relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
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Relatório <strong>sobre</strong> <strong>os</strong> us<strong>os</strong> e c<strong>os</strong>tumes <strong>no</strong> P<strong>os</strong>to Administrativo <strong>de</strong> Chinga<br />
Como é natural, em época competente, aparece à rapariga a menstruação,<br />
tendo lugar então outra cerimónia.<br />
Chamam todas as mulheres que consigam reunir, da povoação, e vão<br />
todas (as que conhecem) para uma palhota, on<strong>de</strong> fazem um batuque,<br />
nhipi [onhipi], que dura um dia; <strong>no</strong> entanto uma mulher velha, cócuana<br />
[kwa kwàna] ou mŭrrŭvàle [owuluvala], vai ensinando a rapariga a<br />
que chegou a menstruação, namŭare [numwàri], a copular, executando<br />
tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> necessári<strong>os</strong> para o que a velha se pinta e não é <strong>de</strong><br />
admirar. No dia imediato, <strong>de</strong> madrugada, vai tudo ao mato buscar um<br />
remédio para a rapariga beber e a que chamam chilêàmŭàli [nshileyamwalí].<br />
No regresso, a rapariga vai para casa <strong>de</strong>scansar e tapam-lhe a<br />
cara com um pa<strong>no</strong>, <strong>de</strong>itado <strong>sobre</strong> a cabeça, e assim se conserva um dia;<br />
passado este, as mulheres voltam para o batuque, on<strong>de</strong> não falta a tradicional<br />
cerveja cafreal utéca [otheka] e, en quanto esta durar, o batuque<br />
não acaba, <strong>de</strong> dia e <strong>de</strong> <strong>no</strong>ite. Terminado o ba tuque, mandam chamar o<br />
marido, a quem entregam a sua mulher.<br />
Muita gente se admirará <strong>de</strong>stas cerimónias. No Ibo, faz-se coisa semelhante,<br />
on<strong>de</strong> entram mulatas, filhas <strong>de</strong> europeus e algumas quase brancas<br />
ou brancas mesmo, com a diferença porém que as mulatas estão sentadas<br />
em volta <strong>de</strong> uma sala, em ca<strong>de</strong>iras, on<strong>de</strong> as suas escravas lhes vão servir<br />
chá e doces, enquanto <strong>no</strong> quintal tem lugar a «festa». Estou tratando do<br />
casamento <strong>de</strong> uma escrava <strong>de</strong> mulata com um qualquer indivíduo, que<br />
po<strong>de</strong> ser um preto e até mesmo escravo da mesma «senhora». No Ibo não<br />
dizem senhora Mariana, por exemplo; dizem «sá» Mariana; a palavra sá<br />
substitui a senhora. Nesta festa, que é dispendi<strong>os</strong>a, «ar<strong>de</strong>» com a <strong>de</strong>spesa<br />
a «senhora» ou o <strong>de</strong>sgra çado europeu que com ela viva; dão a<strong>os</strong> indígenas<br />
presentes, que são muit<strong>os</strong>, vinho <strong>de</strong> palmeira (sura) [<strong>os</strong>ura], come arroz,<br />
etc. Vão duas mulheres velhas verificar se a rapariga está virgem, e, sendo<br />
assim, ela recolhe-se com o <strong>no</strong>ivo. No entanto, fora, quando realmente<br />
está virgem, disparam um tiro, após o qual começa o batuque e então as<br />
velhas vêm m<strong>os</strong>trar o lençol ou pa<strong>no</strong> para tod<strong>os</strong> rectificarem da existência<br />
<strong>de</strong> virginda<strong>de</strong>. No Ibo pintam-se para imitar perfeitamente a virginda<strong>de</strong>,<br />
com «papas <strong>de</strong> galinha», cert<strong>os</strong> remédi<strong>os</strong> para lavagem e outr<strong>os</strong>. O que é<br />
um facto é que <strong>no</strong> Ibo as mulatas ou pretas, ou seja, as mães, dão muita<br />
importância à virginda<strong>de</strong>, e chegam mesmo a dizer às filhas: «v<strong>os</strong>semecê<br />
2008 E-BOOK CEAUP<br />
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