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Universidade Estadual Paulista UNESP Instituto de Artes UMA ...

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Uma História Íntima do Desenho<br />

- O <strong>de</strong>senho está bem à vonta<strong>de</strong> como se eu não tivesse tido nada. Nada,<br />

não. Eu tinha... Eu até hoje tenho problemas com a mão direita. Esses dois <strong>de</strong>dos –<br />

Marcelo explicou-me, mostrando-me o indicador e o anular - são os mais<br />

importantes e ainda funcionam. Eu já vinha tendo problemas <strong>de</strong> coluna que me<br />

<strong>de</strong>ixou praticamente sem andar. E <strong>de</strong>pois tive um <strong>de</strong>rrame e daí então a memória foi<br />

pro brejo, a coerência às vezes me falta, eu fico falando, falando, falando para dizer<br />

uma coisa.<br />

- Mas agora você escreve?<br />

- Não escrevo nada mais.<br />

Disse-me esquecer as palavras e, ao tentar escrever, <strong>de</strong>ixa-as incompletas,<br />

faltando letras.<br />

- Saem <strong>de</strong>feituosas sempre.<br />

Marcelo me mostrou o pequeno ca<strong>de</strong>rno pautado on<strong>de</strong> rabiscou pela primeira<br />

vez, após o <strong>de</strong>rrame. Algumas páginas com diversas tentativas <strong>de</strong> escrita <strong>de</strong><br />

palavras em linhas tortas são folheadas à minha frente até que chega a uma página<br />

com um <strong>de</strong>senho que qualquer conhecedor <strong>de</strong> seu trabalho reconheceria nele a sua<br />

autoria no momento em que o visse.<br />

O <strong>de</strong>senho trazia uma imagem bastante familiar em sua obra, uma espécie <strong>de</strong><br />

torso que parecia ter sido inspirado mais em esculturas gregas do que em mo<strong>de</strong>los<br />

vivos. O rosto sugeria um tipo infantil, menos uma criança do que um anjo. Mas o<br />

mais pessoal era o traço que, ainda que realizado com uma rústica caneta<br />

esferográfica, trazia a mesma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> outrora. A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> traço que somente gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senhistas possuem. Passei minutos apreciando<br />

seus traços no pequeno ca<strong>de</strong>rno, cujas linhas um pouco trêmulas me remetiam às<br />

garatujas que todo sujeito faz em sua infância; porém como que se estas pu<strong>de</strong>ssem<br />

tomar vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> símbolos naqueles rabiscos. Esse relato, logo no início <strong>de</strong> nossa<br />

conversa, me trouxe à clarida<strong>de</strong> uma questão: a relação entre a formação do<br />

<strong>de</strong>senho e a condição estabelecida entre esse e o corpo do <strong>de</strong>senhista.<br />

Perguntei-lhe sobre o seu processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar.<br />

- Olha, como funciona o processo temos que discutir aqui, pois eu também<br />

não tenho a mínima idéia do mecanismo do <strong>de</strong>senho. Mais ou menos, você projeta<br />

alguma coisa. No meu caso, ou eu parto <strong>de</strong> alguma coisa, alguma informação visual<br />

ou eu não parto <strong>de</strong> nada e parto já do meu arquivo inseparável que é a minha<br />

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