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Baixar - Circuito de Alta Decoração

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circuito arte 80<br />

O uso da cocaína na obra <strong>de</strong> Oiticica é recorrente<br />

e aparece como símbolo <strong>de</strong> resistência ao imperialismo<br />

americano e em referência à contra-cultura – coisa<br />

que Andy Warhol já tinha feito colorindo Marilyn<br />

e replicando as famosas latas <strong>de</strong> sopa Campbell.<br />

Em todas as Cosmococas – aliás, em quase tudo <strong>de</strong><br />

Oiticica –, o público interage e assim a obra, efêmera<br />

por <strong>de</strong>finição, acontece.<br />

Nascido em berço fértil - o avô, José Oiticica, foi<br />

um conhecido jornalista, anarquista e filólogo; o pai,<br />

José Oiticica Filho, era um dos mais importantes<br />

fotógrafos brasileiros – Hélio teve educação informal,<br />

com aulas particulares ao invés <strong>de</strong> escola. Deixou<br />

o Rio <strong>de</strong> Janeiro para morar com a família em Nova<br />

York aos 10 anos, e na volta, já com quase 20, estudou<br />

pintura e <strong>de</strong>senho. Ele subverte a tela e adota o<br />

ambiente como o suporte <strong>de</strong> sua arte quando funda,<br />

em 1959, o Grupo Neoconcreto com Lygia Clark e<br />

outros importantes artistas da época.<br />

A i<strong>de</strong>ia da arte interativa, fui <strong>de</strong>scobrir mais tar<strong>de</strong>,<br />

era a gran<strong>de</strong> senha pra <strong>de</strong>svendar um pouco da<br />

estética e do jeito <strong>de</strong> pensar <strong>de</strong> Oiticica, que morreu<br />

em 1980. Da interação nasce o termo antiarte, que<br />

Oiticica <strong>de</strong>fine como arte experimental, fora dos<br />

padrões, que transcen<strong>de</strong> o quadro e inva<strong>de</strong> espaços<br />

além <strong>de</strong> museus e galerias. São obras que, sozinhas,<br />

não significam coisa alguma: funcionam apenas com<br />

a presença do espectador. Representa a quebra,<br />

sobretudo, da relação passiva do visitante, costumaz<br />

em tudo que é época.<br />

Os Parangolés são o maior exemplo da arte interativa<br />

<strong>de</strong> Oiticica. São tipos <strong>de</strong> obras para se vestir<br />

ou para se usar como estandarte ou ban<strong>de</strong>ira – só<br />

“viram” arte assim, quando usadas. Na década <strong>de</strong><br />

1960, Oiticica conhece a comunida<strong>de</strong> do Morro da<br />

Mangueira e transforma os integrantes da escola <strong>de</strong><br />

samba em parte <strong>de</strong>ssa obra. A criação seria apresentada<br />

na mostra Opinião 65, no Museu <strong>de</strong> Arte<br />

Mo<strong>de</strong>rna (MAM) do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Mas ao ver o<br />

circo armado – sambistas, instrumentos, passistas,<br />

Parangolés – a direção do MAM resolve expulsar todo<br />

mundo. Reza a lenda que Oiticica aproveitou para<br />

apresentar a obra na rua, obtendo muito mais sucesso<br />

e atenção do que se estivesse do lado <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro.<br />

SEJA MARGINAL<br />

Nos anos 1970, a imprensa e a polícia carioca<br />

brindavam o episódio final <strong>de</strong> uma história com<br />

meses <strong>de</strong> capítulos: a morte <strong>de</strong> Cara <strong>de</strong> Cavalo,<br />

bandido à La Robin Hood pintado pela mídia como<br />

perigoso por ter supostamente matado um <strong>de</strong>tetive.<br />

Depois <strong>de</strong> histórica perseguição, Cara <strong>de</strong> Cavalo<br />

foi encontrado e morto com mais <strong>de</strong> cem tiros pela<br />

Scu<strong>de</strong>rie Le Coq, organição clan<strong>de</strong>stina criada para<br />

vingar a morte do PM.<br />

Mais tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong>scobriu-se que Cara <strong>de</strong> Cavalo não<br />

era o autor do assassinato do <strong>de</strong>tetive. Hélio Oiticica<br />

era amigo do suposto bandido e fez uma homenagem<br />

que, segundo ele, vinha da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “um<br />

momento ético numa socieda<strong>de</strong> que marginaliza e<br />

mata”. A obra Homenagem a Cara <strong>de</strong> Cavalo é uma<br />

caixa com fotografias do jovem morto. Em 1968,<br />

Oiticica complementa a obra com o poema-ban<strong>de</strong>ira<br />

“Seja Marginal, Seja Herói”, que os tropicalistas<br />

Caetano Veloso, Gilberto Gil e Os Mutantes usariam<br />

mais tar<strong>de</strong> como pano <strong>de</strong> fundo dos seus shows.

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