relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
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250<br />
Francisco A. Lobo Pimentel<br />
Português Indígena<br />
T<strong>os</strong>se còtòmòla [okothomola]<br />
Úlceras varic<strong>os</strong>as namecôche [namukotxe ou namukoxo]<br />
Varíola êtûvi [ettuvi, etxuvi]<br />
Variolói<strong>de</strong> êtŭ vi a marŭ pi [ettuviya martupi]<br />
Venéreo (em geral) mecéquénéquê [musekeneke]<br />
Os <strong>no</strong>mes das causas <strong>de</strong> morte são:<br />
Aci<strong>de</strong>nte, nùrrêtê [murrette] 300 , porque tem alguém que mandou;<br />
afogado, àcŭchi∞ua maze (a água levou); anemia, ŭóta; asfixia, envenenamento,<br />
mirrêtê [mirrette] 301 (alguém arranjou); gangrena (está podre<br />
basta) ?; paralisia, ? [nanttetthe]; queimaduras, áhôvia [w<strong>os</strong>iwa?]<br />
(queimado com o fogo); ruptura (nunca faz força), «também estou por<br />
essa»; suicídio, ônànàriria àhiciva [onariwa wisiva]; zangado (matouse);<br />
tísica [elapaha ou okothomola].<br />
Às dores dão o <strong>no</strong>me da parte do corpo que lhe dói; assim por exemplo:<br />
vê-se o indígena com uma tira <strong>de</strong> pa<strong>no</strong> atado em volta da cabeça e<br />
arrumado a um bambu; pergunta-lhe qual a doença que o ataca e ele<br />
diz logo *nà cŭnhŭnho e se se lhe perguntar o que tem, respon<strong>de</strong> mŭrro<br />
[murú], maito [maitho], mai<strong>no</strong>, etc., ou seja, cabeça, olh<strong>os</strong>, <strong>de</strong>ntes; <strong>de</strong><br />
forma que a resp<strong>os</strong>ta é: ou que tem cabeça, tem olh<strong>os</strong>, tem <strong>de</strong>ntes, etc.<br />
Sobre a habilida<strong>de</strong> do preto para inventar doenças, já tratei em capítulo<br />
anterior.<br />
Quando se querem escapar a qualquer serviço, arranjam doenças.<br />
Não me esquecerei duma cena muito interessante: quando eu era Chefe<br />
<strong>de</strong> P<strong>os</strong>to <strong>de</strong> Amaramba, <strong>no</strong> Niassa, segui com <strong>os</strong> cipais para a se<strong>de</strong> a fim<br />
<strong>de</strong> se organizar a coluna contra o Matáca; havia um cipai, cujo <strong>no</strong>me me<br />
não recordo, que ia <strong>de</strong> má vonta<strong>de</strong> e, durante a marcha, volta e meia inventava<br />
uma doença; num «peque<strong>no</strong> alto» o cipai esfregou-se com umas<br />
certas folhas que encontrou <strong>no</strong> mato e <strong>no</strong> dia imediato estava coberto <strong>de</strong><br />
300 A palavra “mirrette” tem outr<strong>os</strong> sentid<strong>os</strong>, como se verá na <strong>no</strong>ta seguinte. Aci<strong>de</strong>nte <strong>no</strong> sentido<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sgraça, azar: “otakhaliwa”.<br />
301 A palavra “murrette” significa “remédio”, “medicamento”, “tratamento” e “vene<strong>no</strong>”. Envenenar<br />
diz-se “ohapala”, “ohapalia” ou “opahula”, também “wiva ni murrette”, “ouwihi wa mirrette”. Envenenamento:<br />
“ojihiwa” ou “ouwiihiwa mirrette”.<br />
E-BOOK CEAUP 2008