)<br />
Excluídos do corpus 139 (66,5%)<br />
Corpus 70 (33,5%)<br />
Universo (excluídos + corpus) 209 (100%)<br />
Bazar<br />
1) Comercial D Tudo Ltda.<br />
2) Crescer Livraria e Bazar Ltda.<br />
Cafeteria<br />
1) Libreria Café<br />
2) Livraria Café<br />
3) Socieda<strong>de</strong> do Café Ltda.
Distribuidora<br />
1) Alpha Distribuidora <strong>de</strong> Livros Ltda.<br />
2) Distribuidora Evangélica Ômega<br />
3) Justitia Livraria e Distribuidora Ltda.<br />
4) Livraria Distribuidora Asteca<br />
5) Livraria e Distribuidora Ebenézer<br />
6) Livraria Eldorado Distribuidora Ltda.<br />
7) Livraria Letra Viva Import. e Distrib. <strong>de</strong> Livros Ltda.<br />
8) Pimpol Comércio e Distribuição Ltda.<br />
9) Tr<strong>em</strong> Azul Agência Distribuidora Ltda.<br />
Editora<br />
1) Crisálida Livraria e Editora<br />
2) Editora Atlas SA.<br />
3) Editora do Brasil <strong>em</strong> Minas Gerais SA.<br />
4) Editora Comunicação Ltda.<br />
5) Editora Cross Ltda.<br />
6) Editora Ibep Nacional<br />
7) Editora Itatiaia Ltda.<br />
8) Editora Revista dos Tribunais BH<br />
9) Editora Vozes Ltda.<br />
10) Livraria Del Rey Editora Ltda.<br />
11) Livraria e Editora Or<strong>de</strong>m Ltda.<br />
12) Livraria Editora Renovação Batista Nacional<br />
13) Livraria Mandamento Editora Ltda.<br />
Nome próprio<br />
1) Agência Fênix Ltda.<br />
2) Comercial Santos & Silva Livros e CDs Ltda.<br />
3) Ferreira Livros<br />
4) Fischer Comercial Ltda.<br />
5) João Paulo II Livros Novos e Usados Ltda.<br />
6) Lipy Livraria e Papelaria Yunes<br />
7) Livraria Ama<strong>de</strong>u<br />
8) Livraria Ama<strong>de</strong>u Ltda. Livros Novos e Usados<br />
9) Livraria Ângelo<br />
10) Livraria Dal<strong>de</strong>gan Ltda.<br />
11) Livraria João Paulo Dois Ltda.<br />
12) Livraria Oliveira<br />
13) Livraria e Papelaria Dohier Ltda.<br />
14) Livraria e Papelaria Nobel<br />
15) Livraria e Papelaria Yunes Ltda.<br />
16) Livraria São Miguel Ltda.<br />
17) Livraria Van Damme<br />
18) Livraria Wiliam<br />
19) Lucimar M. Carvalho<br />
20) Márcio P. Melo<br />
21) Maria H. Souza<br />
22) Marilene S. Cunha<br />
23) Mazza Livraria<br />
24) Morato Fantini Comércio Ltda.<br />
25) Oliv Livraria Ltda.<br />
26) Paulus Livraria<br />
27) Pedro P. Moreira<br />
28) Quixote Livraria e Café Ltda.<br />
29) Regina P. Cruz<br />
30) Rui B. Mansur<br />
31) Santana Comércio e Representações Ltda.<br />
32) Saramago Livraria e Papelaria Ltda.<br />
33) Suzana D. K. Góes<br />
34) Tavares Livraria e Café<br />
35) Wiliam Livros Ltda.<br />
Papelaria (exclusivamente)<br />
1) Papelaria Múltipla Escolha<br />
2) Papelaria Orion Ltda.<br />
3) Papelaria Ribamar Ltda.<br />
Religioso<br />
1) Adonai Livraria Evangélica<br />
2) Aliança Pró Evangelização das Crianças<br />
3) Atacadão Gospel<br />
18 19
4) Congregação Claretiana<br />
5) Diala Produtos Esotéricos Ltda.<br />
6) Livraria Árvore da Vida<br />
7) Livraria Dharma Ltda.<br />
8) Livraria da Divina Misericórdia<br />
9) Livraria Espírita Christopher Smith<br />
10) Livraria Espírita Emmanoel<br />
11) Livraria Evangélica Cristo Reina<br />
12) Livraria Evangélica Estrela da Manhã Ltda.<br />
13) Livraria Evangélica Graça e Paz<br />
14) Livraria Evangélica S<strong>em</strong>ear<br />
15) Livraria Luz e Vida<br />
16) Livraria e Papelaria Coração <strong>de</strong> Jesus Ltda.<br />
17) Livraria e Papelaria Restauração<br />
18) Manah Livraria Evangélica Ltda.<br />
19) Mek Livraria Evangélica<br />
20) Paulinas Livrarias<br />
Revistaria (exclusivamente)<br />
1) Sapiens Revistaria<br />
Sebo (ou livros novos e usados)<br />
1) A Central Livros Novos e Usados<br />
2) A Savassi Livros Novos e Usados Ltda.<br />
3) Buquinar Livros Novos e Usados<br />
4) Livraria Sebo Novo Horizonte<br />
5) Livraria e Sebo Opção<br />
6) Livraria Sebo Planeta<br />
7) Livraria Sebo União<br />
Sigla/iniciais<br />
1) Cedic – Centro Difusor <strong>de</strong> Cultura Ltda.<br />
2) Copec BH Livraria Ltda.<br />
3) Dumec Livraria e Papelaria<br />
4) EAJ Cultural<br />
5) EDEBEM – Editora e Distribuidora Espírita Bezerra <strong>de</strong> Menezes<br />
6) JM Gomes Livraria Jomago<br />
7) Livraria Shazam Ltda.<br />
8) T&B Livraria e Papelaria Ltda.<br />
Técnico/concursos/cursos<br />
1) Câmara Mineira do Livro<br />
2) Casa dos Concursos<br />
3) Científica Livros<br />
4) Didática dos Concursos<br />
5) Horizon Comércio <strong>de</strong> Livros e Cursos<br />
6) Livraria do Psicólogo e Educador<br />
7) Max Books Livros Científicos<br />
8) Ponto dos Concursos Livraria Ltda.<br />
20 21<br />
Outros<br />
1) Enca<strong>de</strong>rnadora JC. Ltda.<br />
2) Fundação Guimarães Rosa<br />
Repetições<br />
1) A Central Livros Novos e Usados Ltda.<br />
2) João Paulo II Livros Usados<br />
3) Leitura BH Shopping<br />
4) Leitura Shopping Cida<strong>de</strong><br />
5) Leitura Superstore Minas Shopping<br />
6) Libreria Comércio <strong>de</strong> Livros Ltda.<br />
7) Livraria Angelo's Ltda.<br />
8) Livraria Científica<br />
9) Livraria Crisálida Ltda.<br />
10) Livraria Eldorado<br />
11) Livraria João Paulo II<br />
12) Livraria João Paulo II Livros Novos e Usados<br />
13) Livraria Leitura Ltda.<br />
14) Livraria Letra Viva<br />
15) Livraria Livre Arbítrio Departamento Web<br />
16) Livraria Livro Arbítrio<br />
17) Livraria Ouvidor Floresta
18) Livraria Ouvidor Ltda.<br />
19) Livraria Ouvidor Santo Agostinho<br />
20) Livraria Ouvidor Savassi<br />
21) Livraria do Psicólogo e Educador Ltda.<br />
22) Livraria & Sebo Novo Horizonte<br />
23) Nossa Livraria <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte Ltda.<br />
24) Opus Cida<strong>de</strong> Jardim<br />
25) Opus Livraria e Papelaria Matriz<br />
26) Scriptum Livrarias Ltda.<br />
27) Verso e Prosa<br />
28) William Livros Ltda.<br />
QUADRO 2<br />
Síntese dos Dados<br />
Calco linguístico 1<br />
Expressões 13<br />
Termos latinos 7<br />
Empréstimos linguísticos 6<br />
Termos estrangeiros 7<br />
Hibridismos 3<br />
Substituições <strong>de</strong> letra por s<strong>em</strong>elhança fonética 2<br />
Vocábulos portugueses 45<br />
Calco linguístico<br />
1) “Ao macaco que lê”<br />
Expressões<br />
2) “Entre amigos”<br />
3) “Lagoa Center”<br />
4) “Livre Arbítrio”<br />
5) “Maria Papel”<br />
6) “Mente Sana”<br />
7) “Lápis <strong>de</strong> Cera”<br />
8) “Só Livros”<br />
9) “Terminal JK”<br />
10) “do Usina”<br />
11) “Verso e Prosa”<br />
12) “São José”<br />
13) “Santo Agostinho”<br />
14) “<strong>Belo</strong> Horizonte”<br />
Termos latinos<br />
1) acta<br />
2) opus<br />
3) status<br />
4) rex<br />
5) scriptum<br />
6) trivium<br />
7) mater<br />
Empréstimos linguísticos<br />
1) acaiaca<br />
2) alfarrábio<br />
3) etiqueta<br />
4) juruá<br />
5) gutierrez<br />
6) sion<br />
Termos estrangeiros<br />
1) book(eria)<br />
2) brook<br />
3) store<br />
4) cultural<br />
5) news<br />
6) <strong>de</strong>l<br />
7) star<br />
Hibridismos<br />
1) telebook<br />
2) multbook<br />
3) granito<br />
22 23
Substituição <strong>de</strong> letra (por s<strong>em</strong>elhança fonética)<br />
1) etiketa<br />
2) bika<br />
QUADRO 3<br />
Vocábulos portugueses<br />
Vocábulos Simples Composto Primitivo Derivado<br />
1) a X X<br />
2) livro(s) X X<br />
3) armazém X X<br />
4) papéis X X<br />
5) canto X X<br />
6) comércio X X<br />
7) conhecer X X<br />
8) império X X<br />
9) cultura X X<br />
10) can<strong>de</strong>ia X X<br />
11) copas X X<br />
12) educar X X<br />
13) prazer X X<br />
14) ler X X<br />
15) seara X X<br />
16) travessa X X<br />
17) mercado X X<br />
18) opção X X<br />
19) soba X X<br />
20) <strong>de</strong> X X<br />
21) atual X X<br />
22) revistas X X<br />
23) e X X<br />
Vocábulos portugueses<br />
Vocábulos Simples Composto Primitivo Derivado<br />
24) nossa X X<br />
25) brasil X X<br />
26) educação X X<br />
27) livraria X X<br />
28) papelaria X X<br />
29) agência X X<br />
30) leitura X X<br />
31) alameda X X<br />
32) ouvidor X X<br />
33) feirão X X<br />
34) imaginário X X<br />
35) brasileira X X<br />
36) leitores X X<br />
37) universitária X X<br />
38) cultural X X<br />
39) brasília X X<br />
40) portal X X<br />
41) siciliano X X<br />
42) interlivros X X (Pref)<br />
43) interminas X X (Pref)<br />
44) materlivros X (Just)<br />
45) do(s) X (Aglu)<br />
24 25
Primitivo<br />
25 (58%)<br />
QUADRO 4<br />
Vocábulos portugueses<br />
45 (100%)<br />
Simples<br />
43 (96%)<br />
Simples 100%<br />
Derivado<br />
18 (42%)<br />
Derivado 100%<br />
Prefixação<br />
2 (11%)<br />
Sufixação<br />
16 (89%)<br />
(14 sufixos<br />
distintos)<br />
Processos <strong>de</strong> formação das palavras<br />
Derivação<br />
Composto<br />
2 (4%)<br />
Sufixos:<br />
1) -aria (livraria, papelaria) – sufixo que <strong>de</strong>signa causa produtora,<br />
lugar on<strong>de</strong> se encontra ou se faz a coisa <strong>de</strong>notada pela<br />
palavra primitiva, e ainda sufixo que significa lugar, meio,<br />
instrumento.<br />
2) -ência (agência) – sufixo nominal que indica formação <strong>de</strong><br />
substantivo <strong>de</strong> ação, resultado <strong>de</strong> ação, qualida<strong>de</strong>, estado.<br />
3) -ura (leitura) – sufixo nominal que forma substantivo<br />
indicativo <strong>de</strong> ação, resultado <strong>de</strong> ação, qualida<strong>de</strong>, estado.<br />
4) -eda (alameda) – sufixo nominal que indica agrupamento,<br />
coleção.<br />
5) -dor (ouvidor) – sufixo que <strong>de</strong>nota profissão, ofício, agente.<br />
6) -al (cultural, portal) – sufixo nominal que forma adjetivo,<br />
o qual expressa “relação com”, “pertença”.<br />
7) -ão (feirão) – sufixo nominal que <strong>de</strong>signa aumentativo.<br />
8) -ário (imaginário) – sufixo que indica lugar on<strong>de</strong> se pratica<br />
a ação.<br />
9) -eira (brasileira) – sufixo que forma nomes <strong>de</strong> naturalida<strong>de</strong>.<br />
10) -ção (educação) – sufixo que forma nomes <strong>de</strong>rivados<br />
<strong>de</strong> verbos e exprim<strong>em</strong> ação ou resultado <strong>de</strong> ação, estado,<br />
qualida<strong>de</strong>, s<strong>em</strong>elhança, composição, instrumento, lugar.<br />
11) -or; -tor (leitor(es)) – sufixo que forma “nomes <strong>de</strong> agente”,<br />
e ainda “instrumento”, “lugar”.<br />
12) -ária (universitária) – sufixo que forma “nomes <strong>de</strong> agente”,<br />
e ainda “instrumento”, “lugar”.<br />
13) -ia (Brasília) – sufixo grego toponímico, que dá i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
“lugar”.<br />
14) -ano (siciliano) – sufixo que forma “nomes <strong>de</strong> naturalida<strong>de</strong>”.<br />
Obs.: -eria (bookeria) – sufixo nominal que exprime a<br />
i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> estabelecimento comercial.<br />
15) -il (Brasil) – sufixo nominal que indica referência, s<strong>em</strong>elhança.<br />
16) -ito (granito) – sufixo que significa rocha (pedra).<br />
Prefixo:<br />
1) Inter (interlivros, interminas) – prefixo que significa “entre”<br />
(“posição no meio”, “reciprocida<strong>de</strong>”).<br />
Composição<br />
Justaposição: materlivros (mater = mãe + livro(s))<br />
Aglutinação: do (d(e)+o)<br />
QUADRO 5<br />
Associação entre o nome do estabelecimento<br />
e o segmento comercial<br />
Tipo Termo Presente Ocorrência<br />
Direta livraria 49 (70%)<br />
Explícita<br />
armazém<br />
comércio<br />
feirão + livro<br />
mercado<br />
4 (5,7%)<br />
Implícita (objeto-alvo) livro 8 (11,4%)<br />
Fraca (ação) leitura 2 (2,9%)<br />
Ausente 7 (10%)<br />
Total 70 (100%)<br />
26 27
Livraria<br />
1) A Nossa Livraria <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte Ltda.<br />
2) Acta Livraria e Papelaria Ltda.<br />
3) Alameda Livraria e Papelaria<br />
4) Conhecer Livraria e Papelaria Ltda.<br />
5) Entre Amigos Livraria<br />
6) Etiketa Sion Papelaria e Livraria Ltda.<br />
7) Livraria Acaiaca<br />
8) Livraria Alfarrábio Ltda.<br />
9) Livraria ao Macaco Que Lê<br />
10) Livraria Atual Ltda.<br />
11) Livraria Brasil<br />
12) Livraria Cultura Brasileira Ltda.<br />
13) Livraria Educação e Cultura<br />
14) Livraria Etiqueta<br />
15) Livraria Granito Ltda.<br />
16) Livraria Interlivros Ltda.<br />
17) Livraria Interminas Ltda.<br />
18) Livraria Juruá Ltda.<br />
19) Livraria Lagoa Center<br />
20) Livraria Livre Arbítrio<br />
21) Livraria Maria Papel<br />
22) Livraria Materlivros Ltda.<br />
23) Livraria Mente Sana<br />
24) Livraria Opus<br />
25) Livraria Ouvidor<br />
26) Livraria e Papelaria Bika<br />
27) Livraria e Papelaria Can<strong>de</strong>ia Ltda.<br />
28) Livraria e Papelaria Copas Ltda.<br />
29) Livraria e Papelaria Del Ltda.<br />
30) Livraria e Papelaria Educar Ltda.<br />
31) Livraria e Papelaria Gutierrez Ltda.<br />
32) Livraria e Papelaria Lápis <strong>de</strong> Cera<br />
33) Livraria e Papelaria Leitores Ltda.<br />
34) Livraria e Papelaria Rex<br />
35) Livraria Prazer <strong>de</strong> Ler Ltda.<br />
36) Livraria São José<br />
37) Livraria Seara<br />
38) Livraria Só Livros<br />
39) Livraria Telebook<br />
40) Livraria Terminal JK Ltda.<br />
41) Livraria Travessa<br />
42) Livraria Universitária Ltda.<br />
43) Livraria do Usina<br />
44) Livraria Verso e Prosa Ltda.<br />
45) Papelaria e Livraria Brasília<br />
46) Santo Agostinho Livraria e Papelaria Ltda.<br />
47) Scriptum Livraria e Papelaria Ltda.<br />
48) Star Livraria e Papelaria Ltda.<br />
49) Trivium Livraria e Papelaria<br />
Livro(s)<br />
1) Armazém do Livro<br />
2) Bookeria Livros e Papéis Ltda.<br />
3) Brasil Livros<br />
4) Canto do Livro<br />
5) Comércio <strong>de</strong> Livros Ouvidor Ltda.<br />
6) Feirão dos Livros<br />
7) Imaginário Livros – Re<strong>de</strong> Copas<br />
8) Império dos Livros<br />
9) Mercado <strong>de</strong> Livros<br />
10) Ouvidor Livros e Papéis Ltda.<br />
11) Portal do Livro<br />
12) Soba Livros e CDs Ltda.<br />
28 29<br />
Leitura<br />
1) Agência Leitura Livros e Revistas Ltda.<br />
2) Leitura<br />
Nenhum dos termos anteriores (livraria, livro, leitura)<br />
1) Agência Opus Ltda.<br />
2) Agência Status Ltda.
