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Marketing Educacional

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MARKETING<br />

EDUCACIONAL<br />

Galvão Meirinhos<br />

prefácio A.Fontainhas Fernandes


<strong>Marketing</strong> <strong>Educacional</strong>


Galvão dos Santos Meirinhos (Bordéus, 1972)<br />

Licenciado em <strong>Marketing</strong>, Licenciado em Publicidade e Relações<br />

Públicas, Mestre e Doutor em Ciências da Comunicação pela<br />

Universidade Autónoma de Barcelona. Desenvolveu, também, o<br />

seu percurso profissional no mundo das empresas, sendo, entre<br />

2004 e 2007, diretor de comunicação da DELAUBE SARL,<br />

empresa especializada no desenvolvimento de projetos<br />

imobiliários em França.<br />

Desde 2009, é diretor dos ciclos de estudos em ciências da<br />

comunicação da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.<br />

Em 2012, iniciou os seus trabalhos de pós-doutoramento na área<br />

da eficácia comunicativa na Universidade de Vigo. Já em 2013,<br />

passou a fazer parte da Comissão Directiva do Centro de Estudos<br />

e Investigação de Segurança e Defesa de Trás-os-Montes e Alto<br />

Douro.<br />

2


Galvão dos Santos Meirinhos<br />

<strong>Marketing</strong> <strong>Educacional</strong><br />

3


Editor<br />

Edições Galvão Meirinhos<br />

Alameda Jardins d’Árrábida | Edificio Pinheiro, nº992 7ºD<br />

4400-478 Vila Nova de Gaia | Portugal<br />

Contribuinte nº 506143015<br />

www.galvaomeirinhos.com<br />

Reservados todos os direitos<br />

de acordo com a legislação em vigor.<br />

Autor<br />

Galvão Meirinhos<br />

Título<br />

<strong>Marketing</strong> <strong>Educacional</strong><br />

Design gráfico<br />

Galvão Meirinhos<br />

Este livro foi composto em Calibri e Times New Roman, fontes tipográficas<br />

desenhadas por Lucas de Groot e por Victor Lardent e Stanley Morison<br />

respetivamente.<br />

Revisão<br />

Marlene Loureiro<br />

Data de Impressão<br />

Março 2013<br />

N.º de Exemplares<br />

500<br />

Impressão e acabamento<br />

Publito | Braga<br />

ISBN<br />

978-989-98326-0-2<br />

Este livro teve o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia e do Centro<br />

de Estudos em Letras da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.<br />

4


À Matilde, à Ivete<br />

e aos meus pais.<br />

5


ÍNDICE GERAL<br />

PREFÁCIO 9<br />

INTRODUÇÃO 11<br />

CONCEITOS FUNDAMENTAIS<br />

<strong>Marketing</strong> 13<br />

As organizações educativas 18<br />

Da missão ao desempenho 21<br />

Opções estratégicas das organizações educativas 24<br />

O MARKETING E AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR<br />

O <strong>Marketing</strong> educacional no tempo e no espaço 29<br />

Planeamento estratégico de <strong>Marketing</strong> educacional 35<br />

Análise do ambiente envolvente das instituições de ensino 37<br />

Seleção e segmentação de mercados 41<br />

Análise comportamental do candidato ao ensino superior 44<br />

Formulação estratégica de <strong>Marketing</strong> educacional 45<br />

Planeamento operacional de <strong>Marketing</strong> educacional 47<br />

Decisões sobre o produto e o serviço educativo 48<br />

Decisões sobre o preço 50<br />

Decisões sobre a “distribuição” 52<br />

Decisões sobre a comunicação 53<br />

SISTEMA DE INFORMAÇÕES E AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO 55<br />

CONCLUSÃO 61<br />

BIBLIOGRAFIA 63<br />

7


PREFÁCIO<br />

As instituições de ensino superior têm vindo a desempenhar um<br />

papel mais interventivo na sociedade, assumindo atribuições<br />

ampliadas na perspetiva da criação, transmissão e difusão da<br />

cultura, do saber e da ciência e da tecnologia, mediante a<br />

articulação do estudo, do ensino, da investigação e do<br />

desenvolvimento experimental. Os investigadores têm valorizado<br />

este desígnio, contribuindo de forma distinta e criativa nos<br />

domínios cultural, humanístico e tecnológico, envolvendo uma<br />

nova dimensão estética, artística, paisagística e ambiental da<br />

Universidade moderna.<br />

A ligação da Universidade à sociedade tem vindo a enquadrar<br />

novas dinâmicas e modos alternativos de participação, envol-­‐<br />

vendo formas inovadoras de cooperação, na perspetiva de comu-­‐<br />

nicação e do conhecimento. A comunicação é uma parte integrante<br />

da atividade do investigador, exigindo novas estratégias de<br />

desenvolvimento do seu trabalho para a sociedade e de divulgação<br />

fora da sua área de investigação.<br />

Os investigadores têm o dever de manter a sociedade informada<br />

sobre o seu trabalho e de discutir as implicações da sua<br />

investigação, em especial nas áreas emergentes de conhecimento.<br />

Um papel mais ativo de comunicação do conhecimento com<br />

públicos não especializados está implícito no papel dos docentes,<br />

visando promover a cultura científica na sociedade.<br />

Os novos desafios que se colocam às instituições de ensino<br />

superior exige a promoção de competências inovadoras na<br />

comunidade educativa e mudanças nas organizações educativas<br />

que permitam o seu envolvimento em novos contextos de<br />

natureza económica, social e cultural.<br />

A afirmação das Universidades como espaços distintos e criativos,<br />

na perspetiva cultural, humanística e tecnológica, envolve uma<br />

dimensão moderna que integre motivos estéticos, artísticos,<br />

9


desportivos, paisagísticos e ambientais, à luz do conceito das<br />

futuras “Universidades Inteligentes”. A atratividade exige o<br />

reforço da eficácia comunicativa, da qualidade de ensino, da<br />

avaliação dos serviços, da valorização dos índices de desempenho<br />

e da satisfação de necessidades, bem como uma particular atenção<br />

às questões tratadas neste livro do marketing educacional.<br />

Este livro aborda um tema atual para as instituições, enquanto<br />

organizações orientadas para o mercado, que devem considerar a<br />

procura como estratégia prioritária, uma tarefa que exige um<br />

contínuo diagnóstico da organização e dos seus atores,<br />

envolvendo as necessidades, perceções, preferências e satisfação<br />

num contexto contínuo no tempo e no espaço. O autor considera<br />

que o marketing educacional pode contribuir para a identificação<br />

dos problemas e a satisfação das necessidades, permitindo atrair<br />

investimentos na investigação e desenvolvimento aplicado, bem<br />

como melhorar a eficiência económica e financeira da<br />

organização.<br />

As instituições de ensino superior têm de ser capazes de<br />

implementar estratégias competitivas baseadas na diferenciação e<br />

na inovação curricular, detetar novos segmentos de mercados e<br />

criar novas formas de relacionamento com o tecido empresarial.<br />

Este livro contribui para aprofundar o marketing nas organizações<br />

educativas e reflete uma visão crítica e exploratória das grandes<br />

opções estratégicas das organizações educativas, o que exige<br />

mudanças estratégicas e operacionais das instituições e dos<br />

agentes educativos.<br />

Trata-­‐se de um tema determinante para o futuro das instituições<br />

de ensino superior, que exige cada vez mais ações inovadoras e<br />

participativas junto dos públicos e da sociedade.<br />

Fontainhas Fernandes<br />

Vila Real, 25 de janeiro de 2013<br />

10


INTRODUÇÃO<br />

Qualquer organização educativa deve estreitar relações com os<br />

seus públicos. A filosofia de gestão baseada na construção de<br />

relações foi posta em prática nos Estados Unidos da América, por<br />

forma a estabelecerem conexões profícuas, fortes e duradoiras. Os<br />

alunos transformaram-­‐se na razão de ser de muitas organizações<br />

educativas norte-­‐americanas, cujos rácios de performance<br />

cresceram de forma sustentável no tempo e no espaço. A gestão<br />

centrada nos alunos defende que as organizações educativas<br />

devem atender e servir cada vez mais e melhor o seu principal<br />

público, com produtos educativos estruturados, adaptados e<br />

necessários ao mercado de trabalho e à sociedade.<br />

O sentido da existência do marketing educacional nas instituições<br />

de ensino superior está relacionado com o alcance dos objetivos<br />

organizacionais e com o desenvolvimento das atividades pedagó-­‐<br />

gicas, científicas e culturais. Normalmente, a adoção do conceito<br />

de marketing implica consideráveis mudanças estratégicas e<br />

operacionais no seio das organizações educativas, tarefas que<br />

assentam em reorientações da filosofia de gestão estratégica,<br />

administrativa, pedagógica e científica, bem como a correção de<br />

atitudes, comportamentos e resistências dos agentes educativos.<br />

Dado o caráter dinâmico e mutante das sociedades modernas, as<br />

instituições de ensino superior devem possuir novas capacidades<br />

percetivas, participativas e inovadoras na relação com a<br />

comunidade educativa. A busca contínua destes ideais obriga a<br />

que as organizações educativas estejam envolvidas com o tecido<br />

económico, social e cultural. Por outro lado, o marketing<br />

educacional visa a emergência de instituições antiburocráticas,<br />

sensíveis e capazes de satisfazer os seus públicos. Nesta<br />

perspetiva, as organizações educativas percetivas interpretam os<br />

seus produtos e serviços como instrumentos geradores de valor<br />

acrescentado e como meios de satisfação das necessidades do<br />

mercado. A gestão “alunocêntrica” tem uma importância<br />

estratégica e estrutural no desenvolvimento institucional, devido<br />

11


à responsabilidade social que os agentes educativos (tais como<br />

professores, quadros e colaboradores) possuem na prossecução<br />

dos objetivos da organização. Para isso, e antes de mais, os<br />

agentes educativos devem ser indivíduos atualizados, analíticos e<br />

inovadores nos seus pensamentos e realizações. Porém, a<br />

implementação desta orientação é tarefa diária, árdua e exigente,<br />

dado que a sua concretização envolve normalmente o forçar de<br />

uma série de mudanças drásticas no seio da organização<br />

educativa (KOTLER & FOX, 1992).<br />

Tendo o marketing e as instituições de ensino superior como<br />

contexto, esta obra tem como missão balizar conceitos e expor<br />

contributos para o desenvolvimento e aprofundamento do<br />

marketing nas organizações educativas. Em sentido lato,<br />

pretendemos condensar conhecimentos teóricos de várias<br />

autoridades na matéria, não deixando de introduzir neles uma<br />

visão crítica e exploratória. No capítulo I, apresentamos os<br />

conceitos fundamentais para a compreensão da problemática,<br />

sendo feita uma abordagem sumária da evolução do conceito de<br />

marketing, do trajeto da missão ao desempenho, e das grandes<br />

opções estratégicas das organizações educativas na ótica do<br />

cliente. No capítulo II, discorremos sobre o tema central da obra,<br />

desde do estudo do ambiente de mercado até à administração<br />

efetiva do fenómeno do cliente no seio da organização educativa.<br />

E, por fim, o capítulo III é dedicado ao sistema de informações de<br />

<strong>Marketing</strong> e à avaliação do desempenho do marketing<br />

educacional.<br />

12


CONCEITOS FUNDAMENTAIS<br />

Este primeiro capítulo apresenta os conceitos fundamentais para<br />

a compreensão do marketing nas instituições de ensino superior.<br />

Tradicionalmente, o marketing debate-­‐se com a inércia natural<br />

dos diferentes níveis hierárquicos e funções instaladas na<br />

organização. Perante esta delicada posição de confrontação, o<br />

marketing propõe-­‐se ser o embaixador do cliente com as suas<br />

necessidades junto da organização (DUPOUEY, 1991: 17).<br />

Partindo do pressuposto de que todas organizações se relacionam<br />

com o meio ambiente, os seus líderes e administradores começam<br />

a ter sérias preocupações em avaliar e vigiar o ambiente de<br />

mercado. O desafio da análise externa desenvolve preocupações<br />

na classe dirigente, por causa dos seus impactos diretos na<br />

atividade da organização. No sentido de minimizar esta situação,<br />

as organizações educativas deverão preparar-­‐se para o<br />

diagnóstico interno e para a análise regular do meio envolvente,<br />

por forma a extrair as suas opções estratégicas e as possibilidades<br />

de ação para a prossecução das metas e objetivos.<br />

MARKETING<br />

Em 1978, Patrick Murphy e Richard Mcgarity levaram a cabo um<br />

estudo com 300 administradores de instituições de ensino supe-­‐<br />

rior, cujas organizações estavam a enfrentar sérias reduções de<br />

alunos e aumentos consideráveis dos custos operacionais. Os dois<br />

investigadores norte-­‐americanos apuraram que 71% dos adminis-­‐<br />

tradores relacionavam o marketing com as vendas, a publicidade e<br />

as relações públicas; 28% percebiam-­‐no como uma destas três<br />

atividades e somente 1% reconhecia que o marketing envolvia um<br />

processo de avaliação de necessidades, investigação de mercados,<br />

desenvolvimento de produtos, preços, promoção e distribuição<br />

13


(MURPHY & MCGARITY, 1978). Todavia, definir o conceito de<br />

marketing é uma tarefa ingrata, porque os limites das disciplinas<br />

científicas estão continuadamente a redefinir-­‐se, onde este<br />

conceito já tomou várias e distintas aceções nem sempre<br />

coincidentes. Enquanto conceito, o marketing tem evoluído na<br />

medida em que as trocas e os intercâmbios se têm complexificado.<br />

Na verdade, devemos encarar o marketing como uma filosofia<br />

moderna de gestão, como uma linha orientadora da organização,<br />

ou até mesmo como uma trave-­‐mestra da compatibilização da<br />

organização com o mercado. Na sua vertente filosófica, Miguel<br />

Santesmases Mestre define <strong>Marketing</strong> como (…) una postura<br />

mental, una actitud, una forma de concebir la relación de<br />

intercambio, por parte de la empresa o entidad que ofrece sus<br />

produtos al mercado (MESTRE, 1991: 31). Assim, na nossa ótica, o<br />

marketeer deve compreender, planear, administrar e controlar os<br />

fluxos das trocas de bens e serviços. Concetualmente, o marketeer<br />

(…) is a person or organization that buys or sells goods or services<br />

in a market, esp. are whose business it is to sell a product in a<br />

market (ADAM, 1991: 337). Enquanto marketeers, devemos ser<br />

capazes de incutir nas organizações o espírito de marketing, cuja<br />

postura só é percetível quando a organização investiga de forma<br />

contínua as necessidades dos seus públicos efetivos e/ou<br />

potenciais, de maneira a compreender os interesses dos<br />

consumidores e da sociedade. Ou seja, o marketing (…) pressupõe<br />

que a principal tarefa da instituição é de determinar as<br />

necessidades e os desejos de mercados-­‐alvos e satisfazê-­‐lo através<br />

do projecto, comunicação, fixação de preço e entrega de programas<br />

e serviços apropriados e competitivamente viáveis (KOTLER & FOX,<br />

1992: 27). A organização educativa com orientação de marketing<br />

centra-­‐se sistematicamente na satisfação das necessidades dos<br />

seus públicos, mediante um projeto estratégico e operacional que<br />

define o futuro e o trajeto a percorrer pela organização. Este<br />

desenvolvimento pressupõe sempre um projeto estratégico<br />

estruturado, refletido e adaptado à empresa e ao mercado.<br />

14


Até aos finais da década 60, o marketing era considerado uma<br />

disciplina orientada para a empresa, circunscrevendo a sua<br />

atuação ao contexto das trocas. Reflexo desta orientação<br />

empresarial é a definição da American <strong>Marketing</strong> Association<br />

