relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
164<br />
Francisco A. Lobo Pimentel<br />
neutro na questão; mas francamente, como se po<strong>de</strong> chamar cuidad<strong>os</strong>o a<br />
um agricultor que permite que o capim suplante e abafe por completo as<br />
plantas que ainda <strong>de</strong>spontam? Eu entendo que quem quer <strong>de</strong>dicar-se à<br />
agricultura tem que abandonar outr<strong>os</strong> carg<strong>os</strong> que tem por <strong>de</strong>ver <strong>de</strong>sempenhar<br />
e aplicar toda a atenção ao tra balho agrícola, que, sem dúvida, é<br />
a principal fonte <strong>de</strong> riqueza <strong>de</strong>ste Dis trito; ou então prejudicará uma das<br />
funções necessariamente. É justo, e mui to justo, que o agricultor seja auxiliado<br />
pela autorida<strong>de</strong>, mas justo é também que o agricultor compreenda<br />
que a autorida<strong>de</strong> não é «seu moleque» e tem forç<strong>os</strong>amente <strong>de</strong> cumprir<br />
com as suas obrigações, doa a quem doer. Um agricultor, por exemplo,<br />
requisita 50 homens, são-lhe fornecid<strong>os</strong> e o que faz ele? Entrega-<strong>os</strong> ao<br />
capataz que, sem conhecimento algum, por não estar <strong>de</strong>vidamente educado<br />
para aquele fim, se limita a vigiar e… bater <strong>de</strong> vez em quan do; <strong>de</strong><br />
resto, o trabalhador é atirado para o campo, tal como o rancheiro -mor<br />
<strong>no</strong> rancho geral d<strong>os</strong> quartéis na Metrópole atira com o grão -<strong>de</strong> -bico para<br />
o cal<strong>de</strong>iro, dizendo «vai para ali ladrão d<strong>os</strong> meus <strong>de</strong>ntes; se queres coze,<br />
se não queres, vai para o raio que te parta».<br />
O agricultor fará melhor, me parece, <strong>de</strong>dicar-se a uma só espécie<br />
<strong>de</strong> cultura <strong>de</strong> rendimento. Além, é claro, das espécies necessárias para<br />
alimentação do pessoal: em Nampula, alguns agricultores cultivaram<br />
tabaco, algodão, gergelim, amendoim e arroz; realmente como po<strong>de</strong> um<br />
só homem, que não é agricultor, e, às vezes com outras obrigações a seu<br />
cargo, ligar atenção, a tantas espécies <strong>de</strong> culturas? O resultado é <strong>de</strong> prever,<br />
dizem alguns: «se falha o tabaco, po<strong>de</strong> não falhar o algodão»; peço<br />
vénia para <strong>de</strong>clarar que não concordo; abstraindo a qualida<strong>de</strong> da terra,<br />
só a falta <strong>de</strong> chuvas ou invasão <strong>de</strong> insect<strong>os</strong> po<strong>de</strong>m produzir as falhas;<br />
mas se não vier chuva para o tabaco, também não vem para o algodão; e<br />
se o insecto atacar o tabaco, lá irá às outras espécies.<br />
Agricultura indígena<br />
Agricultura indígena: po<strong>de</strong> dividir-se em dois grup<strong>os</strong>: cultura <strong>de</strong><br />
rendimento e cultura <strong>de</strong> manutenção. Uma e outra são feitas da mesma<br />
forma e é do que passo a tratar.<br />
O preto enten<strong>de</strong> que a melhor terra para culturas é a preta e prefere<br />
próximo das serras, já por chover mais e já porque há sempre ri<strong>os</strong>. As ma-<br />
E-BOOK CEAUP 2008