3) Brook Store<br />
4) Cultural News<br />
5) Multbooks Ltda.<br />
6) Opção Cultural<br />
7) Siciliano SA.<br />
Análise morfológica dos nomes<br />
<strong>de</strong> lanchonetes <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte<br />
Felipe Lopes Porto Pereira<br />
Gabriela Freitas <strong>de</strong> Paula<br />
Gar<strong>de</strong>nia Barbosa Neubaner Nascimento<br />
Izabela Tolentino Vignoli Fe<strong>de</strong>rman<br />
Introdução<br />
O presente trabalho t<strong>em</strong> o objetivo <strong>de</strong> analisar a morfologia<br />
<strong>de</strong> nomes <strong>de</strong> lanchonetes da região central <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte<br />
a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar quais são os processos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong><br />
palavras utilizados na criação <strong>de</strong>sses nomes, b<strong>em</strong> como propor<br />
uma análise quantitativa da ocorrência <strong>de</strong> tais processos.<br />
Auxiliaram nesta análise os pressupostos teóricos expostos<br />
por Kehdi (1992) e por Rocha (1998). Também contribuiu a<br />
tese <strong>de</strong> doutorado <strong>Nomes</strong> próprios <strong>comerciais</strong> e industriais<br />
no português: um aspecto da nomenclatura do comércio e<br />
da indústria <strong>em</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte (1971), <strong>de</strong> Norma Lúcia Horta<br />
Neves.<br />
Sobre o corpus<br />
A i<strong>de</strong>ia inicial <strong>de</strong> nosso grupo foi coletar nomes <strong>de</strong> lanchonetes<br />
nas cinco principais regiões <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte: norte, sul,<br />
leste, oeste e centro. Essa tarefa, no entanto, mostrou-se mais<br />
complexa do que parecia <strong>de</strong> início. Isso porque <strong>em</strong> todas as<br />
regiões, exceto no centro, a maioria dos <strong>estabelecimentos</strong> que<br />
apresentavam características <strong>de</strong> lanchonete estavam vinculados<br />
a uma outra ativida<strong>de</strong> comercial. Encontramos lanchonetes<br />
que eram também padarias, bares ou restaurantes.<br />
Essa constatação revelou-se um obstáculo para a coleta do<br />
corpus, haja vista que não po<strong>de</strong>ríamos fugir ao t<strong>em</strong>a escolhido.<br />
Portanto, a fim <strong>de</strong> uniformizar a busca dos dados, tentamos<br />
estabelecer um critério para distinguir o que <strong>de</strong> fato seria<br />
lanchonete e aquilo que não o era. Ao recorrermos à <strong>de</strong>finição<br />
dicionarizada, vimos que lanchonetes são <strong>estabelecimentos</strong><br />
30 31
que oferec<strong>em</strong> “comidas rápidas”, <strong>de</strong> forma geral servidas no<br />
próprio balcão do lugar. Logo, por ser<strong>em</strong> ágeis tais refeições, os<br />
clientes não permanec<strong>em</strong> ali durante muito t<strong>em</strong>po, se compararmos<br />
com a duração <strong>de</strong> uma refeição <strong>em</strong> um restaurante<br />
ou <strong>em</strong> um bar. Por outro lado, o t<strong>em</strong>po que alguém gasta <strong>em</strong><br />
uma lanchonete é superior àquele <strong>de</strong> uma compra <strong>em</strong> uma<br />
padaria.<br />
Norma Lúcia Horta Neves, <strong>em</strong> sua tese <strong>de</strong> doutorado,<br />
compl<strong>em</strong>enta-nos o sentido do termo lanchonete e confirma o<br />
que foi discutido no parágrafo anterior:<br />
Lanchonete – esse neologismo anglo-francês <strong>de</strong>signa um tipo mo<strong>de</strong>rno<br />
<strong>de</strong> casa <strong>de</strong> refeições, geralmente b<strong>em</strong> frequentado e <strong>de</strong>corado conforme<br />
os <strong>estabelecimentos</strong> congêneres na Europa e nos Estados Unidos.<br />
Especializada <strong>em</strong> refeições ligeiras, a “lanchonete” ven<strong>de</strong> sanduíches,<br />
sorvetes e bebidas não alcoólicas. 1<br />
Devido ao que foi exposto, perceb<strong>em</strong>os que os <strong>estabelecimentos</strong><br />
que mais se a<strong>de</strong>quavam a essas <strong>de</strong>finições se concentravam<br />
especialmente na região central. Assim, <strong>de</strong>cidimos<br />
redirecionar a coleta do corpus apenas para aquela região, <strong>de</strong><br />
forma a não comprometer o resultado da presente pesquisa.<br />
Tomamos também o cuidado <strong>de</strong> excluir da coleta nomes<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s re<strong>de</strong>s, como McDonald's, Bob's e Habib's. Por não<br />
ser<strong>em</strong> <strong>estabelecimentos</strong> oriundos <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte, e muitas<br />
vezes n<strong>em</strong> mesmo do Brasil, seus nomes também prejudicariam<br />
o objetivo <strong>de</strong>ste trabalho.<br />
Realização da coleta<br />
Procuramos os nomes das lanchonetes na Lista telefônica<br />
Assinantes <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte: Negócios – Volume 1, da Guiatel.<br />
Também procuramos, na medida do possível, ir até os locais<br />
para constatar se <strong>de</strong> fato eles se encaixavam na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />
lanchonete trabalhada pelo grupo. Uma vez nas ruas, aproveitamos<br />
para colher outros nomes que não estavam na lista e,<br />
assim, inseri-los no corpus.<br />
1 NEVES. <strong>Nomes</strong> próprios <strong>comerciais</strong> e industriais no português: um aspecto da nomenclatura do comércio<br />
e da indústria <strong>em</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte.<br />
Número <strong>de</strong> dados<br />
Ao todo, foram escolhidos 30 nomes <strong>de</strong> lanchonetes para ser<strong>em</strong><br />
analisados. Selecionamos aqueles que seriam mais interessantes<br />
para um estudo morfológico, respeitando s<strong>em</strong>pre a<br />
proporção <strong>de</strong> formações encontradas. Por ex<strong>em</strong>plo: se colh<strong>em</strong>os<br />
40 nomes formados por composição e 20 por <strong>de</strong>rivação sufixal,<br />
respeitamos essa proporção <strong>de</strong> 2:1 no momento da seleção<br />
dos nomes que fariam parte do corpus. Logo, ao selecionar<br />
14 nomes formados por composição, <strong>de</strong>veríamos automaticamente<br />
escolher 7 nomes <strong>de</strong>ntre aqueles formados por <strong>de</strong>rivação<br />
sufixal. Essa preocupação foi tomada para não alterar a análise<br />
quantitativa do corpus.<br />
Região estudada<br />
Conforme já foi dito, optamos por estudar a região central <strong>de</strong><br />
<strong>Belo</strong> Horizonte. Com o intuito <strong>de</strong> abranger toda essa região,<br />
preferimos trabalhar com as principais ruas e avenidas da capital<br />
mineira. São elas: avenidas Afonso Pena, Amazonas, Augusto<br />
<strong>de</strong> Lima e Paraná; e as ruas da Bahia, dos Carijós, Curitiba,<br />
dos Guajajaras, Rio <strong>de</strong> Janeiro, São Paulo, dos Timbiras, dos<br />
Tupinambás e dos Tupis. A relação completa dos nomes das<br />
lanchonetes e <strong>de</strong> suas respectivas localizações encontra-se <strong>em</strong><br />
anexo no final <strong>de</strong>ste trabalho.<br />
Sobre a motivação dos nomes<br />
Procuramos ligar para as lanchonetes a fim <strong>de</strong> saber qual seria,<br />
<strong>de</strong> fato, a motivação <strong>de</strong> seus nomes. Ocorreu, contudo, que os<br />
funcionários <strong>de</strong> muitos dos <strong>estabelecimentos</strong> não souberam nos<br />
informar isso. A<strong>de</strong>mais, encontramos muitos locais que foram<br />
vendidos a outra pessoa, e o novo proprietário simplesmente<br />
<strong>de</strong>cidiu manter o nome antigo. Assim, <strong>em</strong> muitas <strong>de</strong> nossas<br />
análises, tiv<strong>em</strong>os que nos basear apenas <strong>em</strong> conjecturas.<br />
Classificação<br />
Os nomes colhidos foram classificados <strong>em</strong> seis categorias: composição,<br />
<strong>de</strong>rivação sufixal, estrangeirismo, hibridismo, siglag<strong>em</strong>,<br />
32 33
aquiss<strong>em</strong>ia e redobro. A composição, por sua vez, possui<br />
duas subdivisões: por justaposição e por aglutinação.<br />
Decidimos enquadrar cada nome naquela categoria <strong>em</strong><br />
que se percebe mais claramente algum processo <strong>de</strong> formação<br />
<strong>de</strong> palavras utilizado pelo falante do português. Assim, <strong>em</strong>bora<br />
a análise <strong>em</strong> constituintes imediatos (CI) apresentada <strong>em</strong><br />
Kehdi (1992) aponte, por ex<strong>em</strong>plo, que o nome da lanchonete<br />
A Mineirinha seja mais b<strong>em</strong> classificado como composição por<br />
justaposição (artigo + substantivo), optamos por inseri-lo na<br />
categoria <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação sufixal, haja vista que a palavra mineirinha,<br />
núcleo daquele nome, é on<strong>de</strong> se encontra a utilização das<br />
regras morfológicas <strong>de</strong>scritas por Rocha (1998). Escolh<strong>em</strong>os<br />
seguir tal método já que este é um trabalho que analisa principalmente<br />
a formação <strong>de</strong> palavras – e não apenas a união <strong>de</strong><br />
termos para formar um CI (o qual, neste caso, seria o nome<br />
das lanchonetes).<br />
É claro que a classificação aqui proposta não t<strong>em</strong> o<br />
objetivo <strong>de</strong> ser estanque. Também não preten<strong>de</strong>mos com<br />
ela encerrar as discussões acerca do assunto, uma vez que<br />
qualquer método classificatório é merecedor <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates.<br />
Essa classificação foi feita principalmente como meio didático<br />
para auxiliar o grupo na conclusão do trabalho.<br />
Segu<strong>em</strong>-se alguns esclarecimentos a respeito <strong>de</strong> cada uma<br />
das categorias citadas aqui. L<strong>em</strong>bramos que todos os nomes<br />
que serv<strong>em</strong> <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plo neste it<strong>em</strong> faz<strong>em</strong> parte do corpus.<br />
Composição<br />
É o processo <strong>de</strong> formação lexical que combina duas ou mais<br />
bases já existentes na língua. Po<strong>de</strong> ser dividida <strong>em</strong>:<br />
• Composição por justaposição: quando não há perda<br />
<strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos, como <strong>em</strong> Pingo <strong>de</strong> Ouro.<br />
• Composição por aglutinação: quando há perda <strong>de</strong><br />
um ou mais el<strong>em</strong>entos, como <strong>em</strong> Pastelícia (pastel +<br />
<strong>de</strong>lícia).<br />
Dev<strong>em</strong>os aqui fazer uma consi<strong>de</strong>ração: a palavra lanchonete<br />
só foi introduzida como el<strong>em</strong>ento da composição quando<br />
não se podia r<strong>em</strong>ovê-la do nome, assim como <strong>em</strong> Lanchonete<br />
da Vovó. Fora isso, quando ela po<strong>de</strong>ria ser facilmente omitida,<br />
não foi consi<strong>de</strong>rada parte da composição, como <strong>em</strong> (Lanchonete)<br />
Pingo <strong>de</strong> Ouro.<br />
Consi<strong>de</strong>ração s<strong>em</strong>elhante merece também o termo<br />
lanches. Este vocábulo nunca foi omitido, mas não o consi<strong>de</strong>ramos<br />
como agente <strong>de</strong> importância na classificação dos nomes<br />
como composição. Assim, <strong>em</strong> nomes como JM Lanches, consi<strong>de</strong>ramos<br />
que a formação mais importante seja a siglag<strong>em</strong>,<br />
e assim o classificamos. Se a análise <strong>de</strong> CI fosse levada <strong>em</strong><br />
conta, novamente teríamos outro ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> composição.<br />
Derivação sufixal<br />
Ocorre quando um sufixo é atrelado a um radical. Percebe-se<br />
isso facilmente no já referido A Mineirinha, <strong>em</strong> que o vocábulo<br />
mineirinha é formado pela base mineir- acrescida do sufixo<br />
-inha.<br />
Estrangeirismo<br />
Nesta categoria estão os nomes que, <strong>em</strong> companhia ou não <strong>de</strong><br />
palavras do português, apresentam termos que não pertenc<strong>em</strong><br />
à nossa língua. Para ex<strong>em</strong>plificar, t<strong>em</strong>os o nome Mix Lanches,<br />
<strong>em</strong> que a palavra mix (mistura) provém do inglês e ainda não<br />
foi cristalizada na língua portuguesa – se é que assim o será.<br />
Hibridismo<br />
Designação dada aos vocábulos cujos el<strong>em</strong>entos provêm <strong>de</strong><br />
línguas distintas. É o processo <strong>de</strong> Gigabyte, <strong>em</strong> que o prefixo<br />
grego giga uniu-se à construção do inglês byte.<br />
Siglag<strong>em</strong><br />
É a redução <strong>de</strong> um termo nas suas letras inicias. É o processo<br />
<strong>de</strong> JM Lanches, cuja sigla JM se refere às duas primeiras letras<br />
dos nomes José e Márcio.<br />
34 35
Braquiss<strong>em</strong>ia<br />
Ocorre quando se con<strong>de</strong>nsa uma palavra, substituindo a<br />
palavra inteira por parte <strong>de</strong>la. É o que acontece no nome Chris<br />
Lanches, <strong>em</strong> que Chris po<strong>de</strong> vir <strong>de</strong> Cristiane ou Cristina, por<br />
ex<strong>em</strong>plo.<br />
Redobro (ou reduplicação)<br />
É a repetição da sílaba <strong>de</strong> um vocábulo. Ocorre <strong>em</strong> Dudu<br />
Lanches, <strong>em</strong> que Dudu provém <strong>de</strong> Eduardo, cuja sílaba du foi<br />
duplicada.<br />
<strong>Nomes</strong> formados por composição<br />
Composição por justaposição<br />
Boca do Forno<br />
Composição formada pelo substantivo boca + a locução<br />
adjetiva do forno (constituída, por sua vez, da contração do +<br />
o substantivo forno). Essa expressão parece ter sido escolhida<br />
para nomear a lanchonete pois lhe confere um ar caseiro:<br />
os produtos servidos ali seriam feitos na hora e sairiam<br />
quentinhos.<br />
Capital do Pastel<br />
Composição formada pelo substantivo capital + a locução<br />
adjetiva do pastel (constituída, por sua vez, da contração do<br />
+ o substantivo pastel). Interessante é que, nesse nome, a<br />
palavra capital passa a ter um sentido ambíguo: tanto se refere<br />
à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte, que é a capital mineira, como indica<br />
que naquele estabelecimento a especialida<strong>de</strong> é o pastel.<br />
Come Quieto<br />
Interessante composição formada pela forma verbal come + o<br />
adjetivo quieto. Ao ser conjugado no imperativo, o verbo comer<br />
adquire um sentido <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nação. A nosso ver, não parece<br />
que o nome tenha sido criado com o intuito <strong>de</strong> repreen<strong>de</strong>r os<br />
clientes, dizendo-os para lanchar<strong>em</strong> s<strong>em</strong> provocar <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m.<br />
Isso seria absurdo, pois soaria até mesmo como um insulto.<br />
O nome da lanchonete parece mais fazer referência a um<br />
dito muito utilizado pelos habitantes <strong>de</strong> Minas Gerais, o qual<br />
diz que “o mineiro come quieto”, indicando com isso que o<br />
povo <strong>de</strong> Minas faz o que <strong>de</strong>ve fazer preservando o silêncio.<br />
Assim, esse nome, Come Quieto, teria sido escolhido para dar<br />
um ar <strong>de</strong> cumplicida<strong>de</strong> com os habitantes da capital mineira.<br />
Empada Caipira<br />
Trata-se aqui <strong>de</strong> uma composição formada pelo substantivo<br />
<strong>em</strong>pada + o adjetivo caipira. O criador do nome quis, provavelmente,<br />
conferir à lanchonete a impressão <strong>de</strong> que seus produtos<br />
