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Bruno Barbosa<br />
Propriedade<br />
ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DO DIÁRIO ECONÓMICO Nº 5600 DE 28 DE JANEIRO DE 2013 E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE<br />
INTELECTUAL<br />
Ana Brigida<br />
Universidade do Minho foi a entidade que liderou<br />
no registo de patentes em 2012.<br />
A Hovione foi a segunda empresa<br />
com mais patentes registadas.<br />
Conheça as empresas que mais<br />
patentes registaram em 2012<br />
A NovaDelta faz parte<br />
do Top5 das empresas<br />
mais inovadoras em 2012.<br />
◗ Número de marcas e patentes em Portugal não pára de aumentar<br />
◗ Patente única europeia é alvo de críticas<br />
◗ Marcas fortes são necessárias para se exportar mais<br />
A Sapec é a quinta empresa que mais<br />
patentes entregou<br />
no ano passado.<br />
Bernardo S. Lobo<br />
Akio Kon / Bloomberg
II Diário <strong>Económico</strong> Segunda-feira 28 Janeiro 2013<br />
PROPRIEDADE INTELECTUAL<br />
Empresas e universidades<br />
apostam cada vez mais<br />
em produtos inovadores<br />
O número de pedidos de patentes em Portugal para protecção de inventos<br />
cresceu 336% em dez anos. Investores independentes lideram o ‘ranking’.<br />
ANTÓNIO DE ALBUQUERQUE<br />
antonio.albuquerque@economico.pt<br />
Onúmero de patentes pedidasemPortugalnãopára<br />
de aumentar. Empresas,<br />
universidades e instituições<br />
de investigação representam<br />
a principal fatia,<br />
mas são os investigadores<br />
independentes que continuam a liderar o<br />
‘ranking’ de pedidos de registo de invenções.<br />
No ano passado foram solicitados 693 pedidos,<br />
dos quais 220 foram feitos pelas empresas,<br />
132 por universidades, 16 por instituições<br />
de investigação e o remanescente por<br />
investigadores independentes, segundo os<br />
números divulgados pelo Instituto Nacional<br />
de Propriedade Intelectual (INPI). E são as<br />
empresas e universidades que lideram o topo<br />
de maiores números de pedidos quando analisamos<br />
os dados de forma mais detalhada. Se<br />
não vejamos. A Universidade do Minho foi a<br />
instituição que mais pedidos (nove no ano<br />
passado) de protecção de produtos inovadores<br />
realizou junto do INPI, seguindo-se a Sodecia<br />
– Centro Tecnológico e depois, com<br />
igual número de patentes (cinco), a Hovione<br />
Farmacêutica, Novadelta – Comércio e Indústria<br />
de Cafés e a Sapec Agro. Um<br />
‘ranking’ que demonstra o caminho que está<br />
a ser seguido tanto pelas universidades como<br />
pelas empresas dos vários sectores de actividade.<br />
E estão todos de acordo. Só com inovação<br />
é que as instituições se podem afirmar<br />
numa economia cada vez mais globalizada.<br />
O reitor da Universidade do Minho, António<br />
Cunha, em declarações ao Diário <strong>Económico</strong>,<br />
enfatiza precisamente este aspecto da internacionalização<br />
como estratégico. “O nosso<br />
objectivo é ser uma referência internacional<br />
com o maior impacto possível no desenvolvimento<br />
sócio-económico” do País. E Peter<br />
Villax, vice-presidente da Pharma and Innovation&Product<br />
Development (I&PD) da Havione<br />
vai mais longe quando questionado sobre<br />
a importância da inovação nas empresas.<br />
“A resposta é tão óbvia que parece mais útil<br />
examinar como é que as empresas vão à falência<br />
se não adoptam inovação em tudo o<br />
que fazem – produtos, procedimentos, operações,<br />
organização, marketing e ciência e<br />
tecnologia” , salienta. Uma opinião partilha-<br />
ANTÓNIO M. CUNHA,<br />
Reitor da Universidade do Minho<br />
PETER VILLAX<br />
Vice-presidente da Pharma<br />
and Innovation&Product<br />
Development (I&PD)<br />
MARCO MIRANDA<br />
‘Innovation Manager’<br />
do Grupo Nabeiro<br />
Top 5<br />
1. Universidade do Minho<br />
2. Sodecia<br />
– Centro Tecnológico<br />
3. Hovione<br />
Farmacêutica<br />
4. Novadelta – Comércio<br />
e Indústria de Cafés<br />
5. Sapec Agro<br />
da por Marco Miranda, ‘innovation manager’<br />
do Grupo Nabeiro que salienta a velocidade<br />
com que os produtos ficam obsoletos. “A inovação<br />
é fundamental no desenvolvimento e<br />
sustentabilidade de uma empresa” numa<br />
economia globalizada “onde as tecnologias<br />
proliferam, os concorrentes se multiplicam e<br />
os produtos se tornam rapidamente obsoletos”.<br />
Aliás, o responsável máximo pela universidade<br />
do Minho não deixa de evidenciar<br />
que hoje em dia os empresários estão mais<br />
sensibilizados e motivados para a importância<br />
da inovação nas respectivas estratégias<br />
empresariais. Contudo, faz um alerta: “Os<br />
mecanismos para a concretização desses<br />
processos de inovação ainda não estão adequadamente<br />
identificados ou assumidos”<br />
pelos empresários.<br />
Crise não inibe reforço<br />
do investimento em inovação<br />
Apesar do corrente ano ser particularmente<br />
difícil para as empresas, a aposta na inovação<br />
não vai diminuir, pelo menos nas organizações<br />
contactadas pelo Diário <strong>Económico</strong>. Peter<br />
Villax confidenciou que a “investigação<br />
paraaprópriaempresarepresenta6%de<br />
vendas, mas com uma grande subida prevista<br />
para 2013-2014”.<br />
António Cunha afirma também que existe<br />
um reforço na aposta na inovação na universidade<br />
do Minho com um investimento superior<br />
a 50 milhões de euros. “Essa aposta é<br />
contínua e vai sendo reforçada pelo número<br />
crescente de ‘spin-offs’ do empreendedorismo<br />
académico. Estamos a fazer dois investimentos<br />
novos: o Centro Clínico Académico,<br />
que foi inaugurado há um ano e corresponde<br />
a uma parceria com o Grupo Mello Saúde; e o<br />
Instituto para a Bio-Sustentabilidade que<br />
corresponde a um investimento superior a<br />
sete milhões de euros e que conta com o<br />
apoio dos fundos comunitários”.<br />
Já Marco Miranda, do Grupo Nabeiro, destaca<br />
a iniciativa Diverge (Centro de Inovação da<br />
empresa) que é “constituída por dez colaboradores,<br />
entre os quais existem designers industriais,<br />
designers gráficos e de comunicação<br />
e engenheiros”, aos quais acresce uma<br />
rede externa colaborativa. ■<br />
MAIS DE 50 MARCAS foram impedidas pelo Facebook<br />
de se registarem em Portugal. Maria Cruz Garcia, agente oficial<br />
de propriedade intelectual da JP Cruz, que mantém<br />
a marca Facebook em vigilância em Portugal, diz que “na maior<br />
parte dos casos conseguimos acordo”, mas que há dois casos<br />
que tiveram de seguir para Tribunal. Entre os nomes<br />
que se tentaram registar está o Facelook e o Facepoker.
O CENTRO CONTRA O CIBERCRIME abriu no início deste mês<br />
na Holanda. O centro será uma plataforma de combate<br />
ao cibercrime e presta serviços de investigação e de apoio<br />
às autoridades policiais nacionais. Com isto, a União<br />
Europeia inicia uma nova política comunitária de luta<br />
contra a fraude e a pirataria, a pedofilia e o terrorismo<br />
que surgem como cada vez maior impacto na Internet.<br />
Infografia: Marta Carvalho | marta.carvalho@economico.pt<br />
O número de marcas comunitárias<br />
registadas ascendeu a<br />
mais de 109 mil no ano passado,<br />
segundo o Instituto de<br />
Harmonização Europeu de<br />
Marcas e Design, liderado pelo<br />
português António Campinos<br />
e sediado em Espanha.<br />
Segundo a mesma instituição<br />
este valor representa um<br />
acréscimo de 3% face ao ano<br />
de 2011. Já os registo de desenhos<br />
chegaram aos 83051,<br />
mais 5% que em 2011.<br />
O documento, que elabora o<br />
balanço do sector, evidencia<br />
que a maioria, cerca de 70%,<br />
CERCA DE 20 MIL FARMÁCIAS foram investigadas<br />
pela Interpol a nível mundial. Todas elas<br />
comercializariam medicamentos via Internet.<br />
Na sequência da investigação, que começou<br />
no início do mês de Janeiro, foram apreendidas 3,75<br />
OPINIÃO: milhões de doses ???????????????????<br />
de medicamentos que estavam<br />
a ser comercializados de forma ilícita na rede.<br />
?????????????????????????????<br />
Registo de marcas<br />
comunitárias<br />
cresce 3%<br />
Cerca de 70% dos registos de marcas<br />
são feitos por empresas europeias.<br />
PUB<br />
das solicitações para registo de<br />
marcas na Europa tem origem<br />
precisamente em empresas sediadas<br />
no Velho Continente.<br />
Umoutrodadoéofactoda<br />
Alemanha liderar de forma<br />
destacada, com uma fatia de<br />
18,6% no número de registos.<br />
Neste ‘ranking’, o Reino Unido<br />
e Itália ocupam o segundo<br />
e terceiro lugar com 9,54% e<br />
7,49%, respectivamente.<br />
Portugal não conseguiu ultrapassar<br />
a barreira de um<br />
por cento ficando em 0,92%<br />
do registo de marcas no ano<br />
passado. ■ A.A.<br />
Segunda-feira 28 Janeiro 2013 Diário <strong>Económico</strong> III<br />
ANTÓNIO CAMPINOS<br />
Presidente do Instituto<br />
de Harmonização Europeu<br />
de Marcas e Design<br />
Cerca de 70%<br />
das solicitações<br />
para registo<br />
de marcas<br />
tem origem<br />
em empresas<br />
sediadas no<br />
Velho Continente.