(AMA), onde (…) el marketing supone la realización de actividades<br />

empresariales que dirigen el flujo de bienes y servicios del productor<br />

al consumidor o usuário (ARMÁRIO, 1992: 26). Em 1969, e com<br />

base na proposta de Philip Kotler, teve origem uma corrente de<br />

pensamento alternativa que sugeriu a extensão do conceito de<br />

marketing a todo o tipo de organizações. Em termos concetuais, a<br />

alteração de fundo baseia-­‐se no intercâmbio de valores entre duas<br />

ou mais partes. A primeira edição do livro Administração de<br />

<strong>Marketing</strong>, Phillip Kotler concebe o marketing como (…) el<br />

conjunto de actividades humanas dirigidas a facilitar y realizar<br />

intercâmbios (KOTLER, 1992: 27). Já em 1985, e depois de uma<br />

grande discussão em diversos círculos, a AMA propõe uma nova<br />

conceção de marketing como sendo: (…) a process of planning and<br />

executing the conception, pricing, promotion and distribution of<br />

ideas, goods and services to create exchange that satisfy individual<br />

and organizational goals (BENNET, 1988: 10). Por seu lado, em<br />

1992, Philip Kotler propõe um conceito de marketing<br />

rejuvenescido passando a ser (…) um processo social e<br />

administrativo pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que<br />

necessitam e o que desejam através da troca de produtos e valores<br />

com outras pessoas (KOTLER, 1992: 32). Ainda nesse mesmo ano,<br />

Warren Keegan, Sandra Moniarty e Tom Duncan definiram<br />

marketing como (…) a series of plannings and management<br />

activities leading to a transaction between a seller and a buyer -­‐ a<br />

process that makes it possible to sell goods or services to people who<br />

want to buy them (KEEGAN, MONIARTY & DUNCAN, 1992: 6). Dito<br />

de outra forma, o relacionamento do vendedor e do comprador é<br />

feito através de um processo de planeamento, gestão e controlo de<br />

trocas, cujo intercâmbio permite a troca de valores tangíveis e<br />

intangíveis entre as partes. Independentemente da definição mais<br />

operacional da AMA em 1985, Philip Kotler, Peter Bennet, Warren<br />

Keegan, Sandra Minoarty e Tom Duncan expandem o conceito de<br />

15


marketing ao relacionamento abstrato entre duas ou mais<br />

entidades. Este posicionamento é a assunção de que o marketing<br />

evoluiu em extensão com novas áreas de intervenção e em<br />

profundidade mediante o desenvolvimento técnico-­‐científico da<br />

disciplina.<br />

As empresas que produzem e comercializam em função dos seus<br />

objetivos colocam em perigo o próprio negócio e a própria<br />

empresa. Na década de 60 e 70, o marketing tinha uma função<br />

passiva no seio da organização. Na atualidade, as empresas que<br />

ainda vivem neste postulado (…) devem modificar a sua postura,<br />

produzindo o que satisfaz as necessidades do mercado, em vez de<br />

tentar vender aquilo que produzem a quem quiser comprar. A<br />

produção e as vendas deixam de ser o centro das atenções para<br />

cederem esse lugar ao cliente (PEIXOTO, 1994: 8). O marketing<br />

passou a ser uma postura empresarial, verificável nos momentos<br />

da produção, da comercialização e do consumo de qualquer<br />

solução. No mundo das empresas e das instituições com futuro, o<br />

cliente tem a capacidade de moldar as atividades produtivas e<br />

comerciais, e define cada vez mais a natureza e a frequência do<br />

intercâmbio entre as partes.<br />

Vivemos na época da satisfação total, obrigatória e incondicional<br />

do cliente. Este passou a ser o núcleo informador e alterador dos<br />

comportamentos da organização. Muito mais do que uma área da<br />

organização, o <strong>Marketing</strong> deve ser encarado como uma atitude<br />

