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i2r Greve Geral: 12 Milhões param ik Governo investe ... - cpvsp.org.br

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232<<strong>br</strong> />

30/06/96<<strong>br</strong> />

/\<<strong>br</strong> />

-<<strong>br</strong> />

#<<strong>br</strong> />

05 ÍINCO COMPROMI^t<<strong>br</strong> />

, VE3A COMO a APEWS 1 ANO E MEIO CE eOVEBNO,<<strong>br</strong> />

FW W CUMPRIU SBB COMPROMISSOS CE CWKHHA-<<strong>br</strong> />

•tPlrMEW- g BOTÍMAS' ESTE? 'SETORES"<<strong>br</strong> />

«UáSÍlSrfBn- SAUZO) 0 SONHO DO*<<strong>br</strong> />

oePEssovsi<<strong>br</strong> />

fom<<strong>br</strong> />

cntrAeífr *aj UAM ^evA Discim w<<strong>br</strong> />

*SnW% : AS Mosõs, MEUíORANCD MUITOO<<strong>br</strong> />

BEM- ECTiR 06STE& INSEXiS<<strong>br</strong> />

P15*? Q<<strong>br</strong> />

AsAúcefteucADWí<<strong>br</strong> />

OBA" MÜS *1 HÚSPTWL<<strong>br</strong> />

SO PBA eeMTEl 1<<strong>br</strong> />

V<<strong>br</strong> />

•A£»klllTlílá'CRl0UOMWSrá2l0»Wa?CRMAAeRAEW EBWAOnE CEU THJRí<<strong>br</strong> />

AOS SEM-1H2fô!!! ^. ^<<strong>br</strong> />

<strong>i2r</strong> <strong>Greve</strong> <strong>Geral</strong>: <strong>12</strong> <strong>Milhões</strong> <strong>param</strong><<strong>br</strong> />

<strong>ik</strong> <strong>Governo</strong> <strong>investe</strong> em chacinas<<strong>br</strong> />

& A Reforma Agrária ontem e hoje<<strong>br</strong> />

tV Os ratos comeram<<strong>br</strong> />

<strong>ik</strong> Despenca a popularidade de FHC<<strong>br</strong> />

<strong>ik</strong> Estados Unidos: Aspectos do<<strong>br</strong> />

Panorama Sindical<<strong>br</strong> />

Custo unitário desta edição: R$ 2,50


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 Trabalhadores<<strong>br</strong> />

Jornal Fraternizar - Junho/96 - N 0 92<<strong>br</strong> />

Mundialização da solidariedade<<strong>br</strong> />

Trabalhadores cristãos de todo o mundo reuniram no Porto e deixam um grito<<strong>br</strong> />

"Tecer novas solidariedades para vi-<<strong>br</strong> />

ver dignamente". Foi para gritar ao mun-<<strong>br</strong> />

do esta palavra de ordem, mais do que<<strong>br</strong> />

urgente, e para tentar desco<strong>br</strong>ir em con-<<strong>br</strong> />

junto caminhos ainda não andados e prá-<<strong>br</strong> />

ticas globais ainda não experimentadas<<strong>br</strong> />

que nos permitam alcançar aquele obje-<<strong>br</strong> />

tivo, que delegados de mais de 50 <strong>org</strong>a-<<strong>br</strong> />

nismos filiados no Movimento Mundial<<strong>br</strong> />

de Trabalhadores Cristãos (MMTC),<<strong>br</strong> />

oriundos de 40 países dos diversos con-<<strong>br</strong> />

tinentes do globo, vieram, pela primeira<<strong>br</strong> />

vez, até ao nosso país, mais concretamen-<<strong>br</strong> />

te, até à Casa Diocesana de Vilar, no<<strong>br</strong> />

Porto. Na semana de 6 a 10 de Maio úl-<<strong>br</strong> />

timo, realizaram "conversações intercon-<<strong>br</strong> />

tinentais" que precederam a 8 a Assem-<<strong>br</strong> />

bléia <strong>Geral</strong> do MMTC, ocorrida na se-<<strong>br</strong> />

mana seguinte, de 13 a 17. Jornal<<strong>br</strong> />

Fratemízar viveu integralmente um dia<<strong>br</strong> />

da primeira semana com estes compa-<<strong>br</strong> />

nheiros e companheiras, precisamente, o<<strong>br</strong> />

dia 8 de Maio. O que viu e ouviu, nas<<strong>br</strong> />

diversas sessões de partilha de testemu-<<strong>br</strong> />

nhos vivos, foi bastante para perceber,<<strong>br</strong> />

de forma ainda mais palpável, todo o so-<<strong>br</strong> />

frimento humano que, neste final de sé-<<strong>br</strong> />

culo e de milênio, cresce em toda a terra,<<strong>br</strong> />

num imenso clamor que sobe até ao co-<<strong>br</strong> />

ração do Deus da Vida, e que não pode<<strong>br</strong> />

ficar sem resposta. Por isso, saiu desta<<strong>br</strong> />

expenência ainda mais confirmado na sua<<strong>br</strong> />

convicção de que uma tão imensa sexta-<<strong>br</strong> />

feira santa intercontinental e até cósmi-<<strong>br</strong> />

ca, como é a que, hoje, se vive so<strong>br</strong>e a<<strong>br</strong> />

terra, só pode estar a anunciar, igualmen-<<strong>br</strong> />

te, a madrugada duma Nova Ordem Eco-<<strong>br</strong> />

nômica Mundial. Ou seja, como reação-<<strong>br</strong> />

resposta a mundialização da economia<<strong>br</strong> />

sem entranhas de misericórdia que hoje<<strong>br</strong> />

conhecemos e que faz vítimas sem conta<<strong>br</strong> />

em todos os povos e continentes, começa<<strong>br</strong> />

já a ganhar corpo a mundialização da<<strong>br</strong> />

solidariedade. E, enquanto a mundializa-<<strong>br</strong> />

ção da economia fez-se em nome do Ca-<<strong>br</strong> />

pital contra a humanidade, e, por isso,<<strong>br</strong> />

semeou sofrimento e solidão, exclusão e<<strong>br</strong> />

morte, a mundialização da solidarieda-<<strong>br</strong> />

de, porque está a fazer-se em nome da<<strong>br</strong> />

vida e vida em abundância para todos sem<<strong>br</strong> />

exceção, colocará o Capital ao serviço<<strong>br</strong> />

das pessoas e dos povos e há-de-levar a<<strong>br</strong> />

humanidade a formas superiores de vida,<<strong>br</strong> />

estruturalmente, fraterna e comunitária.<<strong>br</strong> />

Avisados andaremos, pois, se, desde<<strong>br</strong> />

já, fizermos apontar para esta direção<<strong>br</strong> />

toda a nossa esperança e todo o nosso<<strong>br</strong> />

empenho pessoal e político.<<strong>br</strong> />

Concentrar o capital e controlar as<<strong>br</strong> />

populações. Eis a principal estratégia das<<strong>br</strong> />

transnacionais do mundo, hoje cada vez<<strong>br</strong> />

em menor número, para, asssim, pode-<<strong>br</strong> />

rem ser mais poderosas do que nunca.<<strong>br</strong> />

Porém, a generalidade dos indivíduos e<<strong>br</strong> />

dos povos não se dá conta sequer que vi-<<strong>br</strong> />

vemos cada vez mais sob o domínio e o<<strong>br</strong> />

império do poder financeiro. A situação<<strong>br</strong> />

é tal, que até os próprios governos dos<<strong>br</strong> />

múltiplos Estados do mundo, praticamen-<<strong>br</strong> />

te, já não governam. Apenas coordenam<<strong>br</strong> />

as políticas que, em última instância, in-<<strong>br</strong> />

teressam à estratégia das transnacionais.<<strong>br</strong> />

As coisas, neste momento, vão tão lon-<<strong>br</strong> />

ge, que as transnacionais já nem preci-<<strong>br</strong> />

sam de esconder que preferem confiar a<<strong>br</strong> />

execução da sua estratégia a agências<<strong>br</strong> />

internacionais, da sua escolha e confian-<<strong>br</strong> />

ça, do que a governos saídos de eleições<<strong>br</strong> />

mais ou menos democráticas.<<strong>br</strong> />

A revelação foi feita, no final das ati-<<strong>br</strong> />

vidades do dia 8, quando um pento liga-<<strong>br</strong> />

do ao MMTC foi convidado a comentar<<strong>br</strong> />

e a perspectivar os depoimentos e as par-<<strong>br</strong> />

tilhas dos diversos delegados que, durante<<strong>br</strong> />

a manhã e a tarde, haviam dado voz às<<strong>br</strong> />

dores e aflições que grossam nos seus<<strong>br</strong> />

países e continentes.<<strong>br</strong> />

Com as suas palavras, vigorosamente<<strong>br</strong> />

lúcidas, Marc Maesschalk ajudou a tirar<<strong>br</strong> />

as escamas dos nossos olhos, para, as-<<strong>br</strong> />

sim, nos tomarmos verdadeiramente su-<<strong>br</strong> />

jeitos, capazes de conduzirmos a nossa<<strong>br</strong> />

própria vida e ajudarmos a conduzir a<<strong>br</strong> />

vida do mundo, em vez de nos resignar-<<strong>br</strong> />

mos a ser simples coisas ou objetos que<<strong>br</strong> />

se deixam conduzir por poderes sem ros-<<strong>br</strong> />

to e demoníacos, sempre prontos a devo-<<strong>br</strong> />

rar-nos a alma, para mais e melhor nos<<strong>br</strong> />

transformarem a todos em súditos.<<strong>br</strong> />

Mundialízar a solidariedade<<strong>br</strong> />

"Um movimento como a MMTC será<<strong>br</strong> />

que pode promover a mundialização da<<strong>br</strong> />

ação solidária? Será que a solidariedade<<strong>br</strong> />

pode mundialízar-se como a economia?"<<strong>br</strong> />

Ninguém respondeu, na ocasião, a estas<<strong>br</strong> />

perguntas-desafio, formuladas pelo pen-<<strong>br</strong> />

to. Nem era para responder. A hora era de<<strong>br</strong> />

ver e julgar-refletír. O agir virá, depois, e<<strong>br</strong> />

há-de acontecer no país de cada delega-<<strong>br</strong> />

do e em cada continente. Mas até visto<<strong>br</strong> />

que a resposta não pode ser senão afir-<<strong>br</strong> />

mativa.<<strong>br</strong> />

Nem que as transnacionais se mordam,<<strong>br</strong> />

o futuro da humanidade e do próprio uni-<<strong>br</strong> />

verso não pode continuar à sua mercê. Esta<<strong>br</strong> />

é, por enquanto, a sua hora, a hora do<<strong>br</strong> />

poder das trevas, a hora do terror do Ca-<<strong>br</strong> />

pital contra a humanidade. Mas nada ga-<<strong>br</strong> />

rante que será eterno o seu reinado.<<strong>br</strong> />

O imenso clamor que se ergue em toda<<strong>br</strong> />

a terra, por parte de milhões e milhões de<<strong>br</strong> />

excluídos, nomeadamente, da Ásia, da<<strong>br</strong> />

África e da América Latina, mas tam-<<strong>br</strong> />

bém da Europa capitalista quejá não sabe<<strong>br</strong> />

o que fazer com tantos desempregados e<<strong>br</strong> />

com tantas pessoas sem casa e sem dig-<<strong>br</strong> />

nidade, sem comida e sem companhia, e,<<strong>br</strong> />

para mais, com multidões de famintos de<<strong>br</strong> />

outros continentes que forçam as suas<<strong>br</strong> />

fronteiras para entrar e ocupar as cida-<<strong>br</strong> />

des já so<strong>br</strong>elotadas e irrespiráveis, cons-<<strong>br</strong> />

titui, em toda a sua fraqueza, a força que<<strong>br</strong> />

irá derrubar a atual ordem econômica das<<strong>br</strong> />

transnacionais.<<strong>br</strong> />

Sempre foram os exércitos de famin-<<strong>br</strong> />

tos de pão e de justiça, de casa de digni-<<strong>br</strong> />

dade que, através dos séculos, derruba-<<strong>br</strong> />

ram o poder do império de tumo. E é o<<strong>br</strong> />

que está para acontecer, uma vez mais,<<strong>br</strong> />

agora que o terceiro milênio está à porta,<<strong>br</strong> />

com a mundialização da solidariedade no<<strong>br</strong> />

seu bojo.<<strong>br</strong> />

Os caminhos políticos para lá chegar-<<strong>br</strong> />

mos, não podem ser traçados em linha<<strong>br</strong> />

reta, como, na sua mais que justificada<<strong>br</strong> />

impaciência, os empo<strong>br</strong>ecidos do mundo<<strong>br</strong> />

certamente gostanam que fossem Serão<<strong>br</strong> />

caminhos com muitas curvas, mas que<<strong>br</strong> />

hão de ser percorridos, quaisquer que<<strong>br</strong> />

sejam os obstáculos que as transnacionais<<strong>br</strong> />

levantem. Ninguém, até hoje, alguma vez<<strong>br</strong> />

conseguiu deter, para sempre, o ímpeto<<strong>br</strong> />

da água de um rio, por mais barragens<<strong>br</strong> />

que lhe erguesse no caminho.<<strong>br</strong> />

Optar pelos po<strong>br</strong>es<<strong>br</strong> />

Mas para darmos corpo a esta revo-<<strong>br</strong> />

lução libertadora, têm os Estados e os<<strong>br</strong> />

respectivos governos - á semelhança do<<strong>br</strong> />

quem já fizeram, depois do Concilio<<strong>br</strong> />

Vaticano II, bastante bispos católicos e<<strong>br</strong> />

bastante Igrejas locais - de fazer, tam-<<strong>br</strong> />

bém eles, uma corajosa e conseqüente<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA E A ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 Trabalhadores<<strong>br</strong> />

opção pelos po<strong>br</strong>es, melhor empo<strong>br</strong>eci-<<strong>br</strong> />

dos, dos seus países. Trata-se duma op-<<strong>br</strong> />

ção verdadeiramente salvadora, porque<<strong>br</strong> />

realizada em nome da vida para todos.<<strong>br</strong> />

Por outro lado, e como frisou também<<strong>br</strong> />

o perito convidado pelo MMTC, esta<<strong>br</strong> />

opção pelos empo<strong>br</strong>ecidos, por parte dos<<strong>br</strong> />

Estados e respectivos governos, é o ca-<<strong>br</strong> />

minho mais curto para garantirmos futu-<<strong>br</strong> />

ro á democracia, também ela, hoje em<<strong>br</strong> />

perigo de desaparecer, quer porque as<<strong>br</strong> />

transnacionais operam muito mais á von-<<strong>br</strong> />

tade sem ela, quer porque as populações<<strong>br</strong> />

devoradas pela fome são sempre tenta-<<strong>br</strong> />

das a recorrer a métodos e processos que<<strong>br</strong> />

passam muito ao lado dos métodos e dos<<strong>br</strong> />

processos democráticos.<<strong>br</strong> />

E fácil concluir que democracia sem<<strong>br</strong> />

pão e sem casa, sem justiça e sem digni-<<strong>br</strong> />

dade para todos, é uma farsa de todo o<<strong>br</strong> />

tamanho. E só quem quiser ser cego é que<<strong>br</strong> />

não vê que populações inteiras se mostram,<<strong>br</strong> />

hoje cada vez menos dispostas a suportar<<strong>br</strong> />

por muito mais tempo essa farsa.<<strong>br</strong> />

Não se paise que, aitão, está tudo per-<<strong>br</strong> />

dido. Pelo contrário. Nunca, como hoje,<<strong>br</strong> />

as coisas estiveram tão perto de mudar<<strong>br</strong> />

radicalmente. Haverá muitas dores, mas<<strong>br</strong> />

a força dos po<strong>br</strong>es do mundo é imparável.<<strong>br</strong> />

E, aliás, a única capaz de deraibar os<<strong>br</strong> />

múltiplos altares do deus-Dinheiro e dis-<<strong>br</strong> />

persar os respectivos sacerdotes que ope-<<strong>br</strong> />

ram jiuito deles, isto é, todos aqueles que<<strong>br</strong> />

se prestam a render homenagens aos tira-<<strong>br</strong> />

nos, só porque estes vestem roupas caras<<strong>br</strong> />

e garantem privilégios a quem se mostre<<strong>br</strong> />

disposto a servi-los incondicionalmaite.<<strong>br</strong> />

Não são assim os po<strong>br</strong>es. Na sua fome<<strong>br</strong> />

de pão e dejustiça, de casa e de dignidade,<<strong>br</strong> />

eles são como o exército do Deus da vida<<strong>br</strong> />

que não deixa pedra so<strong>br</strong>e pedra dos múlti-<<strong>br</strong> />

plos covis de ladrões que por aí funcionam<<strong>br</strong> />

como se fossem templos da democracia.<<strong>br</strong> />

Diferença substantiva<<strong>br</strong> />

Po<strong>br</strong>es sempre houve. E, hoje, não<<strong>br</strong> />

serão mais do que noutras épocas da His-<<strong>br</strong> />

tória da humanidade. Mas há uma dife-<<strong>br</strong> />

rença substantiva entre a situação de hoje<<strong>br</strong> />

e a de outras épocas.<<strong>br</strong> />

Pela primeira vez na História da hu-<<strong>br</strong> />

manidade, os po<strong>br</strong>es sabem uns dos ou-<<strong>br</strong> />

tros, em todo o mundo. Os meios de co-<<strong>br</strong> />

municação das transnacionais, por mais<<strong>br</strong> />

que tentem, não conseguem esconder a<<strong>br</strong> />

realidade. E encontros, como os do<<strong>br</strong> />

lVlMTC-%, no Porto, aí estão a gritá-la<<strong>br</strong> />

deforma irreprimível.<<strong>br</strong> />

Ora, po<strong>br</strong>es com consciência da exis-<<strong>br</strong> />

tência de milhões e milhões de outros<<strong>br</strong> />

companheiros seus, em todos os conti-<<strong>br</strong> />

nentes, são po<strong>br</strong>es diferentes dos po<strong>br</strong>es<<strong>br</strong> />

de outras épocas.<<strong>br</strong> />

Se a este dado, se acrescentar o da to-<<strong>br</strong> />

mada de conscièicia de que a existâicia<<strong>br</strong> />

de tantos po<strong>br</strong>es não é fruto duma fatali-<<strong>br</strong> />

dade intransponível, menos ainda da von-<<strong>br</strong> />

tade do Deus da vida, mas é apenas farto<<strong>br</strong> />

da mundialização duma economia sem<<strong>br</strong> />

entranhas de misericórdia e do demoníaco<<strong>br</strong> />

deus-Dinheiro que a abençoa será fácil<<strong>br</strong> />

concluir que, pela primeira vez na sua his-<<strong>br</strong> />

tória, a humanidade está em condições de<<strong>br</strong> />

dar um salto qualitativo em frente.<<strong>br</strong> />

As vozes que se ouviram, durante a<<strong>br</strong> />

manhã e a tarde do dia 8, desde a Europa<<strong>br</strong> />

à Ásia, da África á Aménca, tanto do sul<<strong>br</strong> />

como do Norte, apontaram todas nesta<<strong>br</strong> />

direção. O sofrimento é aiomie. A exclu-<<strong>br</strong> />

são é massiva. Mas os po<strong>br</strong>es, uma vez<<strong>br</strong> />

articulados, protagonizarão a mudança.<<strong>br</strong> />

Por outro lado, mesmo entre os po-<<strong>br</strong> />

vos do Primeiro Mundo, cresce a consci-<<strong>br</strong> />

ência de que a presente situação mundial<<strong>br</strong> />

tem muito a ver com comportamentos<<strong>br</strong> />

criminosos nossos, durante os últimos<<strong>br</strong> />

cinco séculos, nomeadamente, desde as<<strong>br</strong> />

chamadas "descobertas e conquistas".<<strong>br</strong> />

Foi da vizinha Espanha, que veio o<<strong>br</strong> />

alerta, mais propriamaite, da delegada da<<strong>br</strong> />

HOAC: O Ocidente - disse - primeiro,<<strong>br</strong> />

conquistou e explorou as colônias; depois,<<strong>br</strong> />

utilizou a sua mão de o<strong>br</strong>a, como escra-<<strong>br</strong> />

vos; e, agora, pretende fechar as suas fron-<<strong>br</strong> />

teiras, para que as filhas e os filhos dos<<strong>br</strong> />

explorados e escravizados de ontem não<<strong>br</strong> />

vaiham sentar-se a nossa mesa.<<strong>br</strong> />

Com as coisas neste pé, não há outra<<strong>br</strong> />

saída, saião ousarmos a mundialização da<<strong>br</strong> />

solidariedade. Igrejas e governos de todos<<strong>br</strong> />

os países do inundo, sindicatos e partidos<<strong>br</strong> />

políticos, <strong>org</strong>anizações não govemamai-<<strong>br</strong> />

tais e outras instituições, as mais diver-<<strong>br</strong> />

sas, terão, fínalmaite, o bom senso, cada<<strong>br</strong> />

qual ao seu jeito, de acolher o clamor dos<<strong>br</strong> />

po<strong>br</strong>es e fazer aliança solidána com eles.<<strong>br</strong> />

As transnacionais sairão derrotadas<<strong>br</strong> />

deste confronto. Em nome da vida. En-<<strong>br</strong> />

tão, nunca mais nem o Capital contra a<<strong>br</strong> />

humanidade, nem o trabalho contra o<<strong>br</strong> />

Capital. Mas o Capital ao serviço da vida<<strong>br</strong> />

e vida em abundância para todos. Com a<<strong>br</strong> />

pessoa humana e os povos como prota-<<strong>br</strong> />

gonistas, numa fraternidade solidária<<strong>br</strong> />

cada v^m ais de^nvcüvife. □<<strong>br</strong> />

Jornal do D1AP - Maio/Junho/96 - N 0 115<<strong>br</strong> />

Livre circulação de trabalhadores é<<strong>br</strong> />

As perspectivas de concretização do<<strong>br</strong> />

Projeto Mercosul ainda estão longe de um<<strong>br</strong> />

resultado final, mas pelo menos nas rela-<<strong>br</strong> />

ções trabalhistas, os princípios que for-<<strong>br</strong> />

mam os sistemas jurídicos e também nas<<strong>br</strong> />

estruturas legais de custos trabalhistas,<<strong>br</strong> />

as leis dos quatro países envolvidos -<<strong>br</strong> />

Argentina, Brasil, Uaiguai e Paraguai -<<strong>br</strong> />

não atrapalhariam o processo de<<strong>br</strong> />

integração. O boletim do DIAP, edição<<strong>br</strong> />

de março, avaliou que "as leis dos quatro<<strong>br</strong> />

países são bastante semelhantes".<<strong>br</strong> />

O próximo ponto a ser negociado pela<<strong>br</strong> />

coordenação do Projeto é a livre circula-<<strong>br</strong> />

o próximo tema do Mercosul<<strong>br</strong> />

ção dos empregados, ou seja, a liberdade<<strong>br</strong> />

para o trabalhador de um país disputar<<strong>br</strong> />

vagas no mercado de trabalho em outro<<strong>br</strong> />

país do bloco.<<strong>br</strong> />

A idéia da livre circulação é que, por<<strong>br</strong> />

exemplo, um trabalhador <strong>br</strong>asileiro pos-<<strong>br</strong> />

sa ser tratado de forma diferenciada de<<strong>br</strong> />

outros trabalhadores estrangeiros em<<strong>br</strong> />

qualquer um dos demais países que inte-<<strong>br</strong> />

gram o Mercosul, usufruindo dos demais<<strong>br</strong> />

benefícios assegurados aos trabalhado-<<strong>br</strong> />

res locais.<<strong>br</strong> />

Para tentar equiparar os quatro paí-<<strong>br</strong> />

ses existe uma coordenação, conhecida<<strong>br</strong> />

como subgrupo 10, que trata das rela-<<strong>br</strong> />

ções trabalhistas, emprego e seguridade<<strong>br</strong> />

social. Desde 1991 que a coordenação<<strong>br</strong> />

vem realizando estudos para estimar cus-<<strong>br</strong> />

tos, comparar legislações e apontar as<<strong>br</strong> />

principais diferenças nas relações indi-<<strong>br</strong> />

viduais e coletivas do trabalhador latino-<<strong>br</strong> />

americano.<<strong>br</strong> />

Esta tarefa tem o objetivo de garantir<<strong>br</strong> />

á área das relações de trabalho uma par-<<strong>br</strong> />

ticipação mais profunda e eficaz no pro-<<strong>br</strong> />

cesso de integração. O bloco já chegou a<<strong>br</strong> />

admitir a livre contratação, restringindo<<strong>br</strong> />

a patamar de proteção, ao qual o traba-<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA E A ELA RETORNA