Paula Nunes<br />
IV Diário <strong>Económico</strong> Segunda-feira 28 Janeiro 2013<br />
PROPRIEDADE INTELECTUAL<br />
Tribunal dedicado à propriedade<br />
intelectual não recebe casos<br />
das farmacêuticas,<br />
que foram desviados<br />
para o sistema<br />
de arbitragens obrigatórias.<br />
Custos, diz a associação<br />
Tribunal cumpre a função,<br />
mas peca pela lentidão<br />
dos genéricos,<br />
são insuportáveis.<br />
Processos sobre medicamentos deviam passar a ser tratados na especialidade.<br />
RAQUEL CARVALHO<br />
raquel.carvalho@economico.pt<br />
A<br />
criação do Tribunal da<br />
Propriedade Intelectual foi<br />
vista com bons olhos por<br />
todos os profissionais da<br />
área. António Trigueiros<br />
de Aragão, CEO da Raúl<br />
César Ferreira, diz que<br />
“veio ao encontro dos anseios dos profissionais,<br />
atendendo a que podem recorrer a uma instância<br />
especializada e dedicada a estes assuntos, ao<br />
contrário do que se passava anteriormente”. Já<br />
João Pereira da Cruz, presidente da J.Pereira da<br />
Cruz, acredita que “é um sinal de reconhecimento<br />
da importância da propriedade intelectual”.<br />
Todos admitem que o tribunal veio em boa hora<br />
e Alexandra Paixão, agente oficial de Propriedade<br />
Intelectual da Gastão Cunha Ferreira, diz<br />
que muitos casos já foram resolvidos. Porém,<br />
lamenta a lentidão, que diz ser “uma realidade<br />
iminente e expectável”. Frisa ainda que “um só<br />
tribunal, com um só juízo, será humanamente<br />
incapaz de dar resposta a tantos processos instaurados”.<br />
Opinião, em geral, partilhada pelos<br />
vários escritórios de advogados contactados<br />
pelo Diário <strong>Económico</strong> (ver página 10).<br />
Sobre a criação do tribunal, Paulo Lilaia, presidente<br />
da Associação Portuguesa de Genéricos<br />
(APOGEN), considera uma ideia positiva, mas,<br />
no que se refere a medicamentos genéricos, “o<br />
balanço é negativo”. Isto porque, explica,<br />
“existe uma grande litigiosidade relacionada<br />
com questões de patentes entre as empresas<br />
Novo tribunal em<br />
Junho, no Porto<br />
Quase um ano depois<br />
da efectiva abertura<br />
do Tribunal de Propriedade<br />
Intelectual de Lisboa,<br />
que, recorde-se, esteve<br />
primeiramente pensado<br />
para ser em Santarém,<br />
PaulaTeixeiradaCruz<br />
já anunciou a abertura<br />
para Junho de um segundo<br />
juízo, desta vez no Porto.<br />
A decisão prende-se<br />
com a necessidade<br />
de mais recursos humanos<br />
especializados, que possam<br />
agilizar os processos. É que<br />
o tribunal está entupido<br />
e incapaz de resolver<br />
os processos que tem<br />
em mãos, o que se explica<br />
pelo facto de até agora<br />
haver apenas uma<br />
magistrada a proferir<br />
os despachos.<br />
farmacêuticas que deveria ser resolvida por<br />
este tribunal, mas que foi ‘desviada’ para o sistema<br />
de arbitragens obrigatórias, que se tem<br />
mostrado pouco eficaz e com custos insuportáveis<br />
para as empresas de genéricos”. Lembra<br />
ainda que o tribunal tem funcionado “apenas<br />
como instância de recurso das decisões do INPI<br />
sobre pedidos de marca e como ‘agência’ de<br />
cobrança das sociedades de gestão e direitos<br />
autorais”.<br />
Pedro Moura, CEO da farmacêutica Wynn,<br />
também critica o facto do tribunal não tratar de<br />
litígios entre farmacêuticas. O Tribunal “não<br />
trata de Propriedade Intelectual relacionada<br />
com medicamentos, ou seja, não trata de mais<br />
de 90% da litigância relativa a propriedade intelectual”,<br />
o que, na sua opinião, “não faz sentido”.<br />
Nelson Pires, director-geral da Jaba Recordati,<br />
destaca que muitas das arbitragens que já tiveram<br />
uma decisão “não respeitaram a celeridade<br />
desejada nesta matéria” e defende que a “arbitragem<br />
não devia ser obrigatória, mas facultativa,<br />
dando aos agentes económicos a possibilidade<br />
de escolher entre uma jurisdição comum<br />
e uma arbitral”. No que respeita ao que corre<br />
mal neste tribunal, Nelson Pires frisa “a constituição<br />
dos vários tribunais arbitrais, por termos<br />
um grupo restrito de árbitros e muitos com<br />
conflito de interesse”. Refere ainda “o elevado<br />
valor das arbitragens”, que rondam os 300 mil<br />
euros, e a efectividade das providências cautelares<br />
decretadas por tribunais arbitrais”. ■<br />
OPINIÃO<br />
RUI M. RESENDE<br />
Sócio da Raposo Subtil e Associados.<br />
Advogado e Agente Oficial<br />
de Propriedade Industrial<br />
Controlo<br />
da qualidade<br />
no licenciamento<br />
de marcas<br />
As entidades detentoras de marcas celebram<br />
frequentemente contratos de licenciamento<br />
com terceiros, tendo em vista actuar<br />
em mercados diferentes do seu ‘core<br />
business’, desenvolverem em parceria<br />
com os seus licenciados novos produtos<br />
ou serviços e internacionalizarem a comercialização<br />
dos mesmos, sendo esta uma<br />
via utilizada amiúde por grupos económicos<br />
para investimento em países lusófonos<br />
como sucede em Angola.<br />
Não obstante, o licenciamento de utilização<br />
de marcas implica sempre riscos para licenciador,<br />
licenciados e consumidores, designadamente,<br />
no que concerne à qualidade<br />
dos produtos ou serviços que venham a<br />
ser comercializados pelo licenciado.<br />
Em Portugal, o contrato de licença de utilização<br />
de marca encontra-se expressa-<br />
Lei da Propriedade Industrial de<br />
Angola estatui que todo o contrato<br />
de licença deve prever o controlo<br />
eficaz pelo licenciador da<br />
qualidade dos produtos ou dos<br />
serviços do licenciador.<br />
mente previsto nos artigos 32.º e 262.º e<br />
segs. do Código de Propriedade Industrial,<br />
sem que se preveja mecanismo de controlo<br />
obrigatório pelo licenciador da qualidade<br />
dos produtos e serviços que venham a ser<br />
comercializados pelo licenciado.<br />
Contrariamente ao que sucede em Portugal,<br />
na Lei da Propriedade Industrial de Angola,<br />
estatui que todo o contrato de licença<br />
deve prever o controlo eficaz pelo licenciador<br />
da qualidade dos produtos ou dos serviços<br />
do licenciado em relação aos quais a<br />
marca é utilizada, sob pena de nulidade do<br />
contrato. Em Portugal o licenciador pode<br />
sempre controlar a qualidade dos produtos<br />
e serviços comercializados, ainda que não<br />
exista cláusula contratual nesse sentido,<br />
mas à luz do direito português, o licenciador<br />
não está obrigado a controlar a qualidade<br />
dos produtos ou serviços comercializados<br />
pelo licenciado, correndo por si apenas<br />
o risco do desprestígio da sua marca.<br />
A responsabilização acrescida do licenciador<br />
pelo controlo da qualidade dos produtos<br />
ou serviços tem imposto novos desafios<br />
na celebração de contratos de licenciamento<br />
de marcas para aquele país, os quais<br />
merecem reflexão quanto à sua eficácia na<br />
defesa dos interesses dos consumidores e<br />
ao potencial custo acrescido de investimento<br />
no licenciamento de marcas em Angola<br />
pelo factor risco para os licenciadores. ■
PUB
VI Diário <strong>Económico</strong> Segunda-feira 28 Janeiro 2013<br />
PROPRIEDADE INTELECTUAL<br />
Patente única europeia criticada<br />
Depois de 45 anos de negociações, a patente única europeia foi aprovada no Parlamento Europeu.<br />
IRINA MARCELINO<br />
irina.marcelino@economico.pt<br />
Esteve em discussão durante<br />
mais de 40 anos mas mesmo<br />
assim teve votos contra de Espanha<br />
e de Itália. A patente<br />
única europeia acabou por ser<br />
aprovada no Parlamento Europeu<br />
em Dezembro do ano passado.<br />
Uma patente que, em princípio, irá ajudar<br />
na protecção das inovações e reduzir os<br />
custos empresariais, nomeadamente os das<br />
PME. Mas a ideia não é unânime. Ao Diário<br />
<strong>Económico</strong>, João Ferreira, deputado português<br />
do Parlamento Europeu que foi o único<br />
português a intervir no dia da votação, disse<br />
que apesar de reconhecer “a necessidade e as<br />
exigências processuais estarem ao alcance de<br />
PME, inventores e pequenas universidades”, a<br />