empresarial, transmitido a toda a organização e aplicado em todos<br />

os momentos em que se produz um contacto entre a empresa e o<br />

cliente (PEIXOTO,1994: 9). Portanto, e depois de apresentada uma<br />

breve visão cronológica das diferentes conceções de marketing,<br />

pensamos que a definição de Philip Kotler é a mais completa e<br />

atual, sendo um (…) processo de planificar y ejecutar la concepción<br />

del produto, precio, promocion y distribuicion de ideas, bienes y<br />

servicios, para crear intercambios que satisfagan tanto objectivos<br />

individuales como de las organizaciones (KOTLER, 1992: 11).<br />

16


Com base no exposto, e no sentido de sistematizar, podemos<br />

afirmar o seguinte:<br />

1º o marketing é um processo de gestão que envolve as<br />

atividades de análise, planeamento, implementação e controlo,<br />

exercido a partir de uma perceção social, onde as necessidades<br />

são identificadas, expandidas e satisfeitas;<br />

2º o marketing é intencional, manifestando-­‐se em planos<br />

cuidadosamente formulados, de modo a atingir as metas e os<br />

objetivos da organização;<br />

3º o marketing significa seleção de mercados que<br />

apresentem reações potenciais mais interessantes;<br />

4º o marketing tem como propósito atingir os objetivos<br />

organizacionais, sejam eles lucrativos ou não;<br />

5º o marketing significa pesquisa contínua dos desejos e<br />

necessidades dos mercados-­‐alvo, por forma a que a<br />

organização ofereça o que o cliente quer e não o que a empresa<br />

produz;<br />

6º e o marketing utiliza um conjunto de técnicas que<br />

permitem a obtenção de resultados, e isso exige aos<br />

marketeers a compreensão completa em extensão e<br />

profundidade do processo de intercâmbio.<br />

Na nossa perspetiva, e remetendo para o tema central desta obra,<br />

o marketing é a atitude da organização educativa mediada pelos<br />

seus diretores, docentes e funcionários, cujo trabalho visa<br />

compreender as necessidades e gerar satisfação no aluno. Dada a<br />

interação do indivíduo com a comunidade e da organização com a<br />

sociedade, o conceito de marketing educacional polariza-­‐se entre<br />

a gestão global do discente e a gestão integral do ambiente social.<br />

A abordagem integrada dos desejos individuais com os objetivos<br />

sociais é recente, o que expande o valor do indivíduo e incrementa<br />

o protagonismo da organização na sociedade. Dito por outras<br />

palavras, as organizações educativas devem exteriorizar e<br />

difundir a satisfação dos discentes e o sadio relacionamento da<br />

organização educativa com a sociedade.<br />

17


A adaptação da organização às mudanças de mercado é o desafio<br />

principal com que a gestão de marketing se depara nos tempos<br />

atuais. O incremento da competitividade, as alterações demo-­‐<br />

gráficas, os desajustamentos entre a formação superior e o<br />

mercado de trabalho e as dificuldades financeiras da maior parte<br />

das instituições de ensino superior criam objetivamente uma<br />

instabilidade funcional e um sentimento de vulnerabilidade<br />

institucional. Com base neste cenário, e no plano dos benefícios,<br />

pensamos que o marketing educacional pode contribuir para a<br />

identificação dos problemas e para a satisfação das necessidades<br />

e, por outro lado, atrair investimentos privados na área da<br />

investigação e do desenvolvimento aplicado, bem como melhorar<br />

a eficiência económica e financeira das prestações da organização.<br />

O futuro do ensino superior em Portugal está nas mãos das<br />

instituições capazes de implementar estratégias competitivas<br />

baseadas na diferenciação e na inovação curricular, a partir da<br />

deteção de novos segmentos de mercados e da criação de novas<br />

formas de relacionamento com o tecido empresarial.<br />

v<br />

AS ORGANIZAÇÕES EDUCATIVAS<br />

A educação é uma das necessidades básicas das sociedades<br />

contemporâneas, razão pela qual as organizações educativas são<br />

uma trave-­‐mestra da sociedade e da economia da oferta. As<br />

organizações com fins lucrativos são geridas pelo primado<br />

económico baseado no lucro, na inovação tecnológica e na<br />

qualidade das soluções. Por outro lado, as organizações sem fins<br />

lucrativos aspiram pela excelência do indivíduo, constituindo-­‐se<br />

como entidades propulsoras da transformação e da modificação<br />

do ser humano (DRUCKER, 1994: 10). Em termos latos, a<br />

organização sem fins lucrativos tem como objetivo provocar a<br />

mudança individual e, no limite, a mudança coletiva. Por isso, a<br />

18


maioria das organizações sem fins lucrativos nascem com vista à<br />

satisfação das necessidades e desejos específicos das populações.<br />

Gilberto de Andrade Martins diz-­‐nos que (...) a instituição<br />

preocupada em prestar serviços reconhecíveis em todos os planos<br />

pelos seus destinatários, deve legitimar-­‐se política e socialmente por<br />

acções voltadas para os seus públicos (MARTINS, 1986: 6). Esta<br />

legitimação passa pela definição da missão, onde frequentemente<br />

se enfatiza a excelência da organização e o engrandecimento do<br />

cliente. A missão tem de ser mais do que uma mera declaração de<br />

intenções. Na nossa ótica, a missão é o guião de valores e crenças<br />

que todo e qualquer agente da organização deverá conhecer e pôr<br />

em prática todos os dias. Neste domínio, Peter Drucker afirma que<br />

(…) a tarefa do gestor numa organização sem fins lucrativos é<br />

tratar de converter o enunciado da sua missão numa série de<br />

actuações específicas e coerentes. A missão pode ser eterna ou, pelo<br />

menos, não ter um termo previsível. A tarefa mais importante do<br />

líder de uma organização é antecipar as crises, em vez de gerir o<br />

caos. Esperar que a crise nos atinja já implica abdicação. O<br />

dirigente deve capacitar a sua instituição no sentido de prever a<br />

tormenta. A isso se chama inovação e renovação constante<br />

(DRUCKER, 1994: 21). Ainda fazendo jus às palavras de Drucker,<br />

não podemos prever uma catástrofe, mas podemos porém<br />

preparar a organização para o combate, com um bom clima<br />

organizacional e confiança recíproca entre os seus membros.<br />

As organizações sem fins lucrativos devem crescer progressiva-­‐<br />

mente, sem perder a capacidade de ajustamento às realidades<br />

circundantes. Os líderes devem funcionar em contraciclo por<br />

forma a antecipar as crises e minimizar as dificuldades da<br />

organização. Quando as instituições começam a perder fulgor, o<br />

líder deverá ser capaz de relançar o crescimento, a flexibilidade e<br />

a vitalidade. Uma das tarefas fundamentais do líder é<br />

contrabalançar o longo com o curto prazo, o panorama geral com<br />

o panorama específico. Na imensa maioria das situações,<br />

administrar uma entidade sem fins lucrativos equivale a navegar<br />

numa canoa, cujo desafio é mantê-­‐la permanentemente em<br />

19


equilíbrio, sem nunca esquecer que é necessário progredir no<br />

itinerário do seu desenvolvimento económico, social e cultural.<br />

As instituições de ensino superior começam a compreender a<br />

necessidade de atualizar e reeducar pessoas, dado que esta<br />

atividade está a converter-­‐se na principal força do setor educativo<br />

privado. Nos países mais avançados, a formação e a atualização de<br />

quadros superiores converteu-­‐se numa das principais fontes de<br />

financiamento das instituições de ensino superior. Algumas<br />

dessas instituições organizaram o seu corpo docente com o intuito<br />

de atrair profissionais liberais e executivos que procuram<br />

formação, atualização e aperfeiçoamento profissional.<br />

A missão e a liderança não são meros temas académicos, uma vez<br />

que podem ser perfeitamente transplantados para as práticas<br />

diárias de gestão. Devemos transformar o enunciado da missão<br />

em resultados práticos e as ações em desempenho organizacional,<br />

com vista a manter e a renovar o compromisso com o cliente.<br />

Nesta perspetiva, a missão da organização educativa deve possuir<br />

quatro grandes dimensões:<br />

1ª) deve contemplar a história, como sejam os princípios<br />

fundacionais, tradições, figuras e realizações;<br />

2ª) deve plasmar as preferências dos agentes educativos,<br />

como sejam líderes, administradores, professores, alunos,<br />

entre outros;<br />

3ª) deve contemplar a existência de uma oferta educativa<br />

adaptada às especificidades profissionais, uma vez que a<br />

formação atualizada e de valor acrescentado tornou-­‐se uma<br />

condição sine qua non na inserção económica e social da<br />

instituição no mercado de trabalho;<br />

4ª) e devem possuir valores e recursos suficientes para a sua<br />

“laboração”, que podem ser tangíveis (como instalações,<br />

equipamentos, pessoas e dinheiro) e intangíveis (como<br />

notoriedade, imagem, reputação, história e tradição)<br />

(KOTLER&FOX, 1992: 151).<br />

Infelizmente, algumas organizações educativas não correspondem<br />

às expectativas, negligenciando as necessidades, desejos e<br />

aspirações dos seus públicos. Este afastamento não é mais do que<br />

20


um sinal de “autismo” institucional, podendo mesmo chegar ao<br />

que o economista Theodore Levitt designa como miopia em<br />

marketing. As organizações educativas geridas com base na<br />

filosofia de marketing concentram-­‐se sistematicamente na<br />

identificação das necessidades, desejos e motivações dos seus<br />

clientes, através da criação, alteração ou mesmo o abandono das<br />

ofertas formativas em determinadas áreas com menores taxas de<br />

crescimento de alunos e/ou menor participação relativa da<br />

instituição no mercado em relação ao seu principal concorrente.<br />

DA MISSÃO AO DESEMPENHO<br />

v<br />

Nos últimos anos, a incompreensão por parte dos líderes e dos<br />

administradores de conceitos relacionados com o processo de<br />

planeamento estratégico, tais como metas, objetivos, estratégias e<br />

planos de ação, gerou nos agentes educativos desorientação e<br />

sérios temores organizacionais. Alguns gestores confundem a<br />

estratégia com práticas oportunistas, concertadas e encadeadas.<br />

Por definição, e seja qual for a dimensão da organização, a<br />

formulação estratégica inicia-­‐se sempre com a definição clara dos<br />

objetivos gerais e específicos, que consiste na reunião de meios<br />

tendo em vista alcançar certos objetivos contra certos<br />

adversários.<br />

A ação estratégica visa a transformação da missão e dos objetivos<br />

em desempenho organizacional. As instituições de ensino<br />

superior devem preocupar-­‐se com a definição clara da missão,<br />

identificar metas alcançáveis, definir objetivos razoáveis e<br />

formular estratégias adequadas às necessidades da comunidade<br />

educativa. No plano das metas e objetivos, as instituições de<br />

ensino superior elegem comummente entre a posição de mercado,<br />

a inovação, os recursos físicos, a produtividade, a rentabilidade, o<br />

desempenho organizacional e a responsabilidade social.<br />

21


A formulação e a ação estratégica frutuosa têm como produto<br />

resultados visíveis, efetivos e partilháveis entre os seus membros.<br />

Estes resultados são obtidos a partir da combinação da missão,<br />

das forças, das metas, dos objetivos, da estratégia, do plano de<br />

ação e dos valores presentes na organização. Dito por outras<br />

palavras, o desempenho em marketing é o resultado de uma<br />

estratégia consequente, ponderada e adequada: ao ambiente<br />

interno (composto por docentes, funcionários e colaboradores);<br />

ao ambiente de mercado (formado por discentes e fornecedores);<br />

ao ambiente público (constituído pelo público geral, público local,<br />

meios de comunicação e entidades fiscalizadoras); e ao ambiente<br />

competitivo (formado pelos concorrentes diretos e indiretos). O<br />

desempenho só é alcançado quando as ações estratégicas são<br />

executadas por pessoas competentes, orientadas e avaliadas, às<br />

quais é dado um prazo de execução e que assumem a<br />

responsabilidade pelos resultados. Só com a implementação deste<br />

binómio desempenho-­‐avaliação conseguimos criar, desenvolver e<br />

sedimentar uma verdadeira cultura de empresa baseada na<br />

performance organizacional.<br />

A questão da cultura empresarial é determinante no desempenho<br />

de todos os colaboradores da empresa. A cultura de empresa é um<br />

constructo focalizado e moldado pelas vontades dos agentes, onde<br />

a empresa (…) é um “todo” constituído por todos aqueles que nela<br />

trabalham. A cultura de empresa, na sua necessária evolução<br />

deverá ser geradora de “sentimento de pertença” de cada um dos<br />

seus elementos, criando, em simultâneo, um clima organizacional<br />

favorável a uma relação saudável de intimidade e de identificação<br />

com a organização (BARROS, 1993: 414). Deste modo, a cultura da<br />

empresa representa a totalidade dos padrões de comportamento,<br />

valores e práticas partilhadas por todos os membros da<br />

organização. As culturas organizacionais fortes e coesas<br />

singularizam-­‐se por atos estáveis e consistentes no tempo e no<br />

espaço. Além disso, as culturas de elevado desempenho são fruto<br />

de lideranças estáveis e contínuas, da concentração geográfica das<br />

22


atividades e da aglutinação de poderes num grupo reduzido de<br />

pessoas. Contrariamente, as culturas inadaptáveis ou de baixo<br />

desempenho caraterizam-­‐se pela substituição frequente dos<br />

agentes, admissão de força de trabalho por razões pessoais em vez<br />

de profissionais, diversificação de atividades sem qualquer<br />

sentido e expansão geográfica sem critério nem horizonte. Na<br />

análise conjunta das caraterísticas das culturas fortes e das<br />

culturas inadaptáveis, concluímos que o denominador comum é o<br />

sistema de valores e as práticas da organização. Hoje em dia, o<br />

sistema de valores é a chave para o desempenho, porque motiva e<br />

desafia os gestores a adaptarem a organização ao ambiente<br />

competitivo e em constante mutação. Como diz John Kotter e<br />

James Heskett, (…) a cultura corporativa pode ter impacto no<br />

desempenho organizacional a longo prazo (KOTTER & HESKETT,<br />

1994: 12). Esta simples conclusão é resultado da análise de uma<br />

amostra de 207 empresas de 22 setores de atividade dos Estados<br />

Unidos da América. Esta amostra grande e variada permitiu gerar<br />

o índice de "força cultural" que se relaciona com o desempenho<br />

económico mediante a aplicação de três métodos: o índice do<br />

aumento anual do rendimento líquido, índice do retorno do<br />

investimento e o índice do aumento anual médio do preço das<br />

ações. Destes três índices, os dois primeiros são indicadores<br />

internos de desempenho económico, enquanto o terceiro tem a<br />

virtude de ser uma medida externa. A conjugação dos três índices<br />

conforma o índice de "força cultural". Com esta investigação<br />

concluíram o seguinte: Durante um período de onze anos, as<br />

organizações que conciliam os factores sociais, económicos e<br />

humanos na sua cultura aumentaram os rendimentos na média de<br />

682% contra os 166% para as organizações sem tratados culturais;<br />

expandiram as suas forças de trabalho em 282% contra 36%;<br />

aumentaram o preço das ações 901% contra 74% e melhoraram os<br />

rendimentos líquidos de 756% contra 1% (KOTTER & HESKETT,<br />

1994: 12). Nos inícios da década de 80, a economia europeia<br />

caraterizava-­‐se por uma concorrência em alta, que permitiu ainda<br />

assim às organizações com culturas inadaptadas sobreviverem,<br />

crescerem e prosperarem. Pelo contrário, na década de 90, o êxito<br />

23


das organizações dependeu diretamente do índice de "força<br />

cultural" e da sua constância no tempo e no espaço. Atualmente, as<br />

realidades da década de 90 agudizaram-­‐se, passando o sucesso<br />

pela moral, ética e motivação dos agentes no projeto empresarial.<br />

OPÇÕES ESTRATÉGICAS DAS ORGANIZAÇÕES EDUCATIVAS<br />

v<br />

Em menos de uma década, um conjunto de acontecimentos<br />

económico-­‐sociais alteraram a gestão das organizações. Termos<br />

como competitividade, consumismo, globalização, inovação e<br />

posicionamento tornaram-­‐se conceitos centrais, comuns e<br />

populares. As ligações instantâneas às organizações através das<br />

redes de comunicação global permitiram um aumento de<br />

competitividade sem precedentes na história da humanidade;<br />

sofisticou o consumidor estando cada vez mais formado,<br />

informado e exigente; e globalizou a estrutura da oferta e da<br />

procura de bens e serviços. Por isso, as organizações educativas<br />

devem avaliar continuadamente o ambiente interno e externo,<br />

corrigindo as suas fraquezas, potenciando as suas forças,<br />

aproveitando as oportunidades e protegendo-­‐se das ameaças. Em<br />

qualquer mercado existe um conjunto de fatores com influência<br />

determinante no desempenho das organizações – os chamados<br />

fatores críticos de sucesso (BARROS, 1993: 26). Neste sentido,<br />

apresentamos quatro fatores críticos de sucesso das organizações<br />

atuais:<br />

1º) o pensamento estratégico é um dos fatores cruciais<br />

para que as organizações rumem nos cenários<br />

concorrenciais. O planeamento estratégico é (...) essa forma de<br />

ver o mundo, essa metodologia de raciocínio, esse esquema de<br />

perspectiva, de descobrir problemas e apresentar soluções (...)<br />

(LEVY,1992 :33). Os líderes educativos devem passar parte do<br />

seu tempo na formulação de pensamento estratégico para a<br />

organização. Enquanto o planeamento estratégico tem que<br />

responder e corresponder ao desafio da definição dos fins e<br />

24


avaliação dos meios disponíveis, o pensamento estratégico é a<br />

orientação e a perspetiva do negócio. A transitoriedade<br />

acelerada do mercado envolve simultaneamente o raciocínio e<br />

a ação. A organização competitiva coabita com a turbulência do<br />

meio que consubstancia a existência do pensamento<br />

estratégico. Por outro lado, o planeamento estratégico torna-­‐se<br />

uma ferramenta de controlo contínuo, que compatibiliza os<br />

resultados previstos (mediante a análise das ameaças e<br />

oportunidades) e os resultados da nossa posição (através da<br />

análise das forças e fraquezas da organização). Porém, o<br />

Planeamento Estratégico não é Pensamento Estratégico, que<br />

envolve intuição e criatividade. O Planeamento é imobilista,<br />

dificulta as mudanças organizacionais profundas, retira<br />

autonomia e, por isso, motivação ao nível operacional<br />

(CARDOSO, 1995: 45). Por isso, o pensamento estratégico deve<br />

ser flexível, orgânico e plástico, para que as organizações<br />

vençam as ameaças e captem as oportunidades das diferentes<br />

realidades com que interagem, como a realidade<br />

socioeconómica e a realidade político-­‐cultural. Acreditamos<br />

que o pensamento estratégico é uma forma sui generis de<br />

absorver as complexidades do real e sugerir soluções<br />

coerentes e oportunas. Em virtude das realidades dos<br />

mercados serem voláteis e efémeras, o marketeer deve<br />

preparar a organização para a mudança, para a mobilidade e<br />

para a permanente análise das ameaças e oportunidades<br />

presentes no mercado;<br />

2º) Nas sociedades de informação, uma das variáveis<br />

críticas é o know-­‐how humano. Este fator de sucesso permite<br />

aos agentes educativos executar as tarefas certas (doing the<br />

right things) e corretas (doing the things right). Ou seja, a<br />

eficiência mede o grau de utilização dos recursos, enquanto a<br />

eficácia mede o grau com que os objetivos são concretizados.<br />

As instituições de ensino superior devem encarar a formação<br />

dos seus recursos humanos como um objetivo prioritário e um<br />

investimento de futuro. A força de trabalho tem que participar<br />

duma aprendizagem permanente, com o intuito de fazer cada<br />

vez mais e melhor. A qualidade das instituições de ensino<br />

superior depende em larga medida da competência dos seus<br />

recursos humanos, da sua atitude e da sua formação contínua;<br />

3º) Nos dias que correm, é comum dividir as organizações<br />

em pequenas unidades com personalidade própria e<br />

completamente orientadas para os mercados. A melhor<br />

forma de desenvolver o contacto direto com o mercado é o<br />

estabelecimento de relações de associação com o cliente. Neste<br />

25


momento, a informática e as telecomunicações oferecem<br />

possibilidades únicas de geração de relações de partilha e de<br />

associação. Neste sentido, Tom Peters afirma que as (…)<br />

relações com os clientes e utilizadores finais devem ser<br />

rapidamente substituídas por relações de associação. Devem-­‐se<br />

adoptar imediatamente as melhores ligações electrónicas bem<br />

como outras tácticas para aumentar a velocidade e a<br />

capacidade de resposta. Estas tácticas representam a melhor<br />

oportunidade de estratégia ofensiva, mas também devem ser<br />

rapidamente implementadas por razões de defesa -­‐ os<br />

concorrentes podem lá chegar primeiro e conquistar clientes<br />

para os próximos anos (PETERS, 1990: 152). Desta forma, fica<br />

clara a importância da relação entre a organização e o cliente,<br />

não descurando um fator cada vez mais importante e<br />

influenciador da competitividade das organizações -­‐ as<br />

tecnologias de informação e de comunicação. A satisfação de<br />

nichos de mercado exige das instituições de ensino superior<br />

alterações periódicas dos planos curriculares ou,<br />

eventualmente, o aparecimento de novos cursos, ajustados<br />

simultaneamente às preferências dos alunos e às necessidades<br />

da sociedade em geral;<br />

4º) O serviço é algo indissociável do produto e primordial<br />

na satisfação dos consumidores. Enquanto a origem do<br />

termo “produzir” é o latim pro ducere, que significa fazer<br />

existir o que não existe, o termo “serviço” vem do latim<br />

servitium, que significa escravatura. Tanto a ação como o<br />

resultado não se relacionam diretamente com o termo<br />

produzir, embora envolva (...) a organização sistemática e<br />

coerente de todos os elementos físicos e humanos, incluídos no<br />

interface cliente-­‐empresa (...) (EIGLIER & LANGERARD, 1991:<br />

15). Portanto, o serviço é o resultado genérico da interação<br />

entre o cliente e o pessoal de contacto da organização. Por<br />

outro lado, a visão de interface implica preencher todo o<br />

espaço de necessidades dos clientes. A capacidade e a<br />

disponibilidade para a prestação de serviços é fisicamente<br />

limitada, o que exige a permanência de relações cordiais e<br />

profícuas entre parceiros.<br />

Comparativamente à gestão de produção, a gestão de serviços<br />

coabita com dimensões, perspetivas e vertentes intrínsecas ao ato<br />

de servir. Sendo o serviço um instrumento operacional de<br />

satisfação de necessidades intangíveis, este é um composto<br />

formado por atos intelectuais, verbais e físicos. Os atos<br />

26


intelectuais implicam a compreensão, investigação e avaliação das<br />

circunstâncias de ambas a partes, e que normalmente precedem a<br />

tomada de decisão. Por seu lado, os atos verbais são dirigidos para<br />

fazer progredir o desenrolar do serviço, ou até mesmo para<br />

consumar a tomada de decisão. E, por fim, os atos físicos são ações<br />

e contextos indispensáveis à realização do serviço. Através da<br />

concatenação dos atos intelectuais, verbais e físicos, o prestador<br />

do serviço deve responder a todos os anseios, dúvidas e<br />

desconhecimentos do beneficiário. Por isso, os agentes educativos<br />

devem ser ótimos comunicadores e responsáveis na construção da<br />

imagem positiva e diferenciadora da instituição de ensino<br />

superior.<br />

A direção de marketing deve formar e informar com regularidade<br />

todos os colaboradores que implementam os planos de marketing,<br />

bem como o pessoal de contacto interno e externo. A consolidação<br />

destas práticas esclarecedoras e orientadoras dos diferentes<br />

agentes possibilitam o controlo e a credibilização do serviço no<br />

espírito do beneficiário. Assim, a direção de marketing deve<br />

despender o seu tempo na captação de diferentes pontos de vista<br />

no interior da organização, diagnosticar, argumentar e<br />

eventualmente modificar, se assim se justificar, os esquemas de<br />

atuação e de interação. Fazendo jus à introdução desta obra, todo<br />

o agente envolvido no processo educativo deve ser um agente<br />

ativo, analítico e empreendedor, falando abertamente das suas<br />

preocupações organizacionais, para que a instituição desenvolva<br />

um “sistema imunológico” contra as fraquezas internas e as<br />

ameaças externas.<br />

No contexto universitário português, é sobretudo necessário<br />

suscitar no agente prestador de serviços educativos (como em<br />

escolas, liceus e instituições de ensino superior), o empenha-­‐<br />

mento, a visão, o perfeccionismo e a persistência no trabalho.<br />

Como alerta Luís Cardoso: Deve-­‐se incentivar a inovação, aceitar<br />

erros valorizando as tentativas e os sucessos, quebrar a rotina,<br />

desenvolver o humor e a aventura (CARDOSO, 1995: 4). Por isso, é<br />

27


azoável haver uma aproximação entre os quadros superiores e os<br />

demais membros das instituições de ensino superior. É responsa-­‐<br />

bilidade dos quadros superiores pulverizarem a motivação, a<br />

performance e a rapidez no desempenho das funções, por forma a<br />

evitar custos, resistências, burocracias e inércias institucionais. A<br />

humanização das tarefas e o sentido de participação dos agentes<br />

na vida da instituição é fruto do princípio de delegação de<br />

competências. O planeamento e a gestão de tarefas delegadas<br />

envolvem a formalização e a normalização dos atos adminis-­‐<br />

trativos internos. No entanto, e muitas das vezes, os atos<br />

administrativos não explicam o funcionamento das organizações,<br />

pelo contrário, criam campos de forças que beneficiam e/ou<br />

prejudicam o comportamento das organizações educativas. Neste<br />

sentido, os agentes educativos devem possuir pensamento<br />

estratégico sobre as realidades internas e externas da organização<br />

educativa. No domínio das realidades internas, os gestores de<br />

recursos humanos devem dosear a “massa humana” de acordo<br />

com o desempenho organizacional pretendido pelas lideranças.<br />

No domínio das realidades externas, a competitividade das<br />

instituições de ensino superior passa pela satisfação de nichos de<br />

mercado, porque o êxito ou o fracasso da oferta prende-­‐se<br />

sistematicamente com a satisfação de necessidades específicas a<br />

montante – o mercado dos alunos – e a jusante – as entidades<br />

empregadoras.<br />

28


O MARKETING E AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR<br />

O MARKETING EDUCACIONAL NO TEMPO E NO ESPAÇO<br />

Ao longo do tempo, o marketing tem atraído a atenção de vários<br />

órgãos diretivos do setor educativo. Neste caso, a adesão à<br />

orientação de <strong>Marketing</strong> prendeu-­‐se diretamente com a captação<br />