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 Trabalhadores<<strong>br</strong> />

lhador não pode recusar no momento da<<strong>br</strong> />

sua contratação. Outro ponto em comum<<strong>br</strong> />

é o pnncipio de territoriedade, asseguran-<<strong>br</strong> />

do ao trabalhador que o seu contrato seja<<strong>br</strong> />

regido pela lei do pais em que estiver.<<strong>br</strong> />

"É importante não esquecer que o em-<<strong>br</strong> />

pregador terá o poder, caso o projeto seja<<strong>br</strong> />

aprovado, de dispensar livremente o em-<<strong>br</strong> />

pregado, mas será o<strong>br</strong>igado a pagar uma<<strong>br</strong> />

indanzação", observa o DIAP. A liberda-<<strong>br</strong> />

de de demissão é restnngida nos casos em<<strong>br</strong> />

que o empregado é protegido por estabili-<<strong>br</strong> />

dade decorrente de mandato sindical.<<strong>br</strong> />

Nas questões de direitos trabalhistas,<<strong>br</strong> />

como por exemplo do 13 o salário, a fisca-<<strong>br</strong> />

lização do trabalho e seguro desemprego,<<strong>br</strong> />

os paises voltam a ter semelhanças, com<<strong>br</strong> />

exceção do Paraguai, onde o trabalhador<<strong>br</strong> />

não tem direito ao seguro. A Argentina<<strong>br</strong> />

partiu na frente em relação a flexibilização<<strong>br</strong> />

das leis trabalhistas. No ano passado, fo-<<strong>br</strong> />

ram aprovadas duas leis que modificam<<strong>br</strong> />

alguns procedimentos jurídicos para as<<strong>br</strong> />

pequenas e médias empresas.<<strong>br</strong> />

"A experièicia aigaitina mostra clara-<<strong>br</strong> />

maite que a desregulamaitação não teve<<strong>br</strong> />

um impacto positi vo so<strong>br</strong>e o mercado de tra-<<strong>br</strong> />

balho", analisou Cláudio Salvadon Dedec-<<strong>br</strong> />

ca, professor da Unicamp, an artigo publi-<<strong>br</strong> />

cado na iB/ÉtaO (Des) Emprego no País<<strong>br</strong> />

do Real, do Partido dos Trabalhadores.<<strong>br</strong> />

Segundo Dedecca, a flexibilização dos<<strong>br</strong> />

direitos trabalhistas na Argentina tem<<strong>br</strong> />

sido acompanhada de niveis de emprego<<strong>br</strong> />

fonnal cada vez mais baixos. "Existe uma<<strong>br</strong> />

progressiva heterogeneidade e precarie-<<strong>br</strong> />

dade das condições de emprego, além da<<strong>br</strong> />

perda de renda do trabalho e de uma alar-<<strong>br</strong> />

Garantias Básicas do Trabalhador<<strong>br</strong> />

Jornada<<strong>br</strong> />

semanal<<strong>br</strong> />

Férias anuais<<strong>br</strong> />

remuneradas<<strong>br</strong> />

Feriados<<strong>br</strong> />

anuais<<strong>br</strong> />

Licença<<strong>br</strong> />

Maternidade<<strong>br</strong> />

Licença<<strong>br</strong> />

Paternidade<<strong>br</strong> />

Aviso Prévio<<strong>br</strong> />

(dias)<<strong>br</strong> />

Remuneração por<<strong>br</strong> />

despedida<<strong>br</strong> />

13° salário<<strong>br</strong> />

Argentina Brasil Paraguai Uruguai<<strong>br</strong> />

48h 44h 48 h 44h (com.)<<strong>br</strong> />

48h (ind.)<<strong>br</strong> />

14 a 35 dias<<strong>br</strong> />

(tempo de serviço)<<strong>br</strong> />

30 dias<<strong>br</strong> />

corridos<<strong>br</strong> />

<strong>12</strong> a 30 dias<<strong>br</strong> />

(tempo de serviço)<<strong>br</strong> />

20 dias úteis<<strong>br</strong> />

10 dias 11 dias 10 dias 5 dias<<strong>br</strong> />

45 dias antes<<strong>br</strong> />

e depois<<strong>br</strong> />

<strong>12</strong>0 dias depois 6 semanas<<strong>br</strong> />

antes e depois<<strong>br</strong> />

6 semanas<<strong>br</strong> />

antes e depois<<strong>br</strong> />

2 dias 5 dias 2 dias não há lei<<strong>br</strong> />

30dias, até 5 anos e<<strong>br</strong> />

60, mais de 5 anos<<strong>br</strong> />

1 mês ou fração de<<strong>br</strong> />

3 meses<<strong>br</strong> />

1/<strong>12</strong> mensais<<strong>br</strong> />

de salário<<strong>br</strong> />

30 dias 30 a 90 dias não tem<<strong>br</strong> />

40% do total<<strong>br</strong> />

depositado no FGTS<<strong>br</strong> />

1/<strong>12</strong> mensais<<strong>br</strong> />

do salário<<strong>br</strong> />

15 dias ou<<strong>br</strong> />

fração de 06 meses<<strong>br</strong> />

1/<strong>12</strong> mensais<<strong>br</strong> />

do salário<<strong>br</strong> />

1 mês ou fração<<strong>br</strong> />

e 6 meses<<strong>br</strong> />

1/<strong>12</strong> mensais<<strong>br</strong> />

do salário<<strong>br</strong> />

Horas extras 30 p/ mês 2 p/dia 3 p/dia 8 /semana<<strong>br</strong> />

Salário mínimo US$ 200 US$ 107,5 US$184 US$85<<strong>br</strong> />

Mercado<<strong>br</strong> />

informal<<strong>br</strong> />

10% 43% 10% -<<strong>br</strong> />

Assalariados 69,6% 66% 52,9% 78,8%<<strong>br</strong> />

PEA (milhões) <strong>12</strong>,6 67,8 1,7 1,4<<strong>br</strong> />

Fonte; Boletim de Integr. Latino-Americana e Centro Interdísciplinar de Estudos so<strong>br</strong>e o Desenvolvimento do Uruguai<<strong>br</strong> />

mante situação de desemprego, que no<<strong>br</strong> />

momento atinge 20% da força de traba-<<strong>br</strong> />

lho da Grande Buaios Ares".<<strong>br</strong> />

Para o DIAP, mesmo com uma legis-<<strong>br</strong> />

lação sintonizada com os demais paises<<strong>br</strong> />

que integram o Mercosul, o Brasil ainda<<strong>br</strong> />

tem que fortalecer a negociação coletiva<<strong>br</strong> />

e dar mais autaiticidade ao movimento<<strong>br</strong> />

sindical. "E preciso que o pais continue<<strong>br</strong> />

negociando junto os três governos um<<strong>br</strong> />

acordo multilateral, que assegure aos tra-<<strong>br</strong> />

balhadores do Mercosul gozar, onde es-<<strong>br</strong> />

tiverem, os benefícios previdência ri os a<<strong>br</strong> />

que tiverem direito".<<strong>br</strong> />

Outra discussão será em tomo do valor<<strong>br</strong> />

do saláno minimo, que vana de US$ 85,00<<strong>br</strong> />

no Uruguai, a US$ 200,00, na Argentina,<<strong>br</strong> />

quase o do<strong>br</strong>o do Brasil 3<<strong>br</strong> />

Boletim DIEESE -A<strong>br</strong>il/96 - N 0 181<<strong>br</strong> />

Nosso futuro não precisa ser o desemprego<<strong>br</strong> />

O desemprego é, sem dúvida, parte<<strong>br</strong> />

da agenda mundial. O assunto dominou<<strong>br</strong> />

as discussões da Conferência do Empre-<<strong>br</strong> />

go, realizada no início de a<strong>br</strong>il, na cida-<<strong>br</strong> />

de francesa de Lille, pelo grupo dos sete<<strong>br</strong> />

paises mais desenvolvidos do mundo (G-<<strong>br</strong> />

7). No entanto, não não resultaram desse<<strong>br</strong> />

encontro deliberações efetivas para tra-<<strong>br</strong> />

tar do problema. Houve apenas a<<strong>br</strong> />

reafirmação dos modelos já existentes: o<<strong>br</strong> />

norte-americano, de alta flexibilidade no<<strong>br</strong> />

mercado de trabalho e baixas taxas de<<strong>br</strong> />

desemprego, mas com geração de ocu-<<strong>br</strong> />

pações de baixa qualidade, os chamados<<strong>br</strong> />

Macjobs; e o modelo europeu, com regu-<<strong>br</strong> />

lação do mercado e seguridade social<<strong>br</strong> />

avançada, porém com predominância de<<strong>br</strong> />

altas taxas de desemprego. Naihuma pro-<<strong>br</strong> />

posta foi feita no sentido da geração de<<strong>br</strong> />

políticas ativas de emprego, coordenadas<<strong>br</strong> />

por esforços macroeconômicos globais de<<strong>br</strong> />

reativação do crescimento econômico,<<strong>br</strong> />

que continua muito abaixo dos niveis<<strong>br</strong> />

verificados desde o pós-guerra até mea-<<strong>br</strong> />

dos dos anos 70.<<strong>br</strong> />

Frente à inação dos paises que coman-<<strong>br</strong> />

dam a economia global, surge um saiti-<<strong>br</strong> />

mento de inexorabilidade de um futuro<<strong>br</strong> />

sem empregos. E o pior: assiste-se cada<<strong>br</strong> />

vez mais á precarização das relações de<<strong>br</strong> />

trabalho, resultado da modernização<<strong>br</strong> />

tecnológica, da instabilidade gerada por<<strong>br</strong> />

mercados financeiros globalizados e da<<strong>br</strong> />

perda de governabilidade dos estados<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e a regulação desses processos, ago-<<strong>br</strong> />

ra nitidamente dependentes das estraté-<<strong>br</strong> />

gias competitivas das empresas transna-<<strong>br</strong> />

cionais.<<strong>br</strong> />

Mas é preciso perguntar se os proble-<<strong>br</strong> />

mas vividos pelas economias mais desai-<<strong>br</strong> />

volvidas se reproduzem da mesma fonna<<strong>br</strong> />

no Brasil, e em que dimensão. Se, por um<<strong>br</strong> />

lado, é correto prever que os setores mais<<strong>br</strong> />

dinâmicos da economia estarão incorpo-<<strong>br</strong> />

rando tecnologias e fonnas de gestão da<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA EA ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 Trabalhadores<<strong>br</strong> />

produção altamente produtivas epoupado-<<strong>br</strong> />

ras de mão-de-o<strong>br</strong>a, por outro, deve-se con-<<strong>br</strong> />

siderar que a heterpgeneidade da economia<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>asileira, no sentido de capacidades em-<<strong>br</strong> />

presariais, financeiras e tecnológicas<<strong>br</strong> />

assimétricas por setores e regiões, impli-<<strong>br</strong> />

cam trajetórias de difusão mais lentas des-<<strong>br</strong> />

sas inovações tecnológicas e <strong>org</strong>aniza-<<strong>br</strong> />

cionais do que aquelas vigentes nos países<<strong>br</strong> />

da Organização para Cooperação e Desen-<<strong>br</strong> />

volvimento Econômico (OCDE).<<strong>br</strong> />

No caso <strong>br</strong>asileiro, as razões do de-<<strong>br</strong> />

semprego são mais complexas e suas for-<<strong>br</strong> />

mas de manifestação também. Nesse sen-<<strong>br</strong> />

tido, é importante detalhar o atual fenô-<<strong>br</strong> />

meno de desemprego que afeta a econo-<<strong>br</strong> />

mia do pais. Há três tipos básicos de de-<<strong>br</strong> />

semprego ocorrendo ao mesmo tempo e,<<strong>br</strong> />

muitas vezes, interligados. O desempre-<<strong>br</strong> />

go conjuntural, provocado pela gestão da<<strong>br</strong> />

política econômica; o tecnológico, resul-<<strong>br</strong> />

tante dos processos de introdução de no-<<strong>br</strong> />

vas tecnologias, de técnicas <strong>org</strong>anizacio-<<strong>br</strong> />

nais e de racionalização do processo pro-<<strong>br</strong> />

dutivo; e o de exclusão, decorrente da<<strong>br</strong> />

desqualificação para o trabalho nos nú-<<strong>br</strong> />

cleos mais dinâmicos da economia.<<strong>br</strong> />

Nos últimos meses, o desemprego<<strong>br</strong> />

conjuntural tem aumentado de forma alar-<<strong>br</strong> />

mante. Em pouco tempo foram perdidos<<strong>br</strong> />

os postos de trabalho gerados desde o<<strong>br</strong> />

inicio do Plano Real. A política de juros<<strong>br</strong> />

elevados e o a<strong>br</strong>upto corte de créditos<<strong>br</strong> />

destinados à produção e ao consumo,<<strong>br</strong> />

mais do que desaquecer a economia,<<strong>br</strong> />

como pretende o governo, estão cami-<<strong>br</strong> />

nhando rapidamente no sentido de uma<<strong>br</strong> />

situação de crescimento pífio de longo<<strong>br</strong> />

prazo, aquém do necessário para reduzir<<strong>br</strong> />

o desemprego e absorver aqueles que todo<<strong>br</strong> />

ano ingressam no mercado de trabalho.<<strong>br</strong> />

Esses fatos aumentam as incertezas<<strong>br</strong> />

em relação ao futuro. São milhares de<<strong>br</strong> />

trabalhadores desempregados todos os<<strong>br</strong> />

dias, principalmente na indústria, que não<<strong>br</strong> />

sabem quanto tempo terão de esperar por<<strong>br</strong> />

um novo emprego, e em que condições.<<strong>br</strong> />

O desemprego tecnológico é ainda<<strong>br</strong> />

mais sério, pois não tem a mesma visibi-<<strong>br</strong> />

lidade e transparência necessárias para a<<strong>br</strong> />

mobilização da sociedade e tende a per-<<strong>br</strong> />

manecer como causa da falta de oportu-<<strong>br</strong> />

nidades de trabalho por muitos anos. A<<strong>br</strong> />

reestruturação produtiva está em anda-<<strong>br</strong> />

mento, aumentando a produtividade da<<strong>br</strong> />

economia, mas traz poucos benefícios aos<<strong>br</strong> />

trabalhadores. O nível de emprego indus-<<strong>br</strong> />

trial é hoje menor que o verificado em<<strong>br</strong> />

1985, o crescimento da produção indus-<<strong>br</strong> />

trial é feito sem novos empregos e isso é<<strong>br</strong> />

resultado da racionalização e das novas<<strong>br</strong> />

tecnologias.<<strong>br</strong> />

Há uma conexão entre desemprego<<strong>br</strong> />

conjuntural e tecnológico. As empresas<<strong>br</strong> />

geralmente aproveitam as circunstânci-<<strong>br</strong> />

as geradas pela política econômica não<<strong>br</strong> />

só para reduzir temporariamente a mão-<<strong>br</strong> />

de-o<strong>br</strong>a necessária para suas operações,<<strong>br</strong> />

mas também para realizar cortes estru-<<strong>br</strong> />

turais. Assim, parte dos empregos per-<<strong>br</strong> />

didos durante o "desaquecímento" da<<strong>br</strong> />

economia não voltará mais a existir,<<strong>br</strong> />

mesmo que as condições de crédito me-<<strong>br</strong> />

lhorem e os juros reais caiam. Isso tem<<strong>br</strong> />

ocorrido claramente no setor bancário e<<strong>br</strong> />

nas indústrias de ponta.<<strong>br</strong> />

Esse ambiente de transformação es-<<strong>br</strong> />

trutural da economia agrega ao contin-<<strong>br</strong> />

gente dos já excluídos, em função do pa-<<strong>br</strong> />

drão de desenvolvimento anterior, novos<<strong>br</strong> />

contingentes. Períodos prolongados de<<strong>br</strong> />

desemprego provocam a perda das apti-<<strong>br</strong> />

dões criadas por anos de exercício do tra-<<strong>br</strong> />

balho e, mais rapidamente, quanto maior<<strong>br</strong> />

for o ritmo de inovações tecnológicas e<<strong>br</strong> />

<strong>org</strong>anizacionais. Dessa forma, esses tra-<<strong>br</strong> />

balhadores começam a procurar alter-<<strong>br</strong> />

nativas de so<strong>br</strong>evivência a partir das in-<<strong>br</strong> />

serções precárias, com baixa remunera-<<strong>br</strong> />

ção em relação à sua situação salarial<<strong>br</strong> />

anterior, e sem vínculos regulares e pro-<<strong>br</strong> />

tegidos pela legislação.<<strong>br</strong> />

VÍDEO A VENDA NO CPV<<strong>br</strong> />

'Liberdade''<<strong>br</strong> />

Combater essas várias formas de de-<<strong>br</strong> />

semprego não étarefa simples, tampouco<<strong>br</strong> />

pode ser realizada em curtos períodos.<<strong>br</strong> />

Há que se mudar alguns parâmetros de<<strong>br</strong> />

natureza institucional, como a duração<<strong>br</strong> />

da jornada de trabalho, no sentido de re-<<strong>br</strong> />

duzi-la; o uso abusivo de horas-extras e<<strong>br</strong> />

as facilidades para a dispensa imotiva-<<strong>br</strong> />

da. Trata-se de mudanças possíveis, con-<<strong>br</strong> />

siderando que desde 1992 os aumentos<<strong>br</strong> />

de produtividade na economia <strong>br</strong>asileira<<strong>br</strong> />

chegam a mais de 42%.<<strong>br</strong> />

Também é necessário um programa<<strong>br</strong> />

de investimentos na infra-estrutura pro-<<strong>br</strong> />

dutiva e social O Brasil tem rodovias que<<strong>br</strong> />

precisam ser criadas e reconstruídas e<<strong>br</strong> />

portos a serem modernizados e amplia-<<strong>br</strong> />

dos. Há necessidade também de expan-<<strong>br</strong> />

dir as redes de energia, telecomunicações<<strong>br</strong> />

e de abastecimento de água e esgoto. São<<strong>br</strong> />

investimentos que aumentam a produti-<<strong>br</strong> />

vidade da economia e criam novos em-<<strong>br</strong> />

pregos. Na área social, é urgente a<<strong>br</strong> />

melhoria do sistema educacional e de saú-<<strong>br</strong> />

de, tanto em razão de situações de emer-<<strong>br</strong> />

gência e humanitárias, como em função<<strong>br</strong> />

de seus efeitos de longo prazo so<strong>br</strong>e a<<strong>br</strong> />

competiu- vidade do país. A reforma<<strong>br</strong> />

agrária, mais uma vez, deve ser ressalta-<<strong>br</strong> />

da como medida necessária, principal-<<strong>br</strong> />

mente porque a situação do desemprego<<strong>br</strong> />

na área rural tende a piorar com a ado-<<strong>br</strong> />

ção de novas tecnologias de cultivo e ges-<<strong>br</strong> />

tão, ampliando os conflitos no campo.<<strong>br</strong> />

Essa agenda é tipicamente <strong>br</strong>asileira,<<strong>br</strong> />

o que diferencia o Brasil dos países de-<<strong>br</strong> />

senvolvidos. Nestes, as soluções são di-<<strong>br</strong> />

fíceis em função da sua homogeneidade<<strong>br</strong> />

social e saturação produtiva. No caso<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>asileiro, desigualdade social e exclu-<<strong>br</strong> />

são são elementos que impedem a ampli-<<strong>br</strong> />

ação do mercado interno e o crescimaito<<strong>br</strong> />

sustentado. O desemprego é um dos pro-<<strong>br</strong> />

blemas mais sérios do país, mas pode não<<strong>br</strong> />

ser inexorável, basta trabalhar para que<<strong>br</strong> />

aspiDÊcasmo 3aauto-realben . D<<strong>br</strong> />

E um vídeo documentário so<strong>br</strong>e a situação dos cortiços na baixada do Glicério, na cidade de São Paulo. O vídeo revela<<strong>br</strong> />

as condições e porque uma grande parte da população de baixa renda, vive em condições sub-humanas.<<strong>br</strong> />

Direção: Argemiro F. Almeida e André Luiz Barbosa<<strong>br</strong> />

Produção: Carmo Vídeo<<strong>br</strong> />

Original: S-VHS<<strong>br</strong> />

Duração: 10 minutos<<strong>br</strong> />

Preço: R$ 30,00<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA E A ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 6 Trabalhadores<<strong>br</strong> />

GRAVE - Sindíquímica - 27 a 31/05/96 - N° 519<<strong>br</strong> />

Uma política nacional para geração<<strong>br</strong> />

de empregos. Esta é uma das principais<<strong>br</strong> />

reivindicações da CUT e dos mais<<strong>br</strong> />

diversoso movimentos sociais e popula-<<strong>br</strong> />

res. Só na nossa categoria, desde janeiro<<strong>br</strong> />

de 96 foram registradas 370 demissões.<<strong>br</strong> />

A campeã é a COPENE, onde 78 traba-<<strong>br</strong> />

lhadores foram dispensados. Apesar das<<strong>br</strong> />

manifestações contra o desemprego que<<strong>br</strong> />

acontecem em todo o pais, as empresas<<strong>br</strong> />

do Pólo continuam demitindo. Nos últi-<<strong>br</strong> />

mos dez dias foram 87, ou seja, 23,5%<<strong>br</strong> />

do total de todo o ano. Onzena Poli<strong>br</strong>asil,<<strong>br</strong> />

18 na Politeno, 18 da Prochrom e 15 da<<strong>br</strong> />

Química Bahia. Na última quarta-feira,<<strong>br</strong> />

mais de 25 da Ciba Geigy.<<strong>br</strong> />

Apesar da pompa com que o govemo<<strong>br</strong> />

FHC vem enfrentando a imprensa e as<<strong>br</strong> />

mobilizações, é impossível esconder seu<<strong>br</strong> />

desgaste. Pesquisa realizada pelo Institu-<<strong>br</strong> />

PSTU - Opinião Socialista - 26/06 a 02/07/96 - N 0 4<<strong>br</strong> />

Empregos já!<<strong>br</strong> />

to Vox Populi em oito capitais, revela a<<strong>br</strong> />

queda da popularidade do "homem". De<<strong>br</strong> />

zero a dez, ficou abaixo de cinco em to-<<strong>br</strong> />

dos setores, inclusive no item combate à<<strong>br</strong> />

inflação. Na área de Saúde, com Adib<<strong>br</strong> />

Jatene, Bráulio etudo mais, a nota foi 2,6.<<strong>br</strong> />

Em Educação, o Brasil finalmente acor-<<strong>br</strong> />

dou; 3,6 para o ministro Paulo Renato.<<strong>br</strong> />

Até mesmo os patrões, co-responsá-<<strong>br</strong> />

veis pela situação do país, e que ocupa-<<strong>br</strong> />

ram Brasília na semana passada exigin-<<strong>br</strong> />

do a reforma tributária, disseram que o<<strong>br</strong> />

presidente "está simplesmente fora da<<strong>br</strong> />

realidade, não sabe o que está acontecen-<<strong>br</strong> />

do no país". O govemo nega que tenha<<strong>br</strong> />

barganhado com ruralistas, banqueiros,<<strong>br</strong> />

empreiteiros e parlamentares. E um ho-<<strong>br</strong> />

mem franco: "Só dei o que é justo".<<strong>br</strong> />

Diante deste quadro, os trabalhado-<<strong>br</strong> />

res mostram sua reação. Na semana pas-<<strong>br</strong> />

sada estavam mobilizados vigilantes, pro-<<strong>br</strong> />

fessores da rede particular, e os rodoviá-<<strong>br</strong> />

rios, que fizeram uma greve de advertên-<<strong>br</strong> />

cia de duas horas. Os trabalhadores da<<strong>br</strong> />

Ciba se solidarizaram com os demitidos<<strong>br</strong> />

e só entraram na fá<strong>br</strong>ica depois de uma<<strong>br</strong> />

negociação aitre sindicato e empresa. Na<<strong>br</strong> />

Bahiafarma, apesar dos golpes baixos da<<strong>br</strong> />

administração para privatizar a fá<strong>br</strong>ica<<strong>br</strong> />

e impedir a mobilização dos funcionári-<<strong>br</strong> />

os, eles realizaram um ato significativo<<strong>br</strong> />

em frente à Secretaria de Saúde do Esta-<<strong>br</strong> />

do. Todas essas manifestações mostram<<strong>br</strong> />

que a greve geral é o grande instrumento<<strong>br</strong> />

de luta de todos os trabalhadores. Atra-<<strong>br</strong> />

vés dela questionamos quem produz afi-<<strong>br</strong> />

nal a riqueza desse país, além de revelar<<strong>br</strong> />

nossa unidade e mostrar nossa <strong>org</strong>aniza-<<strong>br</strong> />

ção contra a situação de miséria em que<<strong>br</strong> />

nos encontramos. □<<strong>br</strong> />

<strong>12</strong> <strong>Milhões</strong> pararam na greve geral<<strong>br</strong> />

O govemo e praticamente toda a im-<<strong>br</strong> />

prensa burguesa, com diferentes tons,<<strong>br</strong> />

tentaram impor a versão de que a <strong>Greve</strong><<strong>br</strong> />

<strong>Geral</strong> do dia 21 foi "um fracasso", ou<<strong>br</strong> />

"inútil", ainda que fossem o<strong>br</strong>igados a se<<strong>br</strong> />

referir ao "clima de feriado" nas princi-<<strong>br</strong> />

pais capitais do país.<<strong>br</strong> />

O fato é que houve uma paralisação<<strong>br</strong> />

grande em todo o país, <strong>12</strong> milhões se-<<strong>br</strong> />

gundo o levantamento das centrais sindi-<<strong>br</strong> />

cais, ainda que com muitas desigualda-<<strong>br</strong> />

des. Nas principais capitais do Brasil,<<strong>br</strong> />

como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto<<strong>br</strong> />