são feitos <strong>de</strong> forma caseira e que, por isso, são mais gostosos<br />
que os <strong>de</strong> outros lugares. Pensamos isso <strong>de</strong>vido à impressão<br />
popular <strong>de</strong> que os quitutes produzidos no campo são mais<br />
saborosos que os das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s, uma vez que, diferente<br />
<strong>de</strong>stes, aqueles não são industrializados. Um funcionário do<br />
local nos informou que a lanchonete é uma franquia <strong>de</strong> Juiz<br />
<strong>de</strong> Fora, fato pelo qual não sabia a verda<strong>de</strong>ira motivação do<br />
nome.<br />
Lanche Mais<br />
O nome é uma composição da forma verbal lanche + o advérbio<br />
mais”. O verbo lanchar conjugado no imperativo, juntamente<br />
com o advérbio <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> sugerir duas coisas:<br />
1) que naquele estabelecimento o ato <strong>de</strong> lanchar é mais<br />
agradável ao <strong>de</strong> outros <strong>de</strong>vido, por ex<strong>em</strong>plo, à excelência dos<br />
produtos e à qualida<strong>de</strong> do atendimento; e 2) que o cliente <strong>de</strong>ve<br />
saborear um número maior <strong>de</strong> produtos.<br />
Lanches Cida<strong>de</strong><br />
É composição formada pelo substantivo lanches + o substantivo<br />
cida<strong>de</strong>. Com este último vocábulo, o criador do nome provavelmente<br />
quis indicar que essa lanchonete seja a principal da<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte ou do centro <strong>de</strong>ssa mesma capital<br />
36 37
(haja vista que o centro é comumente chamado <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>).<br />
O termo cida<strong>de</strong>, do modo como está disposto, ganha ainda<br />
uma aparência <strong>de</strong> adjetivo.<br />
Lanches da Vovó<br />
Composição formada pelo substantivo lanches + a locução<br />
adjetiva da vovó (constituída, por sua vez, da contração da +<br />
o substantivo vovó). Faz-se presente ainda outro processo <strong>de</strong><br />
formação, que é o redobro na palavra vovó: este vocábulo v<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong> avó, com aférese da vogal a e redobramento da sílaba final<br />
vó, linguag<strong>em</strong> infantil e afetiva. No entanto, como julgamos<br />
que a locução adjetiva é o termo que mais confere significado<br />
ao nome, indicando posse com relação aos lanches, classificamos<br />
o nome Lanches da Vovó como composição e não como<br />
redobro.<br />
Esse nome provavelmente foi motivado pela fama <strong>de</strong> as<br />
avós possuír<strong>em</strong> maior habilida<strong>de</strong> na cozinha; assim, procurou-se<br />
insinuar que os lanches ali vendidos foss<strong>em</strong> mais<br />
saborosos do que os <strong>de</strong> outros lugares, além <strong>de</strong> tentar criar<br />
um ambiente familiar para o cliente. Ligamos para o local, mas<br />
a proprietária disse que já o havia comprado com esse nome<br />
e que, como a lanchonete já existe há mais <strong>de</strong> trinta anos, ela<br />
não pretendia mudá-lo.<br />
Pão <strong>de</strong> Queijo Lanches<br />
Observa-se a composição do termo pão <strong>de</strong> queijo com o<br />
substantivo lanches. No entanto, foi o primeiro termo que nos<br />
levou a classificar esse nome nesta categoria: pão <strong>de</strong> queijo,<br />
por si só, já é composição do substantivo pão + a locução<br />
adjetiva <strong>de</strong> queijo (constituída, por sua vez, pela preposição <strong>de</strong><br />
+ o substantivo queijo).<br />
A intenção do nome, talvez, seja a <strong>de</strong> indicar a especialida<strong>de</strong><br />
da lanchonete: o pão <strong>de</strong> queijo. Outra hipótese é a <strong>de</strong><br />
que a lanchonete tenha recebido essa <strong>de</strong>nominação para se<br />
i<strong>de</strong>ntificar com o povo mineiro, haja vista que o pão <strong>de</strong> queijo<br />
é um produto típico das mesas <strong>de</strong> Minas Gerais.<br />
Pingo <strong>de</strong> Ouro<br />
Mais uma composição <strong>de</strong> substantivo + locução adjetiva.<br />
A locução <strong>de</strong> ouro muitas vezes <strong>de</strong>signa algo com qualida<strong>de</strong><br />
excelente (como se observa na expressão menino <strong>de</strong> ouro).<br />
Ao caracterizar o substantivo pingo, o nome do estabelecimento<br />
parece indicar que aquele lugar é ponto <strong>de</strong> excelência<br />
no quesito <strong>de</strong> lanchonetes do centro da capital.<br />
Ponto da Empada<br />
Outra composição <strong>de</strong> substantivo + locução adjetiva. O epíteto<br />
ponto transfere ao termo a que se associa uma <strong>de</strong>signação <strong>de</strong><br />
particularida<strong>de</strong>. A locução da <strong>em</strong>pada, por outro lado, qualifica o<br />
substantivo ponto. O nome, assim, salienta o principal produto<br />
vendido no estabelecimento.<br />
Sabor e Gosto<br />
É uma composição formada pelos substantivos sabor e gosto<br />
interligados pela conjunção e. Cogitamos duas possibilida<strong>de</strong>s<br />
para essa criação: 1) os vocábulos sinônimos foram escolhidos<br />
para enfatizar que os produtos da lanchonete são saborosos;<br />
e 2) relação causa (sabor) X efeito (gosto): o cliente teria a<br />
satisfação <strong>de</strong> <strong>de</strong>gustar um bom produto.<br />
Sol Girassol<br />
Composição do substantivo sol + o substantivo girassol (constituído,<br />
por sua vez, da justaposição da forma verbal gira +<br />
o substantivo sol; para que houvesse uma coerência com o<br />
sist<strong>em</strong>a ortográfico da língua, a consoante s foi dobrada por se<br />
encontrar entre vogais). Esta interessante composição parece<br />
ter sido criada com o intuito <strong>de</strong> explorar a sonorida<strong>de</strong> das<br />
palavras, b<strong>em</strong> como a rima formada por elas. O criador do<br />
nome <strong>de</strong>ve ter pretendido inventar algo diferente do convencional,<br />
haja vista que essa composição não faz referência a<br />
nenhuma característica <strong>de</strong> uma lanchonete. Visitamos o local,<br />
mas lá nos disseram que a lanchonete já fora comprada com<br />
esse nome.<br />
38 39
Composição por aglutinação<br />
A Pastelândia<br />
Clara composição por aglutinação do substantivo pastel + o<br />
radical -lândia, havendo eliminação <strong>de</strong> uma letra l. Esse radical<br />
-lândia t<strong>em</strong> sua orig<strong>em</strong> <strong>em</strong> Disneyland, o nome <strong>em</strong> inglês do<br />
gran<strong>de</strong> parque t<strong>em</strong>ático da Disney; traduzindo o termo para o<br />
português, encontraríamos “Terra da Disney”. Como o parque<br />
ficou muito conhecido mundialmente, foi gran<strong>de</strong> o <strong>em</strong>prego<br />
do substantivo land (terra) junto a outros termos, como se<br />
observa <strong>em</strong> Neverland (“Terra do Nunca”). No português, o<br />
substantivo land parece ter se transformado no radical -lândia.<br />
Vera Lúcia Horta Neves (1971) refere-se a ele como “radicalsufixo”.<br />
Acreditamos, no entanto, tratar-se <strong>de</strong> um radical<br />
porque é um termo que encerra <strong>em</strong> si um significado próprio.<br />
Enfim, o nome da lanchonete, se traduzido do inglês, seria algo<br />
aproximado a “Terra dos pastéis”.<br />
O nome, assim, parece seguir a tendência do estrangeirismo<br />
no português, que t<strong>em</strong> o objetivo <strong>de</strong> indicar, segundo<br />
a própria mentalida<strong>de</strong> do brasileiro, a superiorida<strong>de</strong> do internacional<br />
quando comparado ao nacional. Além disso, o nome<br />
dá uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za, don<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos crer que há uma<br />
gran<strong>de</strong> especialida<strong>de</strong> na fabricação do produto a ser vendido<br />
ali: o pastel.<br />
Pastelícia<br />
Observa-se aqui a composição por aglutinação do substantivo<br />
pastel + o substantivo <strong>de</strong>lícia. Repare que a última sílaba da<br />
palavra pastel só se difere do início do vocábulo <strong>de</strong>lícia por<br />
possuir uma consoante <strong>de</strong>svozeada: <strong>em</strong> tel, a consoante t é<br />
oclusiva linguo<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong>svozeada, enquanto <strong>em</strong> <strong>de</strong>l a consoante<br />
d é oclusiva linguo<strong>de</strong>ntal vozeada. Essas duas partículas se<br />
agregam <strong>de</strong> modo tão espontâneo que não se po<strong>de</strong> perceber<br />
qual foi eliminada: se apenas a letra d <strong>em</strong> <strong>de</strong>lícia ou se toda a<br />
partícula <strong>de</strong>l daquela mesma palavra.<br />
Essa junção dos vocábulos pastel e <strong>de</strong>lícia foi feita talvez<br />
para insinuar que os pastéis oferecidos pela lanchonete são<br />
<strong>de</strong>liciosos. Não pu<strong>de</strong>mos ter a confirmação disso porque<br />
o proprietário não soube informar o motivo da escolha do<br />
nome, uma vez que já comprara o estabelecimento com tal<br />
<strong>de</strong>nominação.<br />
<strong>Nomes</strong> formados por <strong>de</strong>rivação sufixal<br />
A Gorduchinha Lanches<br />
A <strong>de</strong>rivação sufixal encontra-se <strong>em</strong> gorduchinha. Ao adjetivo<br />
gorducha, diminutivo carinhoso <strong>de</strong> gorda, foi acrescido o sufixo<br />
-inha também com o objetivo <strong>de</strong> lhe conferir um significado<br />
terno, duplicando, assim, a carga <strong>de</strong> afetuosida<strong>de</strong> do adjetivo<br />
gorda. O artigo junto a gorduchinha transforma tal adjetivo<br />
<strong>em</strong> substantivo. Assim, acreditamos que o nome tenha sido<br />
criado para <strong>de</strong>signar a dona do local, que po<strong>de</strong>ria ser um pouco<br />
corpulenta. Mas o proprietário nos informou que esse nome foi<br />
dado <strong>em</strong> homenag<strong>em</strong> a uma cliente gordinha que ia s<strong>em</strong>pre ao<br />
estabelecimento.<br />
A Mineirinha<br />
Observa-se a <strong>de</strong>rivação sufixal <strong>em</strong> mineirinha, <strong>em</strong> que ao<br />
adjetivo mineira se agregou o sufixo -inha, dando-lhe uma<br />
significação carinhosa. O artigo junto a mineirinha transforma<br />
esse adjetivo <strong>em</strong> substantivo. Talvez essa construção<br />
tenha sido <strong>em</strong>pregada para transmitir a mensag<strong>em</strong> <strong>de</strong> que a<br />
lanchonete seja tipicamente mineira e, assim, aproximá-la dos<br />
clientes da capital.<br />
Lanches Caçulinha<br />
Neste ex<strong>em</strong>plo, encontramos a <strong>de</strong>rivação sufixal <strong>em</strong> caçulinha.<br />
De acordo com Cunha e Mello Sobrinho (1986), caçula v<strong>em</strong><br />
do quimbundo ka'zuli, o mais novo dos filhos ou dos irmãos,<br />
palavra à qual foi agregado o sufixo -inha, formando assim o<br />
40 41
diminutivo. Acreditamos que o nome se refira ao proprietário<br />
do local, que po<strong>de</strong>ria ser o filho caçula <strong>de</strong> sua família.<br />
Lanches Vovó Mariquinha<br />
Perceb<strong>em</strong>-se aqui três processos <strong>de</strong> formação: composição<br />
por justaposição <strong>de</strong> três substantivos, redobro na palavra vovó<br />
(ver Lanches da Vovó, <strong>em</strong> Composição por justaposição) e<br />
<strong>de</strong>rivação sufixal <strong>em</strong> Mariquinha; este nome próprio, segundo<br />
Azevedo (1993), é diminutivo <strong>de</strong> Marica, que, por sua vez,<br />
provém do latim Marica, e é também hipocorístico <strong>de</strong> Maria.<br />
Por ser Mariquinha, na opinião do grupo, o termo que mais se<br />
sobressai ao nome da lanchonete, <strong>de</strong>cidimos classificar esse<br />
nome como <strong>de</strong>rivação e não como composição ou redobro.<br />
Imaginamos, <strong>de</strong> início, que o nome tenha sido criado<br />
pela própria dona do lugar, que po<strong>de</strong>ria ser avó e se chamar<br />
Mariquinha. A proprietária nos informou algo que não foge muito<br />
a esse pensamento: o nome foi escolhido para homenagear a<br />
mãe <strong>de</strong> seu sogro, Dona Mariquinha, que ficou viúva e criou<br />
seus filhos com a venda <strong>de</strong> quitutes e salgados.<br />
Pastelinho<br />
Clara <strong>de</strong>rivação do substantivo pastel com o sufixo -inho.<br />
Formulamos duas hipóteses para essa construção: 1) o dimi-<br />
nutivo po<strong>de</strong>ria indicar que os produtos ali vendidos são<br />
pequenos, exatamente para ser<strong>em</strong> consumidos rapidamente,<br />
como é o objetivo <strong>de</strong> alguém ao se alimentar numa lanchonete;<br />
e 2) o diminutivo po<strong>de</strong>ria criar certa intimida<strong>de</strong> com o cliente.<br />
Pastel Quentinho<br />
Além da <strong>de</strong>rivação sufixal <strong>em</strong> quentinho, existe aqui um<br />
caso <strong>de</strong> composição, formada pelo substantivo pastel + o<br />
adjetivo quentinho. No entanto, como o adjetivo flexionado no<br />
diminutivo é o termo do nome que mais lhe transmite significado,<br />
<strong>de</strong>cidimos classificá-lo como <strong>de</strong>rivação sufixal. O termo<br />
quentinho é <strong>de</strong>rivado do adjetivo quente, ao qual se juntou<br />
o sufixo -inho. Tendo <strong>em</strong> vista que esse hábito <strong>de</strong> colocar<br />
muitas palavras no diminutivo é típico do falante mineiro, o<br />
nome talvez tenha sido criado para aproximar a lanchonete do<br />
público <strong>de</strong> Minas.<br />
Seu Pãozinho<br />
Há neste nome a presença <strong>de</strong> composição do pronome <strong>de</strong><br />
tratamento seu (no lugar <strong>de</strong> senhor) + o substantivo pãozinho.<br />
Como julgamos ser esta última a palavra que mais confere<br />
significado ao nome, optamos por classificá-lo como <strong>de</strong>rivação<br />
sufixal. Agrega-se ao substantivo pão o sufixo -inho, com<br />
adaptação fonética representada pela consoante z.<br />
O nome, ao colocar no diminutivo um produto da loja,<br />
talvez tenha sido dado para construir um ar <strong>de</strong> cumplicida<strong>de</strong><br />
com o cliente.<br />
<strong>Nomes</strong> formados por estrangeirismo<br />
Tout <strong>de</strong> Bon<br />
Nítido <strong>em</strong>prego <strong>de</strong> estrangeirismo. A exclamação usual <strong>em</strong><br />
português tudo <strong>de</strong> bom, que <strong>de</strong>nota alguém ou alguma coisa<br />
com qualida<strong>de</strong>s excepcionais, foi traduzida literalmente para<br />
o francês. Pensamos que o propósito <strong>de</strong>ssa tradução fosse<br />
aproximar a citada expressão do português ao falar do mineiro,<br />
conhecido pelo hábito <strong>de</strong> não pronunciar algumas letras e até<br />
mesmo sílabas inteiras. O mineiro, pois, estaria acostumado a<br />
dizer simplesmente tudibõ, realização que se aproxima ao da<br />
pronúncia <strong>em</strong> francês <strong>de</strong> tout <strong>de</strong> bon (tu<strong>de</strong>bõ, s<strong>em</strong> a transcrição<br />
fonética). No entanto, quando foi questionada sobre a<br />
motivação do nome, a dona do estabelecimento respon<strong>de</strong>u-nos<br />
apenas com uma série <strong>de</strong> clichês. Disse simplesmente que a<br />
exclamação tudo <strong>de</strong> bom dá a sensação <strong>de</strong> que todo produto ali<br />
vendido seja <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> e procedência, e que o cliente,<br />
achando os lanches saborosos, voltaria para consumir mais.<br />
42 43
Fox Lanches<br />
O estrangeirismo aqui está no vocábulo fox, que v<strong>em</strong> do inglês<br />
