relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
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Francisco A. Lobo Pimentel<br />
Passo a dar uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> como o preto prepara a utèca. Põe em água<br />
(<strong>de</strong> molho) uma porção <strong>de</strong> milho fi<strong>no</strong>, que passad<strong>os</strong> dois dias cria raiz<br />
e toma o <strong>no</strong>me <strong>de</strong> m’rôpo; é este que substitui o lúpulo na cerveja. O<br />
*m’rôpo, chamem<strong>os</strong>-lhe assim, é reduzido a farinha <strong>no</strong> pilão; esta, junta<br />
com farinha <strong>de</strong> milho, é submetida ao fogo com água, numa panela.<br />
Tendo previamente reservado uma porção <strong>de</strong> farinha <strong>de</strong> m’rôpo, põe<br />
esta, só, em água, e submete ao fogo. Formam-se assim dois líquid<strong>os</strong> resultantes<br />
da cozedura <strong>de</strong> farinha m’rôpo e milho num e só m’rôpo <strong>no</strong>utro;<br />
estes dois líquid<strong>os</strong> juntam-se, são bem mexid<strong>os</strong> com um bambu e <strong>de</strong>itase<br />
o líquido resultante para panelas <strong>de</strong> vidamente tapadas; passad<strong>os</strong> dois<br />
dias está a fermentar e nesta altura é doce; dois ou três dias <strong>de</strong>pois, está<br />
pronto para consumo. Geralmente ao terceiro dia já o bebem.<br />
Preparam, quando po<strong>de</strong>m, «vinho» <strong>de</strong> frut<strong>os</strong> e entre eles conheço o<br />
<strong>de</strong> caju, mandioca, manga, banana, ananás e nalgumas partes milho fi<strong>no</strong><br />
e laranja.<br />
Para prepararem o vinho, fazem uma coisa semelhante ao alambique,<br />
mas da seguinte forma:<br />
Para melhor me fazer compreen<strong>de</strong>r, vou comparando as partes<br />
componentes do engenho do preto com o alambique. Suponham<strong>os</strong> uma<br />
panela das que chamam m’tôcôtiŭ[muttokotthilo], é a que substitui a cal<strong>de</strong>ira.<br />
Nesta pa nela, por meio do bico da zagaia, fazendo rodar o cabo ou<br />
lança <strong>de</strong>sta en tre as mã<strong>os</strong>, fazem um orifício na parte superior e neste<br />
orifício introduzem uma ponta <strong>de</strong> um ca<strong>no</strong> <strong>de</strong> uma espingarda, mo<strong>de</strong>lo<br />
antiquíssimo, como <strong>de</strong> pe<strong>de</strong>rneira, a que chamam capŭiti [kaputthi]; este<br />
ca<strong>no</strong>, a que dão o <strong>no</strong>me especial, para o caso, <strong>de</strong> meliti [mulutthi], passa<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> calha feita da ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> *nipàué muito dura<br />
e que é conservada pouco mais ou men<strong>os</strong> paralela ao terre<strong>no</strong>, amparada<br />
por duas forquilhas espetadas <strong>no</strong> solo, on<strong>de</strong> assenta e tem um orifício em<br />
baixo, que é tapado por meio <strong>de</strong> rolha; nesta calha <strong>de</strong>itam água fria; nestas<br />
condições, a calha <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira é o refrigerante e o tubo, a serpentina,<br />
sem contudo apresentar tal forma. A pa nela que substitui a cal<strong>de</strong>ira, ou<br />
seja, m’tôcôtiŭ [muttokotthilo] é hermeticamente tapada por outra a que<br />
chamam, para a ocasião, mecŭmèlo [mukumelo] e substitui o capitel; o<br />
ca<strong>no</strong> ou tubo <strong>no</strong> outro extremo fica assente <strong>sobre</strong> qualquer recipiente,<br />
como seja outra panela ou prato, ou ainda uma lata. Eis o alambique; o<br />
E-BOOK CEAUP 2008