Alegre e Brasília, houve uma adesão bas-<<strong>br</strong> />

tante grande à greve, mesmo onde os ôni-<<strong>br</strong> />

bus circularam, como foi o caso de São<<strong>br</strong> />

Paulo. Os ônibus funcionaram; no entan-<<strong>br</strong> />

to, não tinham passageiros.<<strong>br</strong> />

Os ataques do govemo, o arrocho e o<<strong>br</strong> />

desemprego vão continuar. No campo,<<strong>br</strong> />

por exemplo, o govemo não só está mo-<<strong>br</strong> />

vendo uma campanha e uma verdadeira<<strong>br</strong> />

farsa contra os sem terras, buscando<<strong>br</strong> />

mostrá-los como assassinos, como está<<strong>br</strong> />

transformando-os em caso de "seguran-<<strong>br</strong> />

ça nacional"., de modo a usar o exército<<strong>br</strong> />

na repressão ao movimento.<<strong>br</strong> />

Por tudo isso, há que ter continuidade<<strong>br</strong> />

o movimento que iniciamos com a greve<<strong>br</strong> />

do dia 21. Se não houver continuidade, o<<strong>br</strong> />

Mariúcha Fontana<<strong>br</strong> />

Mas esta greve teve inúmeras desigual-<<strong>br</strong> />

dades. Do ponto de vista dos setores or-<<strong>br</strong> />

ganizados, ainda que tenham parado ca-<<strong>br</strong> />

tegorias fundamentais, a paralisação foi<<strong>br</strong> />

aquém da de 1989. Anda assim, a adesão<<strong>br</strong> />

da população no geral foi maior já que<<strong>br</strong> />

desta vez havia transporte funcionando na<<strong>br</strong> />

grande maioria das capitais, ou seja, ha-<<strong>br</strong> />

via como as pessoas irem ao trabalho.<<strong>br</strong> />

Essas desigualdades se devem, ao nos-<<strong>br</strong> />

so ver, tanto á confusão nas bandeiras da<<strong>br</strong> />

greve, no início de sua preparação,<<strong>br</strong> />

comotambém à falta de <strong>org</strong>anização na<<strong>br</strong> />

base dos sindicatos. A agitação que foi<<strong>br</strong> />

criado o clima de que haveria greve foi<<strong>br</strong> />

suficiente para levar inúmeros setores a<<strong>br</strong> />

aderir. No entanto, onde exigia mais uni-<<strong>br</strong> />

dade e segurança e, portanto, mais <strong>org</strong>ani-<<strong>br</strong> />

Preparar já os próximos passos<<strong>br</strong> />

esforço que fizemos e o acúmulo quantita-<<strong>br</strong> />

tivo que teve o movimento, seperderá. Alan<<strong>br</strong> />

do quê, se não houver perspectiva clara de<<strong>br</strong> />

avanço na mobilização, o govemo e a clas-<<strong>br</strong> />

se dominante farão eco com sua campanha<<strong>br</strong> />

de que a greve não serve para nada.Tem<<strong>br</strong> />

grande importância a reunião da Executi-<<strong>br</strong> />

va da CUT no dia 25, bem como a reunião<<strong>br</strong> />

das Centrais no próximo dia 8 de julho.<<strong>br</strong> />

Desde já é necessário discutir, em to-<<strong>br</strong> />

dos os sindicatos e na base, a importân-<<strong>br</strong> />

cia de se construir uma jornada de lutas<<strong>br</strong> />

zação interna, so<strong>br</strong>etudo em função da<<strong>br</strong> />

ameaça de desemprego, ao ficar só na<<strong>br</strong> />

agitação e não haver <strong>org</strong>anização, a gre-<<strong>br</strong> />

ve não ocorreu.<<strong>br</strong> />

A greve do dia 21 não só existiu, como<<strong>br</strong> />

foi um movimento positivo e importante,<<strong>br</strong> />

que fortalece toda a classe trabalhadora<<strong>br</strong> />

na sua resistência aos planos de FHC.<<strong>br</strong> />

Porém este fortalecnnento ainda é quan-<<strong>br</strong> />

titativo. Houve um acúmulo que cna mais<<strong>br</strong> />

e melhores condições para lutar.<<strong>br</strong> />

Apesar de muito importante como um<<strong>br</strong> />

ensaio e um primeiro passo, a greve do<<strong>br</strong> />

dia 21 ainda não possibilitou alterar a<<strong>br</strong> />

correlação de forças entre o movimento<<strong>br</strong> />

de massas e o govemo. Ainda não conse-<<strong>br</strong> />

guimos bater com a força suficiente, de<<strong>br</strong> />

modo a colocar FHC na defensiva.<<strong>br</strong> />

pela redução da jornada sem redução do<<strong>br</strong> />

salário, pela Reforma Agrária e punição<<strong>br</strong> />

dos assassinos dos sem-terras, por au-<<strong>br</strong> />

mento geral dos salários, em defesa da<<strong>br</strong> />

manutenção dos direitos dos trabalhado-<<strong>br</strong> />

res e contra as reformas de FHC.<<strong>br</strong> />

E preciso um cronograma de lutas que<<strong>br</strong> />

aponte para uma nova <strong>Greve</strong> <strong>Geral</strong>, para<<strong>br</strong> />

derrotar FHC e conquistar nossas reivin-<<strong>br</strong> />

dicações. Esse é o único caminho para<<strong>br</strong> />

encurralar o govemo e derrotar defmiti-<<strong>br</strong> />

vamaiteffiapiqptDneQLbeiaL D<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA EA ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 Trabalhadores<<strong>br</strong> />

PT Noticias - 24 a 30 de Junho/96 - N 0 4<<strong>br</strong> />

<strong>Greve</strong> <strong>Geral</strong>: amplo apoio<<strong>br</strong> />

"É apenas o início de uma grande jornada de luta contra as políticas do governo FHC"<<strong>br</strong> />

A tranqüilidade foi uma das principais<<strong>br</strong> />

marcas da greve gerai da 6 : ' feira passa-<<strong>br</strong> />

da, que teve manifestações nas principais<<strong>br</strong> />

cidades do Pais, com atos públicos, pas-<<strong>br</strong> />

seatas, caminhadas e alguns bloqueios de<<strong>br</strong> />

estradas por trabalhadores sem terra e<<strong>br</strong> />

pequenos produtores rurais.<<strong>br</strong> />

Para o presidaite do PT, José Dirceu,<<strong>br</strong> />

esta greve - convocada pelas três principais<<strong>br</strong> />

caitrais sindicais do País (CUT, CGT-Con-<<strong>br</strong> />

federação. Força Sindical) e o Fomm das<<strong>br</strong> />

Oposições - "é apaias o início de uma gran-<<strong>br</strong> />

de jornada de luta contra as políticas do<<strong>br</strong> />

governo FHC, e foi amplamente vitori-<<strong>br</strong> />

osa, pelo inequívoco apoio da opinião<<strong>br</strong> />

pública".<<strong>br</strong> />

Para José Dirceu, esta greve geral<<strong>br</strong> />

apresaitou uma característica medita no<<strong>br</strong> />

País, "a clara solidanedade ao desempre-<<strong>br</strong> />

gado, ao sem-terra e ao aposentado, de-<<strong>br</strong> />

monstrando a insatisfação da sociedade<<strong>br</strong> />

com o governo. Foi uma greve política,<<strong>br</strong> />

que teve a participação dos mais varia-<<strong>br</strong> />

dos setores dos trabalhadores e, de for-<<strong>br</strong> />

ma muito significativa, de um expressi-<<strong>br</strong> />

vo número de pequenos empresários,<<strong>br</strong> />

principalmente comerciantes".<<strong>br</strong> />

Ainda para o presidaite do PT, a gre-<<strong>br</strong> />

Sindiluta - 24 a 28 de Junho/96 - N 0 62<<strong>br</strong> />

<strong>Greve</strong> <strong>Geral</strong>: um alerta frente<<strong>br</strong> />

Trânsito tranqüilo nas ruas, pou-<<strong>br</strong> />

co movimento nas lojas e altos índi-<<strong>br</strong> />

ces de ausências nas empresas com-<<strong>br</strong> />

provam que o Brasil parou, pelo me-<<strong>br</strong> />

nos parcialmente.<<strong>br</strong> />

Primeira mobilização nacional articu-<<strong>br</strong> />

lada deforma conjunta entre as três princi-<<strong>br</strong> />

pais Caitrais sindicais do pais (CUT, CGT<<strong>br</strong> />

e Força Sindical), a greve geral do dia 2 1<<strong>br</strong> />

de junho aitra para a história do movimai-<<strong>br</strong> />

to sindical <strong>br</strong>asileiro. Indepaidaite da po-<<strong>br</strong> />

lêmica estabelecida so<strong>br</strong>e o alcance da gre-<<strong>br</strong> />

ve, o fato é que, a partir desta data, toda a<<strong>br</strong> />

sociedade está atenta para questões como<<strong>br</strong> />

desemprego, baixos salános e necessidade<<strong>br</strong> />

da refomia agrária e redução da jornada<<strong>br</strong> />

de trabalho como medidas capazes de ge-<<strong>br</strong> />

rar novos empregos.<<strong>br</strong> />

Para Fernando Henrique "não é com<<strong>br</strong> />

greves que vamos resolver o problema do<<strong>br</strong> />

desemprego". Mas a pergunta é, o que vem<<strong>br</strong> />

fazendo o Presidente para gerar novos<<strong>br</strong> />

postos de trabalho 9 Aliás, essa era mais<<strong>br</strong> />

uma das suas promessas de campanha; e,<<strong>br</strong> />

até o momento, a única proposta do go-<<strong>br</strong> />

verno é uma permissão aos empresários<<strong>br</strong> />

para contratarem mão-de-o<strong>br</strong>a em cará-<<strong>br</strong> />

ter temporário por até dois anos que, na<<strong>br</strong> />

prática, significa a tentativa de eliminar<<strong>br</strong> />

conquistas sociais dos trabalhadores como<<strong>br</strong> />

direito de férias, 13 o salário e outros<<strong>br</strong> />

Se os meios de comunicação informam<<strong>br</strong> />

que o dia da greve parecia um feriado e os<<strong>br</strong> />

^as questões sociais<<strong>br</strong> />

empresários divulgam que houve signi-<<strong>br</strong> />

ficativos índices de ausências nas em-<<strong>br</strong> />

presas, é uma contradição afirmar que<<strong>br</strong> />

a paralisação foi um fracasso. Mas o<<strong>br</strong> />

que conta, nesse caso, é o jogo de inte-<<strong>br</strong> />

resses colocados numa movimentação<<strong>br</strong> />

dessa natureza Por que os meios de co-<<strong>br</strong> />

municação e os empresários falariam<<strong>br</strong> />

que o movimento atingiu seus objetivos 9<<strong>br</strong> />

Solidariedade Internacional<<strong>br</strong> />

A greve geral também contou com o<<strong>br</strong> />

apoio de entidades sindicais, nos Esta-<<strong>br</strong> />

dos Unidos. No mesmo dia, em frente<<strong>br</strong> />

aos consulados <strong>br</strong>asileiros, em cidades<<strong>br</strong> />

como Miami, Nova York, Boston, São<<strong>br</strong> />

Francisco e Los Angeles, a central sin-<<strong>br</strong> />

dical AFL-CIO realizou manifestações<<strong>br</strong> />

em solidariedade aos trabalhadores <strong>br</strong>a-<<strong>br</strong> />

sileiros e suas reivindicações. E a pri-<<strong>br</strong> />

meira vez que a central norte-america-<<strong>br</strong> />

na solidariza-se com um movimento in-<<strong>br</strong> />

ternacional dessa natureza.<<strong>br</strong> />

Também no Canadá, em Montreal,<<strong>br</strong> />

Ottawa, Toronto e Vancouver houve<<strong>br</strong> />

manifestações de solidariedade á greve<<strong>br</strong> />

geral realizada no Brasil, dia 21 de ju-<<strong>br</strong> />

nho último. Jerome Levingson, advoga-<<strong>br</strong> />

do e conselheiro da AFL-CIO, afirmou<<strong>br</strong> />

que o apoio á manifestação dos <strong>br</strong>asi-<<strong>br</strong> />

leiros deve-se "á necessidade de serem<<strong>br</strong> />

<strong>org</strong>anizadas ações internacionais para<<strong>br</strong> />

lutar contra um modelo econômico que<<strong>br</strong> />

ve, além do protesto, teve uma caracte-<<strong>br</strong> />

rística propositiva, ligando-se aos pro|e-<<strong>br</strong> />

tos em favor da reforma agrária em<<strong>br</strong> />

tramitação no Congresso Nacional, à pro-<<strong>br</strong> />

posta de Lei do Emprego apresentada<<strong>br</strong> />

pelo Partido, as pautas de geração de<<strong>br</strong> />

emprego e renda e de redistntuição de<<strong>br</strong> />

renda, além da "reforma democrática da<<strong>br</strong> />

Previdência".<<strong>br</strong> />

O movimento contou a adesão de mais<<strong>br</strong> />

de 5 milhões de trabalhadores no campo<<strong>br</strong> />

cutista, além dos sindicatos ligados a<<strong>br</strong> />

Confederação <strong>Geral</strong> dos Trabalhadores<<strong>br</strong> />

e á Força Sindical. "1<<strong>br</strong> />

afeta os trabalhadores" Perguntado so-<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>e por que o apoio aos <strong>br</strong>asileiros e não<<strong>br</strong> />

aos mexicanos ou argentinos, Jerome<<strong>br</strong> />

Levingson afirmou que é "porque o Bra-<<strong>br</strong> />

sil tem um movimento sindical forte e<<strong>br</strong> />

atuante" "1<<strong>br</strong> />

A VENDA<<strong>br</strong> />

NO<<strong>br</strong> />

CPV<<strong>br</strong> />

R$ 18,00<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA EA ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 8 Trabalhadores<<strong>br</strong> />

FECESP-Maio/96-N 0 92<<strong>br</strong> />

Patrões falham, empregados assu-<<strong>br</strong> />

mem. Viram donos das dívidas e das<<strong>br</strong> />

incertezas. Vale tudo para driblar o<<strong>br</strong> />

desemprego<<strong>br</strong> />

Uma nova realidade está chegando às<<strong>br</strong> />

mesas dos sindicatos de trabalhadores do<<strong>br</strong> />

Pais. Na era da flexibilização e da que-<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>a de regras, e por melhores condições<<strong>br</strong> />

de trabalho têm agora uma nova catego-<<strong>br</strong> />

ria sob sua égide; os empregados que se<<strong>br</strong> />

tomaram também patrões.<<strong>br</strong> />

"O sistema econômico mundial mudou<<strong>br</strong> />

radicalmente nos últimos cinco anos.<<strong>br</strong> />

Globalização, abertura de mercado, novas<<strong>br</strong> />

tecnologias, tudo isso abalou muito o em-<<strong>br</strong> />

prego Antes o desemprego era sazonal, hoje<<strong>br</strong> />

é estartural. Era preciso criar alternativas",<<strong>br</strong> />

diz Aparecido Fana, economista que atua-<<strong>br</strong> />

va no Dieese e hoje é diretor técnico da<<strong>br</strong> />

Associação Nacional dos Trabalhadores em<<strong>br</strong> />

Empresas de Autogestão e Participação<<strong>br</strong> />

Acionária (Anteag).<<strong>br</strong> />

A Anteag foi oficialmente fundada em<<strong>br</strong> />

93 com incumbências como coordenação<<strong>br</strong> />

técnica dos processos de autogestão, con-<<strong>br</strong> />

tatos e negociações com sindicatos de tra-<<strong>br</strong> />

balhadores, estudos de viabilidade e ori-<<strong>br</strong> />

entação aos trabalhadores. Sempre que é<<strong>br</strong> />

procurada para analisar uma possibili-<<strong>br</strong> />

dade de autogestão ou de co-gestão, a<<strong>br</strong> />

entidade vai à empresa, conversa com os<<strong>br</strong> />

empregados para saber se a decisão é da<<strong>br</strong> />

maioria, estuda os livros para fazer a<<strong>br</strong> />

análise de viabilidade técnica e contata o<<strong>br</strong> />

sindicato da categoria para expor a situ-<<strong>br</strong> />

ação e buscar seu apoio "Se os traba-<<strong>br</strong> />

lhadores não concordarem, não há pro-<<strong>br</strong> />

jeto", diz Faria.<<strong>br</strong> />

A primeira experiência aconteceu com<<strong>br</strong> />

a Makerli, indústria calçadista de Franca/<<strong>br</strong> />

SP, em Ql Para não ser fechada, a fábn-<<strong>br</strong> />

ca foi assumida por seus trabalhadores.<<strong>br</strong> />

Em um ano, ela aumentou seus quadros<<strong>br</strong> />

de 150 para 350 contratados. A Coberto-<<strong>br</strong> />

res Parahyba, de São José dos Campos/<<strong>br</strong> />

SP, também está vivenciando o novo con-<<strong>br</strong> />

ceito. Empresa do falecido senador Seve-<<strong>br</strong> />

ro Gomes (PMDB/SP), ela ficou sem<<strong>br</strong> />

rumo após sua morte (em c )4) e acabou<<strong>br</strong> />

saído assumida por seus próprios traba-<<strong>br</strong> />

lhadores. Quando passaram a controlar as<<strong>br</strong> />

contas da empresa, uma surpresa: há 10<<strong>br</strong> />

anos não era recolhido oFundo de Ga-<<strong>br</strong> />

rantia do Tempo de Serviço (FGTS).<<strong>br</strong> />

Do outro Lado da Mesa<<strong>br</strong> />

Tais Fuocii<<strong>br</strong> />

Hoje são cerca de 33 as empresas que<<strong>br</strong> />

implantaram ou estão em estágio de im-<<strong>br</strong> />

plantação desses processos. A iniciativa<<strong>br</strong> />

envolve cerca de 5800 trabalhadores em<<strong>br</strong> />

todo o Brasil. Só no mês de a<strong>br</strong>il foram<<strong>br</strong> />

mais de 4 projetos abertos pela Anteag.<<strong>br</strong> />

"Muitos empregados se mostram assus-<<strong>br</strong> />

tados por não ter quem lhes diga o que<<strong>br</strong> />

fazer e por não saber se seu salário será<<strong>br</strong> />

pago em dia", diz Faria. Por isso, tam-<<strong>br</strong> />

bém faz parte das atividades da Anteag<<strong>br</strong> />

reeducar o trabalhador para que assimile<<strong>br</strong> />

essa nova realidade e se engaje mais no<<strong>br</strong> />

universo profissional em que vive.<<strong>br</strong> />

O Banco Nacional de Desenvolvimai-<<strong>br</strong> />

to Econômico e Social (BNDES) já se<<strong>br</strong> />

solidarizou com essa nova realidade. Fi-<<strong>br</strong> />

nanciou cinco projetos em que as empre-<<strong>br</strong> />

sas precisavam de capital para se<<strong>br</strong> />

reerguer. Destinou, inclusive, um diretor<<strong>br</strong> />

para cuidar exclusivamente dos proces-<<strong>br</strong> />

sos de financiamento á autogestão.<<strong>br</strong> />

Surpresa<<strong>br</strong> />

A indústria de móveis de cozinha Sakai,<<strong>br</strong> />

de Ferraz de Vasconcelos/SP, vinha apre-<<strong>br</strong> />

sentando uma situação aparaitemaite nor-<<strong>br</strong> />

mal até dezem<strong>br</strong>o de 94. Em janeiro de 95,<<strong>br</strong> />

no aitanto, seus empregados foram suipre-<<strong>br</strong> />

aididos com dificuldades no fomecimaito<<strong>br</strong> />

de maténa-pnma e atrasos no pagamaito<<strong>br</strong> />

dos salários. A empresa ficou parada nos<<strong>br</strong> />

meses de fevereiro, março e a<strong>br</strong>il.<<strong>br</strong> />

" Percebemos que não havena outro ca-<<strong>br</strong> />

minho saião fechar as portas Para garan-<<strong>br</strong> />

tir nossos direitos trabalhistas e colocar a<<strong>br</strong> />

fábnca novamaite em operação, nos dis-<<strong>br</strong> />

pusemos a assumir a empresa. A idéia não<<strong>br</strong> />

foi aceita de imediato pelos propnetános.<<strong>br</strong> />

Eles ainda taitaram buscar recursos nos<<strong>br</strong> />

bancos, ou fazer com que outros empresá-<<strong>br</strong> />

rios assumissem a empresa. Mas nada con-<<strong>br</strong> />

seguiram", diz Valdirde Paula Silvara, hoje<<strong>br</strong> />

presidente da Cooperativa dos Trabalha-<<strong>br</strong> />

dores da Sakai.<<strong>br</strong> />

Através de um acordo entre o sindi-<<strong>br</strong> />

cato e os trabalhadores da empresa, to-<<strong>br</strong> />

dos foram demitidos. A divida trabalhis-<<strong>br</strong> />

ta foi assumida pelo Cooperativa. Assim,<<strong>br</strong> />

conseguiram sacar o FGTS, que foi co-<<strong>br</strong> />

locado á disposição para a aquisição de<<strong>br</strong> />

matéria-prima. Em a<strong>br</strong>il, esse valor re-<<strong>br</strong> />

presentou R$ 43 mil.<<strong>br</strong> />

"Agora mantemos diariamente unia<<strong>br</strong> />

carteira de pedidos nunca inferior a R$<<strong>br</strong> />

100 mil. Nosso faturamento/mês já atin-<<strong>br</strong> />

giu R$ 350 mil. Não crescemos mais ra-<<strong>br</strong> />

pidamente por falta de capital de giro",<<strong>br</strong> />

diz Silveira. Os 100 empregados que tra-<<strong>br</strong> />

balham na Cooperativa são associados.<<strong>br</strong> />

Os salários variam de R$ 340,00 a R$<<strong>br</strong> />

2.040,00 (o maior nunca é superior a seis<<strong>br</strong> />

vezes o menor). "Todos têm um bom re-<<strong>br</strong> />

lacionamento e consciência de que, ape-<<strong>br</strong> />

sar das dificuldades, a luta está valendo<<strong>br</strong> />

a pena", segundo o presidente<<strong>br</strong> />

Co-(i estão<<strong>br</strong> />

A forjaria Conforja, de Diadema/SP,<<strong>br</strong> />

estava em dificuldades financeiras desde<<strong>br</strong> />

94, quando pediu concordata e passou a<<strong>br</strong> />

atrasar os salários de seus trabalhadores.<<strong>br</strong> />

Como tinham muita desconfiança em re-<<strong>br</strong> />

lação á situação real em que se encontra-<<strong>br</strong> />

va a empresa, os empregados resolveram<<strong>br</strong> />

assumir a crise juntamente com os direto-<<strong>br</strong> />

res. Chamaram a Anteag e iniciaram um<<strong>br</strong> />

processo de co-gestão em setem<strong>br</strong>o de 95.<<strong>br</strong> />

Foi formada uma Associação com 21<<strong>br</strong> />

representantes dos trabalhadores e estes,<<strong>br</strong> />

junto aos 3 mem<strong>br</strong>os da comissão de fá-<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>ica e o sindicato dos metalúrgicos da<<strong>br</strong> />

região do ABC, decidem os rumos da<<strong>br</strong> />

empresa junto aos diretores. Para ter po-<<strong>br</strong> />

der de decisão. Associação recebeu 25%<<strong>br</strong> />

das ações da empresa na forma de doa-<<strong>br</strong> />

ção de seus diretores<<strong>br</strong> />

O maçanqueiro Sérgio Munloda Glo-<<strong>br</strong> />

ria não conhecia nada do trabalho admi-<<strong>br</strong> />

nistrativo, mas foi escolhido para presidir<<strong>br</strong> />

a Associação e hoje já está mais familia-<<strong>br</strong> />

rizado com o assunto "Passamos a fisca-<<strong>br</strong> />

lizar as contas da empresa e a saber que<<strong>br</strong> />

a situação era realmaite difícil", diz ele<<strong>br</strong> />

Para driblar as dificuldades do fim do<<strong>br</strong> />

processo concordatáno, os empregados<<strong>br</strong> />

decidiram reduzir a jornada de trabalho<<strong>br</strong> />

de 5 para 4 dias por semana "Agora os<<strong>br</strong> />

trabalhadores estão mais conscientes de<<strong>br</strong> />

que as dificuldades existem e de que pre-<<strong>br</strong> />

cisam se empenhai, afinal são donos de<<strong>br</strong> />

25% de tudo isto", afirma Murilo<<strong>br</strong> />

Todos Demitidos<<strong>br</strong> />

Em 93, os funcionários da indústria<<strong>br</strong> />

plástica Brakofix, de São Bernardo do<<strong>br</strong> />

Campo/SP, foram noticiados de que a<<strong>br</strong> />

empresa seria transferida para Sumaré,<<strong>br</strong> />

interior de São Paulo, e os empregados,<<strong>br</strong> />

demitidos. A alegação era de que, em<<strong>br</strong> />

Sumaré, a empresa tinha uma sede pio-<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA E A ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 Trabalhadores<<strong>br</strong> />

pria e não precisaria pagar aluguel como<<strong>br</strong> />

fazia. Do total de 450 empregados, um<<strong>br</strong> />

grupo de menos de 10% resolveu arris-<<strong>br</strong> />

car e seguir a proposta da Anteag para<<strong>br</strong> />

que fundassem sua própria empresa. Vi-<<strong>br</strong> />

sitaram a Makerli para entender como<<strong>br</strong> />

funcionava o processo de autogestão e<<strong>br</strong> />

se inteiraram do assunto. Nasceu a Skill<<strong>br</strong> />

Coplast.<<strong>br</strong> />

"Fizemos um estudo so<strong>br</strong>e tudo o que<<strong>br</strong> />

iríamos precisar, equipamentos, móveis<<strong>br</strong> />

de escritório, toda a infra-estrutura e, a<<strong>br</strong> />

partir dai, entramos com um pedido de<<strong>br</strong> />

financiamento junto a BNDES. Estáva-<<strong>br</strong> />

mos totalmente a zero", diz Manoel Alves<<strong>br</strong> />

da Paz, um dos 44 que se arriscou a fi-<<strong>br</strong> />

car. Só possuíam a Brakofix como pri-<<strong>br</strong> />

meiro cliente, para a qual prestavam ser-<<strong>br</strong> />

viços manuais como acabamento e<<strong>br</strong> />

rebarbação de peças.<<strong>br</strong> />

"Quase todas as pessoas que aposta<<strong>br</strong> />

Inverta - 1 o a 15 de Julho/96 - N" 75<<strong>br</strong> />

ram na experiência vinham da linha de<<strong>br</strong> />

montagem e tiveram muito que aprender<<strong>br</strong> />

para poder administrar a empresa que es-<<strong>br</strong> />

tava sendo formada. Hoje é um verdadei-<<strong>br</strong> />

ro mutirão. Eu passo meia hora aqui, e<<strong>br</strong> />

volto para a fá<strong>br</strong>ica. Não há secretárias.<<strong>br</strong> />

