relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
60<br />
Francisco A. Lobo Pimentel<br />
da<strong>de</strong>ir<strong>os</strong> diab<strong>os</strong>. No entanto, já <strong>de</strong> dia têm ido três homens para o mato<br />
com a re<strong>de</strong> caçar um cabrito silvestre nàhe [nahe]: extraem ao cabrito o<br />
coração, mŭrrima, e vão escondê-lo <strong>no</strong> mato. O batuque dura até <strong>de</strong> madrugada;<br />
quando aclara a manhã, vai toda a gente ao mato procurando<br />
o coração do cabrito, até que o encontra e fica curado, dizem eles. Mas<br />
o que é mais interessante é que ele encontra sempre o coração, mas só<br />
fica curado quando... «tem sorte». Seguidamente o doente vai banhar-se<br />
ao rio, sempre acompanhado daquela tropa toda que faz uma algazarra<br />
infernal. Assim termina a cerimónia e a receita «médica executada». Esqueci-me<br />
<strong>de</strong> dizer que, enquanto as cinco mulheres ou <strong>os</strong> cinco diab<strong>os</strong><br />
berram <strong>de</strong>ntro da palhota on<strong>de</strong> está o pa<strong>de</strong>cente, quatro, segurando panelas<br />
com um remédio especial, andam à roda da palhota arrastando as<br />
panelas <strong>sobre</strong> o capim da cobertura.<br />
BATUQUES SÓ PARA MULHERES:<br />
M’Côrompŭa [mukhorompwe] — Este batuque, embora o macua <strong>de</strong><br />
Chinga, Muite e outr<strong>os</strong> digam que não, eu garanto porque sei, é originário<br />
do Niassa.<br />
O batuque é como tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> das mulheres, duas dançam como já foi<br />
dito e as outras, que às vezes são muitas, cantam; mas até a cantiga aqui,<br />
se não parece com a do Niassa. Eu vi este batuque executado por macuas<br />
do P<strong>os</strong>to <strong>de</strong> Nanrripo da Companhia do Niassa, mas como <strong>de</strong> lá fugiu<br />
muita gente para Muite, Uante, Imala, etc., etc., trouxeram para cá o uso<br />
do batuque m’côrompŭa [mukhorompwe]. Cantam e dizem «que o cabo<br />
Marimussa roubou meu filho e levou», necessário, ou por outra, interessa,<br />
saber esta his tória. No P<strong>os</strong>to <strong>de</strong> Nanrripo havia um 1. º cabo do Corpo<br />
<strong>de</strong> Polícia Militar que era intérprete, capataz-mor das gran<strong>de</strong>s machambas<br />
do Chefe do P<strong>os</strong>to e sabia <strong>os</strong> segred<strong>os</strong> <strong>de</strong>ste, bem como <strong>os</strong> cipais,<br />
<strong>de</strong> forma que faziam ali o que queriam: roubavam, matavam, cometiam<br />
barbarida<strong>de</strong>s, etc., e o cabo chegava a levar as crianças que roubava às<br />
mães e, confesso, como o estilo da música é triste e as mulheres cantam,<br />
lamentando-se pela ausência do seu filho roubado, g<strong>os</strong>tava <strong>de</strong> ouvir<br />
aquela cantiga e ao mesmo tempo revoltava -me contra tudo aquilo em<br />
Naurripo, lamentando não po<strong>de</strong>r remediar um tal estado <strong>de</strong> barbarismo.<br />
E-BOOK CEAUP 2008