e significa raposa. Imaginamos que o dono <strong>de</strong>ssa lanchonete,<br />
ao nomear seu estabelecimento, tenha gostado da sonorida<strong>de</strong><br />
da palavra inglesa e <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> rapi<strong>de</strong>z – observe que a<br />
pronúncia <strong>de</strong>sse termo é rápida e que seu significado r<strong>em</strong>ete a<br />
um animal também ligeiro. Com essa i<strong>de</strong>ia, o nome se referiria<br />
às refeições ágeis típicas das lanchonetes. Todavia, quando<br />
perguntamos ao proprietário o motivo do nome <strong>de</strong> seu estabelecimento,<br />
ele disse apenas que ainda não havia se <strong>de</strong>cidido<br />
quanto a isso até o momento <strong>em</strong> que foi registrar sua <strong>em</strong>presa;<br />
no cartório, então, o escrivão lhe sugeriu que colocasse fox, e<br />
o nome lhe agradou.<br />
Mix Pastel<br />
O vocábulo mix v<strong>em</strong> do inglês e quer dizer mistura. Nossa<br />
hipótese <strong>de</strong> que o nome preten<strong>de</strong>sse sugerir a diversida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> pastéis vendidos no local foi confirmada pela proprietária.<br />
Segundo ela, o nome foi escolhido primeiramente para sugerir<br />
que a lanchonete oferecia uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pastéis;<br />
posteriormente, quando o estabelecimento começou a oferecer<br />
outros tipos <strong>de</strong> salgados, o nome foi mantido porque os clientes<br />
já se i<strong>de</strong>ntificavam com ele.<br />
<strong>Nomes</strong> formados por hibridismo<br />
Gigabyte<br />
Esta palavra se trata <strong>de</strong> um hibridismo <strong>em</strong> que foram unidas<br />
as línguas grega e inglesa. O prefixo grego gígos, anteposto<br />
ao nome <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medida, forma o nome <strong>de</strong> uma<br />
unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada que é 10 9 vezes maior que a primeira. Byte,<br />
por sua vez, provém do inglês e é constituído por letras formadoras<br />
da expressão b(inar)y te(rm), ou termo binário, sequência<br />
constituída <strong>de</strong> um número fixo <strong>de</strong> bits adjacentes (consi<strong>de</strong>rada<br />
a unida<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> informação).<br />
Já que não se trata <strong>de</strong> um estabelecimento ligado à re<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> informática ou a <strong>de</strong> outras tecnologias, mas sim a uma<br />
lanchonete, o termo gigabyte segue a tendência do <strong>em</strong>prego<br />
<strong>de</strong> palavras estrangeiras <strong>em</strong> nomes <strong>de</strong> <strong>estabelecimentos</strong> com o<br />
intuito <strong>de</strong> chamar atenção dos clientes. O nome da lanchonete<br />
po<strong>de</strong>ria ter sido inspirado também pela novela Malhação<br />
(exibida pela Re<strong>de</strong> Globo), na qual existe uma lanchonete<br />
também chamada Gigabyte. Visitamos o local, mas o dono<br />
nos disse que já havia comprado a estabelecimento com esse<br />
nome.<br />
Quibilândia<br />
Interessante hibridismo que mescla a língua árabe com a<br />
inglesa. Conforme Cunha e Mello Sobrinho (1986), quibe<br />
provém do árabe kubbah. À palavra quibe juntou-se o radical<br />
-lândia, <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> inglesa (ver A Pastelândia <strong>em</strong> “Composição<br />
por aglutinação”). Para aproximar o nome ao ato da fala, a<br />
vogal e <strong>de</strong> quibe foi substituída pela vogal i.<br />
Esse tipo <strong>de</strong> construção é bastante utilizado por <strong>estabelecimentos</strong><br />
comercias. Como já foi dito, land <strong>em</strong> inglês significa<br />
terra. Quibilândia seria, portanto, a “Terra do quibe”, atribuindo<br />
uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> ao que, imaginamos,<br />
seja o principal produto vendido.<br />
<strong>Nomes</strong> formados por siglag<strong>em</strong><br />
JM Lanches<br />
Apresenta-se aqui a utilização <strong>de</strong> uma sigla: JM. Segundo o<br />
proprietário, o nome <strong>de</strong> sua lanchonete foi dado <strong>em</strong> homenag<strong>em</strong><br />
a seus dois irmãos: José e Márcio.<br />
PH Lanches<br />
Observa-se aqui o uso da sigla PH. Segundo a proprietária da<br />
lanchonete, a letra P se refere ao nome <strong>de</strong> seu ex-sócio Pietro,<br />
enquanto a letra H provém do próprio nome <strong>de</strong>la, Helena.<br />
44 45
Mesmo não havendo mais socieda<strong>de</strong> entre os dois, o nome do<br />
estabelecimento continuou o mesmo.<br />
Nome formado por braquiss<strong>em</strong>ia<br />
Chris Lanches<br />
O vocábulo que julgamos mais importante neste nome foi<br />
Chris. Provavelmente esta palavra venha do nome do proprietário<br />
do estabelecimento. Várias são as nossas hipóteses com<br />
relação ao termo Chris: po<strong>de</strong>ria vir <strong>de</strong> Cristiane, <strong>de</strong> Cristina, <strong>de</strong><br />
Cristian ou <strong>de</strong> Cristiano, por ex<strong>em</strong>plo. Em todas essas palavras<br />
conservar-se-ia apenas a primeira sílaba e as <strong>de</strong>mais seriam<br />
suprimidas. A letra h na braquiss<strong>em</strong>ia Chris ou po<strong>de</strong> ser do<br />
próprio nome da pessoa ou po<strong>de</strong> ter sido colocada para dar um<br />
tom exótico ao nome.<br />
Nome formado por redobro<br />
Dudu Lanches<br />
Encontramos neste ex<strong>em</strong>plo o redobro <strong>em</strong> Dudu, hipocorístico<br />
<strong>de</strong> Eduardo, o proprietário da lanchonete. A sílaba pretônica du<br />
foi dobrada para formar o apelido carinhoso.<br />
Discussão dos resultados<br />
Como já foi dito, escolh<strong>em</strong>os 30 nomes <strong>de</strong> lanchonetes para<br />
fazer a análise morfológica. Tendo por base todo o estudo feito<br />
até aqui, po<strong>de</strong>mos elaborar a seguinte lista a respeito dos<br />
processos <strong>de</strong> formação dos nomes <strong>de</strong> lanchonetes analisados<br />
neste trabalho:<br />
12 foram formados por composição por justaposição;<br />
2 foram formados por composição por aglutinação;<br />
7 foram formados por <strong>de</strong>rivação sufixal;<br />
3 foram formados por estrangeirismo;<br />
2 foram formados por hibridismo;<br />
2 foram formados por siglag<strong>em</strong>;<br />
1 foi formado por braquiss<strong>em</strong>ia;<br />
e um foi formado por redobro.<br />
Conforme esclarecido na Introdução, foi mantida a pro-<br />
porção entre o total <strong>de</strong> nomes colhidos e o total <strong>de</strong> nomes<br />
selecionados para fazer parte do corpus. Com isso, po<strong>de</strong>mos<br />
perceber que o processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> nomes <strong>de</strong> lanchonetes<br />
mais produtivo foi o <strong>de</strong> composição por justaposição,<br />
que formou 40% dos nomes colhidos pelo grupo. Visto que a<br />
justaposição <strong>de</strong> palavras é o processo mais simples para se dar<br />
nome a um estabelecimento, este alto número <strong>de</strong> composições<br />
já era esperado. Confirmando o que é dito <strong>em</strong> Rocha (1998)<br />
sobre a <strong>de</strong>rivação sufixal – que ela é o processo mais produtivo<br />
na formação <strong>de</strong> palavras no português –, a segunda forma<br />
mais escolhida para nomear lanchonetes foi justamente tal<br />
<strong>de</strong>rivação, somando 23,3%. Interessante foi o gran<strong>de</strong> número<br />
<strong>de</strong> siglas e <strong>de</strong> hibridismos encontrado pelo grupo, pois esperávamos<br />
encontrá-los apenas como exceções. No entanto, como<br />
se vê no gráfico, esses processos representam 6,7% do corpus<br />
cada um.<br />
Com o intuito <strong>de</strong> também analisarmos quantitativamente<br />
as motivações que levaram os proprietários a nomear suas<br />
lanchonetes, <strong>de</strong>cidimos criar algumas categorias para enquadrar<br />
tais motivações. Importante ressaltar que nos baseamos nas<br />
nossas hipóteses para classificar aqueles nomes dos quais não<br />
conseguimos encontrar a verda<strong>de</strong>ira motivação. As categorias<br />
criadas foram:<br />
• Referência aos produtos comercializados: enquadram-<br />
se nesta categoria os nomes que possu<strong>em</strong> algum<br />
el<strong>em</strong>ento que nos r<strong>em</strong>eta àquilo que é vendido <strong>em</strong><br />
uma lanchonete. Estão nesta classificação os nomes:<br />
A Pastelândia, Capital do Pastel, Empada Caipira, Mix<br />
Pastel, Pão <strong>de</strong> Queijo Lanches, Pastelícia, Pastelinho,<br />
Pastel Quentinho, Ponto da Empada, Quibilândia e<br />
Seu Pãozinho.<br />
• <strong>Nomes</strong> <strong>de</strong> proprietário(s): a motivação foi o nome do(s)<br />
dono(s) do estabelecimento. São eles: Chris Lanches,<br />
Dudu Lanches e PH Lanches.<br />
46 47
• Homenag<strong>em</strong>: o intuito foi homenagear alguém. Enqua-<br />
dram-se nesta categoria: A Gorduchinha, Lanches<br />
Vovó Mariquinha e JM Lanches.<br />
• Referência a expressões populares: a intenção foi<br />
mencionar <strong>de</strong> alguma forma certos dizeres populares<br />
(ver análises dos nomes), como acontece <strong>em</strong> Come<br />
Quieto e Tout <strong>de</strong> Bon.<br />
• Referência a pensamentos populares: o propósito foi<br />
lidar com o inconsciente do cliente através <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias<br />
arraigadas na mentalida<strong>de</strong> geral, como a <strong>de</strong> que a<br />
comida caseira e a comida da vovó são mais saborosas<br />
que as outras. É o caso, respectivamente, dos nomes<br />
Boca do Forno e Lanches da Vovó.<br />
• Apelo ao cliente: estabelece um diálogo com o próprio<br />
cliente, or<strong>de</strong>nando-o, incentivando-o. É o ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong><br />
Lanche Mais.<br />
• Outros: são os nomes difíceis <strong>de</strong> classificar <strong>em</strong><br />
qualquer grupo; parec<strong>em</strong> ou ter<strong>em</strong> surgido ao acaso<br />
ou ser<strong>em</strong> expressões do meio particular <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> as<br />
criou. São eles: A Mineirinha, Fox Lanches, Gigabyte,<br />
Lanches Caçulinha, Lanches Cida<strong>de</strong>, Pingo <strong>de</strong> Ouro,<br />
Sabor e Gosto e Sol Girassol.<br />
Pela a análise, o que mais estimulou a formação dos<br />
nomes <strong>de</strong> lanchonetes foram os produtos por elas vendidos,<br />
que somaram 36,7% do total. Isso também foi algo imaginado<br />
pelo grupo, haja vista que o comerciante <strong>de</strong> uma lanchonete<br />
procura ser prático ao anunciar para o cliente o que t<strong>em</strong><br />
para lhe oferecer. Todas as outras motivações, à exceção da<br />
categoria “Outros”, ficaram praticamente responsáveis pelo<br />
mesmo número <strong>de</strong> criação dos nomes. Os processos classificados<br />
como outros, aliás, que somaram nada menos que<br />
26,6% do total, foram motivo <strong>de</strong> surpresa para o grupo, que<br />
não esperava nomes muito elaborados na criação <strong>de</strong> lanchonetes,<br />
como o belo ex<strong>em</strong>plo da composição Sol Girassol.<br />
Conclusão<br />
De acordo com os métodos escolhidos neste trabalho para<br />
classificar o processo <strong>de</strong> formação dos nomes <strong>de</strong> lanchonetes,<br />
pu<strong>de</strong>mos perceber que o processo mais produtivo foi o<br />
<strong>de</strong> composição por justaposição. Neologismos foram constatados<br />
apenas <strong>em</strong> quatro nomes do corpus, nenhum dos quais<br />
formados por justaposição: Pastelândia, Pastelícia, Pastelinho<br />
(no lugar <strong>de</strong> pastelzinho) e Quibilândia, sendo os dois primeiros<br />
formados por composição por aglutinação e os dois últimos por<br />
<strong>de</strong>rivação sufixal. A justaposição, assim, apresenta-se muitas<br />
vezes como um método simplista <strong>de</strong> se nomear um estabelecimento,<br />
s<strong>em</strong> se ocupar da formação <strong>de</strong> novos itens lexicais.<br />
Quanto à motivação, concluímos que o maior incentivo à<br />
nomeação das lanchonetes foram os produtos por elas comercializados.<br />
Portanto, nomes <strong>de</strong> salgados como <strong>em</strong>pada, pão<br />
<strong>de</strong> queijo, pastel e quibe foram escolhidos para fazer parte do<br />
nome do estabelecimento, uma vez que <strong>de</strong>signam produtos<br />
rapidamente consumidos (l<strong>em</strong>brando que o objetivo das lanchonetes<br />
é oferecer “lanches rápidos”). Dentre esses termos, o <strong>de</strong><br />
maior ocorrência foi pastel, que apareceu <strong>em</strong> seis dos trinta<br />
nomes do corpus, talvez por representar um produto barato e<br />
<strong>de</strong> rápido consumo.<br />
48 49
Referências<br />
AZEVEDO, Sebastião Laércio <strong>de</strong>. Dicionário <strong>de</strong> nomes <strong>de</strong> pessoas. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />
Civilização Brasileira, 1993.<br />
CUNHA, Antônio Geraldo da; MELLO SOBRINHO, Cláudio. Dicionário etimológico<br />
Nova Fronteira da língua portuguesa. 2. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira,<br />
1986.<br />
FERREIRA, Aurélio Buarque <strong>de</strong> Holanda. Miniaurélio: o minidicionário da língua<br />
portuguesa. 6ª ed. rev. e atualiz. Curitiba: Positivo, 2004.<br />
KEHDI, Valter. Formação <strong>de</strong> palavras <strong>em</strong> português. São Paulo: Ática, 1992.<br />
64 p. (Coleção Princípios).<br />
LISTA telefônica assinantes <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte: Negócios – Volume 1. <strong>Belo</strong><br />
Horizonte: Guiatel, 2008.<br />
NEVES, Vera Lúcia Horta. <strong>Nomes</strong> próprios <strong>comerciais</strong> e industriais no<br />
português: um aspecto da nomenclatura do comércio e da indústria <strong>em</strong> <strong>Belo</strong><br />
Horizonte. 1971, 201 f. (Tese <strong>de</strong> doutorado <strong>em</strong> Linguística) – Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Letras, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais, <strong>Belo</strong> Horizonte, 1971.<br />
SEIXAS, Carlos Genésio <strong>de</strong> Oliveira; SILVA, Francisco Eduardo Vieira da. Processos<br />
<strong>de</strong> formação <strong>de</strong> palavras nos nomes <strong>de</strong> fantasia. Ao Pé da Letra. Pernambuco,<br />
v.1, p.23-29, 1999. Disponível <strong>em</strong>: . Acesso <strong>em</strong>: 12 abr. 2008.<br />
SILVA, Alyne Varejão Teodosio da; SILVA, Amanda Jôse Dantas. O processo <strong>de</strong><br />
formação <strong>de</strong> palavras dos hipocorísticos <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> antropônimos. Ao Pé da<br />
Letra. Pernambuco, v.2, p.1-7, 2000. Disponível <strong>em</strong>: . Acesso <strong>em</strong>:<br />
12 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2008.<br />
ROCHA, Luiz Carlos <strong>de</strong> Assis. Estruturas morfológicas do português. <strong>Belo</strong><br />
Horizonte: Ed. <strong>UFMG</strong>, 1998. (Coleção Apren<strong>de</strong>r, 18).<br />
50 51<br />
Anexo<br />
QUADRO 1<br />
Listag<strong>em</strong> dos nomes das lanchonetes<br />
e seus respectivos en<strong>de</strong>reços:<br />
A Gorduchinha Lanches. Rua Curitiba, nº. 529 – Centro<br />
A Mineirinha. Avenida Amazonas, nº. 491, lj. 15 – Centro<br />
A Pastelândia. Rua Rio <strong>de</strong> Janeiro, nº. 438 – Centro<br />
Capital do Pastel. Rua da Bahia, nº. 1156, lj. 2 – Lour<strong>de</strong>s<br />
Boca do Forno. Avenida Augusto <strong>de</strong> Lima, nº. 1600 – Centro<br />
Chris Lanches. Rua dos Tupis, nº. 337, lj. 16T – Centro<br />