de novos e melhores alunos e com o aumento da satisfação dos<br />

mesmos. Outrora, as universidades americanas eram passivas e<br />

acomodadas, devido à abundância de alunos e de recursos para o<br />

seu funcionamento. Historicamente, apenas após um estudante<br />

procurar uma faculdade e providenciar o preenchimento de<br />

formulários é que o processo de matrículas tem início. Mas o<br />

processo de matrícula não representa mais a primeira etapa. Agora,<br />

as instituições estão pesquisando primeiro, identificando os<br />

estudantes que desejam e, depois, comunicando-­‐se com eles -­‐<br />

frequentemente na base um-­‐a-­‐um (KOTLER & FOX, 1992: 18). As<br />

mudanças económicas, demográficas e sociais são responsáveis<br />

em grande medida pela postura “mercantil” dos recursos físicos,<br />

humanos e financeiros. As organizações educativas, quando<br />

inseridas em mercados abundantes de “matéria-­‐prima”,<br />

subestimam e depreciam as atividades de marketing. Até à década<br />

de 60 do século passado, os organismos educativos americanos<br />

evitavam ou ignoravam o marketing educacional. Nesse tempo,<br />

desde que as organizações educativas captassem um número<br />

suficiente de alunos, todos os problemas da instituição estavam<br />

resolvidos. Pois bem, com o aumento exponencial da concorrência<br />

entre instituições e com as reduções drásticas das taxas de<br />

natalidade, a abordagem de marketing instalou-­‐se definitivamente<br />

no processo de gestão das instituições de ensino superior. A<br />

orientação de <strong>Marketing</strong> obrigou as organizações educativas a<br />

estudar e a compreender ambientes, mercados, concorrentes,<br />

mercados-­‐alvo e o seu posicionamento institucional no mercado.<br />

O movimento de adesão definitiva ao <strong>Marketing</strong> educacional<br />

29


verificou-­‐se na década de 70, quando as matrículas diminuíram e<br />

as doações se tornaram voláteis. As causas desta mudança<br />

prendem-­‐se com o aparecimento de novos concorrentes e com as<br />

novas aspirações dos alunos. A volatilidade dos apoios, o declínio<br />

das matrículas e a dificuldade de atração de novos alunos<br />

exigiram claros investimentos em <strong>Marketing</strong>. O arrefecimento do<br />

mercado consciencializou os líderes educativos americanos para a<br />

gestão da satisfação dos alunos e para o reconhecimento externo<br />

da instituição. Na altura, verificou-­‐se uma tendência decrescente<br />

do número de alunos na maior parte das organizações educativas<br />

americanas. Enquanto em 1977, terminaram o primeiro grau de<br />

ensino 3,2 milhões de alunos, em 1983, o número caiu para 2,8<br />

milhões de alunos, queda que se verificou durante toda a década<br />

de 80. Os fatores populacionais e económicos explicam o número<br />

declinante de entradas no ensino superior, adjuvado também pela<br />

inação das próprias organizações educativas. Não obstante, Philip<br />

Kotler e Karen Fox apresentam-­‐nos alguns exemplos de organi-­‐<br />

zações educativas americanas que empregaram na altura novos<br />

métodos de angariação de alunos:<br />

• O Saint Joseph´s College em Rensselaer anunciou em revistas<br />

lidas especialmente por jovens (como a Seventeen) e em<br />

diversas rádios-­‐rock de Chicago e Indianápolis. Estas ações<br />

de comunicação tiveram como resultado um incremento de<br />

40% no número de candidatos. Nessa altura, havia também<br />

uma política de descontos progressivos em função do<br />

recrutamento de novos alunos.<br />

• O Miligan College oferecia um desconto semestral de $50 na<br />

propina por cada aluno novo matriculado. O total dos<br />

descontos não poderia exceder o valor anual das propinas<br />

para os alunos que funcionavam como recrutadores.<br />

• O Brown Mackie College oferecia a garantia de devolução das<br />

propinas a qualquer aluno que não recebesse uma oferta de<br />

emprego 120 dias após a conclusão do ciclo de estudos.<br />

(KOTLER & FOX, 1992: 26).<br />

30


Porém, estas técnicas de recrutamento podem ter um efeito<br />

ilusório no incremento do número de alunos, porque a promoção<br />

ativa e feroz pode acarretar problemas de vária ordem, como a<br />

admissão de alunos sem formação específica, frustração das<br />

expectativas dos alunos, declínios da imagem institucional, entre<br />

outros. Na nossa opinião, todos os agentes educativos podem e<br />

devem ser angariadores e analistas das estruturas e conjunturas<br />

institucionais. Da empregada de limpeza ao administrador da<br />

organização, todos devem estar conscientes da sua importância<br />

individual na vida da instituição, por forma a melhorar a<br />

qualidade do serviço e do produto educativo. No recrutamento de<br />

novos alunos, todos mantêm uma importância crucial no processo<br />

de divulgação e acreditação institucional.<br />

Na história do <strong>Marketing</strong> educacional, existem dois casos de<br />

sucesso reconhecidos internacionalmente, protagonizados pelo<br />

Boston College, no recrutamento de novos alunos, e pela<br />

Universidade de Nova Iorque, na sua recuperação económica. O<br />

primeiro caso de sucesso assenta no entrosamento ativo, pensado<br />

e consequente dos ex-­‐alunos, professores e especialistas em<br />

recrutamento de alunos. Philip Kotler e Karen Fox contam-­‐nos o<br />

seguinte:<br />

A Boston College adotou um programa relativamente simples e<br />

composto por uma rede em forma de pirâmide organizada em<br />

torno de 3000 ex-­‐alunos que contatam virtualmente todos os<br />

candidatos à admissão, 600 alunos que visitam seus antigos<br />

colégios durante as férias e 100 professores que atendem pais e<br />

alunos, organizados em 90 grupos espalhados por todo o país-­‐<br />

dirigidos por uma preparada equipe de 28 especialistas em<br />

recrutamento e admissão de novos alunos. A nova estratégia de<br />

<strong>Marketing</strong> é responsável “em grande parte” por duplicar o<br />

número anual de candidatos aos cursos da Boston College nos<br />

últimos dez anos (KOTLER & FOX, 1992: 17).<br />

Por outro lado, o caso de sucesso da Universidade de Nova Iorque<br />

apresenta algumas ideias que ainda hoje podem ser implemen-­‐<br />

tadas em muitas instituições de ensino superior portuguesas.<br />

31


Philip Kotler e Karen Fox afirmam o seguinte:<br />

A New York University (NYU) tem 35000 alunos matriculados<br />

em diversas faculdades de formação universitária básica<br />

(undergraduate) e em cursos profissionais, incluindo direito,<br />

administração, ciências, artes e educação. Nos anos 70, a NYU<br />

enfrentou grande número de problemas, incluindo deficit de<br />

vários milhões de dólares anuais; matrículas em declínio; falta<br />

de imagem forte na cidade New York e muitos programas<br />

educacionais fracos. O deficit cresceu de tal forma que a<br />

universidade começou a considerar a desactivação de alguns<br />

cursos como sua faculdade de serviço social, que envolvia um<br />

alto custo por aluno. Fechou a sua faculdade de engenharia e<br />

também vendeu o campus de Heights para a cidade de New York<br />

por $62 milhões.<br />

Depois, a nova liderança que assumiu a universidade trabalhou<br />

muito para transformá-­‐la em instituição de alta qualidade,<br />

inovadora e de projecção nacional. Aumentar as exigências de<br />

admissão em muitas de suas faculdades, resultou menor número<br />

de alunos, mas de melhor qualidade. Novas instalações foram<br />

acrescentadas, inclusive uma biblioteca de $25 milhões. Realizou<br />

uma pesquisa de <strong>Marketing</strong> que indicou não ter uma imagem<br />

forte e era, frequentemente, confundida com a City University of<br />

New York. Contratou a empresa de <strong>Marketing</strong> da Barton-­‐Gillete<br />

para revisar seus folhetos e melhorar a propaganda e relações<br />

públicas. Logo, as pessoas estavam ouvindo mais e melhores<br />

comentários sobre a universidade. Estava tornando-­‐se uma<br />

universidade a ser considerada na cidade de New York. A NYU<br />

começou a inovar os programas, em vez de ficar oferecendo<br />

apenas aqueles oferecidos anteriormente. Foram designados<br />

directores e administradores que possuíam visão empreen-­‐<br />

dedora de seus mercados (KOTLER & FOX, 1992: 257).<br />

Este caso revela que quando existe um pensamento e um planea-­‐<br />

mento estratégico sério, as Universidades são organizações únicas<br />

na prossecução dos objetivos e no alcance de resultados. São<br />

organizações que reúnem e detêm, na imensa maioria das vezes,<br />

os recursos humanos mais criativos e únicos que existem em<br />

32


qualquer sociedade. As instituições de ensino superior públicas<br />

portuguesas estiveram durante décadas sem qualquer exposição<br />

concorrencial, a qual sedimentou uma cultura conservadora nos<br />

agentes e nas estruturas organizativas. Na nossa opinião, o<br />

imobilismo e o conservadorismo no ensino superior português<br />

têm os dias contados, porque a realidade de mercado vai impor-­‐se<br />

com toda a sua força vinculativa e transformadora.<br />

Em meados da década de 80, a chamada democratização do<br />

ensino superior em Portugal traduziu-­‐se, na prática, num aumento<br />

exponencial do número de instituições e de alunos a frequentar<br />

este nível de ensino. O aumento de capacidade disponível<br />

permitiu o enriquecimento cultural coletivo, conseguido mediante<br />

o alargamento da rede de ensino superior com o mínimo de custos<br />

para o orçamento de Estado. O aparecimento do setor privado em<br />

força permitiu saciar a aspiração legítima da classe média à<br />

promoção social e económica através da obtenção de um diploma.<br />

Apesar de não existir até hoje nenhum caso de sucesso de<br />

<strong>Marketing</strong> educacional em Portugal, sempre podemos registar que<br />

as instituições de ensino superior privadas são responsáveis por<br />

toda uma nova terminologia, como: ganhos de eficiência; eficácia<br />

comunicativa; ensino de qualidade; avaliação dos serviços; índices<br />

de desempenho e satisfação de necessidades.<br />

O aparecimento do <strong>Marketing</strong> responsabilizou a organização na<br />

produção de bens e serviços, exigindo à empresa a compreensão<br />

da clientela, a gestão das relações com o exterior e incutiu<br />

alterações na produção e nos respetivos processos produtivos. O<br />

<strong>Marketing</strong> é (…) une véritable révolution copernicienne économique<br />

inversant la relation entre la planète entreprise et son satellite<br />

client, largement au profit de ce dernier (DUPOUEY, 1991: 19).<br />

Existem administradores hospitalares portugueses que encaram o<br />

<strong>Marketing</strong> como sendo um meio propício para responder às<br />

necessidades dos utentes, já o mesmo não podemos dizer dos<br />

administradores das organizações educativas. De facto, existem<br />

inúmeros obstáculos à introdução do espírito de <strong>Marketing</strong> nas<br />

