Baixar - Circuito de Alta Decoração
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circuito arte<br />
TROPICÁLIA<br />
Duas tendas, cenário<br />
tropical e uma espécie<br />
<strong>de</strong> labirinto com pare<strong>de</strong>s<br />
coloridas, montado<br />
sobre um chão coberto<br />
<strong>de</strong> brita, levam a um<br />
ambiente totalmente<br />
escuro on<strong>de</strong> há uma<br />
televisão sempre ligada.<br />
Era preciso tirar os<br />
sapatos pra entrar no<br />
penetrável Tropicália,<br />
<strong>de</strong> Hélio Oiticica, que<br />
integrou a mostra Nova<br />
Objetivida<strong>de</strong> Brasileira,<br />
exposta no MAM do<br />
Rio em 1967, e mudou<br />
para sempre o rumo da<br />
cultura no Brasil. A obra<br />
era um brado pelo fim<br />
do mito estrangeirizado<br />
da brasilida<strong>de</strong>, que só<br />
existia, como i<strong>de</strong>ia, nos<br />
estereótipos americanos<br />
e europeus.<br />
Caetano Veloso, no<br />
livro Verda<strong>de</strong> Tropical,<br />
conta que a primeira<br />
vez que escutou o nome<br />
Hélio Oiticica foi num<br />
almoço, “na casa <strong>de</strong> não<br />
se sabe quem em São<br />
Paulo”, on<strong>de</strong> pediram<br />
que ele cantasse algumas<br />
<strong>de</strong> suas composições.<br />
Foi aí que ele<br />
entoou “Sobre a cabeça<br />
os aviões/ Sob os meus<br />
pés os caminhões/<br />
Aponta contra os chapadões<br />
meu nariz”, canção<br />
ainda sem título <strong>de</strong>finido,<br />
e impressionou o<br />
fotógrafo e cineasta Luís<br />
Carlos Barreto. O amigo,<br />
que tinha acabado <strong>de</strong><br />
assistir à exposição da<br />
obra Tropicália, insistiu<br />
que Caetano usasse o<br />
mesmo nome. “Eu naturalmente<br />
disse que não,<br />
que não poria o nome da<br />
obra <strong>de</strong> outra pessoa na<br />
minha música”. Na verda<strong>de</strong>,<br />
Caetano não tinha<br />
gostado muito do nome,<br />
mas gostava muito<br />
menos do título Mistura<br />
Fina, único em que tinha<br />
pensado. “Como eu não<br />
achasse nunca um outro<br />
melhor e o disco já estivesse<br />
pronto,Tropicália<br />
ficou e oficializou-se”.<br />
A Tropicália, enquanto<br />
movimento,<br />
começa em uma noite<br />
em 1967, no Festival<br />
<strong>de</strong> Música Popular<br />
Brasileira (programa <strong>de</strong><br />
TV que revelou a maioria<br />
dos artistas consagrados<br />
da MPB, como<br />
Nara Leão, Wilson<br />
Simonal e Elis Regina).<br />
As apresentações<br />
<strong>de</strong> Gilberto Gil, com<br />
Domingo no Parque,<br />
acompanhado <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> orquestra e dos<br />
então “meninos” dos<br />
Mutantes; <strong>de</strong> Tom Zé,<br />
com a emblemática São<br />
Paulo – “São oito milhões<br />
<strong>de</strong> habitantes/ De<br />
todo canto em ação/<br />
Que se agri<strong>de</strong>m cortesmente/<br />
Morrendo<br />
a todo vapor” –; e <strong>de</strong><br />
Caetano, com Alegria,<br />
Alegria, acompanhado<br />
do grupo roqueiro The<br />
81<br />
Beat Boys, marcaram a<br />
gênese do movimento.<br />
A contribuição <strong>de</strong><br />
Oiticica foi além do<br />
simples empréstimo<br />
do nome. Sem <strong>de</strong>us,<br />
<strong>de</strong>mônio ou mártir, o<br />
movimento tropicalista<br />
traduzia o que Oiticica e<br />
outros artistas, estudantes,<br />
jornalistas, pintores,<br />
escultores, compositores<br />
e cineastas <strong>de</strong> sua<br />
época queriam: fazer<br />
arte, já que a experiência<br />
estética era, ela própria,<br />
um instrumento social<br />
revolucionário. A outra<br />
batalha era por construir<br />
uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> real, que<br />
não negava as nossas<br />
araras e bananeiras, mas<br />
ia muito além <strong>de</strong>las.