relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
20<br />
Francisco A. Lobo Pimentel<br />
sem estar com o pé <strong>no</strong> estribo pronto a abalar para a Metrópole logo que<br />
consiga uns milhares <strong>de</strong> escud<strong>os</strong> <strong>de</strong> eco<strong>no</strong>mias ou coisa parecida, com o<br />
mesmo <strong>no</strong>me.<br />
Ao europeu recém-vindo para a África é-lhe muito conveniente escolher,<br />
entre <strong>os</strong> antig<strong>os</strong> resi<strong>de</strong>ntes, algum que o p<strong>os</strong>sa elucidar <strong>sobre</strong> a melhor<br />
forma <strong>de</strong> lidar com o preto, seus us<strong>os</strong> e c<strong>os</strong>tumes, mas, infelizmente<br />
vêm com a mania <strong>de</strong> saberem muito e parece até darem ao <strong>de</strong>sprezo o<br />
velho colo<strong>no</strong>; pensarão eles que o velho colo<strong>no</strong> se tor<strong>no</strong>u preto? («Pelas<br />
alminhas não façam a mim o que fazem ao preto.») Eu creio que estes indivídu<strong>os</strong><br />
julgam que a permanência em África torna o branco em preto.<br />
Não me admira <strong>de</strong>s <strong>de</strong> que presenciei um caso que passo a narrar: «Fazia<br />
eu parte, como 2. º sargento, das forças em operações, em Nampula, e<br />
numa ocasião entrei <strong>de</strong> ronda a<strong>os</strong> p<strong>os</strong>t<strong>os</strong> avançad<strong>os</strong> com um alferes do<br />
extinto Quadro Privativo da Forças coloniais, chegám<strong>os</strong> a um p<strong>os</strong>to comandado<br />
por um soldado do contingente expedicionário do Regimento<br />
<strong>de</strong> Infantaria N. º 29 e qual o n<strong>os</strong>so espanto quando se apresenta um soldado<br />
indígena a reconhecer a ronda; o alferes mandou chamar o soldado<br />
europeu que, sendo presente, foi <strong>de</strong>licadamente repreendido pela falta;<br />
resp<strong>os</strong>ta do soldado: «Como V. Ex. a é do exercito <strong>de</strong> cá, pensei que era<br />
um preto que o reconhecia.» Seriam instruções recebidas pelo soldado?<br />
Ig<strong>no</strong>ro; o que é certo é que o facto <strong>de</strong>u-se e garanto sob minha palavra<br />
<strong>de</strong> honra a sua veracida<strong>de</strong>. Vê-se pois o juízo que este soldado fazia do<br />
exército colonial. Indivídu<strong>os</strong> há então que não só não con sultam <strong>os</strong> antig<strong>os</strong><br />
colon<strong>os</strong> como até armam em sabichões e «dão bota»: mas esta bota<br />
não magoa <strong>os</strong> pés, magoa e prejudica mais alguma coisa importante e se<br />
é em serviç<strong>os</strong> administrativ<strong>os</strong> vêm estragar o que outr<strong>os</strong> fizeram, sabe<br />
Deus com que sacrifíci<strong>os</strong>, até da própria vida. Eis o motivo por que, em<br />
minha fraquíssima opinião, <strong>os</strong> administradores <strong>no</strong>v<strong>os</strong> <strong>no</strong> Distrito <strong>de</strong>viam<br />
conferenciar com <strong>os</strong> chefes d<strong>os</strong> p<strong>os</strong>t<strong>os</strong> reunid<strong>os</strong> e cada chefe <strong>de</strong> P<strong>os</strong>to ter<br />
como seu auxiliar um aspirante que ia conhecendo a região, população,<br />
us<strong>os</strong> e c<strong>os</strong>tumes indígenas, etc. e seria o seu substituto legal.<br />
A minha contínua permanência em Moçambique, pelo interior, em<br />
contacto com o indígena, e ainda o que tenho presenciado e aprendido,<br />
leva-me a crer que todo o administrador <strong>de</strong>ve p<strong>os</strong>suir, <strong>sobre</strong> tudo o<br />
mais, um ple<strong>no</strong> conhecimento d<strong>os</strong> c<strong>os</strong>tumes, índole, organização social,<br />
E-BOOK CEAUP 2008