proposta “levanta algumas preocupações”,<br />
nomeadamente a constituição do Tribunal da<br />
Patente Unificada, que “traz questões sobre a<br />
perda de soberania”. Por outro lado, destaca o<br />
facto de as línguas oficiais destas patentes europeias<br />
passarem a ser o inglês, o francês e o<br />
alemão. “Há uma desvalorização do português<br />
no plano da ciência e da tecnologia”,<br />
afirma, lembrando ainda que “um dos aspectos<br />
que mais encarece o registo de uma patente<br />
já é a tradução”.<br />
A ideia é corroborada por João Cruz, presidente<br />
da direcção do grupo português da Associação<br />
Internacional para a Protecção da Propriedade<br />
Intelectual (AIPPI): “Talvez devêssemos<br />
ter seguido o exemplo de Espanha e de<br />
Itália, que defenderam a sua língua”. Espanha<br />
e Itália terão votado contra este regime por<br />
considerarem haver precisamente uma “discriminação<br />
linguística”.<br />
Carmen Pina, agente oficial da Propriedade<br />
Industrial da A.G. da Cunha Ferreira, é crítica<br />
assumida da patente única, das línguas utilizadas<br />
e do tribunal. E considera que será de<br />
“pugnar pela não ratificação do Tratado”. A<br />
especialista disse ao Diário <strong>Económico</strong> que a<br />
ideia de que esta solução será mais económica<br />
é uma vantagem “só para alguns países (incluindo<br />
não comunitários) e não certamente<br />
para Portugal, que será inundado por patentes<br />
não exploradas, bloqueando as empresas portuguesas”.<br />
Sobre o tribunal tripartido entre<br />
França, Alemanha e Reino Unido, Carmen Pina<br />
considera que este irá “necessariamente”<br />
aumentar “os custos das empresas portuguesas<br />
em caso de litígio”.<br />
João Pereira da Cruz, presidente da sociedade<br />
JPC, considera que a patente “não protege devidamente<br />
as necessidades do tecido empresarial<br />
português, mais especificamente das<br />
PME. É acima de tudo uma decisão política<br />
que foi anunciada como visando tornar a Europa<br />
mais competitiva”. Ora sendo 55% das<br />
patentes europeias provenientes de empresas<br />
não europeias, (sobretudo Estados Unidos da<br />
América, Japão, Coreia e mais recentemente<br />
China), serão estas as que efectivamente mais<br />
terão a ganhar em termos de competitividade.<br />
Mesmo no caso europeu, as empresas alemãs<br />
JOÃO FERREIRA<br />
Deputado do Parlamento Europeu<br />
“Um dos aspectos<br />
que mais<br />
encarece<br />
oregistode<br />
uma patente<br />
já é a tradução.<br />
O Tribunal<br />
da Patente<br />
Unificada<br />
traz questões<br />
sobre a perda<br />
de soberania.<br />
Custos altos<br />
para PME<br />
>> António Trigueiros<br />
de Aragão, especialista<br />
em propriedade<br />
intelectual da Raúl César<br />
Ferreira, acredita que<br />
“tudo aponta para que<br />
os custos com o novo<br />
tribunal sejam de tal<br />
forma elevados que<br />
impossibilitem as PME<br />
de conseguir fazer valer<br />
os seus direitos ou<br />
defenderem-se de uma<br />
acusação de infracção”.<br />
E exemplifica:<br />
“Considere-se um litígio<br />
entre uma empresa<br />
americana detentora<br />
de uma patente e uma<br />
empresa inglesa<br />
alegadamente<br />
a violar essa patente<br />
na Grécia. O processo<br />
decorrerá na Grécia,<br />
em língua grega e a lei<br />
aplicável é a lei alemã.<br />
Invertendo os papéis,<br />
a lei aplicável será<br />
a lei inglesa”. I.M.<br />
Para serem válidas, as patentes da União Europeia<br />
têm de ser validadas Estado a Estado.<br />
Os custos administrativos<br />
e de tradução para as 22 línguas<br />
europeias rondam os 30 mil euros<br />
por patente. Nos EUA uma patente<br />
custa, em média, 2.000 euros,<br />
lembra João Miranda<br />
de Sousa, da Garrigues,<br />
serão obviamente favorecidas uma vez que registam<br />
cerca de 20% das patentes europeias”.<br />
“É difícil entender a posição portuguesa ao<br />
aderir a este sistema, contrariamente ao que<br />
sucedeu em Espanha. E isto porque ficando<br />
Espanha fora do referido sistema, as empresas<br />
desse País irão ganhar enormes vantagens<br />
competitivas em detrimento das empresas<br />
nacionais”, conclui.<br />
João Veiga Gomes, consultor na Abreu Advogados,<br />
lembra que “o Parlamento Europeu<br />
temestadobastanteactivoemmatériade<br />
propriedade intelectual. Colocando de lado a<br />
tomada de posição quanto ao ‘Anti-Counterfeiting<br />
Trade Agreement’, rejeitado pelo Parlamento<br />
Europeu em Julho de 2012, a que se<br />
seguiu a criação de um ‘Observatório Europeu<br />
das Infracções aos Direitos de Propriedade<br />
Intelectual’ e a recente aprovação de um<br />
regulamento que estabelece algumas normas<br />
de natureza processual aplicáveis a direitos de<br />
propriedade intelectual”. Sobre a patente<br />
única, que considera a decisão mais importante<br />
entre todas as outras, afirma que “só<br />
peca por tardia”. Mas deixa o aviso: “A patente<br />
europeia é um ‘bundle of national patents’,<br />
não uma patente única, mas um ‘feixe’ de patentes<br />
nacionais. Ora, como tal, não permite<br />
a ‘harmonização’ do sistema. Só uma jurisdição<br />
única poderá produzir uma jurisprudência<br />
uniforme, em matéria de patentes europeias”.<br />
■ com R.C.<br />
Vincent Kessler / Reuters
PUB<br />
A quarta marca a ser registada em Angola<br />
foi a Branca de Neve, em 1992. Foi um registo<br />
preparado e que já se previa ter resultados muito<br />
tempo depois (em 2012), diz Antonio Trigueiros<br />
de Aragão, da Fábrica Lusitana.<br />
Trevor Snapp/Bloomberg<br />
Segunda-feira 28 Janeiro 2013 Diário <strong>Económico</strong> VII<br />
Marcas fortes são necessárias<br />
para se exportar mais<br />
Especialistas consideram haver uma campanha de desvalorização das marcas.<br />
IRINA MARCELINO<br />
irina.marcelino@economico.pt<br />
Cultura de marca precisa-se. A<br />
ideia foi transmitida por diversos<br />
especialistas presentes no V Fórum<br />
Marcas e Patentes, promovido<br />
pela Associação Portuguesa<br />
dos Consultores em Propriedade<br />
Indstrial. “Exportar sem marca é<br />
vender capacidade produtiva – o que é insustentável.Temosumamolduraregulamentardesadequada.Precisa-sedeumaculturademarca”,considera<br />
JoãoPauloGirbal,presidentedaCentromarca.<br />
Para o especialista, a cultura da marca tarda em<br />
aparecer porque estas implicam “elevada reputação,<br />
qualidade, inovação e consistência”. Lembrando<br />
que o mercado dos produtos de grande<br />
consumo não duradouros revela uma “espiral<br />
descendente motivada pela austeridade e pela<br />
concorrência desenfreada” e que campanhas de<br />
grandes descontos “causam também uma desvalorização<br />
do mercado”, João Paulo Girbal aca-<br />
Marcas brancas<br />
>> Em 2011 em Portugal<br />
três supermercados<br />
concentram 90%<br />
da quota de mercado<br />
alimentar. É o valor<br />
maisaltodospaíses<br />
analisados. “É um<br />
problema para as marcas,<br />
para as empresas e para<br />
o emprego”, defende<br />
João Paulo Girbal,<br />
da Centromarca.<br />
>> Em 2003 havia<br />
18 insígnias de marcas<br />
brancas em 2003.<br />
Hoje há dez. “Há uma<br />
grande concentração”.<br />
ba por questionar “quanto tempo permitiremos<br />
esta desvalorização do investimento feito pelas<br />
marcas?”<br />
António Trigueiros de Aragão, da Fábrica Lusitana,<br />
que produz e comercializa a farinha Branca de<br />
Neve, concorda que “há uma campanha de desvalorização<br />
das marcas”. Mas que quem na verdade<br />
mais exporta são as marcas mais fortes. “Pensemos<br />
na Corticeira Amorim, na Sogrape, na Efacec.<br />
Quem exporta mais é quem aposta mais nas<br />
marcas”. E deixa o aviso: “Temos de pensar que<br />
tirosestamosadarnosnossosprópriospés”.<br />
No painel sobre propriedade intelectual e as exportações<br />
portuguesas, Jaime Quesado destacou tambémaimportânciadasmarcasepatentesnocrescimento<br />
do País. “Uma empresa com marcas próprias<br />
deve ser valorizada”, considerou. No entanto,<br />
“há uma dificuldade das empresas em transferir<br />
para as marcas aquilo que fazem em termos de eficiência<br />
e responsabilidade social, por exemplo”. ■
