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relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga

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Francisco A. Lobo Pimentel<br />

mas se nós querem<strong>os</strong> colonizar e civilizar o preto tem<strong>os</strong> que ir banindo<br />

lentamente <strong>os</strong> seus antig<strong>os</strong> us<strong>os</strong> e não con sentir -lh<strong>os</strong>. De resto, concordo<br />

com o que escreveu talvez o melhor adminis trador que tem vindo a esta<br />

Província.<br />

O pior <strong>de</strong> tudo isto é a pouca educação e fraco entendimento <strong>de</strong> alguns,<br />

pouc<strong>os</strong>, agricultores e principalmente seus empregad<strong>os</strong> europeus,<br />

que consi<strong>de</strong>ram a proprieda<strong>de</strong> e seus habitantes coisa sua, não consentindo<br />

que a au torida<strong>de</strong> do Gover<strong>no</strong> ali exerça a sua acção e a que por lei<br />

é obrigado, e isto porque lhes não convém. O agricultor, aten<strong>de</strong>ndo à<br />

carestia do empregado, aceita qualquer cidadão que às vezes só <strong>de</strong>seja o<br />

suficiente para viver mo<strong>de</strong>stamente, mas que não tem <strong>os</strong> conheciment<strong>os</strong><br />

precis<strong>os</strong> para o <strong>de</strong>sempenho do cargo a que se compromete, e isto quando<br />

não chama para seus emprega d<strong>os</strong> <strong>os</strong> célebres sentenciad<strong>os</strong>, alguns, assassin<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong> profissã, como o Ramalho, a que me referi e que tanta confiança<br />

merecia ao patrão, mas que, se não sou eu, bastante o prejudicaria e comprometeria;<br />

e, vam<strong>os</strong> lá, que não era só ao patrão.<br />

Como <strong>no</strong> Distrito <strong>de</strong> Moçambique, a agricultura transformou-se<br />

numa doença contagi<strong>os</strong>a, atingindo <strong>os</strong> própri<strong>os</strong> funcionári<strong>os</strong> do Estado,<br />

tod<strong>os</strong> estes agricultores a recrutarem empregad<strong>os</strong> sem a educação<br />

precisa e eles própri<strong>os</strong> a proce<strong>de</strong>rem como um senhor Oliveira, que é<br />

um exemplar, mal d<strong>os</strong> agricultores honest<strong>os</strong>, mal da agricultura e mal<br />

do funcionário <strong>administrativo</strong>; estes indivídu<strong>os</strong> mal seleccionad<strong>os</strong> e<br />

alguns quase analfabet<strong>os</strong>, abusam, dan do-se-lhes alguma liberda<strong>de</strong>, a<br />

maior parte das vezes por se tratar com europeus entre pret<strong>os</strong> (na terra<br />

d<strong>os</strong> ceg<strong>os</strong>, quem tem um olho que seja…) e <strong>de</strong>pois é vê-l<strong>os</strong> armad<strong>os</strong><br />

em autorida<strong>de</strong>s. Eles querem o exclusivo <strong>de</strong> regu lad<strong>os</strong> inteir<strong>os</strong>; enten<strong>de</strong>m<br />

e chamam «sua gente» a<strong>os</strong> habitantes na proprieda<strong>de</strong>; pagam-lhes<br />

salári<strong>os</strong> irrisóri<strong>os</strong>, quando lhes pagam, enganando-<strong>os</strong> com a promessa<br />

que a autorida<strong>de</strong> <strong>os</strong> não vai procurar para outr<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong>, imp<strong>os</strong>to <strong>de</strong><br />

palhota, arrolamento, etc., fact<strong>os</strong> que se dão em M’Luli, e é triste dizêlo,<br />

até o sentenciado Ramalho já chamou sua gente, armado em agricultor,<br />

a<strong>os</strong> indígenas resi<strong>de</strong>ntes numa área <strong>de</strong> terre<strong>no</strong> que ele roubou<br />

ao Estado e a que ainda hoje chama proprieda<strong>de</strong> sua, tendo lá a «sua<br />

gente» a trabalhar, o que, <strong>no</strong> entanto, é do conhecimento da Administração<br />

em Nampula.<br />

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