relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
216<br />
Francisco A. Lobo Pimentel<br />
Jog<strong>os</strong> — O termo jogo é traduzido por mŭchŭa [mushuwa]. Só vi até<br />
hoje um jogo entre <strong>os</strong> macuas chamado m’pàlê [mpale ou mpalwe], 243 que<br />
tanto po<strong>de</strong> ser feito numa tábua como <strong>no</strong> próprio terre<strong>no</strong>. É formado por<br />
um rectângulo, tendo o lado maior 10 burac<strong>os</strong>, ou covas, para melhor<br />
dizer, e o me<strong>no</strong>r 4, ou seja, ao todo 40 covas, maliti [malitti]. Jogam dois<br />
indivídu<strong>os</strong>, dispondo cada um <strong>de</strong> 20 covas e em cada cova duas pedras;<br />
fazem para ali um movimento espant<strong>os</strong>o que ainda não tive ocasião nem<br />
paciência para ver; o caso é que um «come» ou tira as pedras <strong>de</strong> outro e o<br />
que <strong>no</strong> final ficar sem pedras per<strong>de</strong> o jogo.<br />
Instrument<strong>os</strong> musicais — Há <strong>os</strong> tambores, gômas [ikoma, sing.<br />
ekoma], indicad<strong>os</strong> na figura 3, que são feit<strong>os</strong> <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira chamada cŭvèro<br />
[kuveru] e ainda m’paca 244 , fáceis <strong>de</strong> cortar à faca; <strong>os</strong> bocad<strong>os</strong> <strong>de</strong> tronco<br />
cortad<strong>os</strong> são <strong>de</strong>spid<strong>os</strong> da casca e furad<strong>os</strong> a escopro; feito isto, tapam<br />
dum lado com pele <strong>de</strong> ruminante ou duma cobra; um há tapado d<strong>os</strong> dois<br />
lad<strong>os</strong>, a que chamam êiôto [eyotto] 245 , já referido mais acima. Os outr<strong>os</strong><br />
instru men t<strong>os</strong> são:<br />
Vièla 246 — É tocado à semelhança <strong>de</strong> rebeca ou violi<strong>no</strong> (figura 23).<br />
Compõe-se: duma cabaça, êcàhi [ekahi], on<strong>de</strong> fazem um orifício <strong>no</strong><br />
fundo. Na boca, a cabaça é tapada com uma pele <strong>de</strong> cobra ou, on<strong>de</strong> haja<br />
ri<strong>os</strong> gran<strong>de</strong>s, um lagarto chamado halà [ehalá]; a pele é esticada e presa<br />
à cabaça com pequen<strong>os</strong> bambus; junto à pele, ou pouco mais baixo, a cabaça<br />
é furada em dois pont<strong>os</strong> por on<strong>de</strong> passa um pau, saindo dum lado<br />
uma porção pequena, on<strong>de</strong> é atada uma corda <strong>de</strong> embon<strong>de</strong>iro, m’lapa<br />
[malapa], da qual o outro extremo vai atar, esticando a corda, <strong>no</strong> extremo<br />
superior <strong>de</strong> um peque<strong>no</strong> pau que atravessa perpendicularmente o primeiro;<br />
pouco mais ou men<strong>os</strong> a meio do «braço» do instrumento é colocada<br />
uma corda que abraça o pau e a corda superior, esticando-a; <strong>sobre</strong> a pele<br />
é colocada uma pequena tábua colocada verticalmente e on<strong>de</strong> assenta a<br />
corda: é o «cavalete». Para tocarem este instrumento, a cabaça fica <strong>de</strong>itada<br />
243 É óbvio que <strong>os</strong> macuas conhecem outr<strong>os</strong> jog<strong>os</strong> ou passatemp<strong>os</strong> [yothèliha], como, o jogo <strong>de</strong><br />
atirar pedrinhas ao ar, jogo parecido com o rapa, jogo com covas parecido com o das damas, etc. A tod<strong>os</strong><br />
eles <strong>de</strong>signam por “mushuwa”, e o instrumento próprio <strong>de</strong> cada um é <strong>de</strong>signado por “eshuwa”.<br />
244 Deve tratar-se da “mpakala”; o termo “mpaka” <strong>de</strong>signa a cangarra gran<strong>de</strong> para transportar o<br />
algodão, e também um tipo <strong>de</strong> celeiro.<br />
245 “Eyotto” é o <strong>no</strong>me <strong>de</strong> uma doença provocada pel<strong>os</strong> espírit<strong>os</strong> e, por extensão, o <strong>no</strong>me do tambor<br />
e da dança que compõe o ritual da cura.<br />
246 O mesmo que “sese” ou “zeze”.<br />
E-BOOK CEAUP 2008