Quando precisamos de um xerox ou de<<strong>br</strong> />

algum papel, nós mesmos providenciamos.<<strong>br</strong> />

Fazemos contato com clientes, fechamos<<strong>br</strong> />

contratos e vamos para as máquinas dar<<strong>br</strong> />

conta das encomendas", conta Paz.<<strong>br</strong> />

Em março de 95 receberam o valor<<strong>br</strong> />

de R$ 1,1 milhão do BNDES para serem<<strong>br</strong> />

pagos em 8 anos. Adquiriram máquinas<<strong>br</strong> />

usadas pela Tintas Coral e montam efe-<<strong>br</strong> />

tivamente a fá<strong>br</strong>ica. "Os primeiros me-<<strong>br</strong> />

ses foram muito difíceis. Mas a partir de<<strong>br</strong> />

fevereiro deste ano o mercado começou<<strong>br</strong> />

a reagir e estamos conseguindo ter cres-<<strong>br</strong> />

cimento, ainda que lento", diz o sócio.<<strong>br</strong> />

A situação econômica até que é boa<<strong>br</strong> />

em relação a outras empresas do porte.<<strong>br</strong> />

Em setem<strong>br</strong>o do ano passado tinham<<strong>br</strong> />

faturamento de R$ 40 mil, em outu<strong>br</strong>o<<strong>br</strong> />

já saltaram para R$ 80 mil e em março<<strong>br</strong> />

já eram R$ 84 mil. Em maio o<<strong>br</strong> />

faturamento está batendo na casa dos R$<<strong>br</strong> />

116 mil. "Nosso objetivo é chegar nos<<strong>br</strong> />

R$300 mil".<<strong>br</strong> />

Os dois anos que duraram o processo<<strong>br</strong> />

de implantação fez muitos dos fundado-<<strong>br</strong> />

res desistirem. Dos 44 iniciais, so<strong>br</strong>aram<<strong>br</strong> />

16. Com o reaquecimento, 24 novos tra-<<strong>br</strong> />

balhadores foram contratados pela CLT.<<strong>br</strong> />

Eles passarão a ser sócios depois de 2<<strong>br</strong> />

anos caso mostrem interesse e sejam acei-<<strong>br</strong> />

tos. Para todos os sócios, a regra é a<<strong>br</strong> />

mesma: se optarem por sair da Skill, não<<strong>br</strong> />

podem vender suas cotas para terceiros,<<strong>br</strong> />

só para o própria Associação. A inten-<<strong>br</strong> />

ção é que a empresa permaneça nas mãos<<strong>br</strong> />

dos empregados para sempre. D<<strong>br</strong> />

Desagravo às vítimas do latifúndio?<<strong>br</strong> />

Foi preciso que ocorresse, no bojo de<<strong>br</strong> />

mais uma repulsiva chacina de Sem-Ter-<<strong>br</strong> />

ra, um gaipo que integra o amplo seg-<<strong>br</strong> />

mento dos excluídos sociais deste pais,<<strong>br</strong> />

que já se impôs, no cenário internacio-<<strong>br</strong> />

nal, como o império da injustiça e das<<strong>br</strong> />

contradições, para que FHC viesse a sen-<<strong>br</strong> />

sibilizar-se, não sabemos ainda em que<<strong>br</strong> />

grau e com que conseqüências, com um<<strong>br</strong> />

problema de dimensão secular - a estru-<<strong>br</strong> />

tura fundiária colonial do país.<<strong>br</strong> />

Mas, de outro lado, não nos animam<<strong>br</strong> />

e muito nos convencem os propósitos,<<strong>br</strong> />

mesmo explícitos, de um governo que, na<<strong>br</strong> />

composição de seu suporte politico-par-<<strong>br</strong> />

tidário não demonstrou um mínimo de<<strong>br</strong> />

constrangimento de recorrer às forças do<<strong>br</strong> />

espectro conservador mais anacrônico da<<strong>br</strong> />

nação, aitre elas a bancada ruralista, uma<<strong>br</strong> />

poderosa corporação com cerca de cen-<<strong>br</strong> />

taia meia de parlamentares extremamen-<<strong>br</strong> />

te flexíveis na preservação, a qualquer<<strong>br</strong> />

preço, de seus intocáveis interesses.<<strong>br</strong> />

Não é igualmente passível de<<strong>br</strong> />

confiabilidade um governo que, na data<<strong>br</strong> />

consagrada aos trabalhadores, põe em<<strong>br</strong> />

execução medidas de radical caieldade, em<<strong>br</strong> />

detnmento das classes virtualmente anco-<<strong>br</strong> />

radas na indigâicia social quase absoluta<<strong>br</strong> />

e a elas, num ímpeto de sadismo, atribui,<<strong>br</strong> />

depois de um anos de arrocho, que ja-<<strong>br</strong> />

mais ocorreu com os preços, reajustes<<strong>br</strong> />

José de A<strong>br</strong>eu Ramos<<strong>br</strong> />

salariais e proventuais da ordem de <strong>12</strong>%<<strong>br</strong> />

e 15%, o que não deixa de configurar uma<<strong>br</strong> />

humilhação sem precedentes, possivel-<<strong>br</strong> />

mente uma das razões que teria motiva-<<strong>br</strong> />

do o sociólogo sensível e progressista,<<strong>br</strong> />

Herbert de Souza, o Betmho, a desligar-<<strong>br</strong> />

se formalmente, do cargo de conselheiro<<strong>br</strong> />

do Programa Comunidade Solidária, ca-<<strong>br</strong> />

pitaneado pela p rimei ra-dama.<<strong>br</strong> />

Nem assim o governo de FHC, adep-<<strong>br</strong> />

to fervoroso da globalização econômica,<<strong>br</strong> />

que catalisa desemprego e uma torrente<<strong>br</strong> />

de conseqüência nocivas já conhecidas,<<strong>br</strong> />

sinalizando, portanto, perspectivas caó-<<strong>br</strong> />

ticas e aviltantes, deixa o autoritário ti-<<strong>br</strong> />

tular do Planalto de insistir, com obses-<<strong>br</strong> />

são, no velhaco estereótipo segundo o<<strong>br</strong> />

qual, na sua gestão, teria ocorrido<<strong>br</strong> />

sigficativo aumento na distribuição de<<strong>br</strong> />

renda, ainda que em flagrante contradi-<<strong>br</strong> />

ção com a realidade, que reflete um trau-<<strong>br</strong> />

mático e explosivo aumento dos índices<<strong>br</strong> />

de desempregados e subempregados, fato<<strong>br</strong> />

irrefutável que as elites empresariais e a<<strong>br</strong> />

imprensa conservadora sequer imitam.<<strong>br</strong> />

Desenvolver no campo o seu potenci-<<strong>br</strong> />

al econômico, com prioridade social, e<<strong>br</strong> />

conseqüente geração de empregos, pres-<<strong>br</strong> />

supõe a deflagração de um processo de<<strong>br</strong> />

reforma agrária pleno, detenninado e sem<<strong>br</strong> />

engodo. Mas, em face da presença de in-<<strong>br</strong> />

teresses vitais das classes ultraconserva-<<strong>br</strong> />

doras, que constituem o cerne do gover-<<strong>br</strong> />

no, somos compelidos a encarar com re-<<strong>br</strong> />

servas a sua anunciada disposição de re-<<strong>br</strong> />

formar sem sofísmas, a estrutura fundiána<<strong>br</strong> />

do país, que pode, assim redundar num<<strong>br</strong> />

rotundo malogro, ou confinar-se a um<<strong>br</strong> />

mero e vazio discurso, convertendo-se,<<strong>br</strong> />

possivelmente em paliativo, ou em pro-<<strong>br</strong> />

jeto com resultado pífio ou "fajutinho".<<strong>br</strong> />

Não nos parece, também, ocioso lem-<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>ar que a neo-UDN, em síntese do<<strong>br</strong> />

PSDB, PFL, PPB, PMDB, PTB E PL,<<strong>br</strong> />

redutos de latifundiários emperdinados<<strong>br</strong> />

que estão atentos e vigilantes na condu-<<strong>br</strong> />

ção do processo que, na sua visão, não<<strong>br</strong> />

pode assumir a audácia de bulir nos seus<<strong>br</strong> />

bens rurais improdutivos, uma<<strong>br</strong> />

excrecência há muito sem sintonia com<<strong>br</strong> />

a realidade contemporânea e muito me-<<strong>br</strong> />

nos com a perspectivas de novo milênio<<strong>br</strong> />

queasavÉiiha. O<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA E A ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 10 Trabalhadores<<strong>br</strong> />

Radioativo - Maio/96 - N 0 4<<strong>br</strong> />

No Pará 19 trabalhadores sem terra<<strong>br</strong> />

são assassinados pela Policia Militar.<<strong>br</strong> />

Os profissionais que estavam fazendo<<strong>br</strong> />

a cobertura do massacre foram presos,<<strong>br</strong> />

ameaçados de morte e tiveram seus<<strong>br</strong> />

equipamentos apreendidos. Mas não<<strong>br</strong> />

conseguiram calar as imagens que en-<<strong>br</strong> />

vergonharam o Brasil.<<strong>br</strong> />

"Somos Todos Trabalhadores", foi o<<strong>br</strong> />

último grito dos "Sem-Terra" antes do<<strong>br</strong> />

massacre de Eldorado, Carajás-PA. Nas<<strong>br</strong> />

contas oficiais, foram 19 mortos, nas<<strong>br</strong> />

contas do MST, entre mortos e desapa-<<strong>br</strong> />

recidos o número chega a 60. Porque<<strong>br</strong> />

chegou-se a esse limite?<<strong>br</strong> />

Chacinas como a da Candelária,<<strong>br</strong> />

Corumbiara, Carandirú e o próprio<<strong>br</strong> />

Eldorado, são conseqüências de uma po-<<strong>br</strong> />

lítica, que visa única e exclusivamente,<<strong>br</strong> />

atender às necessidades das grandes cor-<<strong>br</strong> />

porações internacionais.<<strong>br</strong> />

E impossível, para o governo FHC,<<strong>br</strong> />

agradar a seus patrões internacionais e<<strong>br</strong> />

ter o seu governo melhorando as condi-<<strong>br</strong> />

ções de saúde, educação e trabalho. Fa-<<strong>br</strong> />

zer a Reforma Agrária então é o mesmo<<strong>br</strong> />

Sem Fronteiras - Junho/96 - N 0 241<<strong>br</strong> />

<strong>Governo</strong> <strong>investe</strong> em chacinas<<strong>br</strong> />

que matar a mãe (o que para alguns de-<<strong>br</strong> />

les não seria problema).<<strong>br</strong> />

Foram várias as Leis, aprovadas no<<strong>br</strong> />

Planalto, mas nenhuma posta em prática.<<strong>br</strong> />

Infelizmente para o Sem-Terra, a exem-<<strong>br</strong> />

plo dos Petroleiros, só restou uma saída,<<strong>br</strong> />

"tudo ou nada". Todos são chefes de fa-<<strong>br</strong> />

mília, mas acima de tudo trabalhadores<<strong>br</strong> />

lutando conscientes e <strong>org</strong>ulhosos de per-<<strong>br</strong> />

tencerem a uma classe que luta por um<<strong>br</strong> />

Brasil melhor para seus filhos e netos.<<strong>br</strong> />

Após anos, taitando de maneira pacífi-<<strong>br</strong> />

ca, o reconhecimento da necessidade da<<strong>br</strong> />

distribuição de terras devolutas e improdu-<<strong>br</strong> />

tivas, para a pequena produção. Várias fo-<<strong>br</strong> />

ram as negociações, por parte do governo,<<strong>br</strong> />

e sempre mentirosas. O limite chegou. E a<<strong>br</strong> />

única maneira de tomar pública a questão<<strong>br</strong> />

agrária no Brasil, foi a de sair do discurso<<strong>br</strong> />

para a prática, provando in locu, que os<<strong>br</strong> />

projetos dos trabalhadores são viáveis, po-<<strong>br</strong> />

dendo inclusive reverter o fluxo migrató-<<strong>br</strong> />

rio do campo para a cidade, minimizando<<strong>br</strong> />

assim, alguns dos problemas ditos "urba-<<strong>br</strong> />

nos", além de uma melhor distnbuição e<<strong>br</strong> />

produção de alimentos entre outros.<<strong>br</strong> />

Como o governo FHC, estas são<<strong>br</strong> />

questões pequenas, também é a sua<<strong>br</strong> />

visão social.<<strong>br</strong> />

Trabalhadores estão morrendo por<<strong>br</strong> />

acreditarem em um futuro melhor. Quem<<strong>br</strong> />

os mata é o governo para supnr as ne-<<strong>br</strong> />

cessidades IMEDIATAS de alguns em-<<strong>br</strong> />

presários inescrupulosos, que em conjun-<<strong>br</strong> />

to matam as crianças na Candelária e os<<strong>br</strong> />

Sem-Terra pelo Brasil. Lideranças sin-<<strong>br</strong> />

dicais airais, como Chico Mendes, são<<strong>br</strong> />

assassinadas em nome da modemidade e<<strong>br</strong> />

crescimento do país.<<strong>br</strong> />

Até quando, nós trabalhadores em Em-<<strong>br</strong> />

presa de Comunicação, iranos pennitir que<<strong>br</strong> />

essas discussões não cheguem ao público.<<strong>br</strong> />

Os meios de comunicação, se não todos, a<<strong>br</strong> />

grande maioria, estão comprometidos com<<strong>br</strong> />

a "ordem vigente". Nós, que somos traba-<<strong>br</strong> />

lhadores do meio de Comunicação, sabe-<<strong>br</strong> />

mos bem dessa tnste verdade. Somos nós<<strong>br</strong> />

que filmamos, editamos, as matérias que<<strong>br</strong> />

eles adulteram ou permitem que sejam<<strong>br</strong> />

transmitidas para o "povão".<<strong>br</strong> />

Até quando será preciso morrer traba-<<strong>br</strong> />

lhador para temios um país melhor? O<<strong>br</strong> />

Massacre de Sem-Terra<<strong>br</strong> />

O Posicionamento oficial da igreja católica no Brasil so<strong>br</strong>e o massacre de sem-<<strong>br</strong> />

terra em Eldorado dos Carajás, Estado do Pará, ocorrido no dia 17 de a<strong>br</strong>il.<<strong>br</strong> />

Dos bispos do Brasil<<strong>br</strong> />

A nação não tolera mais o<<strong>br</strong> />

adiamento da reforma agrária.<<strong>br</strong> />

"Este fato nos leva a repudiar nova-<<strong>br</strong> />

mente a violência e a arbitrariedade, ain-<<strong>br</strong> />

da mais quando vinda da parte daqueles<<strong>br</strong> />

que têm por o<strong>br</strong>igação proteger a vida e<<strong>br</strong> />

preservar a ordem social.<<strong>br</strong> />

Urgimos a imediata apuração dos fa-<<strong>br</strong> />

tos e a ngososa responsabilização dos<<strong>br</strong> />

culpados, para que a impunidade não<<strong>br</strong> />

continue provocando vítimas inocentes...<<strong>br</strong> />

Proclamamos mais uma vez nossa<<strong>br</strong> />

convicção de que a solução desses con-<<strong>br</strong> />

flitos só será encontrada por uma imedi-<<strong>br</strong> />

ata e eficaz reforma agrária, acompanha-<<strong>br</strong> />

da de adequada política agrícola, cujo adi-<<strong>br</strong> />

amento a nação não mais tolera".<<strong>br</strong> />

Da Comissão Pastoral da Terra<<strong>br</strong> />

<strong>Governo</strong>s estadual e federal<<strong>br</strong> />

são responsáveis.<<strong>br</strong> />

"A Comissão Pastoral da Terra (CPT)<<strong>br</strong> />

repudia e condaia mais esse massacre pra-<<strong>br</strong> />

ticado contra os trabalhadores rurais sem<<strong>br</strong> />

terra e responsabiliza diretamente o go-<<strong>br</strong> />

vernador Almir Ga<strong>br</strong>iel e o comando da<<strong>br</strong> />

Polícia Mlitar pelos crimes cometidos em<<strong>br</strong> />

Eldorado dos Carajás. Anteriomiaite, o<<strong>br</strong> />

governo do Pará já havia admitido não ter<<strong>br</strong> />

controle so<strong>br</strong>e a Polícia Militar, que na-<<strong>br</strong> />

quele Estado se constitui em um poder<<strong>br</strong> />

paralelo em concluio com os fazaideiros.<<strong>br</strong> />

A CPT entaide que o govemo federal<<strong>br</strong> />

também é responsável pelo massacre,<<strong>br</strong> />

porque criou expectativas não realizadas<<strong>br</strong> />

em relação à reforma agrária: reduziu<<strong>br</strong> />

drasticamente os recursos destinados ao<<strong>br</strong> />

assentamento dos sem-terra, mantém no<<strong>br</strong> />

ministério da Agricultura José Eduardo<<strong>br</strong> />

Vieira, que é radicalmente contra a re-<<strong>br</strong> />

forma agrária, e sucateou o Incra".<<strong>br</strong> />

Do bispo Luiz Demétrio<<strong>br</strong> />

Valentini<<strong>br</strong> />

Superar resistências contra<<strong>br</strong> />

a reforma agrária.<<strong>br</strong> />

"Por respeito aos mortos do Eldorado<<strong>br</strong> />

dos Carajás, vamos superar as resistên-<<strong>br</strong> />

cias contra a reforma agrária! Que se faça<<strong>br</strong> />

logo o assentamento de todos os acam-<<strong>br</strong> />

pados. Que se deixe de lado a violência.<<strong>br</strong> />

Que, neste país de tanta miséria, se en-<<strong>br</strong> />

vergonhem os que gozam de privilégios<<strong>br</strong> />

escandalosos. Que termine a impunida-<<strong>br</strong> />

de, que incentiva novos crimes.<<strong>br</strong> />

E que todos colaboremos para a cons-<<strong>br</strong> />

tmção de um Brasil justo e fraterno. Para<<strong>br</strong> />

que, de fato, a Justiça e a Paz se a<strong>br</strong>a-<<strong>br</strong> />

cem verdadeiramente". □<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA EA ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 11 Trabalhadores<<strong>br</strong> />

Opinião Socialista - de 31/05 a 11/06/96 - N 0 1<<strong>br</strong> />

"PMfaz serviço depistolagem no Pará"<<strong>br</strong> />

Opinião Socialista entrevistou José<<strong>br</strong> />

Galvão, líder de trabalhadores rurais,<<strong>br</strong> />

mem<strong>br</strong>o da direção nacional do PSTU e<<strong>br</strong> />

da CUT/Pará. Ele nos falou dos confli-<<strong>br</strong> />

tos pela terra no Pará, da <strong>br</strong>utalidade<<strong>br</strong> />

dos latifundiários, dos governos estadu-<<strong>br</strong> />

ais e da resistência dos trabalhadores.<<strong>br</strong> />

Opinião Socialista - Passados quase<<strong>br</strong> />

dois meses, o que se pode dizer so<strong>br</strong>e o<<strong>br</strong> />

massacre de Eldorado dos Carajás?<<strong>br</strong> />

Galvão - Primeiro, o massacre de<<strong>br</strong> />

Eldorado do Carajás não pode ser visto<<strong>br</strong> />

como um caso isolado. Em Paraopebas,<<strong>br</strong> />

no sul do Pará, há mais de dois anos um<<strong>br</strong> />

fazendeiro mandou matar os posseiros e<<strong>br</strong> />

os assassinos tomaram o sangue dos<<strong>br</strong> />

mortos. Na fazenda Jandaia, no munici-<<strong>br</strong> />

pio de Curionópolis, s fazendeiros mata-<<strong>br</strong> />

ram os trabalhadores e deram para os<<strong>br</strong> />

animais comerem. Há aproximadamente<<strong>br</strong> />

três anos, entre os municipios de Eldorado<<strong>br</strong> />

e Curionópolis, encontraram quatro sa-<<strong>br</strong> />

cos com corpos debaixo de uma ponte,<<strong>br</strong> />

estavam totalmente irreconheciveis. Du-<<strong>br</strong> />

rante o governo Hélio Gueiros, os garim-<<strong>br</strong> />

peiros que ocupavam uma ponte foram<<strong>br</strong> />

mortos lá mesmo.<<strong>br</strong> />

Opinião Socialista - E fora do Pará?<<strong>br</strong> />

Galvão - Brasil afora tem muito mais.<<strong>br</strong> />

Corumbiara, em Rondônia, é um exem-<<strong>br</strong> />

plo disto Além disso, temos as mortes<<strong>br</strong> />

de trabalhadores anônimos que não to-<<strong>br</strong> />

mamos conhecimento e, também, dos di-<<strong>br</strong> />

rigentes sindicais como os Canutos, João<<strong>br</strong> />

Batista, Paulo Ponteies, Arnaldo e Chico<<strong>br</strong> />

da Curva, ambos de Eldorado, com cer-<<strong>br</strong> />

teza podemos afirmar que o enfrentamen-<<strong>br</strong> />

to em Eldorado, assim como não foi o<<strong>br</strong> />

primeiro, não será o ultimo.<<strong>br</strong> />

Opinião Socialista - Normalmente,<<strong>br</strong> />

qual é a áíítude dos governos<<strong>br</strong> />

paranaenses?<<strong>br</strong> />

Galvão - São coniventes, quando não<<strong>br</strong> />

são um dos principais mandantes como<<strong>br</strong> />

foi agora no caso de Eldorado dos<<strong>br</strong> />

Carajás. O papel dos governos tem sido<<strong>br</strong> />

de proteger, favorecer e defender a pro-<<strong>br</strong> />

priedade privada e suas políticas, inclu-<<strong>br</strong> />

sive as crediticias.<<strong>br</strong> />

Não é por acaso que a Policia Militar<<strong>br</strong> />

sempre se confundiu com a pistolagem<<strong>br</strong> />

do Pará. Hoje assume o seu serviço, ou<<strong>br</strong> />

seja, o papel direto do extermínio da<<strong>br</strong> />

massa camponesa. Isso se dá por sua pró-<<strong>br</strong> />

pria condição social despreparada, mal<<strong>br</strong> />

remunerada e incitada a agir com violên-<<strong>br</strong> />

cia contra os trabalhadores.<<strong>br</strong> />

Opinião Socialista - De que formas<<strong>br</strong> />

os trabalhadores se defendem no Para?<<strong>br</strong> />

Galvão - Através dos grupos de pro-<<strong>br</strong> />

dução do campo que, na ampla maioria,<<strong>br</strong> />

se <strong>org</strong>anizam dentro dos sindicato de tra-<<strong>br</strong> />

balhadores rurais. Por outro lado, uma<<strong>br</strong> />

boa parcela do movimento, ao não ver<<strong>br</strong> />

alternativa nesses sindicatos que assu-<<strong>br</strong> />

mem uma postura policlassista, procu-<<strong>br</strong> />

ram se <strong>org</strong>anizar autonomamente via as-<<strong>br</strong> />

salariados, povos da floresta, os atingi-<<strong>br</strong> />

dos pelos projetos como os da barragem<<strong>br</strong> />

de Tucurui.<<strong>br</strong> />

E o caso também do MST, que é um<<strong>br</strong> />

movimento que ressurgiu na última dé-<<strong>br</strong> />

cada. Já tinha existido há algumas déca-<<strong>br</strong> />

das, mas com características diferentes<<strong>br</strong> />

do atual. Ele surge como alternativa aos<<strong>br</strong> />

atuais sindicatos rurais que não dão res-<<strong>br</strong> />

postas à luta pela terra.<<strong>br</strong> />

Opinião Socialista - Como tem atua-<<strong>br</strong> />

VIDEO A VENDA NO CPV<<strong>br</strong> />

"Cidadania: um voto pela esperança"<<strong>br</strong> />

do a Federação dos Trabalhadores na<<strong>br</strong> />

Agricultura?<<strong>br</strong> />

Galvão - A Fetagri foi uma conquis-<<strong>br</strong> />

ta, mas que, não trabalhando efetivamente<<strong>br</strong> />

a luta, não conseguiu se afirmar como<<strong>br</strong> />

grande instrumento neste sentido. Os gri-<<strong>br</strong> />

tos da terra, da Amazônia, foram uma<<strong>br</strong> />

grande conquista do movimento, não só<<strong>br</strong> />

dela, mas que a fortaleceram. A partir de<<strong>br</strong> />

93, a Fetagri começa a se adaptar à or-<<strong>br</strong> />

dem estabelecida através das questões<<strong>br</strong> />

crediticias, o que levou ao seu total rom-<<strong>br</strong> />

pimento com a política de enfrentamento<<strong>br</strong> />

inclusive da CUT.<<strong>br</strong> />

Opinião Socialista - Após Eldorado<<strong>br</strong> />

dos Carajás, o que poderá acontecer 9<<strong>br</strong> />

Galvão - Vão continuar ocorrendo<<strong>br</strong> />

confrontos e de forma mais dura. Pela pró-<<strong>br</strong> />

pna situação da classe trabalhadora, as<<strong>br</strong> />

novas tecnologias e a maquinaria, o que<<strong>br</strong> />

leva ao desemprego da cidade e faz com<<strong>br</strong> />

que os trabalhadores corram para o cam-<<strong>br</strong> />

po e lutem pela terra. Na luta contra as<<strong>br</strong> />

agroindústrias, muitas vezes os trabalha-<<strong>br</strong> />

dores têm que assumi-las quando estas<<strong>br</strong> />

que<strong>br</strong>am. Um exemplo disto foi a greve<<strong>br</strong> />

quetenrunamos de realizar durante 30 dias<<strong>br</strong> />

na fazenda e fábnca da Paracrévea Bor-<<strong>br</strong> />

racha, ligada à Goodyear, contra os cor-<<strong>br</strong> />

tes salariais e as demissões. Hoje a em-<<strong>br</strong> />

presa propõe entregar a fazenda ao lucra.<<strong>br</strong> />

A <strong>br</strong>iga pelo crédito também<<strong>br</strong> />

aprofunda os conflitos O governo dá di-<<strong>br</strong> />

nheiro aos banqueiros corruptos, libera<<strong>br</strong> />

a divida dos grandes propnetanos e aper-<<strong>br</strong> />

ta o pequeno produtor. Não se tem políti-<<strong>br</strong> />

ca de auxilio aos pequenos produtores, o<<strong>br</strong> />

que nos leva à miséria, intensificando os<<strong>br</strong> />

enfrentamentos. H<<strong>br</strong> />

Numa cidade do interior o povo se reúne para um comício. Um político tenta fazer o povo de palhaço com<<strong>br</strong> />

o seu interminável blá-blá-blá. Mas aí aparece um palhaço de verdade e dá uma lição de cidadania, mostrando<<strong>br</strong> />

que a verdadeira política se constrói com a participação de todos.<<strong>br</strong> />