Come Quieto. Rua Curitiba, nº. 715 lj. 11 – Centro<br />
Dudu Lanches. Avenida Augusto <strong>de</strong> Lima, nº. 744, lj. 23713 – Centro<br />
Empada Caipira. Rua da Bahia, nº. 1271 – Centro<br />
Fox Lanches. Rua Curitiba, nº. 339 – Centro<br />
Gigabyte. Rua Curitiba, nº. 1800, lj. A – Lour<strong>de</strong>s<br />
JM Lanches. Avenida Afonso Pena, nº. 723 – Centro<br />
Lanche Mais. Rua São Paulo, nº. 672 – Centro<br />
Lanches Cida<strong>de</strong>. Rua Rio <strong>de</strong> Janeiro, nº. 858 – Centro<br />
Lanches Da Vovó. Avenida Augusto <strong>de</strong> Lima, nº. 1138, lj. 2 – Barro Preto<br />
Lanches Caçulinha. Rua Curitiba, nº. 1231 – Centro<br />
Lanches Vovó Mariquinha. Avenida Afonso Pena, nº. 2382 – Centro<br />
Mix Pastel. Rua dos Carijós, nº. 577, sl. 5 – Centro<br />
Pão <strong>de</strong> Queijo Lanches. Avenida Augusto <strong>de</strong> Lima, nº. 681 – Centro<br />
Pastelícia. Avenida Paraná, nº. 38 – Centro<br />
Pastelinho. Rua Curitiba, nº. 856, lj. 856 – Centro<br />
Pastel Quentinho. Rua Curitiba, nº. 775 – Centro<br />
PH Lanches. Rua dos Tupinambás, nº. 908 – Centro<br />
Pingo <strong>de</strong> Ouro. Avenida Amazonas, nº. 669, lj. 102 – Centro<br />
Ponto da Empada. Avenida Augusto <strong>de</strong> Lima, nº. 744, lj. 186 – Centro
Listag<strong>em</strong> dos nomes das lanchonetes<br />
e seus respectivos en<strong>de</strong>reços:<br />
Quibilândia. Rua São Paulo, nº. 777 – Centro<br />
Sabor e Gosto. Rua dos Guajajaras, nº. 1022, lj. D2 – Centro<br />
Seu Pãozinho. Avenida Amazonas, nº. 491, lj. 15 – Centro<br />
Sol Girassol. Rua dos Timbiras, nº. 2165 – Lour<strong>de</strong>s<br />
Tout <strong>de</strong> Bon. Rua São Paulo, nº. 1439 – Lour<strong>de</strong>s<br />
<strong>Nomes</strong> próprios <strong>de</strong><br />
oficinas mecânicas <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte<br />
Bianca Cruz Gomes<br />
Jessica Rejane Silva Albergaria<br />
Stephanie Paes Rodrigues<br />
Introdução<br />
Escolh<strong>em</strong>os como t<strong>em</strong>a para este trabalho o estudo da produtivida<strong>de</strong><br />
e motivações para a formação <strong>de</strong> nomes próprios <strong>de</strong><br />
oficinas mecânicas na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte e os processos<br />
que nele estão envolvidos.<br />
Primeiramente foi preciso <strong>de</strong>limitar nosso objeto principal<br />
<strong>de</strong> estudo, aquilo que consi<strong>de</strong>raríamos como nomes próprios.<br />
Utilizar<strong>em</strong>os aqui o conceito <strong>de</strong> Ullmann (1933), utilizado por<br />
Horta Neves (1971) <strong>em</strong> sua tese <strong>de</strong> doutorado sobre nomes<br />
próprios industriais e <strong>comerciais</strong> no português, “o nome<br />
próprio i<strong>de</strong>ntifica uma pessoa ou objeto singularizando-o entre<br />
as <strong>de</strong>mais entida<strong>de</strong>s”. 1 Contudo aplicar<strong>em</strong>os ao conceito <strong>de</strong>le<br />
nomes <strong>de</strong> <strong>estabelecimentos</strong> <strong>comerciais</strong>, pois este é o objeto<br />
<strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>ste trabalho. A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Ullmann nos ajudou a<br />
separar os substantivos encontrados nos nomes dos comércios<br />
<strong>em</strong> comuns e próprios. Formamos, então, dois grupos: no<br />
primeiro estão os que chamamos substantivos <strong>de</strong>notativos,<br />
que foram consi<strong>de</strong>rados por nós como comuns, pois apenas<br />
i<strong>de</strong>ntificam o ramo do comércio transparecendo-o para seus<br />
possíveis clientes, pois acreditamos que eles estejam presentes<br />
na gran<strong>de</strong> maioria das ocorrências, mas que estão s<strong>em</strong>pre<br />
acompanhados <strong>de</strong> um outro substantivo. No segundo grupo<br />
estão os que chamamos <strong>de</strong> substantivos próprios, pois são<br />
eles que verda<strong>de</strong>iramente caracterizam o nome dando a esses<br />
uma particularida<strong>de</strong> diferenciando <strong>de</strong> tantos outros <strong>estabelecimentos</strong><br />
no mesmo ramo.<br />
Os substantivos <strong>de</strong>notativos, apesar <strong>de</strong> apresentar<strong>em</strong><br />
alta produtivida<strong>de</strong>, não apresentaram uma gra<strong>de</strong> flutuação,<br />
eles aparec<strong>em</strong> quase s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> sua forma canônica não<br />
1 NEVES. <strong>Nomes</strong> próprios <strong>comerciais</strong> e industriais no português: um aspecto da nomenclatura do comércio<br />
e da indústria <strong>em</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte, p. 53.<br />
52 53
servindo como fator <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> neologismos. Por este motivo,<br />
tec<strong>em</strong>os uma análise mais superficial sobre eles após constatarmos<br />
seu baixo grau <strong>de</strong> flutuação na língua. Como cerca <strong>de</strong><br />
60% dos nomes próprios <strong>de</strong> oficinas mecânicas levam <strong>em</strong> si<br />
os substantivos <strong>de</strong>notativos acompanhados <strong>de</strong> um substantivo<br />
próprio, <strong>de</strong>cidimos ignorá-los durante a coleta <strong>de</strong> dados e<br />
fazermos uma análise profunda nos substantivos próprios que<br />
os acompanham <strong>em</strong> conjunto com os nomes que não levam os<br />
substantivos <strong>de</strong>notativos <strong>em</strong> sua construção.<br />
Os dados para a pesquisa foram coletados da telelista,<br />
on<strong>de</strong> obtiv<strong>em</strong>os um total <strong>de</strong> 886 nomes <strong>de</strong> oficinas mecânicas<br />
<strong>em</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte. Após uma primeira análise perceb<strong>em</strong>os que<br />
alguns <strong>de</strong>les se repetiam, então eliminamos as repetições e<br />
ficamos com um corpus <strong>de</strong> 826 nomes.<br />
Além das análises sobre os substantivos, tec<strong>em</strong>os<br />
também hipóteses sobre a ocorrência <strong>de</strong> estrangeirismos,<br />
e se tais ocorrências estão relacionadas à classe econômica<br />
on<strong>de</strong> o estabelecimento se encontra. Outra hipótese sobre a<br />
qual far<strong>em</strong>os uma análise é a <strong>de</strong> que o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação<br />
apresenta uma produtivida<strong>de</strong> maior do que o <strong>de</strong> composição<br />
conforme afirma Fiorin (1970).<br />
Far<strong>em</strong>os também análises sobre os prefixos e bases que<br />
permit<strong>em</strong> uma maior flutuação e a criação <strong>de</strong> neologismos,<br />
alguns recursos s<strong>em</strong>ânticos utilizados pelos proprietários e<br />
sua recorrência, os processos <strong>de</strong> redução e composição envolvidos<br />
na criação <strong>de</strong> neologismos, a utilização <strong>de</strong> <strong>em</strong>préstimos<br />
linguísticos, as formações mais recorrentes, como a utilização<br />
<strong>de</strong> nomes próprios ou <strong>de</strong> lugares, entre outros que acharmos<br />
pertinentes. Para assim mostrar que as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> criação<br />
na língua são infinitas e algumas vezes até insondáveis.<br />
Substantivos <strong>de</strong>notativos mais frequentes<br />
Optamos por ressaltar os substantivos <strong>de</strong>notativos fazendo<br />
uma análise <strong>de</strong>stes termos <strong>em</strong> nosso trabalho, pois eles são<br />
importantes para i<strong>de</strong>ntificar as oficinas <strong>de</strong>ntro do vasto ramo <strong>de</strong><br />
prestação <strong>de</strong> serviços. Apesar <strong>de</strong> sua escolha parecer arbitrária,<br />
ela po<strong>de</strong> estar ligada a vários fatores que po<strong>de</strong>m influenciar,<br />
mesmo inconscient<strong>em</strong>ente, nesta escolha. Como Neves já<br />
observou: “(...) a <strong>de</strong>nominação a ele [estabelecimento] atri-<br />
buída muitas vezes irá refletir a sua natureza: se é tradicional<br />
ou mo<strong>de</strong>rno, se sua clientela é <strong>de</strong> classe A ou B etc.” 2<br />
Ela ainda afirma que esta relação s<strong>em</strong>ântica gera uma<br />
hierarquia <strong>em</strong> relação à escolha e ao uso <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sses termos,<br />
<strong>de</strong> acordo com os fatores já mencionados.<br />
É esta hierarquia que tentamos mostrar aqui <strong>em</strong> termos<br />
gerais. Para tanto, escolh<strong>em</strong>os os cinco mais recorrentes,<br />
sendo eles: centro automotivo, auto mecânica e automecânica,<br />
oficina mecânica, oficina e mecânica, que estão presentes <strong>em</strong><br />
60% das oficinas analisadas. Nos outros 40% aparec<strong>em</strong> termos<br />
menos comuns, apenas indicação do tipo <strong>de</strong> serviço prestado<br />
ou consta apenas o nome próprio, s<strong>em</strong> i<strong>de</strong>ntificar o tipo <strong>de</strong><br />
estabelecimento ou serviço prestado.<br />
Analisando os resultados separados por tipo <strong>de</strong> substantivo<br />
<strong>de</strong>notativo, observamos primeiramente que os proprietários<br />
<strong>de</strong> oficinas que adotam esses termos têm preferência por<br />
colocá-los prepostos aos nomes próprios <strong>de</strong> seus <strong>estabelecimentos</strong>,<br />
da parte do nome que os individualiza, e da indicação<br />
do tipo <strong>de</strong> serviço prestado, <strong>em</strong> uma or<strong>de</strong>m mais ou menos<br />
assim:<br />
Indicador <strong>de</strong> tipo <strong>de</strong> <strong>em</strong>presa + nome próprio + serviço prestado<br />
(facultativo) número <strong>de</strong> ocorrências termos prepostos:<br />
• Centro Automotivo: 51 (54%)<br />
• Auto Mecânica: 139 (87%)<br />
• Oficina Mecânica: 14 (66%)<br />
• Oficina: 60 (95%)<br />
• Mecânica: 79 (72%)<br />
Já <strong>em</strong> relação ao número <strong>de</strong> ocorrências <strong>de</strong> cada um<br />
<strong>de</strong>les, observando e analisando a preferência pelos substantivos<br />
<strong>de</strong>notativos auto mecânica, mecânica e centro automotivo,<br />
acreditamos que a preferência pelo termo auto mecânica<br />
2 NEVES. <strong>Nomes</strong> próprios <strong>comerciais</strong> e industriais no português: um aspecto da nomenclatura do comércio<br />
e da indústria <strong>em</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte, p. 47.<br />
54 55
automecânica se justifique pelo fato <strong>de</strong> tornar mo<strong>de</strong>rno e b<strong>em</strong><br />
específico o ramo <strong>de</strong> atuação do centro comercial (quando<br />
l<strong>em</strong>os t<strong>em</strong>os certeza <strong>de</strong> que se trata <strong>de</strong> um estabelecimento<br />
on<strong>de</strong> se faz<strong>em</strong> reparos <strong>em</strong> carros). A gran<strong>de</strong> frequência do<br />
termo centro automotivo também é facilmente justificável,<br />
pelo fato <strong>de</strong> ser um nome mais mo<strong>de</strong>rno, que aumenta o status<br />
do estabelecimento e chama a atenção do cliente. Talvez este<br />
termo não seja mais frequente do que o mecânica por ser mais<br />
recente.<br />
Contudo essas justificativas não explicam a maior<br />
ocorrência do termo mecânica e muito menos do termo oficina<br />
<strong>em</strong> relação ao termo auto mecânica, uma vez que este é<br />
formado da junção dos dois, se caracterizando <strong>em</strong> um termo<br />
mais específico que os dois primeiros. Este fato po<strong>de</strong> provar<br />
que, realmente, estes termos são, <strong>de</strong> certa forma, arbitrários,<br />
ou po<strong>de</strong>m ter uma razão que não conseguimos inferir.<br />
Quanto à relação entre os substantivos <strong>de</strong>notativos analisados<br />
e o restante do nome das oficinas, observamos que os<br />
três termos mais frequentes são também aqueles que faz<strong>em</strong><br />
parte dos nomes mais criativos <strong>de</strong> oficinas, explorando mais as<br />
composições com vocábulos simples ou não, estrangeirismos<br />
e <strong>em</strong>préstimos, além <strong>de</strong> utilizar estes dois últimos recursos<br />
também <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Já os termos oficina mecânica<br />
e oficina são associados a nomes constituídos <strong>de</strong> composições<br />
com topônimos, antropônimos e vocábulos simples, além da<br />
ocorrência dos mesmos <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />
É interessante ressaltarmos que, como ver<strong>em</strong>os mais<br />
adiante, as oficinas cujos nomes foram formados por antropônimos<br />
estão localizadas <strong>em</strong> bairros resi<strong>de</strong>nciais, o que aponta<br />
para o fato da maior ocorrência dos termos oficina e oficina<br />
mecânica <strong>em</strong> bairros afastados do centro. Por outro lado, como<br />
também será explicado a seguir, os estrangeirismos confer<strong>em</strong><br />
maior status às <strong>em</strong>presas, o que reforça a crença <strong>de</strong> que<br />
os termos auto mecânica e centro automotivo representam<br />
termos <strong>de</strong> maior status, uma vez que a maior parte dos estrangeirismos<br />
vêm associados a estes substantivos <strong>de</strong>notativos.<br />
Além disso, como será mostrado na parte <strong>de</strong>ste trabalho<br />
<strong>de</strong>dicada aos estrangeirismos, quase todas os ocorrências <strong>de</strong><br />
estrangeirismos estão presentes <strong>em</strong> bairros <strong>de</strong> classe A, B e C,<br />
consi<strong>de</strong>rando-se que a maior parte dos estrangeirismos aparece<br />
nos termos auto mecânica e centro automotivo, confirmando<br />
também a maior presença <strong>de</strong>stes termos nas classes mencionadas<br />
e reafirmando o maior status <strong>de</strong>stes termos.<br />
Derivação e composição nas oficinas <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte<br />
Acreditamos que seja unanimida<strong>de</strong> entre os linguistas que<br />
estudam morfologia julgar os processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação e composição<br />
como os dois processos mais produtivos na formação <strong>de</strong><br />
novas palavras <strong>em</strong> uma língua. Levando <strong>em</strong> conta esta constatação,<br />
<strong>de</strong>cidimos analisar as ocorrências <strong>de</strong>sses dois tipos <strong>de</strong><br />
processos na formação dos nomes <strong>de</strong> oficinas mecânicas na<br />
Gran<strong>de</strong> BH.<br />
Segundo Fiorin, 3 “o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação é o mais<br />
utilizado para formar novos itens lexicais”, mas segundo os<br />
dados levantados na formação <strong>de</strong> nomes <strong>de</strong> oficinas mecânicas<br />
a realida<strong>de</strong> é b<strong>em</strong> diferente. Pelo estudo, fica visível a maior<br />
produtivida<strong>de</strong> dos processos <strong>de</strong> composição na formação <strong>de</strong>sse<br />
tipo <strong>de</strong> neologismo.<br />
É ainda importante observar que todos os processos<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação registrados nos dados coletados, os termos que<br />
sofreram <strong>de</strong>rivação já vieram <strong>de</strong>rivados da língua, e foram<br />
simplesmente adorados nos nomes dos <strong>estabelecimentos</strong>,<br />
e não criados especificamente para este fim. Os afixos mais<br />
recorrentes foram os aumentativos e diminutivos (23 e 20<br />
ocorrências respectivamente), além <strong>de</strong> plurais, gran<strong>de</strong> parte<br />