33


instituições de ensino superior, porque este setor em Portugal<br />

esteve durante muito tempo sem a presença de qualquer conco-­‐<br />

rrência séria, dando lugar a organizações centralizadas, hierar-­‐<br />

quizadas e com uma fraca cultura de gestão de recursos. Por outro<br />

lado, o recrutamento de alunos sempre foi feito mais por questões<br />

vocacionais que profissionais, o que ajuda ao desfasamento entre<br />

a formação e o mercado de trabalho (DUPOUEY, 1991: 25).<br />

Paradoxalmente, as famílias e os alunos pretendem um ensino<br />

superior de qualidade, moderno e atualizado, enquanto uma boa<br />

parte das organizações educativas são geridas com métodos<br />

tradicionais, conservadores e retrógrados. É comum ouvir-­‐se<br />

dizer à classe dirigente nas Universidades que o <strong>Marketing</strong> é<br />

incompatível com a missão educativa, não sendo necessário para<br />

que as instituições tenham alunos e professores de qualidade.<br />

Infelizmente, a visão medievalista do ensino sebenteiro e livresco<br />

ainda é uma realidade das organizações educativas portuguesas.<br />

Estamos perante instituições com sinais claros de autismo, que<br />

não acompanham os tempos atuais, produzindo seres com ideias<br />

estáticas, rígidas e intemporais. Nos tempos que correm, devemos<br />

encarar o ensino superior como uma indústria competitiva e<br />

próspera, devendo ser o motor científico e cultural de qualquer<br />

economia. Tanto os governantes como os administradores<br />

educativos terão de combater o espírito universitário de arquivo<br />

morto da história, onde espreita o absolutismo na liderança, a<br />

arbitrariedade no julgamento, as decisões sem recurso e as<br />

sanções injustificadas.<br />

34


PLANEAMENTO ESTRATÉGICO DE MARKETING EDUCACIONAL<br />

O planeamento estratégico é um processo que permite definir o<br />

rumo e a orientação global da organização no mercado. A missão,<br />

as metas, os objetivos, a análise do ambiente, o posicionamento, as<br />

pessoas, os recursos, as estruturas e cultura corporativa são os<br />

ingredientes essenciais para a compatibilização da realidade da<br />

organização com o mercado. Frequentemente, o planeamento<br />

estratégico envolve a audição de um considerável número de<br />

agentes (como sejam professores, alunos, ex-­‐alunos, pais e<br />

funcionários), por forma a compreender as diferentes perspe-­‐<br />

tivas e visões dos seus membros. Philip Kotler e Karen Fox<br />

apresentam um modelo genérico do processo de planeamento<br />

estratégico. Este modelo é formado por seis etapas que permitem<br />

clarificar, compreender, sistematizar e, sobretudo, decidir. Ou<br />

seja, o processo do planeamento estratégico permite definir,<br />

avaliar e selecionar as áreas de negócio nas quais a organização<br />

irá concorrer no mercado. A análise ambiental permite recolher<br />

dados significativos sobre as tendências macroeconómicas, a<br />

concorrência, os públicos e a comunidade envolvente. O sucesso<br />

da organização educativa prende-­‐se com a minimização das<br />

ameaças e maximização das oportunidades. Após a determinação<br />

das ameaças e das oportunidades, a organização educativa deverá<br />

identificar as suas forças e fraquezas mediante uma análise de<br />

recursos. Este diagnóstico interno é focalizado nos recursos<br />

tangíveis (como as pessoas, instalações e equipamentos) e<br />

intangíveis (como a qualidade, posicionamento e imagem). A<br />

análise de recursos fica concluída com a identificação das<br />

caraterísticas diferenciadoras face à concorrência. As informações<br />

recolhidas e classificadas na análise ambiental e na análise de<br />

recursos permitem formular as metas e objetivos da organização<br />

educativa a curto, médio e longo prazo.<br />

A formulação de metas e objetivos é um exercício de escolha entre<br />

um conjunto de possibilidades de gestão. No sector educativo, os<br />

35


dirigentes estão perante decisões complexas que implicam decidir<br />

sobre as prioridades, verificar a consistência com o histórico das<br />

decisões e averiguar a exequibilidade do planeamento estratégico.<br />

Por exemplo, é pouco provável que, a curto prazo, uma<br />

organização educativa possa simultaneamente aumentar a sua<br />

taxa de reconhecimento externo, atrair novos e melhores alunos,<br />

melhorar o corpo docente, aumentar o espaço físico da instituição<br />

ou ainda reduzir as despesas operacionais. Após a formulação das<br />

metas, os planificadores e os dirigentes educativos deverão<br />

quantificar os objetivos em termos concretos e operacionais.<br />

Depois de conhecermos o ambiente em que nos movemos, os<br />

meios que possuímos e aquilo que desejamos, devemos avançar<br />

para a formulação e implementação da estratégia. A formulação<br />

estratégica é a estruturação de um caminho a partir da análise<br />

ambiental, da análise de recursos e da formulação de metas e<br />

objetivos. Esta etapa é o culminar do planeamento e do<br />

pensamento estratégico, mediante a confrontação das realidades<br />

internas com as caraterísticas do ambiente externo. Quanto maior<br />

seja o espaço de interseção entre as opções estratégicas e o<br />

mercado, mais adequada e competitiva é a estratégia global da<br />

organização educativa. A implementação da estratégia do ponto<br />

de vista interno envolve um triângulo -­‐ estruturas, pessoas e cul-­‐<br />

tura vigente na organização. Estes três vetores mal doseados<br />

podem criar movimentos convulsivos no interior da organização<br />

educativa, dado que vetor mais crítico deste tipo de organizações<br />

são as pessoas, elemento sensível à mínima alteração de direção<br />

global. Aqui reside a importância da cultura organizacional, uma<br />

vez que permite moldar a componente humana, minimizando as<br />

vozes inconformadas com o realinhamento estratégico.<br />

A criação e a manutenção de sistemas de informação ampliam a<br />

capacidade de concretização dos dirigentes, reduzindo simulta-­‐<br />

neamente os custos invisíveis como a insatisfação dos discentes, a<br />

incapacidade de resposta às solicitações e os serviços desconexos.<br />

O funcionamento saudável destes sistemas garante a condução de<br />

estratégias produtivas e com produtividade. Todos os sistemas de<br />

36


planeamento, desde o simples sistema orçamentário de despesas<br />

anuais até ao sistema de planeamento estratégico formal, podem<br />

contribuir para o êxito e desempenho da organização educativa.<br />

v<br />

ANÁLISE DO AMBIENTE ENVOLVENTE DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO<br />

O modelo de planeamento estratégico permite à organização<br />

educativa melhorar o seu desempenho e a concretização de<br />

objetivos. Em geral, o desempenho das organizações depende do<br />

alinhamento das oportunidades de mercado, dos objetivos, da<br />

estratégia, da estrutura organizativa e do sistema administrativo.<br />

O que quer dizer que as instituições de ensino superior públicas e<br />

privadas portuguesas devem cada vez mais:<br />

• estudar e conhecer o ambiente em que operam;<br />

• selecionar metas e objetivos, que permitam formular uma<br />

estratégia e definir um conjunto de atividades para os<br />

atingir;<br />

• implantar a estrutura organizacional capaz de dar<br />

prossecução à estratégia definida;<br />

• planear, desenvolver e implementar os sistemas de<br />

informação; e, por fim, controlar o desempenho da estratégia<br />

para equacionar ajustamentos ou alterações futuras.<br />

As organizações educativas agem frequentemente de forma<br />

contrária e variada ao que preconiza o modelo de planeamento<br />

estratégico, onde, na melhor das hipóteses, preocupam-­‐se em<br />

criar e implementar fiáveis sistemas administrativos,<br />

negligenciando o ambiente, os objetivos e a estratégia<br />

organizacional. Como já vimos, a instabilidade da década de 70<br />

influenciou o comportamento das organizações educativas<br />

americanas, pois existiam grandes desequilíbrios financeiros,<br />

estagnação económica, aumento brutal do desemprego e a<br />

inflação americana alargou-­‐se e difundiu-­‐se ao resto da economia<br />

mundial. A emergência progressiva da deterioração económica<br />

37


demonstrou a mutação e a influência dos fatores<br />

macroambientais, como as forças demográficas, económicas,<br />

tecnológicas, políticas e culturais na atividade económica e<br />

empresarial. Estes fatores são gerais, abstratos e incontroláveis<br />

pelas instituições de ensino superior. A influência do<br />

macroambiente no planeamento estratégico das organizações<br />

educativas é uma realidade incontornável, dado que:<br />

Muitos analistas da área de educação superior têm apontado<br />

tendências que acreditam que terão um efeito profundo sobre as<br />

faculdades e universidades. De acordo com Lyman Glenny, aqui<br />

estão algumas prováveis tendências. A redução do número de<br />

jovens em idade de ingressar na faculdade terá efeitos imediatos<br />

e substanciais, se não drásticos, em 1988, na maioria das<br />

instituições universitárias do país. O número de matrículas, após<br />

ter declinado, nivelou-­‐se e, no ambiente imediato, nada sugere<br />

reversão nessa tendência, embora a taxa de mulheres que<br />

ingressam na faculdade, a curto prazo, continuará crescendo<br />

mais que a de homens. Uma proporção crescente de jovens será<br />

pragmática e interessada em programas orientados para o<br />

trabalho, oferecidos nos últimos anos, principalmente por<br />

faculdades isoladas. Os adultos que ingressam na faculdade não<br />

compensarão a perda de matrículas de jovens na faixa de 18 e<br />

24 anos de idade. (...). Os adultos estarão cada vez menos<br />

inclinados a obter créditos em disciplinas para obter o<br />

bacharelato, porque o valor económico do título universitário<br />

tem diminuido em relação ao diploma de segundo grau e muitas<br />

pessoas estão agora procurando cursos mais ajustados às<br />

necessidades do mercado de trabalho. Os adultos continuarão<br />

sendo aprendizes vitalícios e matricular-­‐se-­‐ão em muitos tipos<br />

de cursos e actividades não universitárias, tanto de curta como<br />

de longa duração. As faculdades e universidades excepto as<br />

isoladas (com orientação profissionalizante), provavelmente,<br />

não poderão competir com sucesso neste campo amplo e repleto<br />

de oportunidades educacionais. Aquelas instituições universi-­‐<br />

tárias que sobreviverem até 1995 terão programas mais fortes,<br />

professores melhor preparados e melhor senso de missão e<br />

metas (KOTLER & FOX, 1992: 126).<br />

Apesar das palavras de Philip KOTLER e Karen FOX terem pelo<br />

menos 20 anos, algumas dessas realidades são hoje uma evidência<br />

em Portugal, o que vem reforçar a ideia de que as Universidades<br />

devem ser geridas como autênticas empresas, deixando de parte<br />

aqueles argumentos caraterísticos de miopia intelectual de muitos<br />

38


líderes e agentes educativos. Se as boas práticas de gestão não se<br />

impuserem rapidamente no nosso País, mesmo as Universidades<br />

mais importantes terão dificuldades em sobreviver. Muitas<br />

instituições de ensino superior vão ter que reequacionar a sua<br />

missão e os seus objetivos nos próximos tempos. Convém não<br />

esquecer que, a partir da década de 80, houve uma séria redução<br />

no número de nascimentos, o que invalida parte da rede nacional<br />

de ensino superior, antevendo-­‐se o encerramento de instituições e<br />

despedimentos em massa.<br />

Um dos pontos essenciais do planeamento de <strong>Marketing</strong> é a<br />

identificação, o conhecimento e a compreensão dos públicos.<br />

Numa visão kotleriana, o público é um grupo distinto de pessoas<br />

e/ou organizações com um móbil real ou potencial numa dada<br />

empresa, organização ou instituição. Nas instituições de ensino<br />

superior, existem públicos com interesses muito próprios<br />

presentes no ambiente interno, no ambiente de mercado, no<br />

ambiente competitivo e no macroambiente. Philip KOTLER<br />

identificou 16 públicos com estratégias de atuação distintas nas<br />

organizações educativas, nomeadamente os estudantes, os<br />

professores, os pais dos alunos, os ex-­‐alunos, a comunidade<br />

empresarial, os órgãos governamentais, o conselho universitário,<br />

os concorrentes, os fornecedores, o público em geral, os<br />

estudantes potenciais, os órgãos fiscalizadores, os meios de<br />

comunicação, os funcionários, a comunidade local e as fundações<br />

(KOTLER & FOX, 1992: 43). Na verdade, a diversidade de públicos<br />

é uma variável de difícil gestão por causa dos efeitos colaterais de<br />

qualquer decisão governativa. A atuação da classe dirigente tem<br />

"eco" direto no ambiente universitário, porque se trata de um<br />

microcosmos que, apesar de tudo, é um cenário de constantes<br />

pressões e influências, onde todos os grupos nutrem expectativas<br />

mais ou menos explícitas, mais ou menos aceitáveis, sendo<br />

“obrigatório” que a organização proporcione satisfação e crie<br />

valor acrescentado a todos os stakeholders. A instituição de ensino<br />

superior deve conciliar e considerar os interesses de todos os seus<br />

públicos, embora seja uma tarefa árdua e complexa. Em suma, a<br />

39


instituição com orientação de mercado carateriza-­‐se por sentir,<br />

atender e satisfazer as necessidades dos seus públicos segundo<br />

uma determinada visão, missão e orçamento disponível.<br />

A capacidade de previsão do ambiente pode determinar o sucesso<br />

qualitativo e quantitativo da organização educativa. Dado que o<br />

ambiente envolvente de qualquer organização é mutável e ampla-­‐<br />

mente fora do controlo desta, as instituições de ensino superior<br />

devem examinar meticulosamente os meios de comunicação de<br />

massas (como a imprensa, a televisão, a rádio e a internet), bem<br />

como estudar o ambiente de mercado mediante a realização de<br />

pesquisas e sondagens de opinião. As instituições envolvidas<br />

nesse exame minucioso do ambiente de mercado estão em melhor<br />

posição de saberem antecipadamente as possíveis alterações<br />

sociais, legislativas, políticas e financeiras. As técnicas da previsão<br />

ambiental têm sido utilizadas por muitas organizações educativas<br />

norte-­‐americanas, no que diz respeito às decisões de expansão<br />

geográfica das organizações e às previsões de intenções de<br />

matrícula dos alunos do ensino secundário. A bondade da<br />

previsão ambiental reside na identificação das oportunidades e na<br />

avaliação dos riscos das alterações. A análise ambiental permite<br />

classificar as tendências que podem afetar o comportamento das<br />

instituições de ensino superior, devendo este trabalho ser levado<br />

a cabo por analistas e especialistas de mercado, por forma a<br />

clarificar e auxiliar a tomada de decisões dos líderes educativos.<br />

Nos tempos que correm, a tomada de decisão constitui-­‐se como<br />

um exercício complexo e cheio de imponderáveis, o que vem<br />

justificar a necessidade de especialistas no assessoramento das<br />

equipas de gestão. A compreensão da complexidade e da<br />

instabilidade dos mercados passou a ser uma autêntica profissão,<br />

uma vez que o todo influencia diretamente os diferentes níveis<br />

hierárquicos da organização educativa.<br />

40


SELEÇÃO E SEGMENTAÇÃO DE MERCADOS<br />

A seleção e a segmentação de mercado é um instrumento funda-­‐<br />

mental na definição estratégica, pelo facto de melhorar a eficácia e<br />

a produtividade das organizações educativas. A visão segmentada<br />

do mercado permite conhecer em profundidade as caraterísticas<br />

intrínsecas dos públicos. Este saber oferece à organização uma<br />

melhor situação e posição de agir sobre eles de um modo mais<br />

eficaz e controlado. Sobre este assunto, Pedro Dionísio e Vicente<br />

Rodrigues identificam e defendem três abordagens do mercado:<br />

• o <strong>Marketing</strong> de massas carateriza-­‐se pela prática de<br />

políticas indiferenciadas dos consumidores, oferecendo a<br />

todos os mesmos argumentos de compra;<br />

• o <strong>Marketing</strong> de individualização é a abordagem<br />

precisamente oposta ao <strong>Marketing</strong> de massas, baseado na<br />

política “por medida” para consumidores de elevado valor<br />

acrescentado;<br />

• o <strong>Marketing</strong> de segmentação é o meio-­‐termo entre as duas<br />