VIII Diário <strong>Económico</strong> Segunda-feira 28 Janeiro 2013<br />
PROPRIEDADE INTELECTUAL<br />
César Bessa Monteiro (na foto) elogia o anúncio<br />
da ministra da Justiça para a criação de um novo juízo<br />
em Lisboa para a propriedade intelectual.<br />
ENTREVISTA CÉSAR BESSA MONTEIRO, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DOS CONSULTORES EM PROPRIEDADE INDUSTRIAL<br />
“Internet veio potencializar a contrafacção”<br />
O comércio electrónico favorece o anonimato o que permite liberdade aos infractores.<br />
ANTÓNIO DE ALBUQUERQUE<br />
antonio.albuquerque@economico.pt<br />
De forma categórica classifica<br />
de “atabalhoada e precipitada”<br />
a decisão da Patente Europeia<br />
de apenas aceitar<br />
como língua obrigatória o<br />
inglês, francês e o alemão.<br />
Bessa Monteiro diz mesmo<br />
que está em causa os interesses nacionais. A<br />
par desta questão afirma que a internet coloca<br />
muitos desafios ao sector.<br />
Como avalia o anúncio da ministra da Justiça,<br />
Paula Teixeira da Cruz para a criação de um<br />
novo juízo em Lisboa para a propriedade intelectual?<br />
A criação de um tribunal especializado para<br />
resolver os litígios da Propriedade Intelectual<br />
veio satisfazer as aspirações de muitos que<br />
trabalham nesta área. No entanto, a criação de<br />
um só tribunal em Lisboa e com um só juízo<br />
não preencheu cabalmente as necessidades<br />
que levaram à criação do mesmo, tanto mais<br />
que além das matérias relativas à propriedade<br />
industrial foram acrescentados à sua jurisdição<br />
os litígios resultantes da violação do direito<br />
de autor e direitos conexos que até agora<br />
eram dirimidos pelos tribunais comuns. O<br />
anúncio da criação neste momento de um<br />
novo juízo em Lisboa vem, com pragmatismo,<br />
preencher uma lacuna existente.<br />
Que balança faz da passagem do INPI para a esfera<br />
do ministério da Justiça quando durante<br />
“ A Internet veio<br />
potencializar<br />
a contrafacção<br />
na medida em<br />
que o comércio<br />
electrónico<br />
favorece<br />
o anonimato<br />
do infractor,<br />
flexibiliza o local<br />
de oferta e<br />
os processos de<br />
venda e alarga<br />
o mercado<br />
disponível.<br />
anos foi tutelado pelo ministério da Economia?<br />
Existem sobre este assunto opiniões divergentes.<br />
Podem avançar-se razões que justifiquem<br />
uma ou outra solução. A propriedade intelectual<br />
tem muito a ver com a criatividade e a<br />
inovação, o que poderia justificar a sua tutela<br />
pelo ministério da Economia. Mas também é<br />
verdade que a sua protecção, nomeadamente<br />
por via judicial está ligada ao Ministério da<br />
Justiça. Em meu entender tanto ou mais importantedoqueoministérioquetutelaoINPI<br />
é a personalidade do respectivo ministro, nomeadamente<br />
a sua capacidade política.<br />
Em termos de desafios para o sector a contrafacção<br />
é uma prioridade?<br />
A contrafacção é um flagelo na propriedade<br />
intelectual. Por isso, é prioritária a luta contra<br />
amesma.EstudosdaOCDEestimamqueos<br />
produtos contrafeitos já ultrapassem o PIB de<br />
mais de 150 países. Em 2010 em Portugal o valor<br />
dos produtos contrafeitos ultrapassou os<br />
50 milhões de euros. É necessária uma luta<br />
sem tréguas contra a contrafacção mas não é<br />
suficiente uma atitude repressiva. Só se vendem<br />
produtos contrafeitos porque há quem os<br />
compre.<br />
A internet está a suscitar muitos desafios também<br />
ao nível da contrafacção e da pirataria<br />
como ultrapassar esta situação?<br />
A internet veio potencializar a contrafacção<br />
na medida em que o comércio electrónico favorece<br />
o anonimato do infractor, flexibiliza o<br />
local de oferta e os processos de venda e alarga<br />
o mercado disponível. Sendo uma plataforma<br />
de comércio recente vem levantar a questão<br />
da adequação das medidas clássicas de combate<br />
aos ilícitos nela cometidos. Muito está<br />
por regulamentar e têm sido sugeridas medidas<br />
de execução rápida que seriam adequadas<br />
à prevenção e repressão dos ilícitos. Podendo<br />
ser ponderada a aplicação de tais medidas, o<br />
que seria inaceitável é que se afastassem princípios<br />
fundamentais que a civilização adquiriu,<br />
como, por exemplo, a sindicância judicial<br />
de decisões administrativas e o principio do<br />
contraditório.<br />
Como avalia a decisão do novo regime para a<br />
Patente Europeia definir como línguas obrigatórias<br />
apenas o francês,inglês e o alemão?<br />
O processo de construção da Patente Europeia<br />
de efeito unitário, aprovado em finais de 2012,<br />
foi atabalhoado e precipitado, nomeadamente<br />
em matéria linguística, o que levou a Espanha<br />
e a Itália a excluírem-se do sistema por não<br />
quererem ver a sua língua subalternizada. Vamosvercomoéqueoprocessoevolui,nomeadamente<br />
quanto ao sistema jurisdicional<br />
ligado à Patente. Uma vez que tal sistema terá<br />
que ser ratificado pelo poder político de cada<br />
um dos países, deixamos aqui um alerta às<br />
nossas autoridades para que quando for da sua<br />
discussão, e ao contrário do que aconteceu<br />
com o aspecto linguístico, ponderem devidamente<br />
os interesses nacionais. ■<br />
Paula Nunes
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X Diário <strong>Económico</strong> Segunda-feira 28 Janeiro 2013<br />
PROPRIEDADE INTELECTUAL<br />
Conheça as críticas dos especialistas<br />
A propriedade intelectual requer especialistas na área. O Diário <strong>Económico</strong> falou com alguns sobre a temática.<br />
RAQUEL CARVALHO E IRINA MARCELINO<br />
raquel.carvalho@economico.pt<br />
JOÃO LUÍS TRAÇA,<br />
SÓCIO DA MIRANDA<br />
“Há falta de<br />
meios humanos<br />
no tribunal”<br />
Não se fazem bons tribunais<br />
sem os recursos necessários.<br />
Que balanço faz do tribunal<br />
de propriedade intelectual?<br />
Apesar de já se ter passado<br />
quaseumanodesdeacriaçãodotribunalcontinuaa<br />
ser difícil fazer um verdadeirobalançodomesmo.Seé<br />
indiscutível que um tribunal<br />
de competência especializada<br />
a este respeito é uma ferramenta indispensável<br />
na correcta administração da justiça, já não é<br />
certo que este tribunal esteja a conseguir desempenhar<br />
as funções que lhe foram atribuídas por<br />
lei. Entre a falta de capacidade humanaeamultiplicidade<br />
de processos que neste momento já está<br />
a cargo deste tribunal leva-nos a considerar este<br />
início de actividade como “mais do mesmo” e<br />
não como uma melhoria da situação que dantes<br />
“O regime jurídico que temos<br />
ao nível das patentes<br />
não é ‘nosso’, é da Europa”.<br />
tínhamos. Deste modo, se ajuda a resolver questões<br />
ou não, é uma questão cuja resposta ainda<br />
não nos parece possível aferir por enquanto.<br />
O que está a funcionar mal?<br />
“Não se fazem ovos sem omeletes”. Ou seja, não<br />
se fazem bons tribunais sem os recursos necessários.<br />
E quanto refiro bons tribunais, quero fazer<br />
referência a uma justiça com uma celeridade razoável,<br />
nem sequer comento o teor das decisões.<br />
O que pensa do regime jurídico que protege as<br />
patentes?<br />
Cada vez mais os caminhos e os regimes a seguir<br />
resultam não do plano interno mas sim das opções<br />
escolhidas ao nível comunitário. O regime<br />
jurídico que temos ao nível das patentes não é<br />
“nosso”, é da Europa. Por este motivo o espaço de<br />
manobra do legislador português é muito curto,<br />
limitando-se em muitas questões a traduzir disposições<br />
constantes de documentos aprovados ao<br />
nível comunitário. ■<br />
JOÃO VEIGA GOMES,<br />
CONSULTOR NA ABREU ADVOGADOS<br />
“Devia haver<br />
mais TPI<br />
em Portugal”<br />
O TPI tem-se esforçado<br />
por cumprir o seu dever.<br />
Que balanço faz do tribunal<br />
de propriedade intelectual?<br />
O TPI de Lisboa tem um<br />
enormedefeito.Éoúnico!<br />
Devia haver mais. É cedo<br />
para fazer um balanço sério<br />
da sua actividade, mas é evidente<br />
que se trata de uma<br />
experiência positiva. Por outro<br />
lado, a limitação da competência de novo Tribunal<br />
