relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
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Relatório <strong>sobre</strong> <strong>os</strong> us<strong>os</strong> e c<strong>os</strong>tumes <strong>no</strong> P<strong>os</strong>to Administrativo <strong>de</strong> Chinga<br />
perigo parte <strong>de</strong> nós própri<strong>os</strong>. Não; o estrangeiro não n<strong>os</strong> ameaça; nós<br />
é que n<strong>os</strong> ameaçam<strong>os</strong>. Tem<strong>os</strong> que dar o exemplo da n<strong>os</strong>sa própria <strong>de</strong>voção<br />
cívica e das n<strong>os</strong>sas aptidões e faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho. Sem isso,<br />
nada feito. Oferecendo o quadro <strong>de</strong> uma administração colonial que se<br />
não impõe, oferecem<strong>os</strong> o flanco a todas as investidas. No horizonte não<br />
<strong>de</strong>scortinei sequer as nuvens a que tanto se têm referido. Essas nuvens,<br />
porém, po<strong>de</strong>m surgir. Nada tem<strong>os</strong> a recear nesta hora, e por isso se n<strong>os</strong><br />
impõe muito juízo e muita cautela. Ambições estranhas há, mas é necessário<br />
que esbarrem com as trincheiras da n<strong>os</strong>sa aptidão colonial e da<br />
n<strong>os</strong>sa acção <strong>de</strong> europeus e civilizadores.»<br />
Foram estas as palavras <strong>de</strong> um, incontestavelmente, gran<strong>de</strong><br />
colonial.<br />
O que é facto é que o Ex. mo Sr. Freire d’Andra<strong>de</strong> diz «Ambições estranhas,<br />
há» e o ex-oficial do extinto Corpo do Estado-Maior, Ex. mo Sr.<br />
Aires d’Ornelas, também gran<strong>de</strong> colonial, disse, <strong>no</strong> Senado: «Durante o<br />
exílio estive três meses <strong>no</strong> estrangeiro, corri a França, Itália e Alemanha,<br />
parece-me que p<strong>os</strong>so dizer, sem exagero, que poucas vezes <strong>no</strong>tei um tão<br />
cobiç<strong>os</strong>o interesse pelo domínio colonial português.» Isto lê-se <strong>no</strong> jornal<br />
O Século <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> Ag<strong>os</strong>to <strong>de</strong> 1925.<br />
Na Socieda<strong>de</strong> das Nações, foram-n<strong>os</strong> realmente feitas graves acusações<br />
<strong>sobre</strong> a n<strong>os</strong>sa administração colonial; vendo o perigo, <strong>os</strong> jornais<br />
da Metró pole, principalmente <strong>os</strong> <strong>de</strong> maior circulação, protestaram; organizaram-se<br />
manifestações patrióticas e a Aca<strong>de</strong>mia toma a seu cargo<br />
a <strong>de</strong>fesa do n<strong>os</strong>so património colonial. Mas como n<strong>os</strong> havem<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />
se um jornal <strong>de</strong> Lourenço Marques, A Liberda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> Março<br />
<strong>de</strong> 1924, se a memória me não falha, diz numa local: «Por Moçambique<br />
— Som<strong>os</strong> informad<strong>os</strong> <strong>de</strong> que por Moçambique, em algumas Circunscrições<br />
lavra gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconten tamento entre <strong>os</strong> indígenas, <strong>de</strong>vido a<strong>os</strong><br />
maus trat<strong>os</strong> e violências cometidas pel<strong>os</strong> senhores administradores e<br />
<strong>de</strong>mais pessoal das administrações. Os castig<strong>os</strong> corporais — “palmatoadas,<br />
chicotadas com cavalo marinho” — são ex cessiv<strong>os</strong>; as prisões <strong>de</strong><br />
régul<strong>os</strong> e chefes <strong>de</strong> povoação são arbitrariamente feitas e o Regulamento<br />
do Trabalho Indígena é abusivamente aplicado, tudo isto representa<br />
violências que po<strong>de</strong>m ter maus resultad<strong>os</strong> e para as quais chamam<strong>os</strong><br />
a atenção do Sr. Alto Comissário. O Distrito <strong>de</strong> Moçambique não está<br />
2008 E-BOOK CEAUP<br />
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