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grande mártir exclamar: Libertas quae sera tamen. 190
Muitas foram além das páginas dos jornais para reivindicar seus direitos
políticos. Utilizando a brecha proporcionada pela Constituição Brasileira de 1891 que
não elucidava com clareza o impedimento feminino no processo eleitoral, algumas
mineiras alistaram-se como eleitoras, mas seus requerimentos foram indeferidos.
Apesar de serem impedidas de votar, elas movimentavam a opinião pública:
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As senhoras de Araguary requereram ao Juiz de Direito a inclusão de seus
nomes na lista dos eleitores, obtendo porem, despacho contrario. Não é a
primeira tentativa do sexo fraco para tomar parte dos negocios publicos.
Entretanto todas tem sido baldadas, pois o bom senso mesmo repelle que a
mulher, que tem na familia e no lar a sublime missão de educar a creança,
amoldando-lhe o caracter, desvie-se das suas naturais funcções para imiscuirse
no vasto lodaçal da política corrupta e torpe. É no lar ao lado do esposo e
dos filhos, consolando-os na hora de desalento e amparando-os na desgraça
que está a sua verdadeira santa missão, mais nobre e mais digna, mais bella e
sublime do que a dos homens degladiando-se no terreno estéril da politicagem,
tendo por armas a calumnia e a intriga. 191
Artigos como este, que tinham argumentos desfavoráveis à atitude
destas mulheres, baseavam-se nos conceitos e normas clássicas da sociedade que
rechaçavam alterações nos paradigmas tão fortemente arraigados nas estruturas
sociais. Além disso, garantir direitos iguais aos dos homens, representava para muitos
torná-la quase uma inimiga do homem, e a rivalidade só traria malefícios para a relação
entre os sexos, pois segundo estes a mulher deixaria de ser verdadeiramente feminina.
Ao reforçar a imagem sacralizada e altruísta da mulher, os opositores ao
sufrágio feminino insistiam na sua incompatibilidade com o ambiente corrupto e imoral
da política e enalteciam as suas funções sociais aclamadas como verdadeiramente
naturais que se estabeleciam no espaço doméstico. Aliás, as condições em que se
190 Voz Feminina, 21/04/1902. Apud ALVES, Branca Moreira. Ideologia & Feminismo. A luta da Mulher
pelo Voto no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1980. p. 93