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AS LEIS DA HOSPITALIDADE – D(errida)entre ética e literatura

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configuram, além disso, antes disso talvez, a própria forma do político, da reprodução do<br />

político, dentro de uma tradição que não somente dura até nós, como veio a ganhar suas mais<br />

fortes e (por isso) mais denegadas impressões numa modernidade que não pode não se<br />

remarcar muito além, na sua própria crise, e que alguns chamam de pedagógica ou<br />

humanista. 23 (Do que tentaremos abordar algumas questões a seguir).<br />

Do lado de cá da linha que separa o inerte ou o não-vivo do animado e do vivo, uma<br />

instabilidade <strong>entre</strong> os termos animal e humano se adivinha, mas ao mesmo tempo, cremos<br />

(apoiados pela leitura do Animal que logo sou), instaurou-se aí a maior estabilidade <strong>entre</strong> os<br />

“vivos”. D vai mostrar que o argumento que move os discursos sobre o próprio do homem <strong>–</strong> e<br />

que devem, portanto, de alguma maneira, determinar os elementos ou o elemento de seu ethos<br />

<strong>–</strong> ter-se-iam sustentado nesta inflexibilidade ou fixidez animal em contraposição a uma maior<br />

flexibilidade humana 24 , notadamente no que diz respeito à linguagem animal versus a<br />

linguagem humana, ao “animal-máquina” da tradição cartesiana e à distinção reação/resposta<br />

(que explicitaremos mais à frente). Teríamos de verificar se o “improvável” de D compartilha<br />

deste pressuposto de flexibilidade, se não for muito flexível para isso, é claro. Mas desde já<br />

uma questão: o improvável é da ordem da verificação? Da comprovação da verdade, da<br />

demonstração de uma verdade pelo viés de uma prova? Não é, pelo contrário, o que resiste a<br />

esta ordem, nesta ordem?<br />

conectar? Reservemos. Antes disso, Lacan lembrava que os desejos que em Aristóteles não colocavam problema<br />

ético, são justamente “os termos promovidos ao primeiro plano de nossa experiência. Um campo muito grande<br />

do que para nós constitui o corpo de desejos sexuais é pura e simplesmente classificado por Aristóteles dentro da<br />

dimensão das anomalias monstruosas <strong>–</strong> bestialidade é o termo que utiliza a respeito deles. O que ocorre nesse<br />

nível não resulta de uma avaliação moral. Os problemas éticos que Aristóteles coloca, e cujos ápice e essência<br />

indicar-lhes-ei mais adiante, situam-se inteiramente em outro lugar. Eis um ponto que possui todo seu valor” (p.<br />

14). Questão talvez ingênua mas que explica um pouco porque colocamos passagens secretas num livro de tão<br />

claras asserções como a Ética: se o desejo bestial é aquele que não se põe como problema ético, como já<br />

havíamos mencionado e toda a <strong>ética</strong> da psicanálise se põe como ordem outra que a da aristotélica, os mesmos<br />

desejos e outras anomalias não são justamente aquilo que faz enigma, que põe problema ético?<br />

23 Estamos nos referindo a Peter Sloterdijk em Regras para o parque humano. Op. cit.<br />

24 O que D<strong>errida</strong> nota especialmente em “Et si l’animal répondait” (In: Jacques D<strong>errida</strong>. L’Herne. Dir. M.-L.<br />

Mallet; G. Michaud. Paris: Ed. de l’Herne, 2004) e que voltaremos a abordar.<br />

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