Direção: 3. C. Sibila Barbosa<<strong>br</strong> />

Produção: Verbo Filmes - 1995<<strong>br</strong> />

Duração: 21 minutos<<strong>br</strong> />

Preço: 30,00<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA EA ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 <strong>12</strong> Trabalhadores<<strong>br</strong> />

Documento/SP - Junho/96<<strong>br</strong> />

"A Reforma Agrária Ontem e Hoje "<<strong>br</strong> />

"Existem cada vez menos razões téc-<<strong>br</strong> />

nicas que possam impedir que os po<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />

do campo tenham no aumento de suas<<strong>br</strong> />

capacidades produtivas o elemento cha-<<strong>br</strong> />

ve de sua emancipação social. " R.<<strong>br</strong> />

A<strong>br</strong>amovay e I. Sachs - FSP 19/05/96.<<strong>br</strong> />

O MST tem o mérito de haver<<strong>br</strong> />

recolocado o tema em debate nos últimos<<strong>br</strong> />

anos. E o sangue dos massacrados de<<strong>br</strong> />

Corumbiara e Carajás tomaram-no man-<<strong>br</strong> />

chete o<strong>br</strong>igatória da grande imprensa de<<strong>br</strong> />

alguns meses para cá.<<strong>br</strong> />

Impressionante, que a luta pela terra, di-<<strong>br</strong> />

ferentemente das demandas sociais urbanas,<<strong>br</strong> />

sanpre soa tingida pelo sangue dos campo-<<strong>br</strong> />

neses. Porque? De um lado, paiso eu, pda<<strong>br</strong> />

violência decorrente do predomínio do "ima-<<strong>br</strong> />

ginário do coronel", para usar uma expres-<<strong>br</strong> />

são do meu amigo e prof. João Gualberto,<<strong>br</strong> />

em seu livro "A Invenção do Coronel". De<<strong>br</strong> />

outro, a singularidade do dirato de proprie-<<strong>br</strong> />

dade so<strong>br</strong>e a terra faz com que essa questão<<strong>br</strong> />

seja tratada muito mais no terraio emocio-<<strong>br</strong> />

nal que no racional. Querelas de limites,<<strong>br</strong> />

mesmo entre pequaios propnetános, costu-<<strong>br</strong> />

mam trazer o nsco da morte.<<strong>br</strong> />

Com certa facilidade, conseguimos<<strong>br</strong> />

aceitar a idéia do direito de propriedade<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e uma casa, uma roupa ou um auto-<<strong>br</strong> />

móvel, por exemplo. Eles são produzi-<<strong>br</strong> />

dos e comprados pelos homens. Mas a<<strong>br</strong> />

terra não. Por volta do "big-bang" ou da<<strong>br</strong> />

criação do paraiso por Jeová, não havia<<strong>br</strong> />

nem homens nem cartórios. Nenhum de<<strong>br</strong> />

nós - proprietários de latifúndio, de um<<strong>br</strong> />

simples lote, ou que repousa nos "sete<<strong>br</strong> />

palmos" - nem de nossos antepassados,<<strong>br</strong> />

estava no Brasil antes de 1500...<<strong>br</strong> />

De onde veio então o direito de pro-<<strong>br</strong> />

pnedade so<strong>br</strong>e toda essa extensão do ter-<<strong>br</strong> />

ritório <strong>br</strong>asileiro? Na verdade, a proprie-<<strong>br</strong> />

dade so<strong>br</strong>e a ferra decorreu da prévia<<strong>br</strong> />

ocupação - seja ela pacifica ou violenta -<<strong>br</strong> />

das áreas disponiveis. Depois, foram fei-<<strong>br</strong> />

tas as leis, os cartórios e os jagunços...<<strong>br</strong> />

Vejam só, no Brasil, felizmente, as prai-<<strong>br</strong> />

as ainda são públicas. Mas alguns mais<<strong>br</strong> />

espertos começam cercá-las. Os prefei-<<strong>br</strong> />

tos do litoral, a pretexto de mantê-las lim-<<strong>br</strong> />

pas, ao invés de colocar tambores de lixo<<strong>br</strong> />

e distribuir sacos plásticos, procuram<<strong>br</strong> />

barrar o acesso do povão.<<strong>br</strong> />

Penso que, o direito de propriedade<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e a terra seja idêntico a um suposto<<strong>br</strong> />

José Aususío Azevedo<<strong>br</strong> />

direito de propriedade privada so<strong>br</strong>e o ar<<strong>br</strong> />

que respiramos ou so<strong>br</strong>e os oceanos, que<<strong>br</strong> />

existem, apaias em função das dificulda-<<strong>br</strong> />

des de concretizar a posse. Não fosse isso...<<strong>br</strong> />

Exatamente pelo fato de não "produ-<<strong>br</strong> />

zirmos" terra, da finitude incontomável<<strong>br</strong> />

de sua área, a simples existência da pro-<<strong>br</strong> />

priedade fundiária e, principalmente sua<<strong>br</strong> />

forma concentrada, provoca estrangula-<<strong>br</strong> />

mentos econômicos, sociais e políticos.<<strong>br</strong> />

Em nosso Pais a luta pela terra é muito<<strong>br</strong> />

antiga e violenta. Nas décadas de 50 e 60<<strong>br</strong> />

queríamos a reforma agrária para:<<strong>br</strong> />

1 - Eliminar os latifundiários en-<<strong>br</strong> />

quanto classe social<<strong>br</strong> />

Os latifundiários formam, aqui ou<<strong>br</strong> />

alhurem, a classe mais conservadora e<<strong>br</strong> />

reacionária da sociedade. Como regra,<<strong>br</strong> />

utilizam a propriedade rural para reser-<<strong>br</strong> />

va de valor. As chamadas sesmanas são<<strong>br</strong> />

formadas, ao longo do tempo, muitas<<strong>br</strong> />

vezes pela violência, pela expulsão ou<<strong>br</strong> />

eliminação física de posseiros e peque-<<strong>br</strong> />

nos proprietários. Quando produzem,<<strong>br</strong> />

quase sempre o fazem de forma predató-<<strong>br</strong> />

na e extensiva. Formam um sólido obs-<<strong>br</strong> />

táculo ao aumento da produção agrícola,<<strong>br</strong> />

especialmaite aquela voltada para o abas-<<strong>br</strong> />

tecimento do mercado interno. Parasitas<<strong>br</strong> />

da terra, são parasitas também da eco-<<strong>br</strong> />

nomia. A posse de vastas extensões lhes<<strong>br</strong> />

confere forte poder político, o que possi-<<strong>br</strong> />

bilita, entre outras coisas, tomam emprés-<<strong>br</strong> />

timos nos bancos oficiais a juros<<strong>br</strong> />

baixíssimos, e em alguns casos até ojuro<<strong>br</strong> />

zero, para realizar determinadas o<strong>br</strong>as<<strong>br</strong> />

que não fazem. Em seguida, aplicam o<<strong>br</strong> />

dinheiro em apartamentos no Leblon ou<<strong>br</strong> />

Guarujá e, ainda por cima, caloteiam o<<strong>br</strong> />

Banco do Brasil. A "barganha" recente<<strong>br</strong> />

de Fernando Hennque com os "analista",<<strong>br</strong> />

pela qual aquele Banco está impedido de<<strong>br</strong> />

co<strong>br</strong>ar os 5% de grandes proprietários<<strong>br</strong> />

caloteiros devedores de 3,3 bilhões de<<strong>br</strong> />

reais não é coisa nova. Desde 1940 escu-<<strong>br</strong> />

to clamores por "anistia para os<<strong>br</strong> />

pecuaristas". Diga-se de passagem que,<<strong>br</strong> />

tais anistias e maracutaias só beneficiam<<strong>br</strong> />

os grandes. Quando aos pequaios, estes<<strong>br</strong> />

já vaideram suas propriedades para pa-<<strong>br</strong> />

gar o Banco...<<strong>br</strong> />

Por outro lado, com a influência po-<<strong>br</strong> />

lítica adquinda nomeiam delegados de<<strong>br</strong> />

polícia e outros funcionários do apare-<<strong>br</strong> />

lho do estado, pressionam com êxito o<<strong>br</strong> />

judiciário na maioria das vezes, o que<<strong>br</strong> />

lhes facilita o exercício da violência<<strong>br</strong> />

(como Carajás acaba de comprovar mais<<strong>br</strong> />

uma vez), e ainda, a impunidade para<<strong>br</strong> />

seus crimes. Elegem parlamentares em<<strong>br</strong> />

todos os níveis, com número suficiente<<strong>br</strong> />

para obstaculizar o avanço do processo<<strong>br</strong> />

democrático e dos direitos sociais, e de-<<strong>br</strong> />

fender exitosamente todo tipo odioso de<<strong>br</strong> />

privilégio.<<strong>br</strong> />

Portanto, o objetivo primeiro da re-<<strong>br</strong> />

forma agrária é eliminar o latifundiário<<strong>br</strong> />

como classe. Imenso benefício para o<<strong>br</strong> />

campo e para a cidade. Penso que, por<<strong>br</strong> />

exemplo, teríamos no Congresso, bem<<strong>br</strong> />

maios dos 300 picaretas que Lula tão mo-<<strong>br</strong> />

destamente quantificou...<<strong>br</strong> />

2 - Outra meta da reforma agrária<<strong>br</strong> />

era introdução do capitalismo no campo<<strong>br</strong> />

Entendido como tal surgimento de<<strong>br</strong> />

empresas airais, o trabalho assalariado,<<strong>br</strong> />

a utilização de máquinas, tratores,<<strong>br</strong> />

colheitadeiras e adubos; tratos culturais<<strong>br</strong> />

batizados pela ciência epela técnica. Ou<<strong>br</strong> />

seja, a ida do capital para o campo, o<<strong>br</strong> />

surgimento da burguesia rural concorre-<<strong>br</strong> />

ria para eliminar as relações da produ-<<strong>br</strong> />

ção atrasadas. A idéia era dar acesso ao<<strong>br</strong> />

crédito fácil e barato para os médios e<<strong>br</strong> />

pequenos proprietários; aos métodos<<strong>br</strong> />

modemos de produção: a uma rede de<<strong>br</strong> />

armazéns e silos e/ou sistema cooperati-<<strong>br</strong> />

vo, e transporte, que reduzisse ao míni-<<strong>br</strong> />

mo as perdas de estocagem e movimen-<<strong>br</strong> />

tação, possibilitando comercializar a sa-<<strong>br</strong> />

fra fora do guante de financiadores e in-<<strong>br</strong> />

termediários. Através desse crédito os<<strong>br</strong> />

médios modemizariam seu modo de pro-<<strong>br</strong> />

dução. Quanto aos pequenos, além do<<strong>br</strong> />

crédito rural haveria o aluguel de<<strong>br</strong> />

implementos agrícolas do estado e aqui-<<strong>br</strong> />

sição de adubos a baixo custo nas anti-<<strong>br</strong> />

gas "Casa do Lavrador", para possibili-<<strong>br</strong> />

tar-lhes o acesso á modernização. A pro-<<strong>br</strong> />

dução de alimentos para o mercado in-<<strong>br</strong> />

terno então - característica da média e<<strong>br</strong> />

pequena propriedade - se elevaria e, o<<strong>br</strong> />

custo de vida ficaria cada vez menor.<<strong>br</strong> />

3 - A Democratização da propri-<<strong>br</strong> />

edade rural, provocaria substanci-<<strong>br</strong> />

al melhoria na distribuição de ren-<<strong>br</strong> />

da e enorme ampliação do merca-<<strong>br</strong> />

do interno.<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRÁTICA E A ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 13 Trabalhadores<<strong>br</strong> />

O parcelamento do latifúndio impro-<<strong>br</strong> />

dutivo em módulos de tamanho condici-<<strong>br</strong> />

onado pela correlação de forças políti-<<strong>br</strong> />

cas, tradição local e fertilidade do solo,<<strong>br</strong> />

provocana o surgimento de uma grande<<strong>br</strong> />

camada de médios e pequenos proprietá-<<strong>br</strong> />

rios com elevado poder aquisitivo que<<strong>br</strong> />

impulsionaria a produção industrial, o<<strong>br</strong> />

comércio e os serviços.<<strong>br</strong> />

Nossos companheiros mais românti-<<strong>br</strong> />

cos sonhavam com a consigna "a terra<<strong>br</strong> />

para quem a trabalha", pura e simples-<<strong>br</strong> />

mente. Os mais objetivos, pensavam tan-<<strong>br</strong> />

to nessa forma de propriedade puramen-<<strong>br</strong> />

te individual, como na propriedade cole-<<strong>br</strong> />

tiva, ambas, amparadas por forte rede de<<strong>br</strong> />

cooperativas de produção rural.<<strong>br</strong> />

Naquela época, 70% da população<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>asileira habitava o campo. Se pensar-<<strong>br</strong> />

mos que cada um dos milhões de campo-<<strong>br</strong> />

neses passasse a consumir 2 pares de sa-<<strong>br</strong> />

patos por ano, ao invés de 1 a cada 2<<strong>br</strong> />

anos, dá para imaginarmos a revolução<<strong>br</strong> />

que ocorrena na indústria de calçados.<<strong>br</strong> />

O mesmo valeria para a indústria têxtil,<<strong>br</strong> />

detratores, etc. <strong>Milhões</strong> de novos postos<<strong>br</strong> />

de trabalho senam abertos na cidade! Os<<strong>br</strong> />

salários subinam.<<strong>br</strong> />

Conseqüência: mais educação, mais<<strong>br</strong> />

saúde, menos prostituição, menos fome,<<strong>br</strong> />

menos miséria... Naquela época, violência<<strong>br</strong> />

urbana, drogas e presidiários estavam lon-<<strong>br</strong> />

ge de se constituir uma forte preocupação.<<strong>br</strong> />

Porém, sonhos e lutas a parte, des-<<strong>br</strong> />

de 1964 os militares buscaram levar o<<strong>br</strong> />

capitalismo ao campo. Mas descartaram<<strong>br</strong> />

a democratização da propriedade e opta-<<strong>br</strong> />

ram pela "via prussiana". Ou seja, pro-<<strong>br</strong> />

moveram a modernização da agro-pecu-<<strong>br</strong> />

ária através de créditos e facilidades para<<strong>br</strong> />

a grande empresa capitalista - com capi-<<strong>br</strong> />

tais de origem urbana ou mesmo rural -<<strong>br</strong> />

explorar extensas glebas, voltada,<<strong>br</strong> />

pnoritanamente, para exportação.<<strong>br</strong> />

Pan passou à modernização da pro-<<strong>br</strong> />

dução agropecuária, e por conseqüência<<strong>br</strong> />

dela, os parceiros, arrendatários,<<strong>br</strong> />

meieiros, e pequenos proprietários que<<strong>br</strong> />

ficaram à margem dos novos métodos,<<strong>br</strong> />

foram sendo expulsos para as periferias<<strong>br</strong> />

das grandes cidades, ou transformados<<strong>br</strong> />

em "boias-fnas". Sem democratizar a<<strong>br</strong> />

propriedade fundiária não houve lugar<<strong>br</strong> />

para eles. Assim como, não restou pos-<<strong>br</strong> />

sibilidades para permanência no campo,<<strong>br</strong> />

dos filhos dos médios e pequenos propri-<<strong>br</strong> />

etários, e dos minifundiários, que iam<<strong>br</strong> />

nascendo.<<strong>br</strong> />

Não se pode negar o considerável au-<<strong>br</strong> />

mento de produtividade ocorrido nos úl-<<strong>br</strong> />

timos 30 anos, que alcançou até certa<<strong>br</strong> />

parcela de médios e pequenos proprietá-<<strong>br</strong> />

rios rurais sob forma de migalhas do ban-<<strong>br</strong> />

quete. Todavia, a produção básica de ali-<<strong>br</strong> />

mentos para o mercado interno continuou<<strong>br</strong> />

nas mãos das propriedades médias e pe-<<strong>br</strong> />

quenas. As quais, sem acesso á rede de<<strong>br</strong> />

armazéns e silos e prisioneira de meios<<strong>br</strong> />

para aumentar a oferta e, so<strong>br</strong>etudo, ba-<<strong>br</strong> />

ratear os preços.<<strong>br</strong> />

Essa modernização prussiana não<<strong>br</strong> />

ampliou, significativamente, a pequena<<strong>br</strong> />

burguesia rural, com poder aquisitivo<<strong>br</strong> />

para revolucionar o mercado inteiro. Ao<<strong>br</strong> />

contrário provocou maior concentração<<strong>br</strong> />

de riqueza e propriedade. Nessas condi-<<strong>br</strong> />

ções, o aumento do potencial produtivo<<strong>br</strong> />

rural tomou-se inócuo para elevar a oferta<<strong>br</strong> />

de alimentos, na medida em que, sem<<strong>br</strong> />

melhoria na distribuição de renda a pro-<<strong>br</strong> />

cura cresceu apenas vegetativãmente.<<strong>br</strong> />

Assim, a modernização do campo pro-<<strong>br</strong> />

movida pela ditadura militar, embora te-<<strong>br</strong> />

nha elevado a produtividade, deixou de<<strong>br</strong> />

criar, ou até reduziu em número relativos<<strong>br</strong> />

o mercado consumidor, pelo aviltamento<<strong>br</strong> />

poder de compra dos trabalhadores ru-<<strong>br</strong> />

rais e urbanos.<<strong>br</strong> />

Ora, a partir dos anos 70 dois fenô-<<strong>br</strong> />

menos paralelos começaram a se fazer sen-<<strong>br</strong> />

tir mais fortemente no mundo. De um lado,<<strong>br</strong> />

eliminação progressiva de postos de tra-<<strong>br</strong> />

balho decorrente da revolução microele-<<strong>br</strong> />

trônica. De outro, ascenso do neo-libera-<<strong>br</strong> />

lismo e sua politica voltada resolutamai-<<strong>br</strong> />

te, para a estabilidade e moeda, para a<<strong>br</strong> />

recessão. Isto foi conseqüência do proces-<<strong>br</strong> />

so crescente de autonomia do capital fi-<<strong>br</strong> />

nanceiro especulativo, que a microele-<<strong>br</strong> />

trônica possibilita hoje deslocar-se em<<strong>br</strong> />

questão de segundos do México para<<strong>br</strong> />

Hong-Kong. Desestabilizando economias<<strong>br</strong> />

e totalmente fora do controle dos gover-<<strong>br</strong> />

nos nacionais. A este capital financeiro au-<<strong>br</strong> />

tônomo só interesse os juros, o câmbio<<strong>br</strong> />

e o preço das ações. Emprego, produção e<<strong>br</strong> />

desenvolvimento são metas que não con-<<strong>br</strong> />

sultam de perto seus interesses.<<strong>br</strong> />

E o processo de criação de riquezas,<<strong>br</strong> />

a produção de mercadorias, a causa da<<strong>br</strong> />

existência da mercadoria dinheiro. Mas,<<strong>br</strong> />

depois do fetiche da mercadona, o desen-<<strong>br</strong> />

volvimento do capitalismo produziu o<<strong>br</strong> />

fetiche do dinheiro: essa riqueza escriturai<<strong>br</strong> />

autônoma, descolada do processo produ-<<strong>br</strong> />

tivo e hoje, sem qualquer ligação com o<<strong>br</strong> />

padrão ouro. Apenas para ilustrar: aquele<<strong>br</strong> />

arremedo que, aqui no Brasil, convencio-<<strong>br</strong> />

nou-se chamar de "ciranda financeira",..<<strong>br</strong> />

A perversa união do êxodo maciço dos<<strong>br</strong> />

camponeses para a cidade, que aqui che-<<strong>br</strong> />

gavam às favelas, como que para junta-<<strong>br</strong> />

rem-se ao exército industrial de reser-<<strong>br</strong> />

va que, por sua vez, começava ultrapas-<<strong>br</strong> />

sar suas taxas históricas de existência,<<strong>br</strong> />

redundou - como não podena deixar de<<strong>br</strong> />

ser - num processo de violência urbana e<<strong>br</strong> />

miséria jamais conhecido antes em toda<<strong>br</strong> />

a nossa história!<<strong>br</strong> />

Aliás, segundo estatísticas recentes do<<strong>br</strong> />

EBGE, parte considerável dos desempre-<<strong>br</strong> />

gados - vítimas da política recessiva e da<<strong>br</strong> />

tal de "reengenharia"- estana retomando<<strong>br</strong> />

ás suas regiões de ongan e tomando mais<<strong>br</strong> />

dramática e explosiva a situação lá. Isto,<<strong>br</strong> />

também explicaria o incremento das ocu-<<strong>br</strong> />

pações de terras, e conseqüentemente, das<<strong>br</strong> />

chacinas...<<strong>br</strong> />

Hoje os dados demográficos se inver-<<strong>br</strong> />

teram. Mas, apesas de termos 70% da<<strong>br</strong> />

população na cidade, os problemas do<<strong>br</strong> />

campo não só permaneceram como até<<strong>br</strong> />

se agravaram.<<strong>br</strong> />

Segundo a revista "Repórter FecesP",<<strong>br</strong> />

da Federação dos Comerciános deste Es-<<strong>br</strong> />

tado, O Brasil "possue 580 milhões de<<strong>br</strong> />

hectares aproveitáveis... Explora-se so-<<strong>br</strong> />

mente 14% desse potencial agrícola.<<strong>br</strong> />

Aproximadamente 48 % dedica-se à cri-<<strong>br</strong> />

ação de gado. E o que surpreende: resta<<strong>br</strong> />

uma África do sul inteira como terra<<strong>br</strong> />

ociosa! Outro dado alarmante: 1% dos<<strong>br</strong> />

latifundiários detêm metade da terra<<strong>br</strong> />

cultivável do País e menos de 3% per-<<strong>br</strong> />

tence a 3,1 milhões de produtores ru-<<strong>br</strong> />

rais. Há 250 milhões de hectares de ter-<<strong>br</strong> />

ras devolutas" (grifo nosso). E, com tudo<<strong>br</strong> />

isso so<strong>br</strong>ando, 4,8 milhões de famílias<<strong>br</strong> />

sem terras.<<strong>br</strong> />

Daí acreditarmos que tenha aumenta-<<strong>br</strong> />

do, e muito, no seio da sociedade <strong>br</strong>asilá-<<strong>br</strong> />

ra, inclusive entre os políticos dos partidos<<strong>br</strong> />

da ordem (no dizer do velho Florestan) o<<strong>br</strong> />

aitendimento so<strong>br</strong>e a necessidade de uma<<strong>br</strong> />

solução imediata para a questão agrária,<<strong>br</strong> />

particularmente pela força da atividade do<<strong>br</strong> />

MST, da Pastoral da Terra, dos sindicatos<<strong>br</strong> />

de trabalhadores rurais, e dos mortos de<<strong>br</strong> />

Carajás... Todavia não podemos nos ilu-<<strong>br</strong> />

dir. Muita gente defaidendo medidas avan-<<strong>br</strong> />

çadas, como vimos no caso do boicote da<<strong>br</strong> />

bancada govermsta no Senado Federal ao<<strong>br</strong> />

projeto Hélio Bicudo, hipoteticamente de-<<strong>br</strong> />

fendido por Fernando Hainque.<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA E A ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 14 Trabalhadores<<strong>br</strong> />