às questões da propriedade intelectual,<br />
permite um maior grau de especialização e de<br />
eficiência, por parte do julgador. Os tribunais são<br />
feitos para decidir e julgar. O que é preciso é darlhes<br />
os meios necessários ao exercício da sua função.<br />
Neste sentido, é justo reconhecer que, nas<br />
actuais circunstâncias, o TPI se tem esforçado por<br />
cumprir o seu dever.<br />
O que está a funcionar mal?<br />
Tenho conhecimento de processos pendentes há<br />
longos anos nos Tribunais de Comércio. Os Tribunais<br />
de Comércio funcionaram mal. O TPI só<br />
pode vir a funcionar melhor. A grande falha do<br />
sistema é ainda a inexistência de Tribunais devidamente<br />
qualificados e apetrechados para julgar<br />
questões de propriedade intelectual, cuja complexidade<br />
surpreende, por vezes, os profissionais<br />
mais experimentados! Precisamos, pois, de aumentar<br />
o número dos TPI e ao que parece vai ser<br />
criado mais um TPI, no Porto.<br />
O que pensa do regime jurídico que protege as patentes?<br />
Pauta-se por altos padrões e, no essencial, encontra-se<br />
em sintonia com o direito europeu.<br />
O problema não está no nosso regime jurídico.<br />
Se, em matéria de patentes, estamos muito longe<br />
de alcançar o nível de qualidade e quantidade de<br />
outros países, como os Estados Unidos, a China, a<br />
Índia ou o Japão, no seu conjunto, também a Europa<br />
e as patentes europeias se situam nos primeiros<br />
lugares do ‘ranking’ mundial. O certo é<br />
queofenomenalaumentodonúmeroeamelhoria<br />
da qualidade das patentes chinesas decorrem<br />
em grande parte de políticas bem-sucedidas, levadas<br />
a cabo pelo Estado chinês. Por último, gostaria<br />
de acrescentar que não basta ter uma boa<br />
lei, em matéria de patentes. ■<br />
ANTONIO MAGALHÃES CARDOSO<br />
E ANTÓNIO ANDRADE<br />
VIEIRA DE ALMEIDA E ASSOCIADOS<br />
“Tribunal cedo<br />
se revelou<br />
incapaz”<br />
Número de processos terão<br />
bloqueado tribunal da PI.<br />
Que balanço fazem do tribunal<br />
de propriedade intelectual?<br />
A criação e instalação do<br />
Tribunal da Propriedade Intelectual<br />
constituiu um<br />
avanço no Sistema de Propriedade<br />
Intelectual. No entanto,<br />
quer porque o ‘enforcement’<br />
das patentes farmacêuticas<br />
não é da sua competência<br />
– mas sim das arbitragens<br />
necessárias impostas<br />
pela Lei n.º 62/2011 –,<br />
quer porque cedo se revelou<br />
incapaz de suportar o número<br />
de processos relativos<br />
às restantes modalidades de<br />
direitos privativos de propriedade intelectual –<br />
as notícias dão conta desse bloqueio, o que terá<br />
determinado a decisão da ministra da Justiça de<br />
instalar o 2º juízo deste Tribunal – não se afigura<br />
ainda como o Tribunal especializado que se reclamava,<br />
especialmente em termos de celeridade<br />
das decisões. Enquanto o “desaforamento”<br />
dos processos relativos de patentes se mantiver –<br />
por força da referida Lei – este Tribunal não será<br />
um Tribunal da Propriedade Intelectual de corpo<br />
inteiro, com competência em relação a todos os<br />
direitos de propriedade intelectual e dotado dos<br />
meios técnicos e humanos para a protecção ‘enforcement’<br />
desses direitos de acordo com os parâmetros<br />
dos países desenvolvidos.<br />
O que pensam do regime jurídico que protege as<br />
patentes?<br />
O regime jurídico de protecção de patentes entronca<br />
num sistema comum à União Europeia e a<br />
Tratados Internacionais ratificados por Portugal.<br />
Assim, a protecção ‘enforcement’ dos direitos de<br />
propriedade intelectual obedece a um quadro jurídico<br />
avançado e satisfatório, se bem que em<br />
contínua evolução qualitativa. As melhorias que<br />
se reclamam – e que estão em estudo e mesmo<br />
implementação no seio da União Europeia – dizem<br />
particularmente respeito às medidas repressivas<br />
no capítulo da contrafacção e pirataria. ■
em propriedade intelectual<br />
JOÃO PEREIRA DA CRUZ,<br />
PRESIDENTE DA J. PEREIRA DA CRUZ<br />
“O país está<br />
sensibilizado<br />
para a PI”<br />
As empresas estão acima da<br />
média comunitária na inovação.<br />
Como enquadra Portugal ao<br />
nível da Propriedade Intelectual?<br />
É um país inovador?<br />
O nosso país sempre teve no<br />
âmbito da propriedade intelectual<br />
diplomas adequados e<br />
que acompanham os desenvolvimentos<br />
e tendências<br />
desta matéria a nível internacional.<br />
As nossas empresas começaram a ficar<br />
mais sensibilizadas para a importância da propriedade<br />
intelectual, sendo consensual que a<br />
inovaçãoeaexportação/internacionalização são<br />
factores determinantes para o crescimento económico<br />
e para a saída da crise que atravessamos.<br />
“Patentear uma intervenção<br />
é uma actividade muito<br />
técnica, que requer<br />
uma elevada especialização”.<br />
Nos mais recentes índices publicados, em termos<br />
de inovação, as empresas portuguesas surgem<br />
acima da média comunitária. Muito embora este<br />
aspecto ainda não seja totalmente visível na economiarealéumsinalpositivodeestarmosno<br />
bom caminho.<br />
É difícil patentear inovações em Portugal?<br />
Patentear uma invenção é uma actividade muito<br />
técnica, que requer uma elevada especialização.<br />
Na maior parte dos casos os inventores dificilmente<br />
conseguem preparar e redigir um pedido<br />
de patente sem a estreita participação do especialista<br />
nesta área, os Agentes Oficiais da Propriedade<br />
Industrial. Em termos gerais o INPI é<br />
muito exigente quanto a aspectos formais e suficientemente<br />
rigoroso na apreciação técnica. Portanto<br />
um pedido de patente devidamente acompanhado<br />
pelos AOPI tem boas hipóteses de ser<br />
bem sucedido.<br />
Qual a sua opinião sobre o regime jurídico que<br />
protege as patentes?<br />
Em termos gerais o regime jurídico de protecção<br />
de patentes tem-se mostrado adequado. ■<br />
CARMEN PINA, AGENTE OFICIAL<br />
DE PROPRIEDADE INTELECTUAL<br />
NA A.G DA CUNHA FERREIRA<br />
“Assiste-se<br />
a um aumento<br />
de inovação”<br />
O processo de patentes<br />
está facilitado em Portugal.<br />
Como enquadra Portugal ao<br />
nível da Propriedade Intelectual?<br />
É um país inovador?<br />
Tem-se assistido a um aumento<br />
de inovação ao nível<br />
das empresas e Universidades,<br />
com desenvolvimento<br />
notável na utilização do sistema<br />
de propriedade intelectual,<br />
mas os níveis de utilização estão aquém dos<br />
desejáveis no que concerne em especial a protecção<br />
por Patente e Desenho ou Modelo, parecendo<br />
este último muito adequado à produção nacional.<br />
É difícil patentear inovações em Portugal?<br />
O processo está facilitado, havendo, até, incentivo<br />
à protecção directa. É, porém, de salientar a<br />
maior ou menor vulnerabilidade do direito obtido<br />
– que pode ser posto em causa – e que um pedido<br />
“Os níveis de utilização<br />
do sistema de propriedade<br />
intelectual estão aquém<br />
dos desejáveis no que concerne<br />
em especial a protecção por<br />
Patente e Desenho ou Modelo”.<br />
não acautelado pode inviabilizar a internacionalização<br />
de protecção, sendo importante um<br />
aconselhamento especializado antes, durante (e<br />
depois) da protecção.<br />
Qual a sua opinião sobre o regime jurídico que protege<br />
as patentes?<br />
Atentas as várias vias para protecção em Portugal:<br />
nacional, pedido internacional de patente e<br />
patente europeia, considera-se o sistema bastante<br />
flexível, mas inerentemente complexo. ■<br />
Segunda-feira 28 Janeiro 2013 Diário <strong>Económico</strong> XI<br />
ALEXANDRA PAIXÃO, AGENTE<br />
OFICIAL DE PROPRIEDADE INTELECTUAL<br />
NA GASTÃO CUNHA FERREIRA<br />
“Há mais<br />
pedidos<br />
de patentes”<br />
Estamos mais empreendedores<br />
mas ainda pouco inovadores.<br />
Como enquadra Portugal ao<br />
nível da propriedade intelectual?<br />
É um país inovador?<br />
A nível de inovação Portugal<br />
ainda está muito abaixo de<br />
alguns países europeus de<br />
referência, como por exemplo,<br />
a Alemanha. Porém,<br />
