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Universidade Estadual Paulista UNESP Instituto de Artes UMA ...

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Uma História Íntima do Desenho<br />

ser consi<strong>de</strong>radas estranhas e até mesmo mórbidas para leitores comuns. Em certo<br />

momento, perguntei-lhe como isto havia começado em seu processo artístico ou<br />

pessoal. Ana citou um fato que acredita ter influenciado a direção <strong>de</strong> sua poética.<br />

- Tem uma coisa que foi muito <strong>de</strong>terminante para esse repertório que faço. Eu<br />

tinha nove anos, era setenta e três, eu acho. Estávamos na Argentina, era ditadura<br />

militar, eu acho que percebi algo. Estava no Museu Mar Del Plata, vi uns insetos,<br />

esqueletos. Não sei se aquela visita não me formou. Só lembrou muito tempo<br />

<strong>de</strong>pois. Por parecer tão querido, tão aprazível, talvez tenha sido a origem do que<br />

faço hoje.<br />

Seu <strong>de</strong>senho é um registro <strong>de</strong> imagens intensas em sua vida. Mostrou-me um<br />

<strong>de</strong>senho <strong>de</strong> lagartas vermelhas juntinhas. Ela me disse que pareciam frutas e se<br />

espantou. Resolveu <strong>de</strong>senhar. Para aprisionar o momento, o sentimento. Apontou<br />

para um <strong>de</strong>senho datado.<br />

- Esse dia “sete <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2004, terça-feira” nunca mais vai embora.<br />

Os ca<strong>de</strong>rnos são como diários <strong>de</strong> bordo para Ana. Costuma trabalhar em<br />

Livros Ata. Mas disse-me que está cada vez mais raro <strong>de</strong> encontrá-los. Quando está<br />

concluindo um <strong>de</strong>les, ao se aproximar das últimas folhas, Ana se entristece.<br />

- Tenho a caveira dos bichos que eu tinha e morreram. Quando eu me separei<br />

do Marcelo – Ana foi casada com o artista Marcelo Grassmann -, eu trouxe a cabeça<br />

da Bergamota (sua ca<strong>de</strong>la). Está no quintal do meu irmão esperando <strong>de</strong>compor. A<br />

mãe tinha morrido também <strong>de</strong> câncer um ano antes.<br />

Perguntei-lhe quando o fascínio por aqueles símbolos teriam começado.<br />

- Pois, é. Eu acabo falando e alguns se afligem. Mas eu era uma criança<br />

mórbida. Eu adorava filmes <strong>de</strong> Drácula, filmes <strong>de</strong> mortos. Não <strong>de</strong> zumbis. Filmes<br />

como Nosferatu, etc. Ou o Drácula, com Christofer Lee.<br />

Ana contou-me sempre ter preferido a estética européia. A inglesa<br />

principalmente.<br />

- Adoro contos <strong>de</strong> terror, coisa em comum com Marcelo. Alan Poe, Lorca.<br />

Mais <strong>de</strong> Poe que <strong>de</strong> Lorca. Filmes como “O Lobisomem Americano em Londres”.<br />

Filmes <strong>de</strong> Múmia, eu adorava!<br />

Mostrou-me o <strong>de</strong>senho do morcego que fez e que diz ter por ele muita<br />

afeição. O cuidado hiper-realista nas texturas é tão gran<strong>de</strong> quanto o belo<br />

estranhamento que mo provocou a imagem.<br />

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