As propostas estão fluindo. Renasceu<<strong>br</strong> />

a velha tese de forçar a redistribuição<<strong>br</strong> />

das terras através de imposto, idéia cara<<strong>br</strong> />

aos editorialista da "Folha de São Pau-<<strong>br</strong> />

lo", na qual segundo seus entusiastas,<<strong>br</strong> />

uma solução maios traumática e eficaz,<<strong>br</strong> />

muito mais, acho eu, por contornar a vi-<<strong>br</strong> />

olência direta contra a sagrado direito à<<strong>br</strong> />

propriedade privada, portanto, a desapro-<<strong>br</strong> />

priação de terras no campo poderia a<strong>br</strong>ir<<strong>br</strong> />

um sério precedente...<<strong>br</strong> />

Talvez num país territorialmente pe-<<strong>br</strong> />

queno, ou em outras condições sociais e<<strong>br</strong> />

políticas, o uso do imposto desse resul-<<strong>br</strong> />

tados. No Brasil, a existência do ITR por<<strong>br</strong> />

quase 30 anos provou o contrário.<<strong>br</strong> />

Com as dimensões continentais de<<strong>br</strong> />

nosso País a Receita Federal deveria pos-<<strong>br</strong> />

suir um quadro infinitamente maior de<<strong>br</strong> />

funcionários especializados, para ter con-<<strong>br</strong> />

dições de fiscalizar e co<strong>br</strong>ar com eficiên-<<strong>br</strong> />

cia 3.270.973 propriedades espelhadas<<strong>br</strong> />

em 8 milhões de Km2. Inexistindo tal<<strong>br</strong> />

aparato, a Lei facultou ao próprio lati-<<strong>br</strong> />

fundiário classificar perante o fisco sua<<strong>br</strong> />

terra como produtiva ou não, e em qual<<strong>br</strong> />

proporção... Por outro lado, toma-se in-<<strong>br</strong> />

gênuo acreditar que os diversos chefes<<strong>br</strong> />

da Receita, e particularmente seus supe-<<strong>br</strong> />

riores, sempre tiveram vontade ou con-<<strong>br</strong> />

dições políticas para atuar e autuar: Pois,<<strong>br</strong> />

saído o latifúndio um senhor todo pode-<<strong>br</strong> />

roso na região e fora dela, so<strong>br</strong>am-lhe<<strong>br</strong> />

condições para, num primeiro momento<<strong>br</strong> />

tentar subornar o funcionário público; em<<strong>br</strong> />

seguida, amedrontá-lo e escorraçá-lo; por<<strong>br</strong> />

último, falhando as duas primeiras ten-<<strong>br</strong> />

tativas, simplesmente matá-lo como vi-<<strong>br</strong> />

mos no conhecido "caso da mandioca".<<strong>br</strong> />

Nessas condições não é de surpreen-<<strong>br</strong> />

der que, a sonegação ultrapasse os 70%,<<strong>br</strong> />

sendo que em 1994 o imposto sequer foi<<strong>br</strong> />

co<strong>br</strong>ado. E justo hoje, acabo de ler no<<strong>br</strong> />

jomal que a co<strong>br</strong>ança do ITR deste ano<<strong>br</strong> />

foi suspensa cine die. Sendo que isto nun-<<strong>br</strong> />

ca ocorre com impostos urbanos, temos<<strong>br</strong> />

que éprivilégio demais... Não contentes<<strong>br</strong> />

com tudo isso, so<strong>br</strong>a-lhes ainda meio para<<strong>br</strong> />

fracionar no papel suas propriedades,<<strong>br</strong> />

criando inúmeras escrituras em nome de<<strong>br</strong> />

seus filhos, parentes e vassalos.<<strong>br</strong> />

Mesmo esse ITR simbólico já mostra<<strong>br</strong> />

uma dívida enorme. Um imposto pesado<<strong>br</strong> />

e progressivo, daria uma sonegação n<<strong>br</strong> />

vezes maior. Aí, que Poder Público iria<<strong>br</strong> />

executar as dívidas tributárias dos lati-<<strong>br</strong> />

fundiários? Aquele que, segundo a Mídia,<<strong>br</strong> />

teria seqüestrado Diolinda para trocar por<<strong>br</strong> />

Zé Rainha? Ou aquele que rapidamente<<strong>br</strong> />

con(»teliminares dedespejocontra sem-ter-<<strong>br</strong> />

ras, e por outro lado, não move uma palha<<strong>br</strong> />

para condenar seus assassinos? E isto, ape-<<strong>br</strong> />

sar de toda a grita nacional e internacional.<<strong>br</strong> />

A premência do assunto exige rapi-<<strong>br</strong> />

dez do Poder Público. Através das medi-<<strong>br</strong> />

das legais específicas, e sérias, seria pos-<<strong>br</strong> />

sível urgenciar o processo. Mas, o atual<<strong>br</strong> />

<strong>Governo</strong> com sua composição majorita-<<strong>br</strong> />

riamente conservadora, e esse Congres-<<strong>br</strong> />

so refém dos latifundiários, espontanea-<<strong>br</strong> />

mente não farão a reforma agrária. De<<strong>br</strong> />

um lado, será preciso que o Movimen-<<strong>br</strong> />

to Sindical Urbano entenda que, hoje,<<strong>br</strong> />

o principal passo para a redução do<<strong>br</strong> />

desemprego é a reforma agrária. Isto<<strong>br</strong> />

significa, colocar a questão na ordem do<<strong>br</strong> />

dia, mobilizando, <strong>org</strong>anizando e<<strong>br</strong> />

conscientizando os trabalhadores em cada<<strong>br</strong> />

fá<strong>br</strong>ica, bairro por bairro, em cada cida-<<strong>br</strong> />

de e estado para - nas ruas - pressionar o<<strong>br</strong> />

<strong>Governo</strong> e o Congresso pela reforma<<strong>br</strong> />

agrária já. A vida está cansada de nos<<strong>br</strong> />

mostrar que, sem as massas na rua, os<<strong>br</strong> />

problemas do povo nunca foram resolvi-<<strong>br</strong> />

dos, e Collor jamais seria cassado.<<strong>br</strong> />

Por outro lado, precisamos repensar<<strong>br</strong> />

o futuro da moradia do mundo. O<<strong>br</strong> />

"Habitat 11" em Istambul, indica que nes-<<strong>br</strong> />

sa matéria, a perspectiva única seriam as<<strong>br</strong> />

cidades. Não se trata de subestimar os<<strong>br</strong> />

graves problemas delas. Mas, passarmos<<strong>br</strong> />

a ter em conta que o retomo à vida no<<strong>br</strong> />

campo, por grandes parcelas da popula-<<strong>br</strong> />

ção, é uma das soluções mais importan-<<strong>br</strong> />

te, para alcançarmos condições mais sau-<<strong>br</strong> />

dáveis e confortáveis de existência.<<strong>br</strong> />

Não é preciso ser muito inteligoite para<<strong>br</strong> />

perceber que a concentração populacional<<strong>br</strong> />

vai tomando inviável a vida urbana. Gran-<<strong>br</strong> />

des concentrações - por parodoxal que seja<<strong>br</strong> />

- promove, junto com os efeitos da Mdia<<strong>br</strong> />

(lem<strong>br</strong>emo-nos da "Aldeia Global"), e da<<strong>br</strong> />

microeletrônica, progressivo isolamento<<strong>br</strong> />

do ser humano. Daí, a falta, cada vez<<strong>br</strong> />

maior, de participação política e social, e<<strong>br</strong> />

a extinção da vida comunitária; o ser hu-<<strong>br</strong> />

mano toma-se, progressivamente, um<<strong>br</strong> />

mero expectador dos acontecimento, pela<<strong>br</strong> />

tela de sua TV ou de seu Mero. Como<<strong>br</strong> />

conseqüência, temos a falta de compro-<<strong>br</strong> />

misso político, social e humano que traz<<strong>br</strong> />

tolerância como resposta única aos pro-<<strong>br</strong> />

blemas decorrente do convívio social.<<strong>br</strong> />

Digo, aqui, que a violência não tem raízes<<strong>br</strong> />

apenas na miséria.<<strong>br</strong> />

De outro lado, as crianças criadas em<<strong>br</strong> />

apartamento ignoram a natureza e são<<strong>br</strong> />

potencialmente agressivas. O "toque de<<strong>br</strong> />

recolher" imposto pela marginalidade na<<strong>br</strong> />

periferia, dificulta a vida comunitária e<<strong>br</strong> />

provoca igual agressividade em seus<<strong>br</strong> />

moradores.<<strong>br</strong> />

Paralelamente, a concentração urba-<<strong>br</strong> />

na cada vez maior, vai inviabilizando o<<strong>br</strong> />

abastecimento de água, infra-estrutura<<strong>br</strong> />

sanitária, e levando o caos ao trânsito e<<strong>br</strong> />

transporte urbanos O cidadão vê<<strong>br</strong> />

sacrificadas no deslocamento diário mais<<strong>br</strong> />

e mais horas de descanso, de renda que<<strong>br</strong> />

remanejam, constantemente, o local de<<strong>br</strong> />

moradia dos trabalhadores, colocam obs-<<strong>br</strong> />

táculos ao planejamento do transporte<<strong>br</strong> />

urbano. A poluição cresce e, com ela,<<strong>br</strong> />

descresce a saúde e sobem os gastos nes-<<strong>br</strong> />

se setor. Também a limpeza urbana tor-<<strong>br</strong> />

na-se mais cara e deficiente.<<strong>br</strong> />

É possível residir no campo. A refor-<<strong>br</strong> />

ma agrária seria um importante passo<<strong>br</strong> />

para estancar o exôdo rural e a<strong>br</strong>ir con-<<strong>br</strong> />

dições para o retomo ao campo (claro<<strong>br</strong> />

que não nos moldes sonhados por Pol<<strong>br</strong> />

Pot), à vida comunitária, ao contato di-<<strong>br</strong> />

reto com a natureza. Faria um bem imen-<<strong>br</strong> />

so a humanidade so<strong>br</strong>e todos os pontos<<strong>br</strong> />

de vista, tanto para camponeses quanto<<strong>br</strong> />

para os cidadãos urbanos, agora, bem em<<strong>br</strong> />

menor número.<<strong>br</strong> />

A CONTAG fundada por Líndolfo<<strong>br</strong> />

Silva e outros companheiro procurou cum-<<strong>br</strong> />

prir o seu papel mas foi massacrada pelo<<strong>br</strong> />

Golpe Mlitar de 64. O mesmo se deu com<<strong>br</strong> />

a Ligas Camponesas de Pemambuco, de<<strong>br</strong> />

Gregório e Julião; e de Sapê de Paraíba,<<strong>br</strong> />

do José Pedro Teixeira. Mas hoje, passa-<<strong>br</strong> />

da a borrasca, a CONTAG e grande parte<<strong>br</strong> />

dos sindicatos de trabalhadores rurais,<<strong>br</strong> />

voltaram à luta com todo o vigor, não se<<strong>br</strong> />

podendo ignorar, também o extraordiná-<<strong>br</strong> />

rio papel desempenhado pela Pastoral da<<strong>br</strong> />

Terra, especialmente nos marcos do regi-<<strong>br</strong> />

me ditatorial.<<strong>br</strong> />

M as o fenômeno MST, é digno de<<strong>br</strong> />

nota. Outro dia, um amigo perguntou-me<<strong>br</strong> />

que atribuía essa performance. Respon-<<strong>br</strong> />

di que, além do agravamento contínuo das<<strong>br</strong> />

condições de vida nos campos e nas ci-<<strong>br</strong> />

dades, entendia que a origem campone-<<strong>br</strong> />

sa, a firmeza de propósitos e a postura<<strong>br</strong> />

jacobína da maioria de seus dirigentes<<strong>br</strong> />

no campo da honestidade, e na prática de<<strong>br</strong> />

uma conduta espartana, dava-lhe auto-<<strong>br</strong> />

ridade suficiente para conquistar e diri-<<strong>br</strong> />

gir grandes massas camponesas. Impres-<<strong>br</strong> />

siona que, na contramão dos fortes ven-<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA EA ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 15 Trabalhadores<<strong>br</strong> />

tos neo liberais que estão soprando no<<strong>br</strong> />

mundo inteiro, vai, diutumamente, pon-<<strong>br</strong> />

do em prática o seu ocupar, resistir e<<strong>br</strong> />

produzir. E, inegavelmente, a grande<<strong>br</strong> />

pressão e exemplo que temos nos últimos<<strong>br</strong> />

anos pela reforma agrária. Primeiro, cri-<<strong>br</strong> />

ando uma situação de fato que o<strong>br</strong>iga o<<strong>br</strong> />

Poder Público a se mexer e a Mídia re-<<strong>br</strong> />

fletir. Depois, desmentindo na prática<<strong>br</strong> />

Jornal do Sem-Terra - Junho/96 - N 0 159<<strong>br</strong> />

aqueles que, fugindo ao problema, falam<<strong>br</strong> />

em escrever que basta dar terra aos cam-<<strong>br</strong> />

poneses: os assentados, <strong>org</strong>anizados tan-<<strong>br</strong> />

to sob forma de propriedade individual<<strong>br</strong> />

como coletiva, respaldados por uma im-<<strong>br</strong> />

portante rede de cooperativas<<strong>br</strong> />

(CONCRAB) produzem não só para o<<strong>br</strong> />

mercado interno como até já exportam;<<strong>br</strong> />

com acesso a cursos de formação técni-<<strong>br</strong> />

ca e associativa promovidos pelo MST<<strong>br</strong> />

só ou através de convênios; com traba-<<strong>br</strong> />

lho de educação infantil premiado pela<<strong>br</strong> />

UN1CEF, atuando em parceria com enti-<<strong>br</strong> />

dades governamentais e ONG'S, etc. Este<<strong>br</strong> />

é o efeito demonstração que vai minando<<strong>br</strong> />

as hostis inigimigas da reforma agrária,<<strong>br</strong> />

e ajudando despertar os "bóias fnas" para<<strong>br</strong> />

a conquista da terra. 1<<strong>br</strong> />

Bancada Ruralista: o latifúndio no Congresso<<strong>br</strong> />

Reflexo do arcaico sistema eleitoral<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>asileira, a chamada "bancada ruralista"<<strong>br</strong> />

é o maior entrave que a luta pela Reforma<<strong>br</strong> />

Agrária enfrenta no Congresso Nacional.<<strong>br</strong> />

As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oes-<<strong>br</strong> />

te têm uma representação numérica mai-<<strong>br</strong> />

or no Congresso, com muito mais parla-<<strong>br</strong> />

mentares por eleitores que nas regiões su-<<strong>br</strong> />

deste e sul. E lá prevalece há décadas a<<strong>br</strong> />

vontade dos setores mais atrasados do la-<<strong>br</strong> />

tifúndio <strong>br</strong>asileiro, que compõem a maio-<<strong>br</strong> />

ria de suas bancadas. Essa situação refle-<<strong>br</strong> />

te-se em leis que atrasam e dificultam a<<strong>br</strong> />

realização da Reforma Agrária.<<strong>br</strong> />

Segundo um levantamento feito pelo<<strong>br</strong> />

Inesc (Instituto de Estudos Sócio-Econô-<<strong>br</strong> />

micos), em termos regionais, o ruralistas<<strong>br</strong> />

estão numericamente mais presente na<<strong>br</strong> />

Região Nordeste com 35 analistas. As<<strong>br</strong> />

regiões Sudeste e Norte com 3 l e 24. O<<strong>br</strong> />

sul possui 20 e o Centro-Oeste, <strong>12</strong> depu-<<strong>br</strong> />

tados vinculados à Bancada Ruralista.<<strong>br</strong> />

O maior número de deputados<<strong>br</strong> />

ruralistas estão nos estados do Norte e<<strong>br</strong> />

Nordeste. Juntas perfazem um número<<strong>br</strong> />

extremamente sigiificativo: são 5Q depu-<<strong>br</strong> />

tados, representando 51% da Bancada<<strong>br</strong> />

Ruralista.<<strong>br</strong> />

Nominalmaite os ruralistas estão mais<<strong>br</strong> />

presentes na Região Nordeste (35). Em<<strong>br</strong> />

seguida, as regiões Sudeste e Norte con-<<strong>br</strong> />

tribuem com 3 1 e 24 deputados, respec-<<strong>br</strong> />

tivamente. O sul possui 17 e o Centro-<<strong>br</strong> />

Oeste tem <strong>12</strong> ruralistas em suas fileiras.<<strong>br</strong> />

Proporcionalmente é a região Centro-<<strong>br</strong> />

Oeste que possui mais ruralistas em sua<<strong>br</strong> />

bancada. Por terem um peso grande nas<<strong>br</strong> />

bancadas destes estados super-represen-<<strong>br</strong> />

tados, desde que foi implantada a "Nova<<strong>br</strong> />

República" no Brasil, os ruralistas têm<<strong>br</strong> />

conseguido fazer prevalecer seus interes-<<strong>br</strong> />

ses nas leis promulgadas pelo Congresso<<strong>br</strong> />

Nacional.<<strong>br</strong> />

Na época da elaboração da Consti-<<strong>br</strong> />

tuição de 1988, este grupo conseguiu se<<strong>br</strong> />

articularno "Caitrão" e deixar nossa Carta<<strong>br</strong> />

Magna mais atrasada em tennos de Re-<<strong>br</strong> />

forma Agrária do que o Estatuto da Terra<<strong>br</strong> />

do governo Militar. Depois, já no governo<<strong>br</strong> />

Collor, tinha como representante máximo<<strong>br</strong> />

Ronaldo Caiado, presidente da extinta<<strong>br</strong> />

UDR, aitidade responsável pelo recrudes-<<strong>br</strong> />

cimaito cnminoso da violàicia no cam-<<strong>br</strong> />

po, no final da década de 80.<<strong>br</strong> />

Felizmente, as eleições vieram e o voto<<strong>br</strong> />

da população refletiu seu rechaço á pos-<<strong>br</strong> />

tura truculaita de muitos destes fazendei-<<strong>br</strong> />

ros. Mas, como lem<strong>br</strong>a Edelcio de Olivei-<<strong>br</strong> />

ra, assessor do Inesc (Instituto de Estudos<<strong>br</strong> />

Sócio-Econômicos), como Fernando<<strong>br</strong> />

Hairique Cardoso se aliou ao PFL para<<strong>br</strong> />

vaicer as eleições e implantar o projeto<<strong>br</strong> />

neoliberal, "trocou sua vinculação com o<<strong>br</strong> />

movimaito popular para vincular-se com<<strong>br</strong> />

as forças conservadoras", para quem rea-<<strong>br</strong> />

lização da Reforma Agrária é muito desa-<<strong>br</strong> />

gradável. O resultado disso é visivel em<<strong>br</strong> />

todos os jornais. Volta e meia seu governo<<strong>br</strong> />

tem seus projetos de refonna constitucio-<<strong>br</strong> />

nal barrados por este grupo com interes-<<strong>br</strong> />

ses bastante objetivos, que vau acumu-<<strong>br</strong> />

lando vários sucessos nas barganhas em<<strong>br</strong> />

nome de interesses próprios.<<strong>br</strong> />

Oriundos do campo, espalhados por<<strong>br</strong> />

grandes partidos que fazem parte do go-<<strong>br</strong> />

verno, estes parlamentares estão vincu-<<strong>br</strong> />

lados aos temas agrícolas, setor que pas-<<strong>br</strong> />

sa por cnse violenta desde a implanta-<<strong>br</strong> />

ção do Plano Real. Por esta razão, mes-<<strong>br</strong> />

mo tendo elegido como inimigo principal<<strong>br</strong> />

um tema popular como a Reforma Agrá-<<strong>br</strong> />

ria, estes parlamentares conseguem ter<<strong>br</strong> />

bastante força por integrar em suas pro-<<strong>br</strong> />

postas demandas mais gerais da socieda-<<strong>br</strong> />

de. Segundo Edélcío, que elaborou um<<strong>br</strong> />

estudo so<strong>br</strong>e a bancada airahsta, a força<<strong>br</strong> />

desta bancada não vem de seu número<<strong>br</strong> />

propriamente dito e sim da capacidade<<strong>br</strong> />

de articulação de seus líderes com outras<<strong>br</strong> />

forças políticas. Hoje Nelson Marquezelli<<strong>br</strong> />

(PTB-SP), Hugo Bihel (PPB-SC), Val-<<strong>br</strong> />

dir Colato (PMDB-RS) e Abelardo<<strong>br</strong> />

Lupion (PFL-PR) são as principais lide-<<strong>br</strong> />

ranças da bancada Como ele observa,<<strong>br</strong> />

cada um pertence a um partido o que<<strong>br</strong> />

amplia e muito sua capacidade de articu-<<strong>br</strong> />

lação. Segundo Edélcío, outra razão para<<strong>br</strong> />

esta grande capacidade de articulação é<<strong>br</strong> />

o fato de que cada um dos quatro tem um<<strong>br</strong> />

papel diferenciado e complementar neste<<strong>br</strong> />

processo. Marquezelli atua junto á FIESP<<strong>br</strong> />

e aos industriais do Rio e São Paulo. Vale<<strong>br</strong> />

lem<strong>br</strong>ar que hoje grande parte dos lati-<<strong>br</strong> />

fúndios <strong>br</strong>asileiros estão nas mãos de in-<<strong>br</strong> />

dustriais, banqueiros e multinacionais,<<strong>br</strong> />

portanto o espaço de atuação de<<strong>br</strong> />

Marquezelli é central. Bihel trabalha mais<<strong>br</strong> />

com questões relativas á exportação dos<<strong>br</strong> />

produtos agrícolas. Colato traz o discur-<<strong>br</strong> />

so do pequeno e do médio produtor rural<<strong>br</strong> />

do Sul. E Lupion, que já foi presidente<<strong>br</strong> />

do UDR do Paraná, é o "trator", o que<<strong>br</strong> />

tem o "discurso agressivo" com as decla-<<strong>br</strong> />

rações bombásticas que sempre agradam<<strong>br</strong> />

a imprensa.<<strong>br</strong> />

Até recentemente o governo FHC vi-<<strong>br</strong> />

nha se apresentando constantemente<<strong>br</strong> />

como refém dos ruralistas em troca do<<strong>br</strong> />

apoio às reformas constitucionais do go-<<strong>br</strong> />

verno. Na base deste sistema de "troca-<<strong>br</strong> />

troca", os airalistas já conseguiram acor-<<strong>br</strong> />

dos que lhes permitem dar mais calote<<strong>br</strong> />

no Banco do Brasil (cerca de 4 bilhões<<strong>br</strong> />

só neste ano) e juros bastante favoráveis<<strong>br</strong> />

nos créditos agrícolas. Segundo Rolf<<strong>br</strong> />

Hackbath, assessor do PT no Congres-<<strong>br</strong> />

so, uma das razões para este grupo par-<<strong>br</strong> />

lamaitar ter tanta força perante FHC é o<<strong>br</strong> />

fato de estarem espalhados majontana-<<strong>br</strong> />

mente nos partidos que compõem este<<strong>br</strong> />

governo e conseguirem negociar suas<<strong>br</strong> />

demandas dentro de seus partidos No<<strong>br</strong> />

'A TEORIA EMERGE DA PRATICA E A ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 16 Trabalhadores<<strong>br</strong> />

entanto, nada que o presidente não pu-<<strong>br</strong> />

desse contornar se quisesse de fato en-<<strong>br</strong> />

caminhar as propostas dos movimentos<<strong>br</strong> />

populares.<<strong>br</strong> />

Bancada Ruralista<<strong>br</strong> />

e seus partidos<<strong>br</strong> />

Segundo o levantamento realizado<<strong>br</strong> />

pelo Inesc, a bancada ruralista é com-<<strong>br</strong> />

posta por 115 deputados. Corresponde a<<strong>br</strong> />

22,42% ou um pouco menos de 1/4 do<<strong>br</strong> />

total dos deputados (513). Este percentual<<strong>br</strong> />

lhe dá a primazia de ser a segunda maior<<strong>br</strong> />

bancada da Câmara.<<strong>br</strong> />

Os partidos que numencamente mais<<strong>br</strong> />

a<strong>br</strong>igam os ruralistas são os Blocos Par-<<strong>br</strong> />

lamentares PFL/PTB (44), o PPB/PL<<strong>br</strong> />

(31) e o PMDB/PSD/PMN/PSL/PSC<<strong>br</strong> />

(20). Os maiores percentuais de ruralistas<<strong>br</strong> />

estão nos Blocos Parlamentares PSC-<<strong>br</strong> />

PMN (56,25%) e PFL-PTB (35,48%).<<strong>br</strong> />

Em seguida temos o PSDB (11) e o<<strong>br</strong> />

PSB (7). Para melhor visualização ela-<<strong>br</strong> />

boramos o seguinte quadro:<<strong>br</strong> />

O quadro demonstra que o número<<strong>br</strong> />

maior de ruralistas (75) se a<strong>br</strong>igam nos<<strong>br</strong> />

partidos conservadores (PFL, PTB, PPB,<<strong>br</strong> />

O Trabalho - 09/Junho/96 - N 0 395<<strong>br</strong> />

Quem aponta o dado é o TCU (Tri-<<strong>br</strong> />

bunal de Contas da União): 82% do or-<<strong>br</strong> />

çamaito federal previsto para programas<<strong>br</strong> />

com crianças e adolescentes, no ano de<<strong>br</strong> />

1995 não foi utilizado. Ou seja, as já pre-<<strong>br</strong> />

cárias verbas não foram aplicadas por um<<strong>br</strong> />

governo que, cada vez mais, faz do pro-<<strong>br</strong> />

blema da infância no pais figura retórica<<strong>br</strong> />

para discurso hipócritas.<<strong>br</strong> />

Diante das sucessivas denúncias de<<strong>br</strong> />

exploração do trabalho de crianças, a<<strong>br</strong> />

custo zero ou a preço de banana, o go-<<strong>br</strong> />

verno finge que faz alguma coisa. Em<<strong>br</strong> />

outu<strong>br</strong>o, no mesmo dia em que se reu-<<strong>br</strong> />

nia em Brasília o Tribunal Nacional<<strong>br</strong> />

contra o Trabalho Infantil, FHC fazia<<strong>br</strong> />

a festa com artistas na campanha de<<strong>br</strong> />

delação de exploradores da prostitui-<<strong>br</strong> />

ção infantil. Agora enrola o Plano Na-<<strong>br</strong> />

cional de Direitos Humanos, onde in-<<strong>br</strong> />

clui a questão de Convenção 138 da<<strong>br</strong> />

OIT (Organização Internacional do<<strong>br</strong> />

Trabalho), enquanto diz que é<<strong>br</strong> />

inconstitucional proibir trabalho a me-<<strong>br</strong> />

nores de 15 anos no Brasil.<<strong>br</strong> />

E, quando "faz" alguma coisa, se-<<strong>br</strong> />

guindo a mesma lógica que leva ao des-<<strong>br</strong> />

manche dos serviços públicos, "com-<<strong>br</strong> />

pensa" os miseráveis com trocados,<<strong>br</strong> />

O governo anunciou recentemente sua<<strong>br</strong> />

política para o pretenso combate à ex-<<strong>br</strong> />

PARTIDO BANCADA RURALISTAS % DA BANCADA % DA CÂMARA<<strong>br</strong> />

BL. PFL/PTB <strong>12</strong>7 30+<strong>12</strong>=42 33,1 8,19<<strong>br</strong> />

