UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - Biblioteca Digital ...
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147<br />
interpretada, já não diz das reivindicações femininas [...]. Em qualquer gazeta, a<br />
cada passo, vemos a expressão ‘vitoriosa do feminismo’ referente as vezes a<br />
uma simples questão de modas. Ocupar uma posição de destaque em qualquer<br />
repartição publica, cortar os cabellos ‘a la garçonne’, viajar só, estudar em<br />
academias, publicar um livro de versos tudo isso constitue as victorias do<br />
feminismo, victorias que nada significavam perante o problema da emancipação<br />
integral da mulher. A verdadeira emancipação é posta de lado. [...]. É uma tática<br />
bem manejada. Enquanto as mulheres se contentam com essas ‘victorias’, a<br />
sua verdadeira emancipação é posta de lado ou nem chega a ser descoberta<br />
pelos taes reivindicadores de direitos adquiridos. E essas reivindicações não<br />
podem se limitar a acçao caridosa ou ao simples direito de voto que não vem de<br />
modo algum solucionar a questão da felicidade humana e se restringirá a um<br />
número limitadíssimo de mulheres. 216<br />
O que Maria Lacerda de Moura defendia para as mulheres renega tudo<br />
aquilo que vimos nos capítulos anteriores. Todas as mudanças de conduta social e de<br />
costumes, que foram aclamadas ou criticadas pela imprensa e consideradas como<br />
conseqüência dos novos tempos modernos, eram para Maria Lacerda questões pouco<br />
significativas para a emancipação feminina. Seu feminismo rompia com as classes<br />
sociais e ia ao encontro daquilo que ela considerava como essencial para a<br />
emancipação plena da mulher, qual seja, a liberdade moral, intelectual, sexual.<br />
Dentro da actual organização social só é possível a independência da mulher<br />
quando ella é de uma tempera de ferro e corta relações com o passado e faz a<br />
sua vida como a quer, mas sempre, a todo transe, na atitude aggressiva de<br />
defesa.<br />
Tudo conspira contra essa independência. A maternidade (isto é, a legal),<br />
cantada em prosa e verso e sandices e conselhos accacianos e hypocritas<br />
muito calculada e muito commoda, dentro deste regimen, é a maior peia à<br />
independência feminina, um das armas dos homens- os fortes- que abusam das<br />
suas prerrogativas physiologicas para escravizarem o sexo fraco.Casada,<br />
solteira ou viúva a mulher é escrava do salário, do pae, do marido, patrão,<br />
director espiritual ou sociedade 217 .<br />
O feminismo defendido por ela era justamente aquele que as mulheres<br />
analisadas neste trabalho faziam questão de se distanciar. O feminismo considerado<br />
216 Estado de Minas – Belo Horizonte, 23/03/1928.<br />
217 MOURA ML. Religião do amor e da belleza.São Paulo: Typ. Condor, 1926, p.98. Apud: LEITE, Miriam<br />
Moreira. Outra face do feminismo: Maria Lacerda de Moura. São Paulo: Ática, 1984.p.101.