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Universidade Estadual Paulista UNESP Instituto de Artes UMA ...

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Uma História Íntima do Desenho<br />

é capaz <strong>de</strong> relembrar trechos perdidos em seu inconsciente por anos. Como uma<br />

canção que ouvíamos na infância e que se sabe a letra inteira no momento em que<br />

alguém começa a cantarolá-la.<br />

As conseqüências estéticas <strong>de</strong>ssas ações do corpo materializam-se na arte e<br />

não po<strong>de</strong>m ser explicadas por um fator meramente neurológico. A arte se dá no<br />

erro, no acaso e na linguagem; e linguagem é um fenômeno do campo da cultura, ou<br />

seja, relaciona-se também com a história do corpo ao construir a linguagem.<br />

Paulo Ito disse ter <strong>de</strong>senvolvido muito no <strong>de</strong>senho a sua forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar<br />

pelo período longo <strong>de</strong> fisioterapia em que po<strong>de</strong> refletir sobre sua condição corporal.<br />

Ele não <strong>de</strong>senvolveu propriamente o <strong>de</strong>senho nessa situação nova, posto que já<br />

fosse habilidoso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância; todavia foi sua circunstância corporal o fator<br />

prepon<strong>de</strong>rante que o levou a buscar em seu <strong>de</strong>senho a percepção adquirida e,<br />

principalmente, a experimentar por via do gesto <strong>de</strong>senhista, as inúmeras situações<br />

<strong>de</strong> traço que o fizeram criar um repertório <strong>de</strong> perspectiva e anatomia até os dias <strong>de</strong><br />

hoje.<br />

Utilizo a expressão memória do corpo - ainda que seja consciente <strong>de</strong> não<br />

estar me referindo exatamente a um conceito <strong>de</strong> memória comum, mas uma nova<br />

maneira <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r como o corpo se ajusta aos instrumentos e se expressa no<br />

espaço/tempo - por uma percepção minha <strong>de</strong> que o corpo do <strong>de</strong>senhista se constrói<br />

em meio a um processo geral <strong>de</strong> suas partes. Mas que corpo será esse o do<br />

<strong>de</strong>senhista? Que invenção <strong>de</strong> si mesmo faz o corpo humano ao se <strong>de</strong>bruçar sobre o<br />

silêncio <strong>de</strong> uma folha e <strong>de</strong>linear-se sobre um caminho inexato <strong>de</strong> linhas?<br />

Um corpo que se forma como um corpo-olho: curvado sobre a coluna cervical,<br />

afunilando-se ao braço à mão que será a via <strong>de</strong> escape do gesto que dá à luz o<br />

<strong>de</strong>senho. O método pessoal <strong>de</strong> aprendizado não modifica o elemento principal do<br />

aprendizado do <strong>de</strong>senho: a ação do corpo sobre a superfície e o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da expressão gráfica <strong>de</strong>sse corpo. As novas composições surgem como um<br />

resultado do repertório e do processo <strong>de</strong> pensamento (no capítulo final, discutirei a<br />

relação entre <strong>de</strong>senho e pensamento) do corpo <strong>de</strong>senhista.<br />

Em Fenomenologia da Percepção, Maurice Merleau-Ponty analisa o corpo –<br />

usando-se do exemplo do instrumentista -, não como algo que residiria no<br />

pensamento ou no corpo objetivo, mas como um “mediador <strong>de</strong> um mundo” (2006,<br />

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