<strong>de</strong>les <strong>de</strong>rivando antropônimos, configurando-se <strong>em</strong> um pro-<br />
cesso não muito criativo.<br />
Ex<strong>em</strong>plos:<br />
– Aumentativos:<br />
Auto Mecânica Carlão<br />
Oficina Domingão<br />
Oficina do Pezão<br />
3 FIORIN. Introdução à Lingüística II: princípios <strong>de</strong> análise, p. 70.<br />
56 57
– Diminutivos:<br />
Auto Mecânica Chiquinho<br />
Auto Mecânica Jezinho<br />
Centro Automotivo Coroinha<br />
– Plurais:<br />
Auto Mecânica Irmãos Siqueira<br />
Mecânica Duas Rodas<br />
Oficina Unidos<br />
Os nomes que consi<strong>de</strong>ramos mais criativos foram:<br />
Martelinho <strong>de</strong> Ouro Vip Car<br />
Oficina Jaguarão<br />
Tira Arranhões<br />
Obs.: Só houve um registro <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação por prefixação:<br />
“Repintar Oficina–Pinturas Automotiva”.<br />
Essa pouca produtivida<strong>de</strong> dos processos <strong>de</strong>rivacionais<br />
po<strong>de</strong> ser explicada pelo fato <strong>de</strong> os afixos ser<strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos<br />
presos às suas posições (o afixo -ão, por ex<strong>em</strong>plo, só po<strong>de</strong><br />
aparecer no fim no vocábulo), o que impe<strong>de</strong> a sua mobilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ntro da construção, reduzindo o número <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
formação com estes morf<strong>em</strong>as.<br />
O fato dos afixos ser<strong>em</strong> irredutíveis, também reduz suas<br />
possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> variação: enquanto usando-se a base auto<br />
é possível criar os neologismos autotec e autec, usando-se o<br />
sufixo -ão só se po<strong>de</strong> gerar rodão (s<strong>em</strong> acréscimo <strong>de</strong> novos<br />
el<strong>em</strong>entos). Além disso, os afixos atuam dando novo significado<br />
a um vocábulo, mas não possu<strong>em</strong> caráter tão ambíguo<br />
quanto as bases po<strong>de</strong>m assumir (a base auto, como logo será<br />
mostrado aqui, po<strong>de</strong> significar “<strong>de</strong> si mesmo”, “por si mesmo”<br />
ou po<strong>de</strong> ser uma redução do vocábulo automóvel, <strong>de</strong>notando<br />
qualquer tipo <strong>de</strong> veículo. Já o afixo -inho só po<strong>de</strong> assumir o<br />
sentido <strong>de</strong> diminutivo). Esse caráter preso do sufixo, dificulta a<br />
sua utilização na criação <strong>de</strong> neologismos <strong>comerciais</strong>, explicando<br />
a sua pouca ocorrência nos nomes estudados neste trabalho.<br />
As composições, por outro lado, configuram-se como<br />
um processo b<strong>em</strong> mais criativo na formação dos nomes das<br />
oficinas. O fato <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> formadas por combinação <strong>de</strong> bases,<br />
permite uma liberda<strong>de</strong> criativa muito maior, uma vez que as<br />
bases plenas ou reduzidas, po<strong>de</strong>m assumir diversas posições no<br />
vocábulo, permitindo uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos termos,<br />
como se po<strong>de</strong> notar abaixo:<br />
Solutec Centro <strong>de</strong> Soluções <strong>em</strong> Direção Hidráulica<br />
Tecnicar<br />
RCM Cartech<br />
Auto Mecânica Tec Car Vantecar<br />
Verificamos nos ex<strong>em</strong>plos dados acima que a redução da<br />
lexia técnica e a lexia estrangeira, ou redução da lexia carro<br />
(car), aparec<strong>em</strong> no princípio ou no fim do vocábulo e ainda<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes ou aglutinados. Essa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> redução e<br />
<strong>de</strong>slocamento das bases permite, ao combiná-las, modificá-las<br />
e alterná-las, produzindo uma enorme gama <strong>de</strong> vocábulos<br />
inéditos, o que explica a maior produtivida<strong>de</strong> léxica <strong>de</strong>sse tipo<br />
<strong>de</strong> construção.<br />
Um dos fatores que também colabora com a produtivida<strong>de</strong><br />
das composições é o fato <strong>de</strong> nomes <strong>comerciais</strong> não ter<strong>em</strong><br />
um compromisso com a transparência <strong>de</strong> seus significados.<br />
Isso permite, com a combinação <strong>de</strong> diversas bases, a criação<br />
<strong>de</strong> neologismos <strong>de</strong> sentido obscuro à primeira vista, mas, ainda<br />
assim, criativos. Ex<strong>em</strong>plos:<br />
Autocaixa Eliop<br />
Auto Mecânica Jomec Ltda<br />
Auto Mecânica Pulicar Ltda<br />
Brasmarvi<br />
Carburama Ltda<br />
Fuskateck Ltda<br />
Por fim, apesar da gran<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> criadora que<br />
esses dois tipos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> palavras oferec<strong>em</strong>, é importante<br />
l<strong>em</strong>brar que eles não são os únicos e n<strong>em</strong> os mais<br />
presentes nos dados colhidos para este trabalho, no qual, <strong>em</strong><br />
786 oficinas, esse tipo <strong>de</strong> formação ocorreu apenas <strong>em</strong> 263<br />
<strong>de</strong>las (34%). O restante das oficinas apresenta outros tipos<br />
<strong>de</strong> formação como <strong>em</strong>préstimos, estrangeirismos, toponímia,<br />
58 59
antroponímia, siglação e etc. Alguns <strong>de</strong>sses processos serão<br />
ainda analisados neste trabalho.<br />
A base auto<br />
Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, o<br />
el<strong>em</strong>ento auto apresenta dois sentidos:<br />
paut(o)-. [Do gr. autós, é, ó. gen. autoû. ês, oû.]<br />
El. comp. = “por si próprio”, “<strong>de</strong> si mesmo”: autismo, autocrítica,<br />
auto-estrada.<br />
pauto-. [De automóvel] El. comp. = automóvel: autódromo,<br />
auto-estrada. 4<br />
Diacronicamente, a segunda <strong>de</strong>finição do termo também<br />
significaria “por si mesmo”, uma vez que <strong>de</strong>ntro do vocábulo<br />
automóvel, é a realização do morf<strong>em</strong>a aut(o)- na formação<br />
daquela palavra.<br />
Automóvel. [De aut(o)- + móvel] Adj. 1. Que se locomove<br />
por seus próprios meios. 2. Diz-se <strong>de</strong> veículo que se move<br />
mecanicamente, especialmente a motor <strong>de</strong> explosão [q. v.]<br />
● S.m. 3. Veículo automóvel <strong>de</strong>stinado ao transporte <strong>de</strong> passageiros<br />
ou carga. [Sin.: carro e (bras., inf.) bibi. F. red.: auto.] 5<br />
Mas, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> análise sincrônica, que é a pertinente<br />
para o escopo <strong>de</strong>ste trabalho, como mesmo consta na<br />
<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> automóvel do dicionário, o el<strong>em</strong>ento auto atua<br />
como abreviação <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> meio <strong>de</strong> transporte, tornando-se<br />
muito produtivo na formação <strong>de</strong> nomes próprios <strong>de</strong> oficinas<br />
mecânicas, pois, como constatou Norma Lúcia Horta Neves <strong>em</strong><br />
sua tese <strong>de</strong> doutoramento, “(...) o nome comercial com AUTO<br />
liga-se pela forma a automóvel e s<strong>em</strong>anticamente a qualquer<br />
veículo, inclusive automóveis, caminhões, lambretas etc.” 6<br />
Essa generalida<strong>de</strong> tornou propícia e, por que não, apropriado<br />
o uso do termo nos nomes das oficinas <strong>de</strong> toda a Gran<strong>de</strong><br />
BH, não só como indicador do tipo <strong>de</strong> <strong>em</strong>presa ou <strong>de</strong> serviço<br />
prestado por ela, mas também como parte do nome próprio do<br />
4 FERREIRA. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, p. 176.<br />
5 FERREIRA. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, p. 163.<br />
6 NEVES. <strong>Nomes</strong> próprios <strong>comerciais</strong> e industriais no português: um aspecto da nomenclatura do comércio<br />
e da indústria <strong>em</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte, p. 130.<br />
estabelecimento, da parte que o individualiza, aparecendo <strong>em</strong><br />
aproximadamente 46% das oficinas analisadas.<br />
Apesar da <strong>de</strong>finição do dicionário constar auto como<br />
redução <strong>de</strong> automóvel com a função <strong>de</strong> “termo antece<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong> composição”, 7 na prática não é somente isto que ocorre.<br />
O vocábulo auto, por ser uma base com gran<strong>de</strong> autonomia,<br />
possui bastante mobilida<strong>de</strong>, aparecendo nos dados como forma<br />
plena inicial e final, forma plena in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte (não justaposta<br />
à outra base), ou mesmo como forma abreviada inicial aut-,<br />
como po<strong>de</strong> ser observado no organograma.<br />
7 Definição do símbolo (p): Sinal convencional usado no Dicionário Aurélio.<br />
60 61
A base -auto- por sua<br />
posição nos nomes <strong>de</strong> oficinas da Gran<strong>de</strong> BH<br />
Número <strong>de</strong> ocorrências do termo: 370<br />
Pela análise, observa-se facilmente a gran<strong>de</strong> predomi-<br />
nância das ocorrências do el<strong>em</strong>ento auto como forma inicial e<br />
isolada. Essa discrepância <strong>em</strong> relação às outras formas <strong>de</strong>ve-se<br />
principalmente pelo seu <strong>em</strong>prego nos termos caracterizadores<br />
do tipo <strong>de</strong> <strong>em</strong>presa “centro automotivo” e “auto mecânica” que,<br />
por ser<strong>em</strong> muito frequentes, causam esta visível diferença.<br />
Forma plena isolada<br />
Auto Giro Centro Automotivo<br />
• Formação: composição sintagmática [abreviação <strong>de</strong><br />
automóvel + <strong>de</strong>rivação regressiva <strong>de</strong> girar.] + composição<br />
sintagmática cristalizada centro automotivo.<br />
• Hipótese <strong>de</strong> significado/motivação: 1) Inspiração vin-<br />
da do vocábulo autogiro, que é um tipo <strong>de</strong> avião;<br />
2) auto como adjetivo, no sentido <strong>de</strong> autônomo e giro<br />
como substantivo, resultado <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação regressiva<br />
<strong>de</strong> girar.<br />
• Significado/motivação real: segundo o proprietário, o<br />
termo giro é sinônimo <strong>de</strong> potência, velocida<strong>de</strong>. Auto<br />
giro, então, representaria um carro veloz, potente.<br />
Ainda segundo ele, o composto sintagmático centro<br />
automotivo significaria que o carro sai <strong>de</strong> sua oficina<br />
b<strong>em</strong> equipado. Relação com autogiro não confirmada.<br />
Auto Nasa<br />
• Formação: abreviação <strong>de</strong> automóvel + antropônimo.<br />
• Hipótese <strong>de</strong> significado/motivação: relação com<br />
a agência espacial Nasa, uma vez que esta é uma<br />
famosa agência que produz e faz reparos <strong>em</strong> naves<br />
espaciais, entre outras ativida<strong>de</strong>s, o que também<br />
é um trabalho mecânico. Nesse sentido, Auto Nasa<br />
seria uma “Nasa dos automóveis”, dando maior status<br />
para a oficina.<br />
Significado/motivação real: segundo um funcionário da<br />
oficina, o termo Nasa foi escolhido por ser a forma como o seu<br />
proprietário, chamado Nazareno, é popularmente conhecido.<br />
O fato do el<strong>em</strong>ento ser grafado com s, ao invés <strong>de</strong> z, não foi<br />
explicado.<br />
Auto Cenil<br />
Formação: abreviação <strong>de</strong> automóvel + redução sintagmática<br />
[antropônimo abreviado + antropônimo (apelido)].<br />
Hipótese <strong>de</strong> significado/motivação: Abreviação obscura à<br />
primeira vista.<br />
Significado/motivação real: Segundo uma funcionária,<br />
Cenil é formado pelo nome dos sócios do estabelecimento.<br />
Ce- = Celso; -nil = Nil (apelido do segundo sócio, que se chama<br />
Irineu).<br />
Auto Mecânica Sumpani<br />
Formação: composição sintagmática cristalizada auto<br />
mecânica + antropônimo.<br />
Hipótese <strong>de</strong> significado/motivação: redução sintagmática<br />
obscura à primeira vista.<br />
Significado/motivação real: O proprietário explicou que<br />
Sumpani é o sobrenome <strong>de</strong> sua família, <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> italiana.<br />
É uma questão <strong>de</strong> tradição.<br />
Forma plena inicial<br />
Autolima Manutenção Automotiva<br />
Formação: composição por justaposição [abreviação <strong>de</strong><br />
automóvel + antropônimo Lima] + composição sintagmática<br />
[substantivo + adjetivo].<br />
Hipótese <strong>de</strong> significado/motivação: Abreviação <strong>de</strong> automóvel<br />
+ Sobrenome do proprietário.<br />
Significado/motivação real: o proprietário revelou que,<br />
na verda<strong>de</strong>, o nome da oficina é Amil Manutenção Automotiva,<br />
on<strong>de</strong> Amil po<strong>de</strong> ter dois sentidos: 1) Lima – sobrenome da<br />
família – ao contrário; ou 2) Sigla <strong>de</strong> Auto Mecânica Irmãos<br />
Lima, que era o nome do estabelecimento na década <strong>de</strong> 80.<br />
62 63
Autologia<br />
Formação: Composição por aglutinação [abreviação <strong>de</strong><br />
automóvel + morf<strong>em</strong>a que <strong>de</strong>nota ciência, estudo (-logia)].<br />
Hipótese <strong>de</strong> significado/motivação: neologismo que significaria<br />
“ciência dos automóveis”, o que <strong>de</strong>notaria uma oficina<br />
on<strong>de</strong> os funcionários teriam gran<strong>de</strong> conhecimento do seu<br />
instrumento <strong>de</strong> trabalho.<br />
Significado/motivação real: para o dono, autologia significa<br />
“ensino dos carros”. Ele diz: “para se manter atualizado, t<strong>em</strong><br />
que estudar. Nessa oficina não existe probl<strong>em</strong>a s<strong>em</strong> solução.<br />
Às vezes, carros vêm pra cá com probl<strong>em</strong>as que nenhuma<br />
oficina resolveu e a gente resolveu. Aqui é assim: ou o probl<strong>em</strong>a<br />
é resolvido ou o cliente não paga”.<br />
Forma plena final<br />
Koreauto LTDA<br />
Formação: Composição por justaposição [estrangeirismo<br />
do ingl. korea + abreviação <strong>de</strong> automóvel] + Redução sintagmática<br />
<strong>de</strong> limitada (siglação).<br />
Hipótese <strong>de</strong> significado/motivação: Composição com o<br />
termo korea, <strong>em</strong> inglês, s<strong>em</strong> motivo aparente. Talvez pelo fato<br />
<strong>de</strong> termos estrangeiros chamar<strong>em</strong> mais atenção do que termos<br />
<strong>em</strong> português.<br />
Significado/motivação real: o proprietário disse que no<br />
início eles só trabalhavam com vans coreanas, então o nome<br />
ficou assim. Não foi explicado o porquê do uso do termo <strong>em</strong><br />
inglês e não <strong>em</strong> português.<br />
Mundial Mundiauto Auto Mecânica<br />
Formação: substantivo + composição por aglutinação<br />
[substantivo + abreviação <strong>de</strong> automóvel] + composto sintagmático<br />
cristalizado.<br />
Hipótese <strong>de</strong> significado/motivação: o proprietário po<strong>de</strong> ter<br />
pensado <strong>em</strong> “Mundial Auto Mecânica”, mas por algum motivo,<br />
resolveu aglutinar os dois primeiros termos e criar um novo<br />
vocábulo para ficar entre eles.<br />
Significado/motivação real: o genro do proprietário<br />
informou que o sogro <strong>de</strong>le é conhecido como “Mundinho”.<br />
Então, há 30 anos, quando foram registrar a oficina, eles pen-<br />
saram <strong>em</strong> vários nomes e optaram por mundial por começar<br />
com as mesmas letras <strong>de</strong> Mundinho. O neologismo Mundiauto,<br />
apesar <strong>de</strong> sugerir ter sido formado por aglutinação <strong>de</strong> mundial<br />
