relatório sobre os usos e costumes no posto administrativo de chinga
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Relatório <strong>sobre</strong> <strong>os</strong> us<strong>os</strong> e c<strong>os</strong>tumes <strong>no</strong> P<strong>os</strong>to Administrativo <strong>de</strong> Chinga<br />
<strong>de</strong>sempenhar o seu cargo, por causa <strong>de</strong> um assassi<strong>no</strong> <strong>de</strong> profissão, em<br />
cujas mã<strong>os</strong> está a sua vida em jogo. Eu confesso, resido em Moçambique<br />
há 15 an<strong>os</strong> consecutiv<strong>os</strong>, pois garanto, sob minha palavra <strong>de</strong> honra, que<br />
nunca vi tanta liberda<strong>de</strong> e protecção a sentenciad<strong>os</strong>, alguns auferindo<br />
melhores venciment<strong>os</strong> e lour<strong>os</strong> que muit<strong>os</strong> funcionári<strong>os</strong> do Estado; eles<br />
são encarregad<strong>os</strong> <strong>de</strong> construções e aberturas <strong>de</strong> estradas; são amanuenses<br />
nas se<strong>de</strong>s das Cir cunscrições, em contacto com toda a gente honesta;<br />
não há muito tempo que, à janela duma secretaria <strong>de</strong> Circunscrição, falei<br />
com um indivíduo, todo engravatado, penteado e perfumado, conversei<br />
muito naturalmente; como não conhecia aquele aspirante perguntei<br />
quem era e qual o meu espanto quando me dizem que é um sentenciado;<br />
e eis um sentenciado equiparado a aspirante do Quadro Administrativo,<br />
lidando com correspondência oficial, sabendo <strong>os</strong> segred<strong>os</strong> da secretaria,<br />
etc.; outr<strong>os</strong> auferem lucr<strong>os</strong> fabul<strong>os</strong><strong>os</strong> comprando camiões, prejudicando<br />
assim <strong>os</strong> profissionais que não cometeram crime algum; outr<strong>os</strong> abrem<br />
casas <strong>de</strong> pasto on<strong>de</strong> enriquecem; enfim, per feit<strong>os</strong> homens livres, vivendo<br />
melhor que muito homem honesto e sem crimes que nesta Província<br />
vareja procurando o indispensável para honradamente se vestir e alimentar.<br />
Há, sem dúvida, entre <strong>os</strong> sentenciad<strong>os</strong>, muito infeliz, mas esses,<br />
lamento-<strong>os</strong> eu e o mais curi<strong>os</strong>o é que são esses que men<strong>os</strong> protecção têm<br />
e dá-se a um assassi<strong>no</strong> <strong>de</strong> profissão, como o Ramalho.<br />
O outro agricultor nesta área, é um senhor Oliveira, <strong>sobre</strong> este,<br />
se f<strong>os</strong>se a narrar tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> tristes fact<strong>os</strong> passad<strong>os</strong> na proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste<br />
homem, este livro não chegava; mas vou resumir para que se faça uma<br />
pequena i<strong>de</strong>ia.<br />
O agricultor Oliveira não paga a<strong>os</strong> pret<strong>os</strong> e, digam<strong>os</strong> a verda<strong>de</strong>,<br />
nem a<strong>os</strong> branc<strong>os</strong>; o actual sócio do senhor Con<strong>de</strong> foi empregado <strong>de</strong>le e<br />
ainda hoje está à espera d<strong>os</strong> seus venciment<strong>os</strong> e o seu actual empregado<br />
Joaquim d<strong>os</strong> Reis, vive em M’Luli na miséria e enquanto o patrão anda<br />
em Moçambique a gastar o dinheiro que arranja em hotéis caríssim<strong>os</strong>,<br />
bebendo <strong>de</strong>salmadamente e jogando o soco a ponto <strong>de</strong> lhe partirem <strong>os</strong><br />
<strong>de</strong>ntes, o empregado nem uma cô<strong>de</strong>a <strong>de</strong> pão tem para comer, passando<br />
miseravelmente a comer mandioca como um preto, o que o envergonha<br />
e a nós perante <strong>os</strong> indí genas. Como não paga a<strong>os</strong> pret<strong>os</strong>, não se importa<br />
que eles trabalhem 12 dias por mês e as horas que enten<strong>de</strong>rem e então<br />
2008 E-BOOK CEAUP<br />
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