relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
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Francisco A. Lobo Pimentel<br />
carregam-lhe para o ar passar pelo tubo <strong>de</strong> bambu, *èpèvèra, que, para<br />
se não queimar, penetra num tubo <strong>de</strong> argila, *chiliŭa, que por sua vez<br />
transmite o ar à forja on<strong>de</strong> está o carvão macàla [makhala] 212 . Quando<br />
o ferro chegou ao rubro, tiram com uma pinça (gran<strong>de</strong>) <strong>de</strong> bambu<br />
ou ferro a que chamam êpa<strong>no</strong> [epanó] 213 , que correspon<strong>de</strong>m e fazem o<br />
mesmo serviço que as tenazes. Segurando com a tenaz, vai malhando<br />
com o martelo da figura 13, n. o 2, aperfeiçoando a obra com o n. o 4 da<br />
mesma figura e assim fazem: enxadas, hipa [ehipá], machad<strong>os</strong>, hipaço<br />
[epasó], zagaias, nivàca [nivaka], facas, mŭàlo [mwàlo], enchó, èhê<strong>no</strong>-<br />
-iôpàta 214 , catanas, catana [ekatana ou ophanka], espécie <strong>de</strong> roça<strong>de</strong>ira,<br />
èhèco 215 , para fus<strong>os</strong>, faca para tatuagem, èhôca [ehoka] 216 , navalha para<br />
barba, nimêto [ni mettho], preg<strong>os</strong>, agulhas para cozer esteiras, n’tôto<br />
[ntottho], etc., etc.<br />
Alimentação — Para condimento ou alimentação, o indígena apenas<br />
prepara sal, ou seja, substância salgada substituindo aquele e mel, ôrravo<br />
[oravo].<br />
À falta <strong>de</strong> sal, queimam folhas secas duma planta chamada ètŭro 217 ;<br />
ou tras: mŭquici [mukisi], m’tŭtô* (há na serra <strong>de</strong> Chinga), cŭtŭma*<br />
(tem um aroma agradável), as cinzas resultantes <strong>de</strong>itam-nas <strong>no</strong> caril,<br />
tornando-o salga do. Usam ainda as cinzas duns paus chamad<strong>os</strong>: m’côhi<br />
[mkhoi”?] e *m’coucórê.<br />
Para conseguirem o mel, arranjam um molho <strong>de</strong> capim atado a um<br />
bambu (quando o enxame está numa árvore alta) e chegam-lhe fogo,<br />
produzindo, como é natural, muito fumo; aproximam este archote «do<br />
cortiço» e as abelhas, pèpèlê 218 , umas caem atordoadas; outras fogem; seguidamente<br />
corta o pau a machado e, tirando <strong>os</strong> fav<strong>os</strong>, espreme-<strong>os</strong> entre<br />
<strong>de</strong>signada por “nvekhu”.<br />
212 Textualmente: brasa extinta.<br />
213 Tenaz, pinça e turquês.<br />
214 Expressão não i<strong>de</strong>ntificada. Talvez “n’patho” entre <strong>os</strong> Chirimas.<br />
215 Palavra que <strong>de</strong>signa hoje a foice. Em Cuamba e na Alta Zambézia chama-se “txeko”; entre <strong>os</strong><br />
Chacas do Lúrio, “etxelelo”.<br />
216 “Ehotthá”, em Cuamba, “hotxá”, <strong>no</strong> Lúrio.<br />
217 Palavra não i<strong>de</strong>ntificada, talvez “mtthulo”, planta silvestre cuj<strong>os</strong> frut<strong>os</strong>, “itthulo”, seme lhantes<br />
às bringelas.<br />
218 Palavra não i<strong>de</strong>ntificada. O termo genério para <strong>de</strong>signar as abelhas é “enuwi”, plural: “inuwi”.<br />
Há muitas varieda<strong>de</strong>s, cada uma com <strong>os</strong> seu <strong>no</strong>me: por exemplo, “ekulihi y’oravo”, “namapwe” ou “namopo”,<br />
“mapi”, “ovali”, “olepho”, “kurupa”, “niwophi”, etc.<br />
E-BOOK CEAUP 2008