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Universidade Estadual Paulista UNESP Instituto de Artes UMA ...

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Uma História Íntima do Desenho<br />

funcionamento gramatical (feno textual) como a prazer do corpo é irredutível<br />

à sua necessida<strong>de</strong> fisiológica (1987, p. 25)<br />

Talvez mais que o texto, o <strong>de</strong>senho seja uma expressão ainda maior <strong>de</strong>ssa<br />

idéia <strong>de</strong> Barthes; por <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do gesto do corpo, <strong>de</strong> seu peso e sua leveza, da<br />

pessoalida<strong>de</strong> caligráfica, seja o <strong>de</strong>senho em si o anagrama maior do corpo humano.<br />

O autor conclui o trecho expressando que “o prazer do texto é esse momento em<br />

que meu corpo vai seguir suas próprias idéias – pois meu corpo não tem as mesmas<br />

idéias que eu” (1987, p.26). Ora, nada mais a<strong>de</strong>quado à ação do <strong>de</strong>senho, cujas<br />

idéias gráficas se dão à revelia da intenção inicial do <strong>de</strong>senhista, não por uma idéia<br />

inicial, racional, mas pela surpresa – ou “risco” – existente em cada ato <strong>de</strong> invenção<br />

da linha sobre a superfície em uma relação <strong>de</strong> mão, olho e instrumento. Esse prazer<br />

sensual verificado por Barthes no texto parece-me ser o elemento que une os<br />

<strong>de</strong>senhistas ao seu <strong>de</strong>senho. O autor se utiliza do termo “perversida<strong>de</strong>” para<br />

expressar esse prazer que “não tem função” (1987, p.26).<br />

Igualmente não compreendo o prazer no <strong>de</strong>senho como uma manifestação<br />

simplesmente hedonista 18 , mas como uma manifestação que é anterior à formação<br />

do <strong>de</strong>sejo consciente, algo que <strong>de</strong>finirei aqui como vonta<strong>de</strong> artística - mais parecido<br />

com uma pulsão <strong>de</strong> vida do que com um princípio filosófico. Nessa vonta<strong>de</strong>, há mais<br />

do que <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> obra, percebamos; está presente nesse <strong>de</strong>sejo um gosto pela<br />

ação do <strong>de</strong>senho, pelo gesto presente nessa ação e pelas criações narrativas<br />

geradas pelo mesmo.<br />

Ao refletir pedagogicamente sobre a consciência que po<strong>de</strong>mos ter <strong>de</strong>ssa<br />

vonta<strong>de</strong> no aluno, remeto a questão à fala <strong>de</strong> Jacques Rancière, que chamou a<br />

atenção – em seu livro O Mestre Ignorante – para o cuidado necessário em não se<br />

adotar uma relação <strong>de</strong> “dominação do mestre”. Afirma que haverá “embrutecimento<br />

quando uma inteligência se subordina a outra e que essa sujeição é puramente <strong>de</strong><br />

vonta<strong>de</strong> a vonta<strong>de</strong>” (2007, p.31). Rancière diz que essa relação é “embrutecedora<br />

quando liga uma inteligência a uma outra inteligência. No ato <strong>de</strong> ensinar e <strong>de</strong><br />

apren<strong>de</strong>r, há duas vonta<strong>de</strong>s e duas inteligências” (RANCIÉRE; 2007, p.31). A<br />

percepção sobre a vonta<strong>de</strong> do outro é também o respeito ao seu prazer estético.<br />

18 Doutrina filosófica que vê o prazer e em sua potencialização como o bem supremo para a vida, em oposição<br />

ao sofrimento.<br />

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