abordagens anteriores, que consiste na divisão do mercado<br />

em partes homogéneas segundo as necessidades,<br />

preferências e motivações dos consumidores (Dionísio &<br />

Rodrigues, 1992: 124-­‐125).<br />

Estas metodologias de atuação junto dos públicos permitem<br />

racionalizar os meios, as práticas e os esforços da organização na<br />

implementação de uma determinada política de marketing. O<br />

perfeito conhecimento do mercado é a garantia mínima para que<br />

as estratégias da organização possam alcançar os seus resultados.<br />

Com base nas diferentes abordagens de mercado e no conhe-­‐<br />

cimento dos clientes, estamos em condições de iniciar o processo<br />

de segmentação de mercados, como forma de isolar consumidores<br />

com necessidades homogéneas.<br />

A segmentação de mercados constitui-­‐se como uma poderosa<br />

arma estratégica. A competitividade das instituições de ensino<br />

superior passa pela escolha concreta de um ou mais segmentos de<br />

mercado. Todo e qualquer segmento de mercado deve ser<br />

identificável, acessível, mensurável, rentável e estável no tempo.<br />

41


Para que isto seja possível, levamos a cabo um processo que<br />

determina as diferenças significativas entre clientes, separando-­‐os<br />

em segmentos que se apresentem mais favoráveis à concentração<br />

de esforços. O processo geral de segmentação dos mercados<br />

educativos envolve normalmente quatro etapas:<br />

1ª) Escolha do método e dos critérios de segmentação. Esta<br />

primeira etapa consiste na escolha do método e dos critérios<br />

de segmentação segundo a sua pertinência e valor prático. As<br />

principais variáveis de segmentação são de ordem geográfica,<br />

demográfica e psicográfica. A segmentação geográfica consiste<br />

na divisão do mercado por potenciais regiões fornecedoras de<br />

alunos. Os alunos circunscritos geograficamente são aqueles<br />

cujas necessidades e preferências estão de acordo com a oferta<br />

da organização educativa. A segmentação demográfica consiste<br />

em dividir o mercado por idade, sexo, tamanho da família, ciclo<br />

de vida da família, renda, ocupação, educação, religião, raça e<br />

nacionalidade. Por último, a segmentação psicográfica consiste<br />

na divisão do mercado segundo critérios de personalidade,<br />

classe social e estilo de vida.<br />

2ª) Análise das caraterísticas dos segmentos. Esta etapa<br />

carateriza-­‐se pelo estudo detalhado das caraterísticas<br />

intrínsecas de cada um dos segmentos. Este exame permite a<br />

tomada de decisão em torno dos segmentos preferenciais para<br />

a organização. As caraterísticas dos segmentos de mercado a<br />

considerar devem apresentar realidades que potencialmente<br />

possam garantir a rentabilidade do projeto educativo.<br />

Atualmente, vivemos em Portugal na urgência do incremento<br />

das receitas próprias das Universidades, o que de alguma<br />

forma obriga à identificação dos mercados capazes de gerar<br />

um aumento rápido das receitas. Com base nisto, e a breve<br />

prazo, as organizações educativas terão de elaborar planos de<br />

negócio capazes de garantir a sua sustentabilidade no tempo e<br />

no espaço.<br />

3ª) Escolha dos segmentos preferenciais para a<br />

organização educativa. Conhecendo a dimensão e as<br />

caraterísticas dos segmentos, os líderes do projeto educativo<br />

escolhem e decidem sobre os segmentos de mercado que mais<br />

interessam à instituição. A abordagem estratégica dos<br />

42


segmentos de mercado depende do número de segmentos<br />

escolhidos, uma vez que a escolha de um número reduzido<br />

implica uma política de <strong>Marketing</strong> educacional concentrada<br />

num número restrito e homogéneo de alunos (p. ex. o caso do<br />

Instituto Português de Administração de <strong>Marketing</strong>). Por outro<br />

lado, a escolha de um grande número de segmentos de<br />

mercado por parte da organização educativa implica a<br />

implementação de uma estratégia de <strong>Marketing</strong> educacional<br />

diferenciada. Esta estratégia obriga a organização educativa a<br />

possuir diferentes ciclos de estudos para a satisfação dos<br />

diferentes segmentos de mercado (p. ex. o caso da<br />

Universidade de Trás-­‐os-­‐Montes e Alto Douro).<br />

4ª) Definição da política de <strong>Marketing</strong> educacional<br />

adequada aos segmentos selecionados. Uma vez escolhido o<br />

método de segmentação, os critérios de segmentação e os<br />

segmentos de mercado, resta definir as políticas de <strong>Marketing</strong><br />

educacional para cada um dos segmentos selecionados. Muitas<br />

vezes, a definição da política de <strong>Marketing</strong> implica: a criação de<br />

novos cursos, a fusão ou a eliminação de outros, a fixação de<br />

preços para a matrícula e para os diversos serviços<br />

universitários e a definição da estratégia de comunicação.<br />

Em suma, a seleção e a segmentação de mercados consiste na<br />

adequação da oferta da instituição de ensino superior às<br />

preferências e às necessidades homogéneas dos alunos e do<br />

mercado. Este procedimento permite visualizar e fracionar os<br />

mercados educativos com objetividade, por forma a rentabilizar<br />

os esforços de marketing e comunicação e reduzir ao mínimo o<br />

custo por matrícula e por contacto.<br />

43


ANÁLISE COMPORTAMENTAL DO CANDIDATO AO ENSINO SUPERIOR<br />

As organizações educativas devem considerar a investigação de<br />

mercados como um exercício sistémico, prioritário e com valor<br />

acrescentado. O estudo do comportamento do consumidor é um<br />

processo contínuo no tempo e no espaço. Neste estudo está em<br />

causa o conjunto de atividades que são levadas a cabo por um<br />

indivíduo desde do despertar da necessidade até ao momento da<br />

sua satisfação. O comportamento do candidato ao ensino superior<br />

pode ser explicado segundo três enfoques:<br />

1ª) o enfoque económico, que supõe o comportamento<br />

racional com base na maximização da utilidade do produto ou<br />

serviço educativo;<br />

2º) o enfoque psicossociológico, que alarga o espetro da<br />

análise comportamental, envolvendo simultaneamente a<br />

análise económica, psicológica e social do aluno;<br />

3º) o enfoque motivacional introduz a explicação dos<br />

comportamentos a partir das causas produtoras, como as<br />

motivações e as sensações de carência (MESTRE, 1991: 206-­‐<br />

207).<br />

O processo de decisão do candidato ao ensino superior é longo,<br />

complexo e variável. De forma a amortizar parte da complexidade<br />

e da variabilidade do comportamento, apresentamos de seguida o<br />

processo de decisão do candidato ao ensino superior. Qualquer<br />

processo é formado por uma série de fases sequenciais cuja<br />

importância, intensidade e duração depende de produto educativo<br />

para produto educativo. O processo de decisão inicia-­‐se com o<br />

surgimento da necessidade de formação superior. Esta primeira<br />

fase é influenciada pelas motivações, interesses e fatores do meio<br />

envolvente do indivíduo. As ações de <strong>Marketing</strong> devem orientar os<br />

candidatos para os produtos educativos das instituições de ensino<br />

superior. Uma vez reconhecida a necessidade de formação, o<br />

candidato ao ensino superior inicia o processo de recolha de<br />

44


informação, que será mais ou menos intensa segundo as<br />

especificidades dos candidatos e dos programas educativos. As<br />

instituições de ensino superior devem fornecer ao candidato um<br />

bom nível de informação para que este possa decidir<br />

conscientemente. Nesta fase, o marketeer deve preocupar-­‐se com<br />

o encaminhamento vocacional do candidato para a oferta mais<br />

adequada, devido à elevada implicação do curso superior no<br />

futuro do candidato. Após a pesquisa de informação, a fase<br />

seguinte é a avaliação das diferentes ofertas educativas. É neste<br />

fase que o candidato ao ensino superior perceciona as<br />

caraterísticas distintivas dos diferentes produtos educativos.<br />

Depois de avaliar e analisar as alternativas, o candidato elege e<br />

decide por uma instituição segundo vários critérios: primários ou<br />

seletivos; racionais ou emocionais; conscientes ou inconscientes;<br />

positivos ou negativos. O processo de decisão do candidato ao<br />

ensino superior é profundamente influenciado por variáveis<br />

macro e microambientais. Nas variáveis macroambientais,<br />

podemos destacar o ambiente económico, político, legal, cultural e<br />

tecnológico; enquanto o microambiente contempla as influências<br />

das classes sociais, as famílias e as influências dos líderes de<br />

opinião sobre os candidatos.<br />

FORMULAÇÃO ESTRATÉGICA DE MARKETING EDUCACIONAL<br />

v<br />

Sendo a estratégia de <strong>Marketing</strong> o resultado da combinação do<br />

mercado-­‐alvo, da posição competitiva e da dimensão operativa do<br />

<strong>Marketing</strong>, devemos seriamente refletir e decidir sobre a sua<br />

conjugação lógico-­‐dedutiva que permita à organização educativa a<br />

prossecução das suas metas e objetivos. As organizações<br />

educativas de excelência possuem capacidades de compreensão<br />

das oportunidades e de desenvolvimento de respostas às ameaças,<br />

mediante instrumentos como o pensamento e o planeamento<br />

estratégico orientado para o mercado.<br />

45


A formulação estratégica envolve a definição de uma via de ação<br />

que implica os vários órgãos da organização educativa. O diretor<br />

de <strong>Marketing</strong>, o gestor de unidades de negócio (p. ex. o diretor de<br />

departamento), o gestor de produto (p. ex. o diretor de curso), o<br />

diretor de produção (p. ex. diretor científico-­‐pedagógico), diretor<br />

de aprovisionamento (p. ex. diretor do recrutamento de alunos e<br />

de professores) são alguns dos perfis funcionais a ter em conta na<br />

formulação estratégica educativa. Ao diretor de departamento<br />

compete-­‐lhe identificar as necessidades educativas do mercado,<br />

fracionar o mercado segundo vários critérios e métodos de<br />

segmentação, selecionar os segmentos e definir a carteira de<br />

produtos educativos, bem como afetar recursos e criar condições<br />

para as diferentes unidades de negócio (p. ex. cursos superiores).<br />

O diretor do curso tem por missão conceber um plano de ação que<br />

consiste na definição intrínseca do produto educativo (disciplinas<br />

e áreas de formação), definir os preços a praticar, gerir os canais<br />

de distribuição (p. ex. professores), bem como aconselhar os<br />

investimentos nas ações promocionais da formação. Por outro<br />

lado, um perfil estratégico em qualquer organização educativa é o<br />

diretor de <strong>Marketing</strong>, figura que assume uma série de funções e<br />

responsabilidades no êxito da organização educativa como um<br />

todo. As funções clássicas atribuídas ao diretor de <strong>Marketing</strong><br />

educativo são:<br />

• conduzir estudos sobre as necessidades, perceções,<br />

preferências e satisfação dos mercados específicos;<br />

• planear, promover e lançar novos produtos educativos;<br />

• desenvolver, em parceria com os gestores de produto,<br />

planos de comunicação e de promoção de produtos<br />

educativos junto dos diferentes públicos, efetivos ou<br />

potenciais;<br />

• aconselhar sobre os preços dos serviços da organização<br />

educativa;<br />

• recomendar o recrutamento dos novos professores,<br />

investigadores e alunos;<br />

• controlar a satisfação dos públicos da organização;<br />

46


• e reunir dados que possam ser necessários a qualquer<br />

quadro sobre o mercado, tendências e dinâmica<br />

comportamental dos públicos da organização educativa.<br />

Por outro lado, este quadro superior da organização educativa<br />

assume também uma série de responsabilidades, nomeadamente:<br />

• comunicar os produtos e serviços educativos aos públicos<br />

externos e internos da organização;<br />

• diagnosticar a organização do ponto de vista estrutural e<br />

conjuntural;<br />

• enunciar projetos e estabelecer objetivos a alcançar a curto,<br />

a médio e a longo prazo;<br />

• preparar orçamentos para o acompanhamento das ações de<br />

<strong>Marketing</strong>;<br />

• e elaborar um relatório anual sobre as atividades da<br />

organização.<br />

Como podemos verificar, o perfil do diretor está correlacionado<br />

com outros perfis e funções da organização, cujo escopo de ativi-­‐<br />

dade é global e reporta diretamente aos dirigentes e líderes da<br />

organização.<br />

PLANEAMENTO OPERACIONAL DE MARKETING EDUCACIONAL<br />

v<br />

A definição estratégica do negócio influencia decididamente a<br />

análise tática dos problemas. Há uma grande variedade e<br />

quantidade de instrumentos de <strong>Marketing</strong> ao alcance das<br />

organizações educativas com o objetivo de melhorar o<br />

relacionamento com os públicos-­‐alvos. Esta démarche obriga o<br />

diretor de marketing ao estudo, à reflexão e à decisão sobre um<br />

grande número de variáveis que conformam a estratégia de<br />

marketing. Por outro lado, na dimensão operacional, o <strong>Marketing</strong>-­‐<br />

mix é um conceito-­‐chave da teoria moderna de <strong>Marketing</strong>, que<br />

significa a combinatória das diferentes variáveis de <strong>Marketing</strong><br />

