relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
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Relatório <strong>sobre</strong> <strong>os</strong> us<strong>os</strong> e c<strong>os</strong>tumes <strong>no</strong> P<strong>os</strong>to Administrativo <strong>de</strong> Chinga<br />
brança <strong>de</strong> imp<strong>os</strong>t<strong>os</strong> continuava a operar, pren<strong>de</strong>ndo e internando mulheres<br />
em acampament<strong>os</strong> prisionais para obrigar <strong>os</strong> seus marid<strong>os</strong> e tutores a<br />
pagarem <strong>os</strong> imp<strong>os</strong>t<strong>os</strong> 12 . Em outras zonas <strong>no</strong> território da Companhia do<br />
Niassa, <strong>os</strong> African<strong>os</strong> locais não podiam muito mais fazer que fugir ou negociar<br />
com <strong>os</strong> raptores. O sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>tenção <strong>de</strong> mulheres para obrigar<br />
<strong>os</strong> marid<strong>os</strong> a pagar o “imp<strong>os</strong>to <strong>de</strong> palhota” era habitual neste período em<br />
quase todo o Moçambique, mas especialmente na Zambézia e <strong>no</strong> Niassa.<br />
Só havia <strong>de</strong> abrandar por volta <strong>de</strong> 1930. Mas já por volta <strong>de</strong> 1910-13<br />
havia <strong>no</strong> Ibo queixas <strong>sobre</strong> o procedimento d<strong>os</strong> Administradores, como<br />
na zona <strong>de</strong> Metuge, geralmente sem o mínimo efeito. Mas em Maúa, em<br />
1913, uma estrutura paralela com funcionári<strong>os</strong> não portugueses presenciava<br />
estes <strong>de</strong>smand<strong>os</strong> e protestava contra eles. Era a Nyassa Consolidated<br />
que tinha em Porto Amélia um chefe, F.V. Beste, e em Maua um representante,<br />
Percy John Cazes. Esta Companhia tinha recrutado, entre outr<strong>os</strong>,<br />
trabalhadores para as minas da África do Sul. A Cazes queixavam-se <strong>os</strong><br />
African<strong>os</strong> roubad<strong>os</strong> pelo “Buanamussoco”, que entre outr<strong>os</strong> crimes, “abusou<br />
e raptou raparigas que levou presas para a sua palhota na povoação<br />
<strong>de</strong> Mahua”. Eles não podiam queixar-se na secretaria do p<strong>os</strong>to da Companhia<br />
do Niassa porque <strong>os</strong> “sipai<strong>os</strong> lhes batiam”.<br />
Num d<strong>os</strong> cas<strong>os</strong>, Pimentel admite numa carta a Cazes que estava “indignadíssimo<br />
com estes malandr<strong>os</strong> que <strong>no</strong> Cuvire roubavam algodão,<br />
sal, e tiraram à força, missangas às mulheres, etc.” E informava: “Eu só<br />
soube por uma carta em “suaire” [sic: suaile, swahili escrito com caracteres<br />
árabes] que me mandou Cuvire todo indignado” 13 . Essa admissão era<br />
talvez implicitamente a principal falta que a sindicância feita em Novembro<br />
<strong>de</strong> 1913 pelo 2º Cabo do corpo da Polícia Militar, António Arnaldo<br />
Trinda<strong>de</strong> Sanguinh<strong>os</strong> apurou contra ele 14 . Trinda<strong>de</strong> Sanguinh<strong>os</strong> libertou<br />
também mais <strong>de</strong> 200 mulheres presas e doentes, forçadamente acantonadas<br />
em Maúa.<br />
Em 14 <strong>de</strong> Novembro, Lobo Pimentel marchou para o comando militar<br />
d<strong>os</strong> Angur<strong>os</strong>, também em Amaramba, mas uma lista <strong>de</strong> empregad<strong>os</strong> da<br />
Catanga e outr<strong>os</strong> <strong>de</strong>stin<strong>os</strong>.<br />
12 Do texto <strong>de</strong> Pimentel em 1926-27 <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>-se que isto ainda se praticava.<br />
13 AHM. GG. Proc. Cx 92, Processo <strong>de</strong> sindicância, fol. 11. Cazes <strong>de</strong>ve ter sido o indivíduo a quem<br />
Pimentel se refere <strong>no</strong> fim da sua Introdução.<br />
14 Ibid. foI. 29-30.<br />
2008 E-BOOK CEAUP<br />
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