relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
212<br />
Francisco A. Lobo Pimentel<br />
m’coi [mukhoi] òritiŭa [oritthwa ?] 235 , enrolada. As fibras po<strong>de</strong>m ser tiradas<br />
das seguintes árvores: m’tònia [ntxònya], nampôvê [namphovo],<br />
*tàcàta, m’tá cŭre [mutùkhura] e m’lapa [mulapa], sendo a última o embon<strong>de</strong>iro<br />
ou baobab a <strong>de</strong> melhor qualida<strong>de</strong>. Para tirarem estas tiras <strong>de</strong><br />
casca dão um golpe <strong>no</strong> tronco da árvore, junto ao terre<strong>no</strong>; agarrando na<br />
ponta, puxam com força para cima, arrancando o albur<strong>no</strong> em tiras. Estas<br />
fibras são usadas em construções <strong>de</strong> palhotas, pontes, etc., mas quebram<br />
em secas, com muita facilida<strong>de</strong>, razão por que eu mando fazer as cordas<br />
que executam da seguinte maneira: separam fibras finas e estas são reunidas<br />
às três e quatro, formando assim duas pontas: colocam estas pontas<br />
<strong>sobre</strong> uma perna, separadas; com a palma da mão e com movimento <strong>de</strong><br />
trás para diante, obrigam as fibras das duas pontas a enrolarem-se e com<br />
movimento contrário, também com a palma da mão, as pontas enrolamse<br />
formando a corda. Quando a primeira porção <strong>de</strong> corda está concluída,<br />
necessário se torna ligar-lhe outra e, para tal, arranjam as fibras como na<br />
primeira e intercalam as pontas <strong>de</strong> uma na outra, pr<strong>os</strong>seguindo a operação<br />
como atrás ficou dito. Toda a corda, por muito fina que seja, como<br />
linha <strong>de</strong> pesca, cor<strong>de</strong>l para enfiar nas missangas, etc., é feita pelo mesmo<br />
sistema, <strong>sobre</strong> uma perna (coxa).<br />
Pan<strong>os</strong> para transportar géner<strong>os</strong> (figura 10). Usam: pele <strong>de</strong> cabrito<br />
silvestre, *cŭmcŭma ou mŭrŭpa [murupa] 236 ; saco feito <strong>de</strong> folha da palmeira<br />
brava, ipáha 237 , e saco tirado das árvores, pita 238 .<br />
A pele <strong>de</strong> cabrito é preparada da mesma forma que surram<strong>os</strong> as peles.<br />
Depois <strong>de</strong> surrada, é untada com qualquer óleo e esfregada entre as mã<strong>os</strong><br />
até ficar macia e bem flexível. Os sac<strong>os</strong> extraíd<strong>os</strong> das árvores: corta, <strong>no</strong><br />
comprimento que <strong>de</strong>seja, um tronco duma árvore chamada m’pàcàla<br />
[mphakala]; bate com um pau em cima <strong>de</strong>ste, para lhe tirar a epi<strong>de</strong>rme e<br />
<strong>de</strong>pois soltam ou separam a parte superior do líber ou livrilho, do tronco,<br />
ou melhor, da ma<strong>de</strong>ira; e ao mesmo tempo que vão batendo com um pau,<br />
235 O verbo “oritha” significa “torcer”, “retrocer fio com, para”, “trançar” ou “entrançar dois ou mais<br />
fi<strong>os</strong>, cordões, etc.”<br />
236 “Murupa” significa “saco”, e hoje “pasta” <strong>de</strong> pele <strong>de</strong> antílope ou macaco, e também o “surrão”,<br />
o “fole <strong>de</strong> ferreiro” e a carteira <strong>de</strong> couro. Mas também servia para <strong>de</strong>signar a sacola <strong>de</strong> folha tecida <strong>de</strong><br />
palmeira.<br />
237 Palavra não i<strong>de</strong>ntificada. Provavelmente “epaha”, plural: “ipaha”.<br />
238 Palavra não i<strong>de</strong>ntificada. Provavelmente “epaha”, plural “ipaha”.<br />
E-BOOK CEAUP 2008