e auto, foi, na realida<strong>de</strong>, resultado da aglutinação <strong>de</strong> Mundinho<br />
com auto.<br />
Forma abreviada aut inicial<br />
Autec:<br />
Formação: composição por aglutinação [redução da base -auto-<br />
+ abreviação do vocábulo técnico(a)].<br />
Autforte:<br />
Formação: composição por aglutinação [redução da base -auto-<br />
+ adjetivo forte].<br />
Ambiguida<strong>de</strong>s com a base auto<br />
Como já foi dito no início <strong>de</strong>sta análise, o termo auto aparece<br />
nos nomes <strong>de</strong> oficinas mecânicas como abreviação <strong>de</strong><br />
automóvel, mas ele também po<strong>de</strong> significar “por si mesmo”,<br />
“<strong>de</strong> si mesmo”. A existência <strong>de</strong>stes dois sentidos para o termo<br />
permitiu a ocorrência <strong>de</strong> dois trocadilhos com o seu uso, nos<br />
dados colhidos.<br />
Auto-análise, segundo o Dicionário Aurélio da Língua<br />
Portuguesa (2004), é uma “investigação sist<strong>em</strong>ática <strong>de</strong> si<br />
mesmo, mediante certos processos do método psicanalístico”. 8<br />
Devido à ambiguida<strong>de</strong> do el<strong>em</strong>ento -auto-, um composto sintagmático<br />
formado pelos mesmos el<strong>em</strong>entos daquele vocábulo foi<br />
usado para dar nome à oficina mecânica Auto Análise LTDA, no<br />
sentido <strong>de</strong> “análise <strong>de</strong> veículos”.<br />
8 FERREIRA. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, p. 162<br />
*Não foi possível entrar <strong>em</strong> contato com as oficinas da categoria “Forma abreviada aut inicial”. Seus<br />
nomes foram acrescentados aqui apenas com a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> sua formação como ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong>ssa categoria.<br />
**Não conseguimos entrar <strong>em</strong> contato com os proprietários das oficinas Auto Análise Ltda e Auto Confiança<br />
Centro Automotivo para perguntar se os trocadilhos foram propositais, ou mesmo para saber sua<br />
motivação.<br />
64 65
A mesma ambiguida<strong>de</strong> foi usada na oficina Auto Confiança<br />
Centro Automotivo, on<strong>de</strong> o composto sintagmático que significa<br />
“confiança <strong>em</strong> si mesmo”, per<strong>de</strong> o caráter <strong>de</strong> composição e se<br />
apresenta como dois vocábulos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes: auto significando<br />
automóvel, veículo; e confiança, como substantivo que<br />
po<strong>de</strong> estar <strong>de</strong>notando várias coisas como, por ex<strong>em</strong>plo, que a<br />
oficina é confiável. Ou ainda mantendo-se a composição, mas<br />
<strong>de</strong>notando que os veículos sa<strong>em</strong> <strong>de</strong> lá confiáveis.<br />
Apesar da pequena ocorrência, esse tipo <strong>de</strong> formação,<br />
explorando a ambiguida<strong>de</strong> da base auto, é um método criativo<br />
<strong>de</strong> criação <strong>de</strong> neologismos para dar nome às oficinas, e po<strong>de</strong><br />
ser ainda bastante explorado. Essa base, <strong>em</strong> seu sentido usual<br />
<strong>em</strong> nomes <strong>de</strong> oficinas, permite a formação <strong>de</strong> uma vasta série<br />
<strong>de</strong> neologismos interessantes por sua fácil a<strong>de</strong>são a outras<br />
bases e afixos. Por isso houve a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se analisar<br />
separadamente esse el<strong>em</strong>ento tão produtivo <strong>de</strong> composição.<br />
<strong>Nomes</strong> próprios<br />
Verificamos que a escolha <strong>de</strong> nomes próprios dos proprietários<br />
é muito produtiva para a escolha do nome do estabelecimento.<br />
Acreditamos que este recurso seja tão frequente no ramo <strong>de</strong><br />
oficinas mecânicas <strong>de</strong>vido ao grau <strong>de</strong> familiarização do cliente<br />
com o estabelecimento comercial. Uma vez que no ramo <strong>de</strong><br />
oficina mecânica é importante para o proprietário que o cliente<br />
crie um certo vínculo <strong>de</strong> confiança com o local. Outro ponto<br />
motivador para a escolha <strong>de</strong> nomes próprios para o estabelecimento<br />
é quando o proprietário já é uma pessoa b<strong>em</strong> conhecida<br />
no local on<strong>de</strong> montou seu estabelecimento, <strong>de</strong>sta forma ele<br />
usa seu nome como uma espécie <strong>de</strong> marca a fim <strong>de</strong> transmitir<br />
credibilida<strong>de</strong> e confiabilida<strong>de</strong>.<br />
A transferência do nome próprio do proprietário para<br />
o nome do estabelecimento, entretanto, só é produtiva para<br />
oficinas que estão longe do gran<strong>de</strong> centro da capital, <strong>em</strong><br />
regiões resi<strong>de</strong>nciais afastadas dos gran<strong>de</strong>s centros urbanos.<br />
Em todas as 227 ocorrências <strong>de</strong> nomes próprios <strong>de</strong> proprietário<br />
verificadas no corpus essas lojas estão <strong>em</strong> bairros residências,<br />
ou seja, não houve nenhum caso encontrado no centro da<br />
capital. Possivelmente isto se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong> que a clientela<br />
das oficinas do centro <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte ser mais variada, o<br />
que reforça nossa hipótese <strong>de</strong> que essa escolha esteja fort<strong>em</strong>ente<br />
ligada à familiarização do cliente com o comércio.<br />
Análise dos dados<br />
Apesar da alta produtivida<strong>de</strong> da transferência do nome do<br />
proprietário para o nome do estabelecimento, constatamos que<br />
o nome sozinho é pouco funcional para transparecer o ramo do<br />
comércio. Desta forma os proprietários geralmente <strong>em</strong>pregam<br />
também ao nome um substantivo que o especifique. A partir<br />
daí encontramos diferentes formas <strong>de</strong> uso do substantivo.<br />
Em 175 casos, ou seja, na gran<strong>de</strong> maioria, ele é anteposto<br />
ao substantivo que correspon<strong>de</strong> ao nome do proprietário.<br />
Ex.: Oficina do Chiquinho, Auto Mecânica Dílson, Centro<br />
Automotivo Gil.<br />
Na posição posposta registramos 34 ocorrências, nestes<br />
casos o nome do proprietário v<strong>em</strong> antes do substantivo que<br />
<strong>de</strong>nota a ativida<strong>de</strong> comercial exercida no local.<br />
Ex.: Léo Car, Marcelo Auto Mecânica, Netinho Centro<br />
Automotivo.<br />
Em 14 casos observamos a formação <strong>de</strong> uma nova<br />
palavra através do processo <strong>de</strong> redução, composição, <strong>de</strong>rivação<br />
ou, <strong>em</strong> alguns casos, dois processos ocorrendo juntos.<br />
Em ambos, o nome do proprietário sofre a redução, tornando<br />
se uma espécie <strong>de</strong> base, e recebe algum afixo ou liga-se a<br />
outra base, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que esses <strong>de</strong>not<strong>em</strong> o ramo da ativida<strong>de</strong><br />
comercial.<br />
Ex.: Mecânica Vinicar (substantivo + redução + composição).<br />
Oficina Marcocar (substantivo + redução + composição);<br />
Ex.: Cleocar (redução + composição).<br />
Segundo o proprietário, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>sse nome surgiu da<br />
tentativa <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregar seu nome mais uma palavra que contivesse<br />
o sentido <strong>de</strong> carro e formar “uma coisa só”. Então ele,<br />
que se chama Cleandro, achou que ficaria melhor se usasse seu<br />
66 67
apelido, Cleo, que é uma redução <strong>de</strong> seu nome. Dessa forma<br />
ele juntou Cleo à palavra car, carro <strong>em</strong> inglês, formando uma<br />
só palavra que contivesse os dois sentidos por ele <strong>de</strong>sejado.<br />
Ainda segundo ele esse nome além <strong>de</strong> ter uma boa sonorida<strong>de</strong><br />
ainda marca seu nome, uma vez que é b<strong>em</strong> conhecido no<br />
bairro.<br />
A utilização do nome do proprietário sozinho, s<strong>em</strong> estar<br />
acompanhado <strong>de</strong> um substantivo que transpareça o ramo da<br />
ativida<strong>de</strong> comercial ou sofrer nenhum tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação ou<br />
composição, foi encontrada <strong>em</strong> apenas 4 casos. Acreditamos<br />
que a pouca utilização <strong>de</strong>sta opção se <strong>de</strong>ve a sua baixa<br />
transparência.<br />
Ex.: Ferreira & Ferreira, Pedro e Filhos, Lécio <strong>de</strong> Sena<br />
Gonçalves.<br />
Recursos s<strong>em</strong>ânticos<br />
Os recursos s<strong>em</strong>ânticos, apesar <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> comumente encontrados<br />
na língua, são pouco produtivos para a criação <strong>de</strong> nomes<br />
<strong>de</strong> oficinas mecânicas, do corpus <strong>de</strong> 886 oficinas encontramos<br />
apenas 25 registros, que ocorr<strong>em</strong> mais no processo metonímico<br />
do que metafórico.<br />
Análise <strong>de</strong> dados<br />
No processo metonímico, também conhecido como <strong>de</strong>rivação<br />
imprópria, encontramos 19 casos. Na maioria das vezes, o<br />
<strong>em</strong>prego do nome <strong>de</strong> algum mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> automóvel ou marca<br />
do fabricante migra <strong>de</strong> sua posição <strong>de</strong> substantivo próprio<br />
para substantivo comum, encapsulando o significado do ramo<br />
comercial <strong>em</strong> si. Com os substantivos comuns, por sua vez,<br />
eles abrang<strong>em</strong> seu significado, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> significar um objeto<br />
para <strong>de</strong>notar um conjunto <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s.<br />
Ex.: Auto Mecânica Lamborghini, Auto Mecânica Lamborghine,<br />
Auto Mecânica Lamborghinni, Centro Automotivo Rodão,<br />
Mecânica Parafuso.<br />
O processo metonímico também po<strong>de</strong> aparecer como<br />
um fator motivador para a criação <strong>de</strong> um neologismo através<br />
do processo <strong>de</strong> composição ou <strong>de</strong>rivação. Geralmente nesses<br />
casos o nome do mo<strong>de</strong>lo ou marca receb<strong>em</strong> um afixo ou uma<br />
outra base que aju<strong>de</strong> a transparecer a ativida<strong>de</strong> exercida pelo<br />
comércio.<br />
Ex.: Fuskatec (base + redução + composição), Mecânica<br />
AlFiat (substantivo + <strong>de</strong>rivação por prefixação).<br />
Para o processo metafórico foram encontradas apenas<br />
quatro ocorrências. Acreditamos que tal constatação se <strong>de</strong>ve<br />
ao fato <strong>de</strong> haver na língua poucas expressões que possam ser<br />
produtivas para o tipo <strong>de</strong> comércio pesquisado.<br />
Ex.: Mão Dupla Peças & Serviços, Mão na Roda.<br />
Estrangeirismos<br />
O <strong>em</strong>préstimo <strong>de</strong> termos e/ou expressões <strong>de</strong> línguas estrangeiras,<br />
estrangeirismos, t<strong>em</strong> uma frequência regular na<br />
produção <strong>de</strong> nomes <strong>de</strong> oficinas mecânicas. Ressalto que não<br />
consi<strong>de</strong>ramos, aqui, nomes <strong>de</strong> marcas e mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> veículos<br />
importados como termos provenientes <strong>de</strong> estrangeirismo.<br />
O <strong>em</strong>préstimo <strong>de</strong> termos relacionados a esportes automobilísticos<br />
também não estão incluídos nesta análise por<br />
apresentarmos adiante uma parte <strong>de</strong>dicada a este tipo <strong>de</strong><br />
<strong>em</strong>préstimo específico. Consi<strong>de</strong>ramos apenas o uso <strong>de</strong> palavras<br />
ou expressões estrangeiras que foram usadas pelo proprietário<br />
na tentativa <strong>de</strong> transparecer <strong>de</strong> alguma forma o ramo<br />
comercial analisado.<br />
A partícula car foi <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rada como resultado <strong>de</strong><br />
estrangeirismo nesta análise, uma vez que consi<strong>de</strong>ramos a<br />
mesma como parte integrante do processo <strong>de</strong> redução.<br />
Observamos no corpus pesquisado que o uso <strong>de</strong> estrangeirismos<br />
está diretamente ligado à classe social atendida pela<br />
oficina, e que sua produtivida<strong>de</strong> varia <strong>de</strong> acordo com ela. É fato<br />
que está implícito <strong>em</strong> nossa cultura acrescentarmos a palavras<br />
estrangeiras uma valorização. Desta forma o proprietário que<br />
se utiliza <strong>de</strong>ste recurso, muito provavelmente, acredita que o<br />
mesmo irá conferir um maior status a seu estabelecimento.<br />
Segundo o proprietário da Avantgar<strong>de</strong> Motors, ele escolheu<br />
68 69
este nome porque ele significa a expressão “à frente <strong>de</strong> todos”<br />
<strong>em</strong> inglês. Quando o questionei do motivo <strong>de</strong> ele ter optado<br />
por um nome <strong>em</strong> inglês, já que esta expressão existe <strong>em</strong> sua<br />
língua materna, ele me respon<strong>de</strong>u que o motivo da escolha<br />
“foi o fato <strong>de</strong> um nome <strong>em</strong> inglês t<strong>em</strong> um valor estilístico maior,<br />
o que agregaria mais requinte a sua loja”.<br />
Apesar da gran<strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> termos e expressões<br />
estrangeiras nos bairros economicamente mais favorecidos,<br />
os proprietários parec<strong>em</strong> não estar seguros da transparência<br />
<strong>de</strong> tais termos para seus clientes. Eles raramente aparec<strong>em</strong><br />
isolados, na gran<strong>de</strong> maioria das ocorrências estão s<strong>em</strong>pre<br />
acompanhados <strong>de</strong> um substantivo que <strong>de</strong>note o ramo da<br />
ativida<strong>de</strong> exercida pelo estabelecimento.<br />
Análise dos dados<br />
Dos 58 registros <strong>de</strong> estrangeirismos encontrados, apenas dois<br />
encontram-se <strong>em</strong> bairros economicamente classificados como<br />
D ou E. Nesses dois casos foram utilizados termos pequenos<br />
e já cristalizados na língua portuguesa, como no caso <strong>de</strong> Stop<br />
Car. Nos bairros economicamente classificados como A, B e C<br />
a produtivida<strong>de</strong> foi muito maior, os proprietários utilizam-se <strong>de</strong><br />
expressões longas ou criam neologismos transformando palavras<br />
estrangeiras <strong>em</strong> bases. Acreditamos que essa flexibilida<strong>de</strong> dos<br />
termos estrangeiros se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong> as palavras e expressões<br />
estrangeiras ser<strong>em</strong> mais transparentes para esse público.<br />
Analisando as ocorrências pela produtivida<strong>de</strong> da língua<br />
escolhida verificamos que o inglês é <strong>de</strong> longe o preferido dos<br />
proprietários. Ele aparece <strong>em</strong> 47 dos 58 registros, sendo que<br />
<strong>em</strong> quatro <strong>de</strong>stes ele está integrado no processo <strong>de</strong> criação<br />
<strong>de</strong> neologismos. Deixando os outros 11 casos divididos entre<br />
o francês, latim, italiano e grego. Para este ultimo vale a pena<br />
ressaltar que os encontramos o uso dos termos alfa e ômega,<br />
que sobre uma outra perspectiva po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados como<br />
<strong>de</strong>rivação imprópria, pois esses termos também são nomes<br />
próprios <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> automóveis.<br />
Ex.: Centro Automotivo Le Mans (francês), Alfa Car<br />