controláveis, que costuma ser apresentado sob a forma de um<br />

vetor de quatro componentes principais: Produto, Preço,<br />

Comunicação e Distribuição.<br />

47


DECISÕES SOBRE O PRODUTO E O SERVIÇO EDUCATIVO<br />

O produto educativo é um complexo organizado por diferentes<br />

unidades curriculares com objetivos concretos, que contribuem<br />

para a construção intelectual e profissional dos públicos. Como<br />

afirma Gilberto Andrade Martins, (…) o produto é uma intangível<br />

combinação de ofertas académicas, posição, filosofia educacional,<br />

oferta social e de qualidade de vida para o estudante. (MARTINS,<br />

1986: 35). Sendo o resultado de uma atividade preocupada e<br />

equilibrada dentro das ilimitadas possibilidades formativas, o<br />

planeamento do produto educativo envolve o espírito inovador e a<br />

inclusão de benefícios para as partes, sendo bastante mais que<br />

uma simples oferta de um plano curricular. Antes de mais, deve<br />

assumir uma conotação estratégica, uma série de vantagens que a<br />

instituição de ensino superior deve propiciar ao formando e à<br />

sociedade. A transmissão efetiva destas vantagens tangíveis e<br />

intangíveis assegura a fidelidade dos alunos, bem como assegura<br />

um lugar de destaque à instituição de ensino superior no mercado.<br />

Cada vez mais, o aluno olha para além do grau académico, sendo<br />

uma vantagem inequívoca a existência de outros graus e ciclos de<br />

estudos na mesma organização educativa. Em termos estruturais,<br />

o produto educativo envolve várias dimensões empíricas e<br />

objetivas, que são a base para a geração da qualidade apercebida<br />

por parte dos alunos. Contudo, no plano comunicacional, no<br />

momento da apresentação do produto educativo ao mercado, são<br />

feitas promessas explícitas e implícitas, que devem ser<br />

transformadas em compromissos para que ambas as partes<br />

valorizem a relação numa base financeira.<br />

Nos últimos 35 anos em Portugal, abriram portas dezenas de<br />

instituições de ensino superior, tanto públicas como privadas.<br />

Devido às condições de mercado, as instituições de ensino<br />

superior privadas tornaram-­‐se, em muitos casos, organizações<br />

mais ágeis, dinâmicas, empreendedoras, criativas, plásticas,<br />

flexíveis e adaptáveis à realidade da procura de serviços<br />

educativos. Muitas destas instituições adotam claramente<br />

48


estratégias de crescimento preconizadas por Igor Ansoff. Com<br />

base nestas estratégias, Enrique Martín Armário diz-­‐nos:<br />

• La estrategia de penetraccion, que consiste en una mayor<br />

explotación de los servicios existentes en los mercados<br />

actuales. La universidad puede ofertar cursos nocturnos, os<br />

cursos intensivos, de menor duración, en fines de semana, lo<br />

que permite una mayor explotación de los mercados actuales.<br />

• La estrategia de desarrollo del producto supone el desarollo<br />

de nuevos servicios para los mercados existentes. En este caso,<br />

la universidad pode desarrollar nuevos cursos, crear nuevos<br />

departamentos, impartir nuevas titulaciones, etc.<br />

• La estrategia de desarrolo de mercados consiste en ofertar<br />

los servicios actuales a nuevos mercados; así, la universidad<br />

puede ofrecer sus servicios a otros públicos como, por ejemplo,<br />

a personas mayores, a minorias marginadas, a empresas, a<br />

nuevas ciudades o al extranjero.<br />

• La estrategia de diversificación supone el desarrollo de<br />

nuevos servicios para nuevos mercados. En el ejemplo que<br />

estamos considerando, la universidad puede crear nuevos<br />

centros, nuevas titulaciones o nuevos departamentos que van a<br />

atender cursos para empresas, para otras ciudades o para el<br />

extranjero (ARMÁRIO, 1993: 639).<br />

As estratégias de crescimento legitimam as diferentes posturas<br />

das organizações educativas através da utilização combinatória<br />

destas estratégias, que nos permitirão rasgar e explorar novos<br />

caminhos no mercado do ensino. Devido à pluralidade e à<br />

transitoriedade da realidade, este e outros instrumentos testam o<br />

grau de desenvolvimento e competitividade dos produtos<br />

educativos nos seus respetivos mercados. Por isso, a escolha e<br />

implementação de qualquer uma destas estratégias deve estar<br />

sempre em consonância com indicadores de mercado válidos e<br />

fiáveis. Embora a maioria dos dirigentes e administradores não<br />

considerem as suas ofertas de ensino como produtos, partilham<br />

que o produto educativo pode ser definido como algo que pode<br />

ser oferecido a um mercado para cobrir as necessidades<br />

49


educativas. Por outro lado, e normalmente, as instituições de<br />

ensino superior aumentam as suas ofertas educativas à medida<br />

que a concorrência se torna mais feroz no mercado das<br />

organizações educativas. Acreditamos que a existência de<br />

concorrência nestes mercados, bem como a capacidade das<br />

organizações educativas em fazer face a este fenómeno, é um sinal<br />

claro das suas competências de gestão estratégica e operacional.<br />

O planeamento, a manutenção e o desenvolvimento do produto<br />

passam por um exercício preocupado e responsável em<br />

estabelecer consensos e equilíbrios entre as inúmeras direções<br />

que o produto educativo pode assumir no plano da sua razão de<br />

ser. A análise do produto educativo deve entrar em linha de conta<br />

com a diversidade das perceções, que podem ser influenciadas<br />

pela experiência e episódios vividos pelos públicos. A natureza<br />

simbólica do produto educativo junto dos públicos é registada<br />

como uma representação mental dos atributos e dos benefícios da<br />

solução, razão suficiente para que as instituições levem a cabo<br />

avaliações e investigações periódicas desta carga simbólica.<br />

DECISÕES SOBRE O PREÇO<br />

v<br />

Normalmente, a formulação do preço dos serviços é feita com<br />

base nos custos operacionais das prestações oferecidas aos<br />

diversos públicos da organização educativa. Nas organizações<br />

educativas privadas existe uma predominância na orientação<br />

pelos custos, o que está de certa forma de acordo com a sua<br />

natureza da maximização da razão custo/benefício. Para as<br />

organizações que visam recuperar tão somente os custos<br />

operacionais, trata-­‐se de uma tática bastante arbitrária e<br />

extremamente perigosa num quadro inflacionista. O preço das<br />

propinas anuais no ensino privado está sempre associado ao<br />

prestígio, ao custo e à qualidade do ciclo de estudos, onde o preço<br />

mais elevado pode mesmo estimular a procura. Acrescente-­‐se<br />

50


ainda que o preço não é o único e exclusivo fator que afeta a<br />

reação e o comportamento dos públicos.<br />

No plano concreto da determinação do preço, existem três mé-­‐<br />

todos básicos e correntes que permitem estabelecer o preço de<br />

produtos e serviços educativos. A determinação do preço a partir<br />

do custo é a metodologia tradicional utilizada no ensino privado<br />

em Portugal, baseada na adição de uma margem de lucro ao preço<br />

de custo. A segunda metodologia de formação de preço baseia-­‐se<br />

na procura. É preciso analisar a procura para saber que valor o<br />

público está disposto a pagar pelo produto educativo. Este preço é<br />

comummente apelidado por preço psicológico ou de aceitação. A<br />

margem de lucro é determinada pela subtração do valor que o<br />

candidato está disposto a pagar e o preço de custo total. Caso a<br />

margem de lucro não seja aceitável, a organização educativa ou<br />

renuncia ao produto educativo ou diminui a sua estrutura de<br />

custos. O terceiro método de determinação de preços é baseado<br />

nos preços de referência da concorrência presente no mercado<br />

(DIONÍSIO & VICENTE, 1992: 221-­‐223).<br />

Como geralmente as organizações educativas privadas têm como<br />

única fonte de receitas próprias as propinas, é imprescindível<br />

diversificar estas fontes, dado que a probabilidade de êxito será<br />

bem maior para aquelas que se financiam de várias formas,<br />

mediante a prestação de serviços gráficos, planeamento e<br />

execução de pesquisas de opinião e de mercado, análise e testes<br />

laboratoriais, produção audiovisual, locação de espaços para<br />

eventos e conferências, entre outras formas. A existência do preço<br />

único está crescentemente a ser substituído por preços<br />

diferenciados, segundo as caraterísticas específicas dos produtos<br />

educativos. Tanto os aumentos como as reduções de preço devem<br />

ser comunicadas aos alunos com antecedência, explicando as<br />

razões de tal intenção, por forma a minimizar o impacto nos<br />

orçamentos familiares (KOTLER & FOX, 1992: 296). As subidas de<br />

preço devem ser cuidadosamente ponderadas, porém as descidas<br />

podem ser perigosas e irreversíveis. Assim, a fixação do preço no<br />

momento do lançamento do produto é uma decisão estratégica,<br />

51


cuja decisão influi no futuro, no posicionamento e na imagem do<br />

produto educativo no mercado.<br />

DECISÕES SOBRE A “DISTRIBUIÇÃO”<br />

v<br />

Em termos latos, as práticas de distribuição não são possíveis nos<br />

serviços educativos devido à sua intangibilidade e à sua insepara-­‐<br />

bilidade. Porém, podemos destacar dois elementos fundamentais<br />

no processo de difusão: as qualidades físicas dos espaços e a<br />

qualidade do corpo docente. É quase impossível trabalhar o<br />

primeiro dos elementos, porque geralmente a localização e a<br />

qualidade dos espaços foram escolhidos mais por critérios<br />

económicos do que por critérios científicos. Relativamente ao<br />

outro elemento, as instituições podem e devem considerá-­‐lo com<br />

responsabilidade, pois é da qualificação do corpo docente que<br />

depende o êxito de qualquer instituição de ensino superior. O<br />

resultado cruzado destes dois elementos fundamentais é a<br />

emergência de seres humanos modificados, altamente capacitados<br />

para o trabalho e cidadãos atentos e conscienciosos das suas<br />

responsabilidades sociais.<br />

Um dos fatores mais importantes para o aperfeiçoamento da<br />

qualidade do ensino é a melhoria crescente dos salários dos<br />

docentes, pois são os professores os verdadeiros “vendedores” das<br />

organizações educativas. São as ações e as práticas diárias dos<br />

docentes que determinarão a qualidade direta do ensino e,<br />

consequentemente, a satisfação e o bem-­‐estar dos alunos. A<br />

administração e os agentes educativos têm a obrigação de estar<br />

atentos ao comportamento dos públicos, mediante a avaliação e<br />

determinação das necessidades, desejos e dificuldades dos alunos.<br />

A gestão profissional da “distribuição” é a melhor forma para que<br />

clientes passem a ser os promotores regulares e insuspeitos dos<br />

produtos e das organizações educativas. Estas ações de satisfação<br />

dos promotores passam por singelas práticas do quotidiano, como<br />

52


sejam o serviço eficiente de reprodução de textos, o atendimento<br />

correto nas secretarias, acesso à biblioteca facilitado, condições de<br />

higiene e limpeza dos espaços, rigor no cumprimento dos<br />

horários/datas de exames, disposição de salas apropriadas para o<br />

estudo em pequenos grupos, preocupações com a segurança nos<br />

espaços da instituição, respeito mútuo entre agentes do processo<br />

educativo, lecionação dos conteúdos programáticos de qualidade<br />

por professores motivados, etc.<br />

A difusão no tempo e no espaço é o meio pelo qual a instituição de<br />

ensino superior disponibiliza e torna acessíveis os seus produtos<br />

educativos. Os projetos universitários mais dinâmicos e<br />

promissores socorrem-­‐se de plataformas eletrónicas de mediação<br />

com os alunos, como forma alternativa de lecionação e de<br />

avaliação de conhecimentos. No futuro, pensamos que a realidade<br />

do e-­‐learning passará a ser um meio com tanta ou mais<br />

importância na difusão do conhecimento que o processo<br />

tradicional de “distribuição”, razão pela qual toda e qualquer<br />

universidade deverá investir desde já no desenvolvimento e<br />

consolidação destes canais de contacto com os alunos.<br />

DECISÕES SOBRE A COMUNICAÇÃO<br />

v<br />

No <strong>Marketing</strong>-­‐mix educacional, a comunicação é a componente<br />

que tem merecido mais atenção dos dirigentes e administradores<br />

dos organismos educativos. Infelizmente, a maioria das organi-­‐<br />

zações educativas comunicam com o mercado pontualmente ou<br />

em determinados períodos do ano. Raramente a variável<br />

comunicação é interpretada do ponto de vista estratégico, porque<br />

geralmente a organização enaltece unicamente as qualidades dos<br />

produtos educativos. As práticas de comunicação devem ser<br />

planeadas e calendarizadas no tempo, de uma forma contínua e<br />

diversificada em termos de canais e suportes. Esta diversificação<br />

passa pela avaliação prévia de todos os instrumentos promo-­‐<br />

53


cionais, para que a comunicação seja incisiva, direta e eficaz.<br />

Dentro da gama dos instrumentos promocionais disponíveis,<br />

destaca-­‐se o contacto direto com os diferentes públicos que uma<br />

instituição de ensino superior tem que satisfazer e entusiasmar.<br />

Sendo o aluno o centro das atenções das organizações educativas,<br />

as pessoas de contacto devem estar altamente preparadas para<br />

dar respostas válidas e céleres às solicitações dos diferentes<br />

públicos.<br />

Segundo Nicholls et al. (1995), as formas de comunicação mais<br />

utilizadas pelas instituições de ensino superior são as relações<br />

públicas e a publicidade. Estes instrumentos são usados porque a<br />

comunicação persuasiva universitária visa essencialmente:<br />

manter e melhorar a imagem da instituição; construir e apoiar a<br />

lealdade dos antigos alunos; atrair doações; fornecer informação<br />

acerca dos produtos e serviços e corrigir informações incorretas<br />

ou incompletas acerca da instituição (KOTLER & FOX, 1992).<br />

Nesta perspetiva, a estratégia e as respetivas ações de<br />

comunicação são fundamentais e cruciais para o desenvolvimento<br />

da imagem, notoriedade e reputação da organização educativa.<br />

54


O SISTEMA DE INFORMAÇÃO E AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO<br />

A orientação de <strong>Marketing</strong> é um conceito novo na maioria das<br />

instituições de ensino superior. A criação de uma vice-­‐reitoria ou<br />

de uma pró-­‐reitoria para o <strong>Marketing</strong> é ainda uma novidade maior<br />

e de difícil aceitação por parte dos dirigentes das organizações<br />

educativas. Como as realidades das instituições de ensino superior<br />

são múltiplas e diversas, cada organização terá de criar a sua<br />

própria solução. As instituições de ensino são por excelência<br />

organizações que produzem, propagam e necessitam de grandes<br />

volumes de informação. Por isso, a maneira pela qual a instituição<br />

coleta, processa, recupera e dissemina informações corresponde<br />

ao Sistema de Informação de <strong>Marketing</strong>.<br />

Tanto em termos físicos como lógicos, a preocupação com os<br />

registos internos deve ser permanente. Diariamente, as organiza-­‐<br />

ções educativas coletam, processam e difundem informações pelo<br />

“sistema orgânico” da instituição educativa. Coletar, processar,<br />

interpretar e dispersar são verbos-­‐chave dos procedimentos<br />

básicos de um sistema de informações de <strong>Marketing</strong>. A coerência e<br />

a consistência do sistema permitem identificar e investigar<br />

problemas da organização educativa, incluindo situações que<br />

podem sugerir dificuldades presentes e futuras com os seus<br />

públicos e mercados. O sistema de informações de <strong>Marketing</strong> é<br />

composto por quatro subsistemas: sistema de registos internos,<br />

sistema de inteligência, sistema de pesquisa e o sistema analítico<br />

de <strong>Marketing</strong>. De seguida, apresentaremos de forma sintética os<br />

quatro subsistemas integrantes do Sistema de Informações de<br />

<strong>Marketing</strong>:<br />

1º) Sistema de registos internos. Qualquer organização<br />

educativa possui, por mais precário que seja, um sistema de<br />

registo de informações que armazena informações<br />

relacionadas com os alunos, docentes, funcionários, entre<br />

outras informações relevantes. A sofisticação e o<br />

melhoramento do sistema de registos internos passam pelo<br />

diagnóstico dos ativos humanos recoletores de informação,<br />

difusores e decisores da organização. A otimização dos registos<br />

55


internos é conseguida através do uso de tecnologias de<br />

informação e de comunicação, para que o nível de resposta em<br />

termos de velocidade, abrangência, precisão e acessibilidade à<br />

informação seja infinitamente superior.<br />

2º) Sistema de inteligência. Na tomada de decisão<br />

estratégica, o sistema de inteligência de <strong>Marketing</strong> assume uma<br />

derradeira importância na qualidade das decisões. O sistema<br />

de inteligência de <strong>Marketing</strong> não é mais que (…) o conjunto de<br />

fontes e procedimentos pelos quais os administradores obtêm<br />

informações diárias sobre o desenvolvimento do ambiente<br />

externo (KOTLER & FOX, 1992: 76). Numa organização<br />

educativa de gestão centralizada, a inteligência de <strong>Marketing</strong> é<br />

da responsabilidade dos dirigentes e administradores. Para<br />

contrariar esta “asfixia decisional”, a organização educativa<br />

pode melhorar a qualidade do sistema de inteligência de<br />

<strong>Marketing</strong> através da nomeação de núcleos informadores do<br />

ambiente interno e externo do mercado.<br />

3º) Sistema de pesquisa. A pesquisa de informações válidas e<br />

confiáveis envolve um conjunto de recursos e profissionais das<br />

ciências mercadológicas. Este processo de investigação envolve<br />

basicamente cinco etapas: enumeração dos objetivos de<br />

pesquisa; definição do problema; análise exploratória;<br />

levantamento formal da informação e análise dos dados e<br />

apresentação de relatórios. Os resultados obtidos podem fazer<br />

toda a diferença na qualidade das decisões da organização.<br />

4º) Sistema analítico de <strong>Marketing</strong>. O sistema analítico de<br />

