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Universidade Estadual Paulista UNESP Instituto de Artes UMA ...

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Uma História Íntima do Desenho<br />

p.201). Avalia que, ao se sentar em um órgão novo, um organista se adapta àquele<br />

corpo por algo mais do que usualmente se chamaria <strong>de</strong> memória, mas uma união<br />

entre seu corpo e a música, esten<strong>de</strong>ndo “valores afetivos” e <strong>de</strong>scobrindo “fontes<br />

emocionais” em um processo <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> um “espaço expressivo” (2006, p.202).<br />

Merleau-Ponty não enten<strong>de</strong> a motricida<strong>de</strong> como uma “serva da consciência”; afirma<br />

que um movimento somente será aprendido pela compreensão do corpo, e por sua<br />

incorporação ao seu “mundo”. O filósofo enten<strong>de</strong> que “o corpo tem seu mundo e que<br />

os objetos ou o espaço po<strong>de</strong>m estar presentes ao nosso conhecimento sem estar<br />

presentes ao nosso corpo” (2006, p. 193).<br />

Ao me referir à memória <strong>de</strong> um corpo, buscarei o conceito <strong>de</strong> memória aliado<br />

a uma compreensão sistêmica entre corpo, objeto e linguagem, opondo-me a uma<br />

suposta idéia <strong>de</strong> memória como lembrança <strong>de</strong> alguma ativida<strong>de</strong> previamente<br />

realizada pela pessoa. Memória que, segundo Fayga Ostrower, não po<strong>de</strong> ser<br />

compreendida como algo factual, mas como “memória <strong>de</strong> vida vivida” (2009, p.19).<br />

Memória <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho<br />

O caso <strong>de</strong> José Glilton me remeteu a outra reflexão sobre o aprendizado do<br />

corpo do <strong>de</strong>senhista no espaço. Constatei em José Glilton uma capacida<strong>de</strong> fora do<br />

comum <strong>de</strong> lembrar-se <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes das paisagens, reproduzindo-as em incontáveis<br />

tramas a caneta esferográfica. Não obstante, pu<strong>de</strong> perceber, no breve período em<br />

que ele foi meu aluno, que essa mesma memória não se aplicava a <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong><br />

observação e proporções <strong>de</strong> corpos humanos.<br />

Glilton <strong>de</strong>senvolveu uma maneira <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar <strong>de</strong> memória – algo que Brent e<br />

Marjorie Wilson chamaram <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho, conceito que discutirei com<br />

cuidado no capítulo “O Problema da Cópia”, ao final da segunda parte das<br />

entrevistas -, ao mesmo tempo em que não era capaz <strong>de</strong> ter a mesma fluência em<br />

outros estilos (todavia não tardou a se adaptar a essas novas maneiras <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senhar). Possuía uma memória <strong>de</strong> certa ação pictórica, mas ainda não havia<br />

<strong>de</strong>senvolvido essa memória com relação a outras formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho, quer dizer, ao<br />

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