nota-se um crescente na<br />
apresentação de pedidos de patentes nacionais, o<br />
que comprova um aumento do empreendedorismo<br />
a nível nacional associado à inovação, que é<br />
sempre de louvar. No que toca às restantes áreas,<br />
os empresários portugueses estão a interiorizar<br />
cada vez mais a extrema importância da proprie-<br />
“Os empresários portugueses<br />
estão a interiorizar cada vez<br />
mais a extrema importância<br />
da propriedade intelectual<br />
na sua actividade empresarial”.<br />
dade intelectual na sua actividade empresarial,<br />
razão pela qual o número de pedido de registo de<br />
marcas/logótipos é uma realidade constatável.<br />
É difícil patentear inovações em Portugal?<br />
Não se deve confundir complexidade com dificuldade.<br />
Obviamente que, quando comparado<br />
com o processo de registo de marca, é impossível<br />
não concluir que se trata de um procedimento<br />
complexo e que exige o acompanhamento exaustivo<br />
de um técnico especializado, como seja o<br />
AOPI, minimizando a ocorrência de notificações<br />
oficiais e contribuindo para uma maior celeridade<br />
processual. A nossa equipa (AOPI’S, Advogadas<br />
e Especialistas Técnicos) tem tido bons resultados<br />
e são raros os processos apresentados que<br />
não são concedidos.<br />
Qual a sua opinião sobre o regime jurídico que<br />
protege as patentes?<br />
É eficaz, mas tal como qualquer outro regime jurídico<br />
pode ser revisto e melhorado. ■
XII Diário <strong>Económico</strong> Segunda-feira 28 Janeiro 2013<br />
PROPRIEDADE INTELECTUAL<br />
OPINIÃO<br />
NUNO<br />
ALBUQUERQUE,<br />
sócio da Nadvogados<br />
VERA ALVES,<br />
Nadvogados<br />
Um investimento<br />
incontornável<br />
Não obstante a crescente consciencialização<br />
do valor dos activos representados<br />
pela propriedade intelectual e da evolução<br />
positiva consubstanciada no aumento dos<br />
pedidos de registo de criações industriais<br />
(patentes, desenhos ou modelos) e sinais<br />
distintivos (marcas, logotipos), ainda não<br />
é, pelas empresas portuguesas em geral,<br />
conferida a devida importância aos direitos<br />
inerentes àquela e à necessidade de protecção<br />
e vantagens daí decorrentes.<br />
Subsiste ainda algum desconhecimento<br />
relativamente à necessidade de registo,<br />
desatenção que redunda, por vezes, na<br />
ideia errónea que a titularidade de uma<br />
marca é salvaguardada pelo uso no mercado<br />
e na divulgação prematura de patentes<br />
e marcas e consequente perda das<br />
criações para a concorrência.<br />
Não sendo obrigatório, é aconselhável o re-<br />
70% dos pedidos de registo no<br />
Instituto Angolano de Propriedade<br />
Industrial dizem respeito a residentes<br />
estrangeiros.<br />
gisto destas criações e sinais, pois confere<br />
ao respectivo titular a faculdade de impedir<br />
que alguém faça uso de criação ou sinal similar<br />
sem o seu consentimento, proporcionando<br />
maior segurança aos investimentos<br />
feitos pela empresa, mormente no caso das<br />
empresas que se internacionalizam.<br />
A planificação do processo de internacionalização<br />
de uma empresa ou dos seus<br />
produtos e serviços deve incluir a adopção<br />
de precauções tendentes à protecção destes<br />
direitos, o que se vem verificando pelo<br />
número de registos efectuados por investidores<br />
portugueses nos principais destinos<br />
de internacionalização.<br />
Conforme refere o Barros Licença, director-geral<br />
do Instituto Angolano da Propriedade<br />
Industrial (IAPI), 70% dos pedidos de<br />
registo no IAPI dizem respeito a residentes<br />
estrangeiros, porquanto “têm a consciência<br />
de que essa protecção é territorial, sabem<br />
que não basta estarem assegurados<br />
nos seus países de origem; é importante<br />
fazê-lo na nação que têm como mercado”.<br />
Além destas, outras medidas devem ser<br />
adoptadas: vigilância permanente sobre<br />
novos pedidos e reacção às infracções e<br />
violações de um direito protegido por parte<br />
de terceiros.<br />
Importa, assim, que as empresas assumam<br />
a necessidade de terem uma adequada assessoria<br />
em todas as áreas da propriedade<br />
intelectual, em todas as fases do processo<br />
criativo, a nível nacional e internacional,<br />
porque disso depende muito o seu sucesso<br />
e a rentabilidade dos investimentos. Não<br />
basta criar, é preciso proteger. ■<br />
Bruno Barbosa<br />
Novo regime jurídico não é<br />
Regime jurídico para protecção de patentes tenta reforçar de forma mais eficaz<br />
RAQUEL CARVALHO<br />
raquel.carvalho@economico.pt<br />
Obtida uma patente, devia<br />
estar efectivamente assegurada<br />
a protecção. Mas<br />
nem sempre é isso que<br />
acontece. São muitos os<br />
casos que estão em tribunal<br />
por violação de patente.<br />
Processos esses que em muitos casos levam<br />
anos em tribunal até se chegar a uma resolução.<br />
Na opinião de alguns especialistas<br />
contactados pelo Diário <strong>Económico</strong>, o regime<br />
jurídico não protege de forma clara as patentes,<br />
mas tal poderá não ser um problema<br />
apenas português. António Trigueiros de<br />
Aragão diz que “o regime jurídico português<br />
assemelha-se à maioria dos regimes jurídicos<br />
de protecção de patentes, universalmente<br />
assumidos e simultaneamente acompanhando<br />
a evolução da sociedade”. A mesma<br />
linha de pensamento segue João Luis Traça,<br />
sócio da Miranda Advogados, que afirma que<br />
“o regime jurídico que temos em Portugal ao<br />
nível das patentes não é “nosso”, é da Europa”.<br />
Desta forma, o advogado considera que<br />
“o espaço de manobra do legislador português<br />
é muito limitado”. Muitas vezes essa limitação<br />
leva a que os processos em Portugal<br />
demorem algum tempo.<br />
Para se contornar essa questão, criou-se “um<br />
novo sistema processual mandatário de reclamação<br />
dos direitos de patente”, explica<br />
Três passos<br />
antesdepedir<br />
patentes<br />
Antes de pedir uma<br />
patente, tenha atenção a<br />
alguns cuidados prévios,<br />
para evitar gastar tempo<br />
e dinheiro.<br />
1 Saiba o que não pode<br />
ser protegido.<br />
A lei indica que nem<br />
todas as inovações<br />
podem ser protegidas.<br />
Conheça as regras<br />
que definem o que pode<br />
ou não ser patenteado.<br />
2 Veja se a invenção já<br />
foi comercializada.<br />
Deve realizar pesquisas<br />
de anterioridade, quer<br />
na base de dados do INPI,<br />
quer noutras, ou<br />
informar-se no INPI.<br />
2 Certifique-se que a<br />
invenção não é pública.<br />
Se já tiver divulgado<br />
a invenção, saiba<br />
que em alguns aspectos,<br />
a protecção fica<br />
inviabilizada.<br />
Nélson Pires, director-geral da farmacêutica<br />
Jaba Recordati. Porém, o responsável critica<br />
ainda o estado actual. “Se o processo fosse<br />
célere e menos dispendioso, dando-se às<br />
partes liberdade de escolha sobre opção da<br />
via judicial, seria mais vantajoso”. Pedro<br />
Moura, CEO da farmacêutica Wynn é menos<br />
crítico, afirmando que as novas regras de<br />
propriedade industrial que protegem as patentes<br />
“vêm agilizar o processo de obtenção<br />
de uma patente europeia que, ao contrário do<br />
que hoje acontece, leva à necessidade de ‘ratificar’<br />
país a país o pedido ‘central’ de patente”,<br />
diz. Já sobre o regime jurídico para resolução<br />
de litígios através de arbitragens,<br />
destaca que se tem “mostrado muito caro e<br />
ineficaz”. Mostra reservas quanto à sua conformidade<br />
com a ordem jurídica constitucional<br />
e “mesmo comunitária”, explicando que<br />
está a “demonstrar ser impraticável”. Pedro<br />
Moura diz também que “não se sentem maisvalias”<br />
e antecipa que se vai “continuar a assistir<br />
a situações como as de uma mesma patente<br />
ser considerada válida nuns países e inválida<br />
noutros”.<br />
Sobre esta questão, Paulo Lilaia, presidente da<br />
Associação Portuguesa de Genéricos (APO-<br />
GEN), entende que “se deverá começar a debater<br />
o papel das patentes e dos seus paradigmas<br />
no mundo actual, pois a sua génese está<br />
totalmente desvirtuada”.
