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DEPRECIAÇÃO EM ECONOMIA VERSUS ... - Editora Ferreira

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DEP RECIAÇÃO <strong>EM</strong> <strong>ECONOMIA</strong> <strong>VERSUS</strong> DEP RECIAÇÃO CONTÁBIL<br />

Muitas vezes, para um melhor entendimento de um conceito em determinada disciplina, é<br />

preciso abordá­lo de forma comparada, isto é, sob o ponto de vista de disciplinas diversas, mas<br />

que, em última análise, convergem para um mesmo ponto. Como muitos conceitos da Ciência<br />

Econômica mostram­se de difícil assimilação para alguns estudantes, além do que a própria<br />

literatura que aborda o assunto não costuma ser muito favorável nesse sentido, procuramos, no<br />

presente texto, colocar em relevância alguns aspectos fundamentais relacionados ao conceito de<br />

Depreciação na Ciência Econômica. Para tanto, não deixamos de lado o conceito oferecido pela<br />

Ciência Contábil, mas inter­relacionamos as definições de uma e outra para, ao final, extrairmos<br />

conclusões objetivas, sólidas e suficientes o bastante para servir de subsídios na caminhada rumo<br />

ao tão sonhado emprego público.<br />

Para começar nosso bate­papo é preciso recorrermos à definição de Depreciação para a<br />

Macroeconomia. Em outras palavras: o que a Macroeconomia chama de Depreciação? Bem, os<br />

economistas costumam defini­la através de uma equação matemática, conforme abaixo:<br />

P NL = PNB – depreciação<br />

Onde:<br />

PNL: Produto Nacional Líquido<br />

PNB: Produto Nacional Bruto<br />

Da forma como está posta não é possível extrair muita coisa desta equação. Ademais, os<br />

próprios livros que abordam o assunto pouco acrescentam nesse sentido. Para superar esse<br />

empecilho, vamos montar o nosso próprio sistema econômico e, a partir dele, entendermos como<br />

é gerado o conceito de Depreciação em Economia.<br />

Primeiro, imaginemos um país em que haja apenas duas empresas: a empresa “A” e a<br />

empresa “B”. A empresa “A” produz apenas veículos, enquanto a “B” produz computadores.<br />

Admitamos ainda que o preço de venda de cada veículo seja, hipoteticamente, de 3 u.m. (três<br />

unidades monetárias). Já o de cada computador é de 2 u.m. A cada ano, as empresas produzem<br />

apenas 10 (dez) unidades de cada produto, ou seja, 10 veículos e 10 computadores. A totalidade<br />

da produção de computadores e veículos é consumida pela população desse país, isto é, pelas<br />

pessoas físicas.<br />

Considerando­se que o preço de venda do veículo é de 3 u.m. facilmente calculamos o<br />

valor bruto faturado nas vendas da empresa A: 3 x 10 = 30 u.m. O mesmo podemos dizer da<br />

empresa B: 2 x 10 = 20 u.m.<br />

Digamos que o referido faturamento tenha ocorrido no ano X1 de nosso sistema<br />

econômico hipotético, ou seja, 50 u.m (30 u.m. + 20 u.m.).<br />

No ano X2, contudo, começa a operar em nossa economia a empresa “C”. Esta, para<br />

entrar em operação, precisa comprar 1 veículo, que servirá para apoiar a sua parte comercial nos<br />

contatos com os clientes. No ano X2, portanto, ela adquire um veículo da empresa A.<br />

Em Contabilidade sabemos que os veículos se depreciam, em regra, a um percentual de<br />

20% ao ano. Contudo, para simplificar nossos comentários, admitamos que em nosso país os<br />

veículos se depreciem em 50%. Assim, sua vida útil é de apenas 02 anos: 50% no primeiro ano e<br />

mais 50% no segundo. Em razão disso, a vida útil do veículo adquirido pela empresa C abrangerá<br />

os exercícios X2 e X3. Isso significa que no exercício X4 terá que comprar um novo para repor o<br />

seu Ativo Permanente.<br />

Para tornar nossa economia um pouco mais complexa, digamos que no ano X3 comece a<br />

operar a empresa “D”. Esta necessita adquirir 1 computador para apoiar seus serviços<br />

administrativos. Terá de fazê­lo, portanto, junto à empresa B. Suponhamos que a depreciação


dos computadores seja de 25% ao ano. Isso significa que a vida útil do computador adquirido<br />

pela empresa D se estenderá até X6 (25% em X3 + 25% em X4 + 25% em X5 + 25% em X6).<br />

Em X7, portanto, ela terá de adquirir um novo para repor a baixa de seu Ativo Permanente.<br />