Regulagens (grego), Campione Automotivi (italiano), Pr<strong>em</strong>ium<br />
Imports (latim + inglês), Avantgar<strong>de</strong> Motors Comercial<br />
(inglês), Centro Automotivo Mad (inglês), Easy Parking Centro<br />
Automotivo (inglês), Oficina Sofisty Car Comércio (inglês),<br />
Touring Club do Brasil (inglês).<br />
Neologismos<br />
Ex.: Autoway Centro Automotivo: [base auto (português) +<br />
base way (inglês) = composição];<br />
Masterauto: [base master (inglês) + base auto (português)<br />
= composição].<br />
Empréstimos linguísticos<br />
É comum encontrarmos expressões ou palavras provenientes<br />
<strong>de</strong> esportes automobilísticos <strong>em</strong>pregados aos nomes próprios<br />
<strong>de</strong> oficinas mecânicas. Acreditamos que o que causa essa<br />
motivação é a admiração <strong>de</strong>sses esportes entre os clientes<br />
e proprietários <strong>de</strong> oficinas, uma vez que tratam do mesmo<br />
produto: carros. Outra hipótese para o uso <strong>de</strong> tais termos é o<br />
fato <strong>de</strong> que são <strong>de</strong> domínio geral da população, mesmo entre<br />
aqueles que não apreciam tais esportes, uma vez que eles<br />
estão difusos na mídia. Esses vocábulos, porém, raramente<br />
aparec<strong>em</strong> sozinhos nos casos registrados; eles estão s<strong>em</strong>pre<br />
acompanhados dos substantivos <strong>de</strong>notativos e aparec<strong>em</strong> tanto<br />
<strong>em</strong> língua estrangeira, inglês, quanto na língua portuguesa.<br />
Constatamos ainda que este recurso também é utilizado na<br />
formação <strong>de</strong> neologismos.<br />
Ex.: Grand Prix: (<strong>em</strong>préstimo linguístico);<br />
Fórmula Fiat: (<strong>em</strong>préstimo linguístico + <strong>de</strong>rivação imprópria);<br />
Auto Mecânica Cockpit Mec: (substantivo <strong>de</strong>notativo +<br />
<strong>em</strong>préstimo linguístico + redução);<br />
Fórmula 1 Car: (<strong>em</strong>préstimo linguístico + redução);<br />
Indycar Oficina Multimarcas: (composição: base <strong>de</strong><br />
<strong>em</strong>préstimo linguístico + base).<br />
70 71
<strong>Nomes</strong> <strong>de</strong> lugar<br />
A escolha <strong>de</strong> nomes próprios <strong>de</strong> lugares: cida<strong>de</strong>s, ruas ou<br />
estados, para compor nomes próprios <strong>de</strong> <strong>estabelecimentos</strong><br />
<strong>comerciais</strong>, no caso <strong>de</strong> nossa pesquisa oficinas mecânicas, é<br />
muito comum. Acreditamos que o <strong>em</strong>prego <strong>de</strong>sse recurso, assim<br />
como o do nome próprio do proprietário, t<strong>em</strong> como finalida<strong>de</strong><br />
familiarizar o cliente com a loja na tentativa <strong>de</strong> torná-lo fiel<br />
àquele estabelecimento.<br />
Análise <strong>de</strong> dados<br />
Separamos os casos <strong>em</strong> que as ocorrências <strong>de</strong> nomes próprios<br />
<strong>de</strong> lugar são motivadores para nomes próprios <strong>de</strong> oficinas<br />
mecânicas por grupos.<br />
No primeiro grupo separamos os nomes que funcionam<br />
como referência local do estabelecimento, fazendo uma ligação<br />
entre a loja e o local on<strong>de</strong> ela está situada. Dentre os 32 casos<br />
encontrados <strong>de</strong>stacamos uma ocorrência do processo <strong>de</strong><br />
neologismo.<br />
Ex.: Auto Mecânica Caiçara, Oficina Praça 7, Planalcar<br />
[composição: base planalt (nome do bairro) + base car].<br />
No segundo grupo <strong>em</strong> que se encontram os nomes<br />
próprios que levam o termo Brasil encontramos apenas dois<br />
casos.<br />
Ex.: Mecânica Brasil, Auto Brasil Centro Automotivo Oficina.<br />
Neste último ex<strong>em</strong>plo, po<strong>de</strong>mos observar que o termo<br />
Brasil aparece posposto à base auto, formando uma espécie <strong>de</strong><br />
neologismo por composição.<br />
No terceiro grupo separamos os <strong>em</strong>pregos do nome do<br />
estado <strong>de</strong> Minas Gerais, que ocorre mais frequent<strong>em</strong>ente na<br />
forma reduzida Minas.<br />
Ex.: Auto Mecânica Minas Gerais: (substantivo <strong>de</strong>notativo<br />
+ forma plena);<br />
Minas Auto Motors: (redução +base + estrangeirismo);<br />
Minas Mecânica: (redução + substantivo <strong>de</strong>notativo);<br />
Karminas: (composição: base car + redução).<br />
O grupo <strong>de</strong> utilização do nome da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte,<br />
por sua vez é o que apresenta uma maior variação <strong>em</strong> seu<br />
<strong>em</strong>prego. O nome <strong>Belo</strong> Horizonte <strong>em</strong> sua forma plena não foi<br />
encontrado no corpus pesquisado, contudo, sua forma abreviada<br />
BH é o mais utilizado pelos proprietários que <strong>de</strong>sejam marcar<br />
o nome da cida<strong>de</strong> <strong>em</strong> seu estabelecimento. Foram encontradas<br />
também as formas reduzidas belo, bel- e horizont-, essas<br />
últimas <strong>de</strong>correntes da formação <strong>de</strong> neologismos.<br />
Ex.: BH Escape: (abreviação);<br />
<strong>Belo</strong> Oriente Auto Mecânica: (redução);<br />
Horizontec: (composição: base horizont- + redução tec).<br />
O último grupo é também aquele que apresenta maior<br />
número <strong>de</strong> ocorrências. Nele estão os nomes <strong>de</strong> <strong>estabelecimentos</strong><br />
<strong>em</strong> que os proprietários se utilizaram <strong>de</strong> nomes <strong>de</strong><br />
outras cida<strong>de</strong>s, estados ou paises <strong>em</strong> seu comércio. Eles ainda<br />
se divi<strong>de</strong>m <strong>em</strong> dois subgrupos. O grupo dos proprietários que<br />
utilizaram nomes próprios <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s e estados brasileiros. Para<br />
estes encontramos como explicação mais frequente o fato do<br />
proprietário ter uma ligação pessoal direta com o local escolhido<br />
para nomear seu estabelecimento. No outro grupo estão os<br />
<strong>estabelecimentos</strong> nomeados com o nome <strong>de</strong> locais famosos.<br />
Acreditamos que nestes casos os proprietários queiram estabelecer<br />
uma ligação, transportando a fama do local para sua loja.<br />
Po<strong>de</strong>mos inferir também que estes casos são motivados pela<br />
nossa cultura <strong>de</strong> valorização do que é estrangeiro.<br />
Ex.: Auto Mecânica Fortaleza, Centro Automotivo Ceará.<br />
Ex.: Aspen Regulagens, Auto Mecânica Verssalles, Detroit<br />
Motorsport.<br />
Conclusão<br />
Como afirmou Horta Neves (1978) <strong>em</strong> sua tese, “(...) é <strong>de</strong><br />
extr<strong>em</strong>a mobilida<strong>de</strong> o léxico da propaganda comercial, pois,<br />
além <strong>de</strong> refletir a agitada vida do comércio, ele <strong>de</strong>ve acompanhar<br />
o progresso da ciência e da técnica”. 9<br />
9 NEVES. <strong>Nomes</strong> próprios <strong>comerciais</strong> e industriais no português: um aspecto da nomenclatura do comércio<br />
e da indústria <strong>em</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte, p. 135.<br />
72 73
Diferent<strong>em</strong>ente do que ocorre no vocábulo da língua, <strong>em</strong><br />
que um novo el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong>ve ter significado inteligível para que<br />
possa ser utilizado, na formação <strong>de</strong> neologismos <strong>comerciais</strong>,<br />
não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir um vocábulo que possua um<br />
sentido claro, o que permite maior produtivida<strong>de</strong> criativa neste<br />
campo da formação <strong>de</strong> palavras.<br />
Nos nomes das oficinas mecânicas analisadas aqui,<br />
o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> nomes próprios <strong>de</strong> sentido “obscuro”<br />
<strong>de</strong>monstrou essa não-necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relação com um significado<br />
automaticamente compreensível e acabou dificultando<br />
a seleção <strong>de</strong> compostos, uma vez que <strong>em</strong> alguns casos não foi<br />
possível i<strong>de</strong>ntificar quais eram as bases envolvidas no processo<br />
<strong>de</strong> criação dos neologismos. Por isso fiz<strong>em</strong>os uma análise mais<br />
geral e comparativa entre composição e <strong>de</strong>rivação, usando<br />
apenas os dados seguros, s<strong>em</strong> subdividir as composições <strong>em</strong><br />
classes menores.<br />
Nessa análise comparativa entre <strong>de</strong>rivação e composição,<br />
<strong>de</strong>scobrimos que a afirmação <strong>de</strong> Fiorin (1970) sobre<br />
a preferência pela <strong>de</strong>rivação nos processos <strong>de</strong> ampliação do<br />
léxico não proce<strong>de</strong> no caso das oficinas mecânicas, on<strong>de</strong> o<br />
número <strong>de</strong> composições foi visivelmente maior. Foi a partir<br />
<strong>de</strong>sta análise que constatamos que o que permite a gran<strong>de</strong><br />
ampliação do léxico comercial é esse não compromisso com a<br />
transparência <strong>de</strong> seus termos, além <strong>de</strong> ser facilitada pela maior<br />
mobilida<strong>de</strong> das bases <strong>de</strong>ntro dos processos <strong>de</strong> composição.<br />
O que não ocorre na <strong>de</strong>rivação com tanta frequência, uma<br />
vez que este tipo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> palavras <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do uso<br />
<strong>de</strong> afixos, que são formas presas e irredutíveis, o que reduz,<br />
e muito, a sua mobilida<strong>de</strong> e produtivida<strong>de</strong>. Também pu<strong>de</strong>mos<br />
observar nessa comparação que a multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentidos<br />
das bases favorece novas composições, enquanto a fixi<strong>de</strong>z <strong>de</strong><br />
significado dos afixos dificulta sua utilização.<br />
Essa questão da ambiguida<strong>de</strong> das bases também ficou<br />
clara no estudo da base auto que, por possuir dois sentidos<br />
etimológicos, permitiu a ocorrência <strong>de</strong> trocadilhos. Essa base<br />
se mostrou muito importante na criação <strong>de</strong> nomes <strong>de</strong> oficinas,<br />
uma vez que <strong>de</strong>nota qualquer tipo <strong>de</strong> carro e po<strong>de</strong> aparecer<br />
ao longo <strong>de</strong> todo o nome, além <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r aparecer isolada ou<br />
abreviada.<br />
Os estrangeirismos e <strong>em</strong>préstimos também se mostraram<br />
b<strong>em</strong> recorrentes nos dados coletados e apresentam uma função<br />
muito gran<strong>de</strong> na relação entre oficina e cliente, uma vez que<br />
fornec<strong>em</strong> maior status para os <strong>estabelecimentos</strong>. Estes tipos<br />
<strong>de</strong> processos também foram responsáveis pela formação <strong>de</strong><br />
alguns dos nomes mais criativos.<br />
Os topônimos e antropônimos não permit<strong>em</strong> a produção<br />
<strong>de</strong> nomes tão criativos como os estrangeirismos, <strong>em</strong>préstimos<br />
e outros tipos <strong>de</strong> formação, ainda que estejam <strong>em</strong> composição,<br />
mas eles também possu<strong>em</strong> um gran<strong>de</strong> valor na relação entre<br />
<strong>em</strong>presa e cliente, uma vez que suger<strong>em</strong> familiarida<strong>de</strong>, confiabilida<strong>de</strong><br />
e i<strong>de</strong>ntificação instantânea com o proprietário ou com<br />
o lugar on<strong>de</strong> se localiza a oficina. Perceb<strong>em</strong>os que esse tipo <strong>de</strong><br />
nome é muito importante <strong>em</strong> oficinas <strong>de</strong> bairros resi<strong>de</strong>nciais,<br />
on<strong>de</strong> a maioria dos clientes é local, fazendo com que a familiarida<strong>de</strong><br />
com a <strong>em</strong>presa seja importante.<br />
A preocupação do proprietário com essa relação entre<br />
estabelecimento e cliente explica tanto a distribuição dos tipos<br />
<strong>de</strong> nomes por classes e por regiões, quanto justifica o uso<br />
dos substantivos <strong>de</strong>notativos, uma vez que eles confirmam<br />
o estabelecimento como um lugar on<strong>de</strong> se consertam carros.<br />
Essa afirmação é relevante principalmente nos casos on<strong>de</strong> as<br />
oficinas possu<strong>em</strong> nomes obscuros.<br />
Os nomes <strong>de</strong> oficinas mecânicas fornec<strong>em</strong> material para<br />
pesquisas muito mais amplas e <strong>de</strong>talhadas. O que foi mostrado<br />
aqui é apenas uma pequena parcela <strong>de</strong> tudo o que po<strong>de</strong> ser<br />
dito a respeito <strong>de</strong>les. Este é um campo muito rico <strong>de</strong> formação<br />
<strong>de</strong> neologismos no português e por isso se configura <strong>em</strong> fonte<br />
inesgotável <strong>de</strong> análise.<br />
74 75
Referências<br />
FIORIN, José Luis (org.). Introdução à Lingüística II: princípios <strong>de</strong> análise.<br />
São Paulo: Contexto, 2003.<br />
LAROCA, Maria Nazaré <strong>de</strong> Carvalho. Manual <strong>de</strong> Morfologia do Português. Juiz <strong>de</strong><br />
Fora: Pontes, 2003.<br />
CEGALLA, Domingos Pascoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa.<br />
São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.<br />
NEVES, Vera Lúcia Horta. <strong>Nomes</strong> próprios <strong>comerciais</strong> e industriais no<br />
português: um aspecto da nomenclatura do comércio e da indústria <strong>em</strong> <strong>Belo</strong><br />
Horizonte. 1971, 201 f. (Tese <strong>de</strong> doutorado <strong>em</strong> Linguística) – Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Letras, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais, <strong>Belo</strong> Horizonte, 1971.<br />
FERREIRA, Aurélio Buarque <strong>de</strong> Holanda. Dicionário Aurélio da língua portuguesa.<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2004.<br />
76 77<br />
Anexo<br />
<strong>Nomes</strong> mais curiosos:<br />
Auto Brasil Centro Automotivo Oficina (redundância)<br />
Auto Mecânica Quântica<br />
Auto Motivo (trocadilho)<br />
Cabeçote & Cia<br />
Carburacar (redundância)<br />
Check Car Centro Automotivo (trocadilho)<br />
Doutor Garag<strong>em</strong> Mecânica Preventiva<br />
Flabel<br />
Fuskatec<br />
Germany Oficina<br />
Marchalenta Auto Serviços<br />
Oficina Sofisty Car (trocadilho)<br />
Plaster Car<br />
Picinin & Cia<br />
Republica Off Road<br />
Scaner Mecânica<br />
Serviços Fiat Pereira Santos<br />
Spancen car<br />
Tsumaa<br />
Juba Mecânica
Publicações Viva Voz <strong>de</strong> interesse<br />
para a área <strong>de</strong> estudos do léxico:<br />
De primeiro era assim: revelações do<br />
vocabulário <strong>de</strong> Águas Vermelhas – MG<br />
Van<strong>de</strong>r Lúcio <strong>de</strong> Souza<br />
Estudos do léxico<br />
Maria Cândida Trinda<strong>de</strong> Costa <strong>de</strong> Seabra (Org.)<br />
Glossário <strong>de</strong> termos <strong>de</strong> edição<br />
Sônia Queiroz (Org.)<br />
Glossário <strong>de</strong> termos <strong>de</strong> edição e tradução<br />
Sônia Queiroz (Org.)<br />
<strong>Nomes</strong> <strong>de</strong> <strong>estabelecimentos</strong> <strong>comerciais</strong><br />
<strong>em</strong> <strong>Belo</strong> Horizonte v.1<br />
Maria Cândida Trinda<strong>de</strong> Costa <strong>de</strong> Seabra (Org.)<br />
As Publicações Viva Voz estão disponíveis<br />
também <strong>em</strong> versão eletrônica no site:<br />
www.letras.ufmg.br/site/publicacoes/publicacoes.htm