BL. PMDB/PSD<<strong>br</strong> />

/PMN/PSL/PSC 105 18+1+1+0+0=20 19,1 3,9<<strong>br</strong> />

BL. PP+PL 95 27+4=31 32,7 6,1<<strong>br</strong> />

PSDB 85 11 <strong>12</strong>,95 2,1<<strong>br</strong> />

PDT oc A 16 0,8<<strong>br</strong> />

PSB <strong>12</strong> 7 58,34 0,14<<strong>br</strong> />

Outros 64 0 — —<<strong>br</strong> />

Total 513 115 — 22,42<<strong>br</strong> />

PL, PSB E PMN). Entre os partidos con-<<strong>br</strong> />

siderados progressitas, só o PSB e o PDT<<strong>br</strong> />

contribuem com a Bancada Ruralista (11).<<strong>br</strong> />

Os partidos considerados de Centro<<strong>br</strong> />

(PMDB, PSDB) somam 29 ruralistas. É<<strong>br</strong> />

esta distnbuição dos airalistas em vários<<strong>br</strong> />

partidos que lhes possibilitam esta grande<<strong>br</strong> />

capacidade de articulação política.<<strong>br</strong> />

Segundo este mesmo levantamento do<<strong>br</strong> />

Inesc, houve migração partidária aitre os<<strong>br</strong> />

airalistas. Grupo de interesse conserva<<strong>br</strong> />

Demagogia contra as crianças<<strong>br</strong> />

ploração de crianças nas carvoarias do<<strong>br</strong> />

Mato Grosso.<<strong>br</strong> />

Vai pagar um auxilio de R$ 50,00 men-<<strong>br</strong> />

sais para crianças que atualmente traba-<<strong>br</strong> />

lham nas carvoanas, para que voltem à<<strong>br</strong> />

escola. Aplicada por governos estaduais,<<strong>br</strong> />

como Cristovam no Distrito Federa (a bol-<<strong>br</strong> />

sa-escola), ou municipais como Maluf em<<strong>br</strong> />

São Paulo (que "paga" em latas de leite),<<strong>br</strong> />

são as tais "medidas compensatórias" re-<<strong>br</strong> />

comaidadas nos planos de ajuste do FMI.<<strong>br</strong> />

Os mesmos planos que provocam de-<<strong>br</strong> />

semprego em massa e arrocho salanal, que<<strong>br</strong> />

destróem os serviços públicos, que rebai-<<strong>br</strong> />

xam direitos trabalhista. Para acabar com<<strong>br</strong> />

a exploração de crianças, é preciso recom-<<strong>br</strong> />

por, com emprego e salários, a capacida-<<strong>br</strong> />

de de um trabalhador sustentar seus filhos<<strong>br</strong> />

e mantê-los na escola pública.<<strong>br</strong> />

O pacto dos Bandeirantes<<strong>br</strong> />

Em São Paulo o <strong>Governo</strong> Covas as-<<strong>br</strong> />

sinou, em 9 de abnl, um pacto com a Câ-<<strong>br</strong> />

mara Paulista do Setor Sucroalcooleiro<<strong>br</strong> />

e a Fundação A<strong>br</strong>inq pelos Direitos da<<strong>br</strong> />

Criança. Seu texto, depois de muitas "pre-<<strong>br</strong> />

ocupações" com o emprego, a qualidade<<strong>br</strong> />

das relações de trabalho e o trabalho in-<<strong>br</strong> />

fantil, tem como proposta: "participar de<<strong>br</strong> />

projetos que complementem a renda para<<strong>br</strong> />

que as familias possam manter seus fi-<<strong>br</strong> />

lhos na escola".<<strong>br</strong> />

dor, 20 de seus integrantes mudaram de<<strong>br</strong> />

sigla, sem no entanto sair de seu espec-<<strong>br</strong> />

tro ideológico, ou seja, indo para parti-<<strong>br</strong> />

dos de centro e de direita.<<strong>br</strong> />

Em termos de estado, os deputados<<strong>br</strong> />

airalistas estão espalhados por 26 esta-<<strong>br</strong> />

dos. Só não há representante no Distrito<<strong>br</strong> />

Federal. O Estado que numericamente<<strong>br</strong> />

mais contribui para a Bancada é Minas<<strong>br</strong> />

Gerais com (15) deputados, segundo<<strong>br</strong> />

Bahia (<strong>12</strong>) e Paraná (11). D<<strong>br</strong> />

Assinado pelos patrões de setor da cana-<<strong>br</strong> />

de-açúcar, que pagam salános de fome aos<<strong>br</strong> />

bóias-fnas, é pacto da hipocnsia. Os em-<<strong>br</strong> />

presários reconhecem que as rendas fami-<<strong>br</strong> />

liares, quer dizer os salános pagos por eles,<<strong>br</strong> />

não são suficientes para manter as cnan-<<strong>br</strong> />

ças na escola e o governo se oferece para<<strong>br</strong> />

dar uns trocados ás familias.<<strong>br</strong> />

Diz outro item do pacto: "intervir na<<strong>br</strong> />

cadeia produtiva, objetivando eliminar o<<strong>br</strong> />

trabalho infantil, em cumprimento ao ar-<<strong>br</strong> />

tigo 60 da Lei Federal n 0 8.069/90 (Esta-<<strong>br</strong> />

tuto da Cnança edo Adolecente)". Exata-<<strong>br</strong> />

mente o artigo que pennite o trabalho abai-<<strong>br</strong> />

xo de 14 anos na condição de aprendiz.<<strong>br</strong> />

Os estudos do Tribunal Contra o Tra-<<strong>br</strong> />

balho Infantil demonstram que, "na con-<<strong>br</strong> />

dição de aprendiz", crianças limpam<<strong>br</strong> />

cocheira de cavalos em Curitiba. Como<<strong>br</strong> />

"apraidizes" carregam pacotes em super-<<strong>br</strong> />

mercados, carregam peso e fazem faxi-<<strong>br</strong> />

nas nos correios. Tudo patrocinado por<<strong>br</strong> />

programas de governo, dentro da lei.<<strong>br</strong> />

Lei que se opõe à Convenção 138 da<<strong>br</strong> />

OIT a qual proibe trabalho infantil abai-<<strong>br</strong> />

xo de 15 anos, e é uma proteção contra<<strong>br</strong> />

a exploração das crianças e para o pró-<<strong>br</strong> />

prio emprego do conjunto dos trabalha-<<strong>br</strong> />

dores, pois ao mesmo tempo que crian-<<strong>br</strong> />

ças trabalham, o desemprego golpeia os<<strong>br</strong> />

adultos. O<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA EA ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 17 Economia<<strong>br</strong> />

Dívida Externa - PEDEX - 03/06/96<<strong>br</strong> />

A busca da so<strong>br</strong>evivência no mundo<<strong>br</strong> />

globalizado custará caro aos paises em de-<<strong>br</strong> />

senvolvimento como o Brasil. Os US$ 30<<strong>br</strong> />

tnlhões em capitais especulativos que va-<<strong>br</strong> />

gam pelo planeta castigarão com o desem-<<strong>br</strong> />

prego as nações que não combaterem seus<<strong>br</strong> />

problemas de distribuição de renda. En-<<strong>br</strong> />

quanto todas as riquezas produzidas no<<strong>br</strong> />

planeta somam US$ 10 tnlhões, há uma<<strong>br</strong> />

nuvem muito maior de dinheiro aplicado<<strong>br</strong> />

em papéis financeiros que não têm equiva-<<strong>br</strong> />

lênciana vida real. São os US$ 30 trilhões.<<strong>br</strong> />

Por isso. Márcio Pochmann, diretor-adjun-<<strong>br</strong> />

to do Centro de Estudos Sindicais e da<<strong>br</strong> />

Economia do Trabalho da Universidade de<<strong>br</strong> />

Campinas (Unicamp), prevê que todo o<<strong>br</strong> />

mundo pode sofrer nova e forte crise eco-<<strong>br</strong> />

nômica, como a da década de 30.<<strong>br</strong> />

"A expansão do crédito bancário e a<<strong>br</strong> />

alucinada movimentação de titulos que-<<strong>br</strong> />

Divida Externa - PEDEX - 20/06/96<<strong>br</strong> />

O índice de Desenvolvimento Huma-<<strong>br</strong> />

no (IDH), apurado pela Organização das<<strong>br</strong> />

Nações Unidas para medir a qualidade de<<strong>br</strong> />

vida e o progresso humano, concluiu que<<strong>br</strong> />

existem três "Brasis". O primeiro, melhor<<strong>br</strong> />

situado, é comparado com os países do<<strong>br</strong> />

Leste europeu; o segundo, intermediário,<<strong>br</strong> />

está no nível da maioria dos vizinhos lati-<<strong>br</strong> />

no-americanos, e o terceiro é semelhante<<strong>br</strong> />

à África. Na média, o Brasil está entre o<<strong>br</strong> />

Cazaquistão e a Bulgária.<<strong>br</strong> />

O estágio de desenvolvimento humano<<strong>br</strong> />

do Brasil foi detenninado por três indica-<<strong>br</strong> />

dores - renda da população, escolaridade<<strong>br</strong> />

e esperança de vida ao nascer, que com-<<strong>br</strong> />

põem o IDH, divulgado pelo Programa das<<strong>br</strong> />

Nações Unidas para o Desenvolvimento<<strong>br</strong> />

(PNUD), da ONU.<<strong>br</strong> />

Por esse índice, o Brasil chegou em<<strong>br</strong> />

1991 com 0,797 (o máximo seria 1 e o<<strong>br</strong> />

mínimo zero), considerando um nível in-<<strong>br</strong> />

termediário de desenvolvimento humano.<<strong>br</strong> />

Os primeiros colocados em nível interna-<<strong>br</strong> />

cional são o Canadá e Estados Unidos,<<strong>br</strong> />

com 0,950 e 0,937, respectivamente.<<strong>br</strong> />

O relatório também mostra profunda<<strong>br</strong> />

transfomiação no perfil da população <strong>br</strong>a-<<strong>br</strong> />

sileira - caractenzada pela redução do peso<<strong>br</strong> />

Riscos da Globalização<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>ou a bolsa de Nova Iorque há 65 anos,<<strong>br</strong> />

o que pode se repetir em <strong>br</strong>eve. O Brasil<<strong>br</strong> />

não deve ser passivo. Precisa de prote-<<strong>br</strong> />

ger com políticas que aumentem a ren-<<strong>br</strong> />

da da população, gerando emprego nas<<strong>br</strong> />

indústrias e na agricultura", ressalta<<strong>br</strong> />

Pochmann.<<strong>br</strong> />

A soma dos PIBs (Produto Interno<<strong>br</strong> />

Bruto da Aménca do Sul mal alcança o<<strong>br</strong> />

faturamento de R$ 1,42 trilhão, das dez<<strong>br</strong> />

maiores empresas do mundo - Exxon,<<strong>br</strong> />

Ford, General Motors, Itochu, Marubeni,<<strong>br</strong> />

Mitsubishi, Mitsui, Nissho, Shell e<<strong>br</strong> />

Sumimoto. Desse total, elas faturam R$<<strong>br</strong> />

866 milhões (mais de 60%) fora dos pa-<<strong>br</strong> />

íses de origem. Por isso, são chamadas<<strong>br</strong> />

de transnacionais. As cem maiores em-<<strong>br</strong> />

presas do planeta comercializam R$ 2<<strong>br</strong> />

tnlhão entre si, soma equivalente a 33%<<strong>br</strong> />

do comércio mundial.<<strong>br</strong> />

Indicador Social da ONU revela<<strong>br</strong> />

três "Brasis"<<strong>br</strong> />

dos jovens no conjunto dos habitantes<<strong>br</strong> />

e, ao mesmo tempo, pelo aumento do<<strong>br</strong> />

número das pessoas acima de 65 anos.<<strong>br</strong> />

A participação das pessoas abaixo de<<strong>br</strong> />

15 anos na população cairá de 35% para<<strong>br</strong> />

24% entre 1990 e 2020, a faixa entre<<strong>br</strong> />

65 anos crescerá de 60 para 69% e a<<strong>br</strong> />

faixa acima de 65 anos aumentará de 5<<strong>br</strong> />

para 8%.<<strong>br</strong> />

42 milhões de po<strong>br</strong>es<<strong>br</strong> />

O documento estima em 42 milhões<<strong>br</strong> />

o número de po<strong>br</strong>es no Brasil em<<strong>br</strong> />

1990, o que corresponde 30% da po-<<strong>br</strong> />

pulação. Eles estão em dois pólos de<<strong>br</strong> />

po<strong>br</strong>eza: O Nordeste rural e as áreas<<strong>br</strong> />

metropolitanas, inclusive São Paulo<<strong>br</strong> />

e Rio de Janeiro. Uma família é con-<<strong>br</strong> />

siderada po<strong>br</strong>e na pesquisa quando<<strong>br</strong> />

sua renda per capita se situa abaixo<<strong>br</strong> />

da linha de po<strong>br</strong>eza, ou seja, é insufi-<<strong>br</strong> />

ciente para adqurir os bens necessá-<<strong>br</strong> />

rios à so<strong>br</strong>evivência de seus mem<strong>br</strong>os.<<strong>br</strong> />

O número de indigentes, incluídos nos<<strong>br</strong> />

42 milhões, não foi especificado. Na<<strong>br</strong> />

região Norte os po<strong>br</strong>es são 42% da<<strong>br</strong> />

população total; No Nordeste, 46%:<<strong>br</strong> />

no Sudeste, 23%; no sul, 20%: e no<<strong>br</strong> />

Centro-Oeste, 25%.<<strong>br</strong> />

O desemprego é outra nuvem ame-<<strong>br</strong> />

açadora nesse final de milênio. So-<<strong>br</strong> />

mente na Europa 19 milhões de pes-<<strong>br</strong> />

soas estão procurando emprego, sem<<strong>br</strong> />

perspectivas de encontrá-lo. Há três<<strong>br</strong> />

décadas, o velho continente não con-<<strong>br</strong> />

segue aumentar o número de vagas em<<strong>br</strong> />

suas fá<strong>br</strong>icas na mesma proporção em<<strong>br</strong> />

que surgem novos trabalhadores. Es-<<strong>br</strong> />

tão desempregadas 23.700.000 pes-<<strong>br</strong> />

soas na Alemanha, Canadá, Estados<<strong>br</strong> />

Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália<<strong>br</strong> />

e Japão, os mais ricos do mundo, que<<strong>br</strong> />

formam o Grupo dos Sete (G-7). Há<<strong>br</strong> />

33 milhões de desempregados nos 25<<strong>br</strong> />

paises mais industrializados do mun-<<strong>br</strong> />

do, que formam a Organização de Co-<<strong>br</strong> />

operação e Desenvolvimento Econô-<<strong>br</strong> />

mico (OCDE).<<strong>br</strong> />

(in: Correio Braziliense) □<<strong>br</strong> />

Uma das maiores<<strong>br</strong> />

desigualdades do mundo<<strong>br</strong> />

O Brasil registrava em 1990 um dos<<strong>br</strong> />

maiores índices de desigualdade do mun-<<strong>br</strong> />

do. Os 20% mais ncos da população deti-<<strong>br</strong> />

nham 65% da renda total e os 50 mais<<strong>br</strong> />

po<strong>br</strong>es ficavam com <strong>12</strong>%. A renda média<<strong>br</strong> />

dos 10% mais ricos é quase 30 vezes mai-<<strong>br</strong> />

or que a raida média dos 40% mais po-<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>es, frente a dez vezes na Aigentina, cin-<<strong>br</strong> />

co vezes na França e 25 vezes no Peru. A<<strong>br</strong> />

parcela da raida apropnado pelos 20%<<strong>br</strong> />

mais ricos cresceu 11 pontos percaituais<<strong>br</strong> />

entre 1960 e 1990, enquanto a dos 50 mais<<strong>br</strong> />

po<strong>br</strong>es caiu seis pontos e a das classes in-<<strong>br</strong> />

termediárias permaneceu sem alteração.<<strong>br</strong> />

A disparidade de renda no Brasil é<<strong>br</strong> />

maior nos estratos supenores da distri-<<strong>br</strong> />

buição. Aqui, uma pessoa rica é 3,2 ve-<<strong>br</strong> />

zes mais rica que alguém da classe mé-<<strong>br</strong> />

dia alta. Nos Estados Unidos, esta rela-<<strong>br</strong> />

ção é de 1,4, praticamente igual ao Ja-<<strong>br</strong> />

pão, 1,5. Já a diferença de renda entre as<<strong>br</strong> />

demais camadas sociais é compatível com<<strong>br</strong> />

a verificada no resto do mundo.<<strong>br</strong> />

Pelos padrões internacionais, o nível<<strong>br</strong> />

educacional <strong>br</strong>asileiro é intermediário,<<strong>br</strong> />

variando de 0,83 (Distrito Federal e São<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA E A ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 18 Economia<<strong>br</strong> />

Paulo) a 0,54 (Alagoas) e 0,57 (Paraíba).<<strong>br</strong> />

Esse índice revela o grau de alfabetíza-<<strong>br</strong> />

ção, associados às matrículas combina-<<strong>br</strong> />

das nos três níveis de ensino. O relatório<<strong>br</strong> />

mostra também que os gastos federais<<strong>br</strong> />

com a saúde, que no início da década de<<strong>br</strong> />

80 correspondiam a <strong>12</strong>% da receita, che-<<strong>br</strong> />

garam a subir em 1989 para mais de 17%,<<strong>br</strong> />

mas a partir daí caíram e voltaram em<<strong>br</strong> />

1992 para menos de <strong>12</strong>%. O número de<<strong>br</strong> />

habitantes por médico, em 1991, era de<<strong>br</strong> />

641, variando por regiões.<<strong>br</strong> />

33,3 vivem os índices mais<<strong>br</strong> />

baixos de desenvolvimento<<strong>br</strong> />

No Brasil melhor situado, com IDH<<strong>br</strong> />

acima de 0,8m vive 49,4 da população.<<strong>br</strong> />

Esse país a<strong>br</strong>ange o Sul e Sudeste - Rio<<strong>br</strong> />

Grande do Sul, mais Distrito Federal, São<<strong>br</strong> />

Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro,<<strong>br</strong> />

Paraná e Mato Grosso do Sul - mais o<<strong>br</strong> />

Espirito Santo. O segundo Brasil inclui<<strong>br</strong> />

sete estados de médio desenvolvimento,<<strong>br</strong> />

com IDH entre 0,7 e 0,8, que são: Ama-<<strong>br</strong> />

zonas, Mato Grosso, Goiás, Roraima e<<strong>br</strong> />

Rondônia. Nesta parte do país vivem<<strong>br</strong> />

17,3% dos <strong>br</strong>asileiros.<<strong>br</strong> />

Outros 33,3% da população vivem no<<strong>br</strong> />

Brasil com índices mais baixos de desav<<strong>br</strong> />

volvimaito humano. Este "subpaís" a<strong>br</strong>an-<<strong>br</strong> />

ge o Nordeste inteiro - Sergipe, Bahia,<<strong>br</strong> />

Pernambuco, Rio Grande do Norte,<<strong>br</strong> />

Maranhão, Ceará, Piauí, Alagoas e Paraíba<<strong>br</strong> />

-, mais o Acre e Pará. Esses estados têm<<strong>br</strong> />

IDH maior de 0,7. O Tocantins não foi clas-<<strong>br</strong> />

sificado por falta de estatísticas. (Liliana<<strong>br</strong> />

Laxoatti,raGa2etaM orantil). "1<<strong>br</strong> />

Análise Semanal Conjuntura Econômica - NEP - 20/06/96<<strong>br</strong> />

A Insustentável Leveza do Sr. Mindlin<<strong>br</strong> />

Sem reserva de mercado e sem dinheiro público, os capitalistas industriais da<<strong>br</strong> />

A Metal Leve foi engolida. Era uma<<strong>br</strong> />

das maiores do Brasil no ramo de<<strong>br</strong> />

autopeças. Até pouco tempo atrás, era<<strong>br</strong> />

difícil de imaginar que esta empresa, apa-<<strong>br</strong> />

rentemente moderna que investia em de-<<strong>br</strong> />

senvolvimento tecnológico, que chegou<<strong>br</strong> />

até a instalar duas fá<strong>br</strong>icas no exterior<<strong>br</strong> />

para respirar o ambiente de inovações nas<<strong>br</strong> />

grandes economias, etc não fosse capaz<<strong>br</strong> />

de so<strong>br</strong>eviver ao primeiro solavanco da<<strong>br</strong> />

globalização.<<strong>br</strong> />

Mas foi isso que aconteceu. Na se-<<strong>br</strong> />

mana passada foi engolida sem maiores<<strong>br</strong> />

resistências pela Mahle, da Alemanha,<<strong>br</strong> />

uma grande fa<strong>br</strong>icante mundial de pis-<<strong>br</strong> />

tões, com vendas anuais superiores a 2<<strong>br</strong> />

bilhões, de dólares. A Mahle já está ins-<<strong>br</strong> />

talada no Brasil há muito tempo, com<<strong>br</strong> />

uma unidade produtora de pistões em<<strong>br</strong> />

Mogi Guaçu, uma aprazível cidade do<<strong>br</strong> />

interior do estado de S. Paulo. Participa-<<strong>br</strong> />

ram da hostil captura da Metal Leve, além<<strong>br</strong> />

da Mahle que pagou 51% da compra,<<strong>br</strong> />

bancos internacionais e nacionais<<strong>br</strong> />

(Bradesco) e a Cofap, outra antiga fa-<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>icante de ramo, mas que há alguns<<strong>br</strong> />

meses atrás já tinha também transferido<<strong>br</strong> />

o controle para Mahle/Bradesco.<<strong>br</strong> />

Como Mahle, Cofap e Metal Leve<<strong>br</strong> />

fa<strong>br</strong>icam produtos complementares, é<<strong>br</strong> />

provável que agora desapareçam como<<strong>br</strong> />

empresas e dêem lugar a uma nova in-<<strong>br</strong> />

dústria, que concentrará a produção de<<strong>br</strong> />

pistões, anéis e <strong>br</strong>onzinas, transforman-<<strong>br</strong> />

do-se na maior empresa de autopeças do<<strong>br</strong> />

país, com faturamento de 1 bilhão de<<strong>br</strong> />

dólares por ano. O controle desta nova<<strong>br</strong> />

indústria ficará nas mãos de Mahle e<<strong>br</strong> />

Fiesp entram em rápido estado de decomposição.<<strong>br</strong> />

José Martins<<strong>br</strong> />

Bradesco, que já detêm o controle<<strong>br</strong> />

acionário de outras empresas que mono-<<strong>br</strong> />

polizam a produção domestica de blocos,<<strong>br</strong> />

pistões, <strong>br</strong>onzinas e sistemas de exaustão<<strong>br</strong> />