Contudo, sabendo que as empresas C e D são previdentes, elas, na verdade, não irão<br />

adquirir o novo veículo e o novo computador, respectivamente, no ano subseqüente àquele em<br />

que expirar a vida útil do bem já em uso. Com efeito, a empresa C terá de providenciar a compra<br />

do novo veículo não em X4, mas em X3, para, em X4, poder contar com ele no seu dia­a­dia. O<br />

mesmo ocorrerá com a empresa D, que terá de adquirir o novo computador em X6 e não em X7,<br />

pelos mesmos motivos.<br />

Considerando todas as situações acima em conjunto devemos observar que:<br />

1 – no ano X2 a empresa A terá de atender a uma demanda adicional: a da empresa C,<br />

que, conforme dissemos, começou a operar naquele ano. Ora, como sua produção é de 10<br />

veículos por ano e eles, em sua totalidade, vêm sendo adquiridos pela população, a fim de<br />

atender à demanda adicional, ela só poderá optar por uma destas duas soluções:<br />

a – deixar de atender à população em 01 veículo para destiná­lo à empresa C. Nesse<br />

caso, perceba que ela manterá a produção constante (10 veículos), mas a demanda aumentará<br />

(em razão da entrada em operação da empresa C). Esse fato poderá gerar inflação por (excesso<br />

de) demanda. Essa solução não é boa para a economia de nosso país, mas possível.<br />

b – produzir mais um veículo naquele ano, a fim de atender à demanda adicional da<br />

empresa C. Essa solução se mostra bastante salutar, pois provavelmente gerará mais emprego<br />

em nossa economia (mais pessoas irão ser chamadas pela empresa A para a linha de produção)<br />

e, por conseqüência, também mais renda será gerada (mais salários irão ser pagos a essas<br />

pessoas). Além disso, não deixará de atender à demanda da população, sua antiga clientela.<br />

Admitamos que ela opte pela primeira das soluções apontadas.<br />

2 – no ano X3 também haverá uma demanda adicional por computadores em razão,<br />

conforme dissemos, da entrada em operação da empresa D. As opções de produção, nesse caso,<br />

para a empresa B (produtora de computadores) são as mesmas da empresa A, conforme<br />

descrevemos. Admitamos que a empresa B opte também pela primeira das soluções propostas.<br />

3 – As demandas adicionais referidas nos itens “1” e “2” ocorrerão novamente nos anos X3<br />

(para a empresa A, já que nesse ano a empresa C irá adquirir um novo veículo, que perderá sua<br />

vida útil, para repor o seu Ativo Permanente) e X6 (para a empresa B, já que nesse ano a<br />

empresa D irá adquirir um novo computador, que também perderá sua vida útil, para repor o seu<br />

Ativo Permanente). Essas demandas adicionais, na verdade, ocorrerão indefinidamente daí por<br />

diante, uma vez que sempre haverá a expiração da vida útil de veículos e computadores ao longo<br />

dos anos. Isso significa que nossa economia, constituída pelas empresas A e B, terá de fazer um<br />

esforço de produção adicional em razão da entrada em operação das empresas C e D. Isso será<br />

cíclico, em decorrência da depreciação de seus Ativos Permanentes e da necessidade de<br />

recompô­los periodicamente, à medida que perderem sua vida útil.<br />

Agora, imagine numa economia real a quantidade de elementos do Ativo Permanente das<br />

empresas que, anualmente, têm sua vida útil expirada. Deve ser uma soma fabulosa, você não<br />

acha? E o que tem isso a ver com a Depreciação objeto de estudos da Macroeconomia? Tudo. Na<br />

verdade, o que os economistas chamam de Depreciação nada mais é que a soma de tudo que é<br />

produzido anualmente numa economia e que tem por finalidade a reposição de elementos dos<br />

Ativos Permanentes das empresas, em razão do término de sua vida útil. Todavia, melhor<br />

dizermos isso em números.<br />

X6.<br />

Para tanto, vamos calcular primeiro os Produtos Nacionais Líquidos dos exercícios de X1 a<br />

­ Para X1 temos: PNB = 50 u.m (30 u.m. da empresa A + 20 u.m. da empresa B)<br />

Depreciação = 0 u.m.<br />

PNL = 50 u.m – 0 u.m.= 50 u.m.


Para esse ano o PNL coincide com o PNB em razão da ausência de depreciação no<br />

período. Essa é uma situação praticamente impossível numa economia geral.<br />

­ Para X2 temos: PNB = 50 u.m (30 u.m. da empresa A + 20 u.m. da empresa B)<br />

Depreciação = 3 u.m. (referentes ao valor do veículo adquirido pela<br />

empresa C junto à empresa A)<br />

PNL = 50 u.m. – 3 u.m. = 47 u.m.<br />

Perceba que no segundo ano houve uma queda no PNL. A razão decorreu da depreciação<br />

registrada no período (ausente no período anterior). Isso significa que de toda a produção deste<br />

ano (50 u.m) uma parte (3 u.m) retornou para as empresas, fato que as levou a deixar de<br />

atender à população em geral. Assim, podemos dizer que as empresas produziram para si o valor<br />

de 3.u.m. O restante (líquido) da produção (47 u.m) se destinou à população.<br />

­ Para X3 temos: PNB = 50 u.m (30 u.m. da empresa A + 20 u.m. da empresa B)<br />