<strong>Marketing</strong> consiste num conjunto de técnicas avançadas de<br />

análise de dados relacionados com os problemas de <strong>Marketing</strong>.<br />

Este sistema permite desmembrar realidades complexas em<br />

realidades compreensíveis, através da utilização de<br />

procedimentos estatísticos e de modelos quantitativos. Ou seja,<br />

os procedimentos estatísticos permitem analisar e relacionar<br />

um conjunto de dados refletores de uma dada realidade.<br />

Convém não esquecer que algumas universidades americanas<br />

usam o sistema analítico de <strong>Marketing</strong> com vista à modelização<br />

do processo de admissão, da alocação de recursos por<br />

departamentos, da fixação dos preços e da determinação do<br />

volume de investimento publicitário.<br />

56


Com o advento das tecnologias de informação, o sistema analítico<br />

de <strong>Marketing</strong> foi parcialmente substituído pelas ciências da<br />

computação. Por exemplo, aplicações informáticas como o SPSS<br />

automatizaram tarefas complexas e dispendiosas, substituindo<br />

pessoas e espaços sem apelo nem agrado. Este software propor-­‐<br />

ciona o relacionamento e executa procedimentos estatísticos<br />

avançados, nomeadamente análises de regressão e correlação,<br />

análises fatoriais, análises discriminantes e de conglomerados,<br />

executa modelos quantitativos do tipo de alocação de recursos,<br />

fixação de preços e orçamentação publicitária. Todos estes<br />

instrumentos lógicos e procedimentos automatizados permitem<br />

uma ampla e completa interpretação dos dados recolhidos,<br />

adjuvando em qualidade e em quantidade as decisões das<br />

organizações educativas.<br />

A avaliação do desempenho do <strong>Marketing</strong> educacional é a<br />

sequência natural do processo de planeamento estratégico.<br />

Segundo Philip KOTLER, as organizações podem levar a cabo<br />

quatro tipos de controlo do desempenho de <strong>Marketing</strong>. No âmbito<br />

do controlo do plano de <strong>Marketing</strong>, a organização educativa<br />

deve avaliar se o esforço e a estratégia de <strong>Marketing</strong><br />

correspondem às metas e aos objetivos definidos. A avaliação do<br />

desempenho do plano de <strong>Marketing</strong> passa por um cúmulo de<br />

análises, como a análise do número de alunos recrutados, a análise<br />

da quota de mercado por curso e ano, a análise do rácio do esforço<br />

de <strong>Marketing</strong> por aluno, a análise financeira e comportamental do<br />

discente. Segundo, o controlo da rentabilidade implica a<br />

determinação do índice do retorno do investimento, taxa de<br />

remuneração do capital e rentabilidade dos diferentes cursos.<br />

Terceiro, o controlo da eficiência de <strong>Marketing</strong> está<br />

diretamente relacionado com as atividades de melhoramento do<br />

conteúdo da formulação estratégica de <strong>Marketing</strong>. E, por fim, o<br />

controlo estratégico consiste em assegurar a avaliação das<br />

metas, objetivos, estratégias e sistema de <strong>Marketing</strong> existentes na<br />

organização.<br />

57


A avaliação do desempenho de <strong>Marketing</strong> é (…) un examen amplo,<br />

sistemático, independiente y periódico del entorno de <strong>Marketing</strong> de<br />

la empresa de sus objectivos, de sus estratégias y actividades<br />

(KOTLER, 1992: 819). Todos os processos de avaliação envolvem<br />

uma série programada de diagnósticos que analisam as<br />

especificidades internas e a globalidade externa. O desempenho<br />

organizacional é o somatório dos objetivos alcançados, dos êxitos<br />

estratégicos e dos resultados obtidos. Logo, a avaliação do<br />

desempenho de <strong>Marketing</strong> deve ser feita por auditores dedicados,<br />

profissionais e independentes. A análise do ambiente de<br />

<strong>Marketing</strong> é um momento de avaliação, depuração e identificação<br />

de problemas de <strong>Marketing</strong>. Convém não esquecer que o<br />

propósito da avaliação do desempenho de <strong>Marketing</strong> é (…)<br />

determinar as áreas-­‐problemas de <strong>Marketing</strong> e sugerir planos de<br />

ação correctivos a longo e a curto prazos para melhorar a eficácia<br />

global de <strong>Marketing</strong> de uma instituição (KOTLER & FOX, 1992:<br />

440). Ou seja, a avaliação do desempenho de <strong>Marketing</strong><br />

educacional visa melhorar o emprego dos recursos perante as<br />

necessidades ilimitadas da organização educativa. Esta avaliação<br />

não se destina apenas a salientar as qualidades reais da<br />

organização educativa, mas também a enumerar as ineficiências<br />

no seu comportamento perante os públicos, com vista à<br />

otimização das práticas das instituições de ensino superior.<br />

É indiscutível a forte relação entre a educação e a sociedade. A<br />

escola é a expressão institucionalizada da educação, sendo<br />

também o reflexo do contexto social. Entre a escola e a sociedade,<br />

há uma constante interdependência na busca do aperfeiçoamento<br />

e da criatividade. Devido ao caráter dinâmico destas questões, as<br />

instituições preocupadas com o seu meio envolvente combinam o<br />

ensino, a investigação e a extensão à comunidade. Estas iniciativas<br />

são o espelhar de uma instituição empenhada e dedicada à sua<br />

causa, com o intuito de atender melhor as necessidades sociais e<br />

educativas dos seus mercados. Porém, através de uma simples<br />

análise empírica, facilmente percebemos o divórcio entre a<br />

realidade empresarial e educacional. Por isso, as escolas, e em<br />

58


particular as Universidades, podem e devem desenvolver<br />

atividades de <strong>Marketing</strong> educacional como um processo<br />

coordenado e permanente na satisfação dos públicos e no alcance<br />

dos seus objetivos.<br />

O ensino superior público e privado têm merecido uma especial<br />

atenção por parte dos investigadores do desenvolvimento<br />

regional. Os planos de desenvolvimento encaram o ensino<br />

superior como uma poderosa “âncora” de dinamização regional.<br />

As instituições de ensino superior conseguem estimular projetos<br />

empresariais nas regiões menos desenvolvidas mediante a<br />

inovação tecnológica e o desenvolvimento de projetos em setores<br />

tecnologicamente evoluídos. Estas instituições servem de veículo<br />

para a valorização do espaço económico, social e cultural, sendo<br />

um pressuposto para o desenvolvimento regional. A forma<br />

institucional mais produtiva de participação das instituições na<br />

realidade regional é a associação de interesses entre o organismo<br />

educativo e os agentes económicos, na qual a organização<br />

educativa não pode ter uma posição expectante, mas mais de<br />

motor da iniciativa, com ideias de valor acrescentado.<br />

O relacionamento das instituições de ensino superior com a<br />

comunidade presume a interação permanente do trabalho<br />

universitário com o desenvolvimento regional. As instituições de<br />

ensino superior com projetos de desenvolvimento regional<br />

respondem ativamente às carências das empresas e da região.<br />

Porém, e em abono da verdade, estas respostas só ocorrem<br />

quando as estruturas universitárias são geridas com espírito<br />

académico evolucionista e inconformista. A base científica,<br />

cultural e tecnológica das instituições de ensino superior oferece<br />

uma ligação privilegiada ao mundo empresarial. O intercâmbio de<br />

experiências e trocas de informações das estruturas universitárias<br />

com o mundo empresarial permite aumentar a massa crítica de<br />

ambos os lados. As instituições de ensino superior têm a<br />

obrigação de compatibilizar objetivos e coordenar as suas forças<br />

com as estruturas empresariais e sociais da região, dado que estas<br />

59


instituições devem ser agentes de mudança do meio e da<br />

sociedade. Portanto, a ligação estratégica das estruturas<br />

universitárias com as estruturas empresariais baseia-­‐se na<br />

valorização simultânea da dimensão económica e humana da<br />

sociedade. Numa sociedade em constante mudança, a organização<br />

educativa tem que aceitar a competição, usando como armas<br />

preferenciais aquelas que lhe são próprias, tais como a<br />

inteligência, a inovação, as tecnologias, mas, sobretudo, muito<br />

trabalho, aplicação, persistência e espírito de sacrifício.<br />

O futuro das instituições de ensino superior passa cada vez mais<br />

por ações inovadoras junto dos públicos e da sociedade. Daí, a<br />

necessidade de adoção de uma filosofia estratégica e operacional<br />

orientada para o cliente atual e potencial. Nos tempos que correm,<br />

não há mais lugar para estruturas conservadoras, endogâmicas e<br />

retrógradas. A orientação para o cliente contribuirá para que as<br />

instituições de ensino superior mantenham um efetivo<br />

compromisso com o ensino de qualidade, uma vez que a<br />

qualidade, em geral, impõe uma constante atualização e sistema-­‐<br />

tização de processos. A prática efetiva do <strong>Marketing</strong> educacional<br />

viabilizará o encontro das vontades dos diferentes públicos<br />

atuantes no meio universitário. O <strong>Marketing</strong> educacional pode e<br />

deve revigorar os canais de comunicação na gestão académica e<br />

administrativa e, em particular, as relações com a sociedade.<br />

Finalmente, devemos depositar plena confiança em que a adoção<br />

do <strong>Marketing</strong> pelas instituições de ensino superior proporcione<br />

excelentes resultados económicos, sociais e culturais. Com esta<br />

perfilhação emerge o afrontamento das ameaças e o aproveita-­‐<br />

mento das oportunidades presentes no meio envolvente. Esta<br />

postura é caraterística de instituições de ensino superior<br />

percetivas, dinâmicas e administrativamente modernas.<br />

60


CONCLUSÃO<br />

As organizações educativas divorciadas da sua missão formadora<br />

e reformadora de mentes e consciências evidenciam sintomas de<br />

descoordenação orgânica, dislexias funcionais e atrofiamentos na<br />

produção intelectual. Por isso, tornam-­‐se claras as dificuldades e<br />

as deficiências das instituições de ensino superior em atenderem<br />

às necessidades dos seus mercados. Tal como a natureza humana,<br />

a natureza organizacional pressupõe a capacidade construtiva e<br />

produtiva, a busca contínua de aperfeiçoamento e a prestação de<br />

serviços à comunidade.<br />

Considerando a educação como um processo de desenvolvimento<br />

de capacidades e aperfeiçoamento de competências, o <strong>Marketing</strong><br />

educacional identifica os elementos no processo educativo que<br />

devem ser doseados e otimizados. Compete, também, ao<br />

<strong>Marketing</strong> educacional a gestão do fluxo de clientes, o desenvol-­‐<br />

vimento de redes humanas e a qualidade do serviço educativo. As<br />

instituições de ensino superior portuguesas devem encetar ações<br />

de prostração dos picos de procura e de mercado, bem como gerir<br />

com excelência a presença dos públicos na organização educativa.<br />

O esmorecimento dos picos envolve a utilização de técnicas de<br />

compreensão das motivações, dos comportamentos, dos preços,<br />

das caraterísticas intrínsecas dos produtos e da comunicação<br />

institucional. Os fluxos de clientes desafiam os níveis da qualidade<br />

durante os ciclos semanais, mensais e anuais. A presença ativa e<br />

contínua do aluno em tudo que a instituição de ensino superior<br />

produz permite o entrelaçamento dos discentes com os agentes<br />

educativos. Por isso, as instituições de ensino superior devem<br />

empreender análises das expectativas legítimas dos alunos, com<br />

vista à compreensão do hiato entre as expectativas e a qualidade<br />

oferecida aos alunos. A investigação da qualidade global oferecida<br />

(mediante a análise dos elementos no processo e a análise do<br />

output da instituição) é uma urgência nacional.<br />

61


Em Portugal, as desigualdades entre o ensino superior público e<br />

privado têm impossibilitado a instauração de um <strong>Marketing</strong><br />

educacional benigno e transparente. A gestão cristalina das<br />

instituições de ensino superior é difícil, dado que estas têm muito<br />

medo da crítica e do comentário público. Mas ela é uma condição<br />

necessária e essencial para a deteção de erros, que leva ao<br />

melhoramento e à otimização funcional. A aplicação da ótica de<br />

<strong>Marketing</strong> às instituições de ensino superior, tanto públicas como<br />

privadas, envolve a análise das atividades da instituição, a análise<br />

da fluidez de comunicação, a discussão crítica de novas ideias,<br />

bem como a análise da competitividade da organização no<br />

mercado educativo. Perante a apatia generalizada da gestão das<br />

instituições de ensino superior, em que domina o sentimento de<br />

saciedade e estagnação, o <strong>Marketing</strong> das instituições de ensino<br />

superior privadas é cada vez mais agressivo, inovador e<br />

diferenciado, tanto em termos institucionais, como em termos de<br />

produto educativo. É necessário que os públicos confiem nas<br />

instituições de ensino superior, pois a razão da sua existência é a<br />

satisfação das necessidades dos alunos e do mercado de trabalho.<br />

A competência profissional converteu-­‐se na palavra-­‐chave dos<br />

recursos humanos de qualquer organização, sendo sinónimo de<br />

formação intelectual, domínio tecnológico e de performance<br />

socioeconómica. O contexto social e económico português é um<br />

contexto em mutação técnica, de mudanças organizacionais e de<br />

défice na formação especializada dos recursos humanos. O que<br />

quer dizer que uma boa parte dos gestores portugueses não<br />

possui competências avançadas no domínio das tecnologias e,<br />

muito menos, na utilização correta do <strong>Marketing</strong>, da Publicidade e<br />

das Relações Públicas.<br />

62


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Galvão Meirinhos<br />

prefácio A.Fontainhas Fernandes

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