Segunda-feira 28 Janeiro 2013 Diário <strong>Económico</strong> XIII PUB<br />
Paulo Moura, da farmacêutica Winn, afirma que<br />
o regime jurídico para resolução de litígios através<br />
de arbitragens é caro e ineficaz.<br />
consensual<br />
os direitos de uma patente.<br />
Esta é mesmo uma questão fundamental, uma<br />
vez que uma patente serve para proteger um<br />
bem único e inovador. Mas o processo não é<br />
fácil. “De uma forma simplificada, podemos<br />
dizer que uma patente só é concedida depois<br />
de se verificar que cumpre os requisitos da<br />
novidade, actividade inventiva e aplicabilidade<br />
industrial”, explica António Trigueiros de<br />
Aragão, CEO da Raúl César Ferreira e administrador<br />
da Fábrica Lusitana. Critérios de patenteabilidade<br />
que são, em geral, “os mesmos<br />
na totalidade dos países onde existe um regime<br />
de propriedade industrial”, diz.<br />
O responsável admite que “é difícil patentear<br />
uma inovação em Portugal”, mas garante que<br />
“isso advém da própria natureza do processo e<br />
não do facto de ser em Portugal”.<br />
O pedido deve ser muito bem delineado e estudado<br />
e António Trigueiros de Aragão lembra<br />
que“paraseobteraconcessãodeumapatente<br />
e para que esta seja ‘à prova de litígio’ é imprescindível<br />
que o texto seja redigido em conjunto<br />
pelo inventor e um Agente Oficial de<br />
Propriedade Industrial”. O CEO da Raúl César<br />
Ferreira explica que “o objectivo final de um<br />
pedido de patente será a concessão dessa patenteeaatribuiçãodeumdireito,peloque<br />
quanto mais técnico e juridicamente cuidado<br />
for o seu texto maiores probabilidades de o titular<br />
ver esse direito ser eficaz durante o seu<br />
período de vigência”. ■
XIV Diário <strong>Económico</strong> Segunda-feira 28 Janeiro 2013<br />
PROPRIEDADE INTELECTUAL<br />
OPINIÃO<br />
Em defesa<br />
das marcas<br />
CRISTINA SIMÕES<br />
Advogada-Sócia responsável pela área<br />
de Propriedade Intelectual da Alcides<br />
Martins, Bandeira, Simões & Associados,<br />
Sociedade de Advogados.<br />
Cadavezmaisassumemasmarcasgrande<br />
importância e relevância no desenvolvimento<br />
da actividade económica. A defesa<br />
eficaz e efectiva das marcas favorece e incentiva<br />
a inovação e o investimento.<br />
Uma marca individualiza um estilo, uma<br />
forma de fazer as coisas a que o público<br />
consumidor se habitua e adere. Aque se fideliza.<br />
O registo da marca confere ao seu<br />
titular o direito de impedir terceiros de a<br />
usar economicamente.<br />
O titular da marca tem ao seu dispor eficazes<br />
meios administrativos e judiciais para<br />
exigir o respeito pela sua marca. Destacamos<br />
dois. O pedido de intervenção aduaneira,<br />
através do qual pode obter a destruição<br />
de artigos contrafeitos ou imitadores<br />
da marca que hajam sido adquiridos na internet<br />
ou por outra via importados. A denúncia<br />
junto da ASAE ou de outros órgãos<br />
de polícia criminal, denunciando a suspeita<br />
Num ambiente económico em que a<br />
contrafacção e imitação de marca<br />
atinge dimensões crescentes à escala<br />
global urge uma actuação concertada<br />
de todos os intervenientes.<br />
de actos de produção, venda, colocação<br />
em circulação de artigos contrafeitos ou<br />
imitadores, com vista à instauração de processo-crime.<br />
No âmbito deste processo<br />
pode o titular da marca pugnar pela condenação<br />
do infractor e reclamar uma indemnização<br />
pelos danos causados.<br />
De realçar que os Tribunais têm, na sua<br />
grande maioria, decidido favoravelmente<br />
às marcas, condenando os infractores ao<br />
pagamento de indemnizações. A via penal,<br />
quando comparada com outros meios de<br />
defesa disponíveis, tem tido uma importância<br />
significativa na diminuição da reincidência<br />
e na prevenção das violações dos<br />
direitos de propriedade industrial, em particular<br />
no que se refere às marcas.<br />
É pois essencial que se promova o registo<br />
das marcas, devendo os seus titulares ser<br />
esclarecidos dos meios de que dispõem<br />
para defesa dos direitos que o registo de<br />
marca lhes confere. Num ambiente económico<br />
em que a contrafacção e imitação de<br />
marca atinge dimensões crescentes à escala<br />
global, com claras repercussões na<br />
competitividade das economias, quebrando<br />
a confiança dos agentes económicos e<br />
distorcendo a concorrência, urge uma actuação<br />
concertada de todos os intervenientes,<br />
por forma a aplicar a lei que disponibiliza<br />
já os instrumentos necessários em defesa<br />
das marcas. ■<br />
Patrick Cole/Bloomberg<br />
Lei da Cópia Privada<br />
não inclui dispositivos<br />
digitais<br />
A não existência de uma lei que proteja<br />
os direitos de autor já tem prejuízos de milhões.<br />
João David Nunes, presidente da direcção da<br />
Associação para a Gestão da Cópia Privada<br />
(AGECOP), através da Sociedade Portuguesa<br />
de Autores (SPA), não tem dúvidas quando diz<br />
que “queremos uma nova lei da cópia privada”.<br />
No V Fórum Marcas e Patentes, que decorreu<br />
na semana passada em Lisboa, o responsável<br />
defendeu que esta “é a única forma<br />
de defender consumidores, integrar retalhistas<br />
e compensar autores”. E explicou porquê:<br />
“Há novos hábitos e suportes que tornam desactualizada<br />
esta lei. Nenhum suporte digital<br />
está na legislação”. Daí que as receitas da<br />
compensação equitativa tenham descido mais<br />
de 90% nos últimos anos em Portugal.<br />
Na Europa a 27, 22 países têm em execução<br />
uma lei de cópia privada e muitos registaram<br />
uma actualização de produtos taxados. Ainda<br />
no Velho Continente, 0,06% é o valor de compensação<br />
da cópia privada face às receitas das<br />
tecnológicas. Recentemente a SPA, que preside<br />
à direcção da AGECOP, solicitou àquele órgão<br />
que aprovasse uma acção contra o Estado, pelo<br />
factodeoactualgovernonãoteravançado<br />
com a nova Lei da Cópia Privada, o que se traduz<br />
num prejuízo de milhões de euros para autores,<br />
artistas e editores, entre outros. ■ I.M.<br />
O profissionalismo de quem se dedica<br />
à contrafacção de marcas como<br />
a Nike ou a Adidas, entre outras, é crescente.<br />
Indústria<br />
tecnológica<br />
vs criativa<br />
“Um estudo de Augusto<br />
Mateus dizia que o sector<br />
criativo vale 3,6 mil milhões<br />
de euros, tem 127 mil<br />
empregos directos e 2,8%<br />
doVAB(passaosector<br />
têxtil, alimentação e<br />
bebidas) e 1.200 milhões<br />
de euros exportados”,<br />
lembra João David Nunes,<br />
que compara ainda<br />
as indústrias tecnológicas<br />
e criativas na Europa: “A<br />
indústria tecnológica tem<br />
dois milhões de empregos.<br />
A indústria criativa<br />
e cultural 6,7 milhões<br />
e exporta mais de 50%<br />
da sua produção. A indústria<br />
tecnológica europeia<br />
é essencialmente<br />
importadora”.<br />
41.810 peças falsas<br />