Depreciação = 5 u.m. (2 u.m. referentes ao valor do computador<br />

adquirido pela empresa D junto à B + 3.u.m. relativas ao valor do<br />

veículo adquirido pela empresa C junto à empresa A, a fim de repor o<br />

que está em seu último ano de vida útil)<br />

PNL = 50 u.m. – 5 u.m. = 45 u.m.<br />

Mais uma vez verificamos uma queda no PNL. A razão decorreu da existência de duas<br />

depreciações registradas no período: a primeira devido à entrada em operação da empresa D, e a<br />

segunda por conta da segunda aquisição feita pela empresa C, a fim de recompor o seu Ativo<br />

Permanente que ficará desfalcado em X4. Assim, de toda a produção deste ano (50 u.m), uma<br />

parte (5 u.m) retornou para as empresas, fato que as levou a deixar de atender à população em<br />

geral. Assim, podemos dizer que as empresas produziram para si o valor de 5.u.m. O restante da<br />

produção (45 u.m) se destinou à população.<br />

­ Para X4 temos: PNB = 50 u.m (30 u.m. da empresa A + 20 u.m. da empresa B)<br />

Depreciação = 0 u.m.<br />

PNL = 50 u.m – 0 u.m.= 50 u.m.<br />

A ausência de depreciação decorre da ausência da necessidade de reposição de itens do<br />

Ativo Permanente neste ano.<br />

­ Para X5 temos: PNB = 50 u.m (30 u.m. da empresa A + 20 u.m. da empresa B)<br />

Depreciação = 3 u.m. (referentes ao valor de um novo veículo<br />

adquirido pela empresa C junto à empresa A para reposição de seu<br />

Ativo Permanente)<br />

PNL = 50 u.m. – 3 u.m. = 47 u.m.<br />

Conforme se vê, há depreciação no período e conseqüente queda no PNL.<br />

­ Para X6 temos: PNB = 50 u.m (30 u.m. da empresa A + 20 u.m. da empresa B)<br />

Depreciação = 2 u.m. (referentes ao valor de um novo computador<br />

adquirido pela empresa D junto à B para reposição de seu Ativo<br />

Permanente)<br />

PNL = 50 u.m. – 2 u.m. = 48 u.m.<br />

Conforme acima, há depreciação no período, mas o PNL se eleva em relação ao ano<br />

anterior. A Elevação decorre do fato de os itens produzidos e destinados à empresa D serem de<br />

valor monetário inferior ao veículo produzido em X5.<br />

De tudo o que foi exposto, algumas conclusões relevantes podemos extrair. Inicialmente,<br />

que algumas depreciações foram geradas a partir da montagem do Ativo Permanente das<br />

empresas C e D. Isso ocorreu nos anos X2 (para a empresa C) e X3 (para a empresa D). A partir<br />

daí as novas depreciações que foram sendo registradas foram motivadas não pelas instalações


das referidas empresas, mas pela necessidade de reposição de seu Ativo Permanente. Isso<br />

ocorreu nos anos X3 e X5 (para a empresa C) e X6 (para a empresa D).<br />

Uma outra conclusão que podemos extrair é que em Macroeconomia, quando se coloca de<br />

um lado as empresas e de outro as unidades familiares, isso significa que, num primeiro<br />

momento, tudo aquilo que é produzido pelas empresas destina­se à satisfação das necessidades<br />

das unidades familiares. Todavia, uma parte dessa produção não chega até o seu destino, pois é<br />

consumida pelas próprias empresas. Esse consumo (de parte de sua própria produção)<br />

corresponde, em linhas gerais, à necessidade de elas recomporem o seu Ativo Permanente, mais<br />

especificamente o seu Imobilizado Técnico, que se desgastou durante todo o processo produtivo.<br />

Mas não apenas isso. É preciso ficar claro para o estudante que o referido desgaste corresponde<br />

apenas àquele que põe fim à vida útil dos elementos do Imobilizado das empresas. Não se refere,<br />

portanto, às sucessivas depreciações que ocorrem durante o período de vida útil do bem<br />

imobilizado, a exemplo do que ocorreu no ano X4 em que, muito embora pela ótica Contábil<br />

tenha sido contabilizada a primeira depreciação do veículo adquirido no fim de X3, não houve<br />

registro, pela Ciência Econômica, desta depreciação, uma vez que ela, repetimos, não pôs fim à<br />

vida útil do bem considerado.<br />

Por último, que agora podemos visualizar uma estreita relação entre a depreciação<br />

considerada pela Ciência Contábil e aquela registrada pela Ciência Econômica. Esta relação,<br />

contudo, é relativa. Isto porque toda depreciação registrada pela Ciência Econômica é também<br />

registrada pela Ciência Contábil, mas nem toda depreciação registrada por esta é também objeto<br />

de registro daquela, conforme vimos acima.<br />

É o que tínhamos.<br />

Um grande abraço e bons estudos!<br />

Professor Alipio Reis Firmo Filho<br />

w w w .editoraferreira.com.br

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