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Universidade Estadual Paulista UNESP Instituto de Artes UMA ...

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Uma História Íntima do Desenho<br />

compreensão <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>senho é <strong>de</strong>senvolvido a partir <strong>de</strong> algo maior do que um<br />

olho que vê e uma mão capaz se expressar em linhas. O olho, assim como a mão<br />

do <strong>de</strong>senhista, são sistemicamente ligados ao corpo do <strong>de</strong>senhista - passando pelo<br />

braço, ombro, tronco até o cérebro – e em constante relação com o mundo que nega<br />

e alimenta sua percepção <strong>de</strong> si mesmo.<br />

O “erro pessoal” <strong>de</strong> Degas<br />

No livro Degas Dança Desenho, Paul Valery conta um diálogo que teve com<br />

Degas e cita a frase proferida pelo pintor impressionista: “o <strong>de</strong>senho não é a forma,<br />

mas a maneira <strong>de</strong> ver a forma” (2003, p.159). Em contraposição à idéia <strong>de</strong><br />

representação fi<strong>de</strong>digna dos objetos - que Degas chamava <strong>de</strong> “Pôr no lugar” – o<br />

artista trazia o conceito <strong>de</strong> “<strong>de</strong>senho”, em suas palavras “a alteração particular que o<br />

modo <strong>de</strong> ver e executar <strong>de</strong> um artista impõe a essa representação exata, aquela que<br />

o uso da câmara clara daria 14 , por exemplo,” (2003, p. 160).<br />

Degas dizia que somente por esse tipo <strong>de</strong> “erro pessoal” (2003, p.160) que a<br />

representação realizada por meio <strong>de</strong> traços e sombras po<strong>de</strong>ria ser chamada <strong>de</strong> arte.<br />

Nessa linha <strong>de</strong> pensamento a sugestão do <strong>de</strong>senho como mera representação – e<br />

que os i<strong>de</strong>ais neoclássicos introduzidos pela missão artística francesa serviram para<br />

reforçar – seria certamente um gran<strong>de</strong> empobrecimento da questão. Como se um<br />

método que se propusesse a ensinar pessoas a fazer caricaturas pu<strong>de</strong>sse ser<br />

chamado <strong>de</strong> “o <strong>de</strong>senho”. A representação naturalista ou hiper-realista é apenas<br />

uma das formas em que o <strong>de</strong>senho se fez na história.<br />

Também o <strong>de</strong>senho está associado à forma como a cultura o assimila (algo<br />

explicitado no conceito <strong>de</strong> “<strong>de</strong>senho cultivado” <strong>de</strong> Rosa Iavelberg e que discutirei em<br />

capítulos a seguir) -, mas, sobretudo à forma como um corpo é capaz <strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>senvolver nessa linguagem diante da cultura. O erro pessoal <strong>de</strong>scrito por Degas é<br />

sempre oriundo <strong>de</strong> um corpo “errante”’. Os códigos do <strong>de</strong>senho se mantêm, assim<br />

como os gestos <strong>de</strong> uma pessoa que acorda, sua forma <strong>de</strong> se mover. Como andar <strong>de</strong><br />

bicicleta. Como um músico que não se recorda <strong>de</strong> uma canção, porém ao tocar seu<br />

instrumento seguindo a seqüência lida em uma partitura – ou somente <strong>de</strong> memória –<br />

14<br />

Nessa afirmação, refere-se à técnica utilizada por pintores em que uma caixa com um pequeno furo<br />

servia para projetar a imagem invertida em seu fundo, algo que os auxiliava na representação hiperrealista<br />

<strong>de</strong> suas obras pictóricas.<br />

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