apreendidas em 2012<br />
Em Portugal há sete mil processos<br />
de contrafacção activos.<br />
“Tudo pode ser falsificado”. A afirmação foi<br />
feita por Cristina Alves Braz, da União de Marcas,<br />
durante o V Fórum Marcas e Patentes sob<br />
o tema “A força da Inovação”, que decorreu no<br />
passadodia22deJaneiro.AUniãodeMarcas<br />
tenta combater a contrafacção de algumas das<br />
marcas mais falsificadas em todo o mundo.<br />
São elas a Pepe Jeans, a Nike, a Lacoste, a Umbro,<br />
a Levis, a Adidas, entre outras. A responsável<br />
informou que, actualmente, são sete mil<br />
os processos de contrafacção activos, esclarecendo<br />
que, em média, em 2012, houve 693<br />
processos por cada marca, por mês.<br />
Cristina Braz disse ainda que se apreenderam,<br />
em 2012, 41.810 peças falsificadas, e alertou<br />
para “o crescente profissionalismo de quem se<br />
dedica à contrafacção”. Criticou o facto dos<br />
processos demorarem perto de três anos e a<br />
ineficácia de muitos processos. Uma linha de<br />
pensamento seguida por Ana Ferreira Silva,<br />
agente oficial da Propriedade Intelectual, que<br />
também avançou que tinha criticado a legislação<br />
nacional, afirmando que “a lei sem efectiva<br />
aplicação da sanção prevista é estéril, garantindo<br />
que “as leis não são aplicadas”, e que<br />
este tipo de crimes não deviam ser considerado<br />
semi-públicos. ■ R.C.<br />
Na actual lei os ipads, como<br />
o da fotografia, não existem.<br />
85% das gravações ilegais feitas<br />
por privados são música.<br />
Maior<br />
sensibilização<br />
No painel dedicado<br />
à contrafacção, todos<br />
concordaram que, além<br />
de uma aplicação efectiva<br />
da lei, o combate<br />
à contrafacção passa pela<br />
educação e sensibilização<br />
de que isso é um crime e<br />
deve ser punido com penas<br />
de prisão efectivas. É que<br />
os oradores foram unânimes<br />
ao afirmar não ser<br />
admissível que as penas<br />
sejam suspensas. Desta<br />
forma, os prevaricadores<br />
continuam a apostar<br />
na contrafacção, o que,<br />
na opinião de Ana Ferreira<br />
Silva, “afecta a imagem<br />
comercial das marcas<br />
e empresas e suscita<br />
erro na identificação<br />
da origem dos produtos.<br />
Jason Alden / Bloomberg
GAPI promovem<br />
propriedade<br />
intelectual junto<br />
das empresas<br />
Os GAPI podem estar inseridos em centros<br />
de tecnologia e inovação ou em universidades.<br />
RAQUEL CARVALHO<br />
raquel.carvalho@economico.pt<br />
Os Gabinetes de Apoio à Promoção<br />
da Propriedade Industrial<br />
(GAPI) são unidades<br />
operacionais autónomas<br />
do Instituto Nacional de<br />
Propriedade Industrial<br />
(INPI), que podem estar sedeadas<br />
em Universidades e Interfaces Universidade<br />
- Empresa e Centros Tecnológicos,<br />
tendo como missão promover e disseminar a<br />
propriedade industrial junto das empresas.<br />
Porque o calçado é uma das áreas onde Portugal<br />
é mais forte e inovador, quisemos saber<br />
como funciona o GAPI do Centro Tecnológico<br />
do Calçado de Portugal (CTCP). Nascido em finais<br />
de 2001, quando o INPI lançou a Rede GA-<br />
PI, o gabinete do CTCP está “vocacionado para<br />
a promoção da propriedade industrial (PI) nas<br />
empresas da fileira do calçado, com o objectivo<br />
de reforçar a sua competitividade através da<br />
inovação e diferenciação”, informa Leandro<br />
Melo, director-geral. O responsável explica<br />
que “uma das principais funções de um GAPI é<br />
a sensibilização dos empresários do sector para<br />
a importância da protecção”, frisando que “o<br />
contacto quase diário com as empresas é crucial,<br />
permitindo a ambas as partes uma maior<br />
proximidade, o que facilita na elaboração e<br />
acompanhamento dos processos”.<br />
O trabalho realizado dá frutos, pois de acordo<br />
com Leandro Melo tem vindo a verificar-se<br />
“que cada vez mais as empresas nos contactam<br />
com o intuito de proteger os seus modelos,<br />
registarem as suas novas marcas e efectuarem<br />
registos internacionais destas em diversos<br />
países extra comunitários”.<br />
Outra indústria onde Portugal é forte é no vestuário<br />
e nos têxteis. O GAPI do Centro Tecnológico<br />
das Indústrias Têxtil e do Vestuário de<br />
Portugal (CITEVE) tem combatido de forma<br />
eficaz os constrangimentos do sector, associados<br />
à contrafacção e pirataria, ao conseguir<br />
convencerasempresasaproteger-seeàdaptarem-se<br />
às transformações. Célia Rodrigues,<br />
coordenadora do GAPI - CITEVE, diz que a<br />
criação do gabinete “revelou-se uma aposta<br />
mais do que ganha. Se numa fase inicial as<br />
empresas nos procuravam para se informarem<br />
sobre as várias modalidades de propriedade<br />
industrial numa única perspectiva de protecção,<br />
actualmente este gabinete também é<br />
procurado por empresas que pretendem inserir,<br />
de uma forma estratégica, a propriedade<br />
industrial no seu modelo de negócio”, diz, o<br />
que revela, acredita, “uma mudança de paradigma<br />
no uso da PI pelas nossas PME”. ■<br />
Equipas<br />
especializadas<br />
TantooGAPI-CTCP<br />
como o GAPI CITEVE<br />
dispõem de dois<br />
técnicos qualificados<br />
e especializados em<br />
direitos de propriedade<br />
intelectual, podendo por<br />
isso oferecer assessoria<br />
em registo de marcas,<br />
logotipos, desenhos<br />
ou modelos industriais<br />
e patentes, assim como<br />
apoiar as empresas na<br />
elaboração de processos<br />
de oposições a terceiros<br />
que tentem copiar as<br />
suas marcas ou modelos.<br />
120 patentes<br />
activas<br />
A Universidade do Porto<br />
aderiu à Rede GAPI<br />
em 2002. Dois anos<br />
mais tarde, esta deu<br />
lugar à Universidade<br />
do Porto Inovação<br />
(UPIN), de que Maria<br />
Oliveira é coordenadora.<br />
Com sete pessoas<br />
alocadas ao projecto, a<br />
UPIN “procura identificar,<br />
proteger e comercializar,<br />
os resultados de<br />
investigação com<br />
potencial de aplicação<br />
no mercado, assim<br />
como criar as condições<br />
favoráveis para<br />
o surgimento de<br />
empresas inovadoras<br />
e com potencial<br />
de crescimento”, diz.<br />
O trabalho realizado<br />
resultou num portfolio de<br />
tecnologias patenteadas<br />
com mais de 120<br />
patentes activas<br />
nacionais e<br />
internacionais e 12<br />
contratos de<br />
licenciamento com<br />
empresas nacionais<br />
e internacionais.<br />
O sector do calçado tem conseguido<br />
aumentar as exportações<br />
apostando na valorização<br />
das marcas próprias. Leonor<br />
Trindade, presidente do INPI,<br />
lembra que este sector<br />
tem também várias patentes<br />
na área dos equipamentos e dos<br />
componentes químicos das colas.<br />
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Segunda-feira 28 Janeiro 2013 Diário <strong>Económico</strong> XV<br />
Guenter Schiffmann / Bloomberg
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