(catalizadores, escapamentos e silencia-<<strong>br</strong> />

dores). Estes componentes representam<<strong>br</strong> />

entre R$ 2 mil e R$ 3 mil do valor final<<strong>br</strong> />

de um veículo vendido ao consumidor por<<strong>br</strong> />

R$ 10 mil.<<strong>br</strong> />

O caso da Metal Leve / Cofap não é<<strong>br</strong> />

um caso isolado. Segundo os capitalis-<<strong>br</strong> />

tas do setor de autopeças, centaias de em-<<strong>br</strong> />

presas estão sendo vendidas a preço de<<strong>br</strong> />

banana. As grandes empresa multinacio-<<strong>br</strong> />

nais apresentam aos proprietários das<<strong>br</strong> />

empresas contratos de fornecimento de<<strong>br</strong> />

componentes, firmados com as matrizes<<strong>br</strong> />

das indústrias automobilísticas dos Es-<<strong>br</strong> />

tados Unidos, Europa e Ásia. Demons-<<strong>br</strong> />

tram assim que não so<strong>br</strong>ará espaço no<<strong>br</strong> />

mercado doméstico e externo. Sem pers-<<strong>br</strong> />

pectiva de so<strong>br</strong>evivência, os capitalistas<<strong>br</strong> />

se rendem à oferta. "Breve não haverá<<strong>br</strong> />

mais empresas para serem negociadas",<<strong>br</strong> />

prevê o presidente do Sindicato Nacio-<<strong>br</strong> />

nal da Indústria de Autopeças<<strong>br</strong> />

(Sindipeças), sr. Paulo Butori. E conclui<<strong>br</strong> />

que "as poucas indústrias que ainda não<<strong>br</strong> />

foram vendidas pennanecem à venda". A<<strong>br</strong> />

violência deste processo de fusões e in-<<strong>br</strong> />

corporações no setor também é confir-<<strong>br</strong> />

mada pela empresa Deloitte Touche, es-<<strong>br</strong> />

pecializada na intermediação deste tipo<<strong>br</strong> />

de negócios, para quem "apenas 300 das<<strong>br</strong> />

quase mil fá<strong>br</strong>icas de autopeças devem<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>eviver".<<strong>br</strong> />

Estes são os fatos. E as explicações<<strong>br</strong> />

são as mais vanadas. Mas todas ficam no<<strong>br</strong> />

terreno superficial da concorrência, dos<<strong>br</strong> />

mercados mundializados, etc, tudo enfia-<<strong>br</strong> />

do no mesmo saco da "globalização". Para<<strong>br</strong> />

o sr. G. Dupas, por exemplo, considerado<<strong>br</strong> />

um "especialista em globalização", a<<strong>br</strong> />

globalização transformou componentes<<strong>br</strong> />

para veículos em commodities. Pode-se<<strong>br</strong> />

imaginar o impacto paralisantenos ouvin-<<strong>br</strong> />

tes de frase tão bombástica. Tão bombás-<<strong>br</strong> />

tica quanto vazia, pois o sr. Dupas está<<strong>br</strong> />

dizaido apenas que a globalização trans-<<strong>br</strong> />

formou componentes para veículos em<<strong>br</strong> />

coisas parecidas com milho, trigo, co<strong>br</strong>e,<<strong>br</strong> />

café em grão e outras commodities (ou<<strong>br</strong> />

mercadonas, em português), que no co-<<strong>br</strong> />

mercio internacional são comumente ne-<<strong>br</strong> />

gociadas em Bolsas de Mercadonas Pode-<<strong>br</strong> />

se imaginar, então, as cotações das<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>onzinas e dos pistões marcadas nos qua-<<strong>br</strong> />

dros da Bolsa de Mercadoria de Chicago,<<strong>br</strong> />

etc. Mas o sr. Dupas tenta uma explica-<<strong>br</strong> />

ção mais aprofundada. Para ele "só existe<<strong>br</strong> />

espaço para quem tem condição de forne-<<strong>br</strong> />

cer o maior volume pelo maior preço, na<<strong>br</strong> />

hora e no local indicados pelas mon-<<strong>br</strong> />

tadoras". Como os capitalistas se carac-<<strong>br</strong> />

tenzam em geral pela total inépcia depen-<<strong>br</strong> />

samaito, preferem se calar e achar que o<<strong>br</strong> />

sr. Dupas é realmente um cara que entai-<<strong>br</strong> />

de muito bem do que está acontecendo. E<<strong>br</strong> />

acabam lhe pagando muito bem por tan-<<strong>br</strong> />

ta sabedoria.<<strong>br</strong> />

Outros acham, como o sr. A.<<strong>br</strong> />

Chiavellato, presidente de Mangels, que<<strong>br</strong> />

"a política de câmbio valorizado e de<<strong>br</strong> />

alíquotas de importação reduzidas não<<strong>br</strong> />

deixou alternativa para os empresários<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>asileiros". Quer dizer, sem protecionis-<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA EA ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 19<<strong>br</strong> />

mo e reserva de mercado as empresas <strong>br</strong>a-<<strong>br</strong> />

sileiras não podem mais continuar exis-<<strong>br</strong> />

tindo. Isto não deixa de ser verdade, mas<<strong>br</strong> />

também não sai do terreno das obviedades.<<strong>br</strong> />

Nesta mesma linha de chorar pela abertu-<<strong>br</strong> />

ra do mercado, o sr. Butori resolve lem-<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>ar do passado e faz uma confissão sur-<<strong>br</strong> />

preendente para um sócio destacado da<<strong>br</strong> />

Federação da Indústria de S. Paulo<<strong>br</strong> />

(FIESP). "A maiona das indústrias foi<<strong>br</strong> />

instalada com investimentos de recursos<<strong>br</strong> />

públicos. São as conhecidas "viúvas" do<<strong>br</strong> />

Banco Nacional de Desenvolvimento Eco-<<strong>br</strong> />

nômico (BNDES), que pediram socorro<<strong>br</strong> />

aos órgãos públicos para crescer e con-<<strong>br</strong> />

quistar o mercado internacional".<<strong>br</strong> />

E nós, que sempre fomos cativados<<strong>br</strong> />

pelo discurso da "eficiência do empresa-<<strong>br</strong> />

riado privado", agora desconfiamos que<<strong>br</strong> />

na suntuosa pirâmide da avenida Paulis-<<strong>br</strong> />

Folha de S. Paulo - 21/Junho/96<<strong>br</strong> />

O governo tem a sorte de conviver<<strong>br</strong> />

com o Congresso mais subalterno e me-<<strong>br</strong> />

nos qualificado de quantos houve desde<<strong>br</strong> />

a redemocratização pós-Getúlio, o que lhe<<strong>br</strong> />

permite cometer na administração que<<strong>br</strong> />

bem entenda, sem conseqüências, por<<strong>br</strong> />

exemplo como uma CPI so<strong>br</strong>e o auxílio<<strong>br</strong> />

multibilionáno a bancos e banqueiros.<<strong>br</strong> />

Mas o domínio político não resguarda da<<strong>br</strong> />

permanência corrosiva dos temas envol-<<strong>br</strong> />

tos em obscuridades ou suspeitas. São<<strong>br</strong> />

cadáveres insepultos.<<strong>br</strong> />

O auxílio a bancos e banqueiros é<<strong>br</strong> />

mesmo um bom exemplo. O governo<<strong>br</strong> />

adotou, a começar do próprio presiden-<<strong>br</strong> />

te, a explicação de que os bilhões posto<<strong>br</strong> />

neste auxílio não socorrem banqueiros,<<strong>br</strong> />

servindo, isso sim, para proteger os que<<strong>br</strong> />

têm contas e aplicações nos bancos em<<strong>br</strong> />

dificuldades.<<strong>br</strong> />

Foi nesse linha, sem que faltasse se-<<strong>br</strong> />

quer a pitada de grosseria tão ao gosto<<strong>br</strong> />

do femandismo, que o ministro Pedro<<strong>br</strong> />

Malan falou do programa criado para<<strong>br</strong> />

auxílio ao sistema financeiro, o Proer, em<<strong>br</strong> />

reunião anteontem na Câmara:<<strong>br</strong> />

"E incorreto, um despropósito, a idéia<<strong>br</strong> />

de que o governo criou o Proer para so-<<strong>br</strong> />

correr banqueiros. Isso é discurso de pa-<<strong>br</strong> />

lanque. É uma peça política que alguns<<strong>br</strong> />

querem usar".<<strong>br</strong> />

O problema desse tipo de resposta é<<strong>br</strong> />

que outros alguns, em vez de peça políti-'<<strong>br</strong> />

ca, usam fatos, dados, documentos às<<strong>br</strong> />

ta (sede da FIESP) aninha-se apenas um<<strong>br</strong> />

bando de incompetentes, que só cresce-<<strong>br</strong> />

ram e so<strong>br</strong>eviveram com capitalista às<<strong>br</strong> />

custas das benesses e subsídios de dinheiro<<strong>br</strong> />

público. O sr. Mndlin, principal dirigente<<strong>br</strong> />

da defunta Metal Leve, era considerado um<<strong>br</strong> />

dos expoentes da "burguesia progressista",<<strong>br</strong> />

representante da inteligência de uma "dasse<<strong>br</strong> />

empreendedora e responsável pdo desenvol-<<strong>br</strong> />

vimento da indústria nadonal". Agora, des-<<strong>br</strong> />

co<strong>br</strong>imos também que tudo que de fazia era<<strong>br</strong> />

andar com as muletas dos recursos públicos<<strong>br</strong> />

para montar sua indústria e acumular lu-<<strong>br</strong> />

cros com o trabalho de milhares de ope-<<strong>br</strong> />

rários mal pagos e amontoados nas linhas<<strong>br</strong> />

de produção de <strong>br</strong>onzinas, pistões, etc.<<strong>br</strong> />

Se o sr. Mndlin fosse realmente bem<<strong>br</strong> />

intencionado e ético, ele faria muito bem<<strong>br</strong> />

de devolver aos cofres públicos os 80<<strong>br</strong> />

milhões de dólares que ele e seus sócios<<strong>br</strong> />

Os ratos comeram<<strong>br</strong> />

Jânio de Freitas<<strong>br</strong> />

vezes originários do governo mesmo.<<strong>br</strong> />

Malan encontrou um algum desses ali<<strong>br</strong> />

mesmo, na pessoa do inesgotável depu-<<strong>br</strong> />

tado Milton Temer. Com números pro-<<strong>br</strong> />

cedentes do Banco Central e uma pergun-<<strong>br</strong> />

ta que, no fundo, oferecia a Pedro Malan<<strong>br</strong> />

a melhor oportunidade para comprovar<<strong>br</strong> />

que o Proer nasceu e vive para proteger<<strong>br</strong> />

o dinheiro de parcelas da população.<<strong>br</strong> />

Um documento do Banco Central in-<<strong>br</strong> />

dica que havia no Banco Econômico, ao<<strong>br</strong> />

ser decretada a intervenção, 334.502 de-<<strong>br</strong> />

tentores de contas. O Banco Nacional<<strong>br</strong> />

recebeu o número redondo, com todo o<<strong>br</strong> />

jeito de chute, de 1.800.000 depositantes.<<strong>br</strong> />

Ai estava o total de cidadãos a serem pro-<<strong>br</strong> />

tegidos pelo Proer. O montante da prote-<<strong>br</strong> />

ção não poderia, é lógico, exceder o total<<strong>br</strong> />

dos saldos nas contas existentes em cada<<strong>br</strong> />

um dos bancos. Sempre segundo docu-<<strong>br</strong> />

mento do Banco Central:<<strong>br</strong> />

♦ no Econômico, saldo totais de R$<<strong>br</strong> />

2 bi 130 milhões 700 mil.<<strong>br</strong> />

♦ no Nacional, saldos totais de R$ 2<<strong>br</strong> />

bi 805 milhões.<<strong>br</strong> />

Com outros números de igual proce-<<strong>br</strong> />

dência, o deputado Milton Temer propôs<<strong>br</strong> />

a questão ao mais indicado para<<strong>br</strong> />

esclarecê-la: "Se o Proer é para proteger<<strong>br</strong> />

os depositantes, e não para socorrer ban-<<strong>br</strong> />

queiros, como se explica o Banco Cen-<<strong>br</strong> />

tral tenha posto no Econômico, não os 2<<strong>br</strong> />

bi 130 dos depositantes, mas 6 bi; e no<<strong>br</strong> />

Nacional, não os 2 bi 800 dos depositan-<<strong>br</strong> />

V:::::::::o::::x:;::X;o::::::::::>:;;:::;:::<<strong>br</strong> />

Economia<<strong>br</strong> />

embolsaram na liquidação da Metal Leve.<<strong>br</strong> />

E claro que nada disto vai acontecer. As<<strong>br</strong> />

quatro famílias proprietárias da finada<<strong>br</strong> />

Metal Leve vão repartir entre si os 80<<strong>br</strong> />

milhões da venda e viver com o mesmo<<strong>br</strong> />

luxo que viveram até agora. A única coi-<<strong>br</strong> />

sa que muda para eles é que, de agora em<<strong>br</strong> />

diante, não serão mais "empresários", co-<<strong>br</strong> />

mandantes diretos de um exército de mi-<<strong>br</strong> />

seráveis metalúigicos que labutaram de<<strong>br</strong> />

manhã á noite, durante quarenta e dois<<strong>br</strong> />

anos, nas linhas de produção de capital da<<strong>br</strong> />

sua indústria. Agora, aquelas quatro fa-<<strong>br</strong> />

mílias burguesas passam sem lamentar<<strong>br</strong> />

esse bastão para as grandes corporações<<strong>br</strong> />

multinadonais. Elas ddxaram de ser ca-<<strong>br</strong> />

pitalistas industriais e passam a ser ape-<<strong>br</strong> />

nas rentistas. Deixam de acumular lucros<<strong>br</strong> />

e passam a acumular apenas juros, alu-<<strong>br</strong> />

guéis, rendas em geral. G<<strong>br</strong> />

tes, mas quase 7 bi? Por que a diferença<<strong>br</strong> />

tão grande entre o máximo que poderia<<strong>br</strong> />

injetar, para "proteger" os depositantes,<<strong>br</strong> />

o que injetou de fato?".<<strong>br</strong> />

Como ministro ao qual o BC se su-<<strong>br</strong> />

bordina; como co-responsável pela cri-<<strong>br</strong> />

ação do Proer e, ainda, como autorida-<<strong>br</strong> />

de maior, na área econômica, por tudo<<strong>br</strong> />

o que se refere às relações entre gover-<<strong>br</strong> />

no e sistema financeiro, Pedro Malan<<strong>br</strong> />

deu sua resposta para a esperada expli-<<strong>br</strong> />

cação da diferença multibilionária:<<strong>br</strong> />

"Não sei."<<strong>br</strong> />

O ministro não sabe como e porque<<strong>br</strong> />

uns R$ 8 bilhões saíram dos cofres sob<<strong>br</strong> />

sua responsabilidade e foram destinado<<strong>br</strong> />

a bancos e banqueiros. E olhe que esta<<strong>br</strong> />

conta faz uma suposição camarada: a de<<strong>br</strong> />

que Econômico e Nacional não tivessem<<strong>br</strong> />

um centavo do dinheiro de depositantes,<<strong>br</strong> />

o<strong>br</strong>igando o BC a aplicar R$ 4,93 bi na<<strong>br</strong> />

devolução dos saldos.<<strong>br</strong> />

O canal de dfrões que liga os cofres<<strong>br</strong> />

mal administrados pdo governo aos co<strong>br</strong>es<<strong>br</strong> />

mal administrados por banqudros, ainda<<strong>br</strong> />

que não haja a CPI apropriada, vão conti-<<strong>br</strong> />

nuar corroendo o governo e vários dos sãos<<strong>br</strong> />

ocupantes, por mais que tentem fazer em<<strong>br</strong> />

contrário. Como na vdha <strong>br</strong>incadeira do<<strong>br</strong> />

gato e do rato, quem pergunte cadê o di-<<strong>br</strong> />

nhdro que estava aqui, disfarçado de pro-<<strong>br</strong> />

teção, tem resposta: os ratos comeram. Mas<<strong>br</strong> />

não foram os ratos que comeram o epi-<<strong>br</strong> />

sódio no noticiáio da reunião. □<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA EA ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 20 Nacional<<strong>br</strong> />

Raízes-A<strong>br</strong>/Jun/96-N 0 17<<strong>br</strong> />

No Brasil de FHC já não se morre ape-<<strong>br</strong> />

nas de inanição no meio da rua. Os espe-<<strong>br</strong> />

cialista do Planalto desco<strong>br</strong>em, a cada<<strong>br</strong> />

dia, novas formas de eliminação dos po-<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>es, dos sem-terra e sem-teto, os índios<<strong>br</strong> />

e dos doentes.<<strong>br</strong> />

Sem medo de exagerar e respalda-<<strong>br</strong> />

dos na palavra do antropólogo Darcy Ri-<<strong>br</strong> />

beiro, o "sinistro Ministro" da Justiça,<<strong>br</strong> />

Nelson Jobim, vem trabalhando incan-<<strong>br</strong> />

savelmente para aumentar a dor e a mi-<<strong>br</strong> />

séria do povo <strong>br</strong>asileiro. O decreto 1775/<<strong>br</strong> />

96 permitiu que mais de mil contesta-<<strong>br</strong> />

ções de 70 territórios indígenas fossem<<strong>br</strong> />

feitas, territórios que, segundo declara<<strong>br</strong> />

Darcy, "postos em mãos de latifundiári-<<strong>br</strong> />

os, serão totalmente destruídos, por que<<strong>br</strong> />

fazendeiros não sabe fazer outra coisa<<strong>br</strong> />

com a mata, senão queimá-la e plantar<<strong>br</strong> />

capim. O Brasil acabará convertido<<strong>br</strong> />

numa pastagem só."<<strong>br</strong> />

(Folha de São Paulo - 06/05/96: 1 -2).<<strong>br</strong> />

Mas a culpa de tanta desgraça não<<strong>br</strong> />

cabe apenas à pessoa de um Ministro. A<<strong>br</strong> />

falta de rumo do <strong>Governo</strong> reflete-se, ain-<<strong>br</strong> />

Inverta -16 a 31/05/96 - N" 74<<strong>br</strong> />

E este o Brasil que o povo <strong>br</strong>asileiro<<strong>br</strong> />

está vivendo. Um imperador preside o<<strong>br</strong> />

país achando que sabe tudo. Governa lon-<<strong>br</strong> />

ge e indiferente aos problemas do povo.<<strong>br</strong> />

Em nome da "Democracia" defende in-<<strong>br</strong> />

teresses contrários aos reais interesses da<<strong>br</strong> />

nação. E um traidor, um mentiroso e<<strong>br</strong> />

entreguista que está colocando a sobera-<<strong>br</strong> />

nia nacional em perigo.<<strong>br</strong> />

A nação <strong>br</strong>asileira não suporta mais<<strong>br</strong> />

tanta injustiça, tanto cinismo, tanto faz<<strong>br</strong> />

de conta. Em dois anos do governo FHC,<<strong>br</strong> />

o povo assistiu ao massacre e execução<<strong>br</strong> />

de mais de 50 trabalhadores rurais sem-<<strong>br</strong> />

terra. O primeiro foi em Corumbiara<<strong>br</strong> />

(RO). Os cadáveres nem esfriaram em<<strong>br</strong> />

suas tumbas e outros 20 sem-terra, entre<<strong>br</strong> />

eles crianças e adolecentes, são assassi-<<strong>br</strong> />

nados friamente em Eldorado dos Carajás<<strong>br</strong> />

(PA). O governo nada fez, finge que la-<<strong>br</strong> />

menta e se omite.<<strong>br</strong> />

Os sem-terra assassinados como mi-<<strong>br</strong> />

lhares de outros em todo o pais, sonha-<<strong>br</strong> />

Genocídio<<strong>br</strong> />

da, no massacre continuado dos sem-ter-<<strong>br</strong> />

ra, nas vitimas da hemodiálise de Caruaru<<strong>br</strong> />

e no salário mínimo de R$ 1<strong>12</strong>,00.<<strong>br</strong> />

Só aí temos mais três Ministros im-<<strong>br</strong> />

plicados... Entra água no barco furado<<strong>br</strong> />

do pacto das elites empresariais do País,<<strong>br</strong> />

que nunca tiveram a intenção e a compe-<<strong>br</strong> />

tência de formular um projeto de alcance<<strong>br</strong> />

social para o Brasil.<<strong>br</strong> />

Por isso, precisamos voltar os olhos e<<strong>br</strong> />

o coração para as propostas inovadoras<<strong>br</strong> />

que indicam um rumo novo. Como ga-<<strong>br</strong> />

rantir escola a todas as crianças? Como<<strong>br</strong> />

retira-las da rua e assegurar-lhes alimen-<<strong>br</strong> />

tação e saúde? De que forma garantir o<<strong>br</strong> />

acesso à terra a milhares de trabalhado-<<strong>br</strong> />

res rurais?<<strong>br</strong> />

O Programa de Garantia de Renda<<strong>br</strong> />

Mínima, de autoria do senador Eduardo<<strong>br</strong> />

Suplicy, do Partido dos Trabalhadores, é<<strong>br</strong> />

uma luz que busca resposta a algumas<<strong>br</strong> />

dessas questões. Aprovado pelo Senado<<strong>br</strong> />

em 1991, o programa já vem sendo im-<<strong>br</strong> />

plantado no Distrito Federal, em Campi-<<strong>br</strong> />

nas, Ribeirão Preto e em mais de uma<<strong>br</strong> />

Brasil dos Brasis, dos cães<<strong>br</strong> />

de guerras assassinos<<strong>br</strong> />

vam e lutavam por um pedaço de terra<<strong>br</strong> />

para trabalhar, resistiam desarmados<<strong>br</strong> />

(tanto que não há mortos do lado dos<<strong>br</strong> />

agressores) numa luta justa pela reforma<<strong>br</strong> />

agrária. Esses trabalhadores foram fri-<<strong>br</strong> />

amente executados pelos cães selvagens<<strong>br</strong> />

e assassinos, a mando dos latifundiários<<strong>br</strong> />

com a conivência e omissão do governo.<<strong>br</strong> />

O imperador do Brasil, o presidente-<<strong>br</strong> />

sociólogo, é o culpado por todas essas<<strong>br</strong> />

chacinas, por toda essa barbárie, pela<<strong>br</strong> />

qual toda a sociedade <strong>br</strong>asileira chora e<<strong>br</strong> />

está de luto. O presidente intelectual e es-<<strong>br</strong> />

túpido, que nega suas teses acadêmicas e<<strong>br</strong> />

socialista, pode não sofrer as paias da<<strong>br</strong> />

lei pelos cnmes cometidos contra tantos<<strong>br</strong> />

inocaites, mas não será absolvido pela<<strong>br</strong> />

história. Esta não o perdoará.<<strong>br</strong> />

O FHC entrará na história sim, como<<strong>br</strong> />

o presidente que abafou a custa de su-<<strong>br</strong> />

borno e uso indevido do dinheiro públi-<<strong>br</strong> />

co, vários escândalos, nos quais eviden-<<strong>br</strong> />

temente, estava envolvido até as raízes<<strong>br</strong> />

dezena de municípios <strong>br</strong>asileiros. Foi<<strong>br</strong> />

concebido com o objetivo de "reverter a<<strong>br</strong> />

condição de 3,5 milhões de crianças <strong>br</strong>a-<<strong>br</strong> />

sileiras que se vêem o<strong>br</strong>igadas a traba-<<strong>br</strong> />

lhar e a abandonar precocemente a esco-<<strong>br</strong> />

la porque seus pais não tem o mínimo<<strong>br</strong> />

para so<strong>br</strong>eviver."<<strong>br</strong> />

Em relação ao trabalhadores rurais<<strong>br</strong> />

sem-terra, é inegável o contributo do<<strong>br</strong> />

Movimento dos Sem-Terra. Consciente<<strong>br</strong> />

da importância de terra para a so<strong>br</strong>evi-<<strong>br</strong> />

vência de milhares de famílias, o MST<<strong>br</strong> />

vem enfrentando a sanha dos jagunços<<strong>br</strong> />

que atuam a mando de políticos e lati-<<strong>br</strong> />

fundiários. Apesar dos anúncios pagos<<strong>br</strong> />

pela TFP (Tradição, Família e Proprie-<<strong>br</strong> />

dade), <strong>br</strong>aço religioso dos ruralistas, ape-<<strong>br</strong> />

sar do espaço que a imprensa a<strong>br</strong>e dian-<<strong>br</strong> />

amente aos grandes proprietários e repre-<<strong>br</strong> />

sentantes da força nesse País, os sem-ter-<<strong>br</strong> />

ra prosseguem firmes e decididos a con-<<strong>br</strong> />

quistar o que lhes foi roubado desde 1500.<<strong>br</strong> />

São ações como essas que nos devolvem<<strong>br</strong> />

a auto-estima e o gosto de ser <strong>br</strong>asileiro,<<strong>br</strong> />

apenas de suas elites carcomidas. fl<<strong>br</strong> />

do cabelo. Como o presidente do caso<<strong>br</strong> />

Sivam, da Pasta Cor de Rosa. Que per-<<strong>br</strong> />

doou dívidas contraídas dos bandos pú-<<strong>br</strong> />

blicos (do Brasil e Caixa Econômica)<<strong>br</strong> />

pelos usineiros latifundiários. Que esva-<<strong>br</strong> />

ziou os cofres públicos para comprar di-<<strong>br</strong> />

vidas de bancos falidos (Nacional e Eco-<<strong>br</strong> />

nômico).<<strong>br</strong> />

Finalmente, ficará para o história<<strong>br</strong> />

como o presidente que usou todo o<<strong>br</strong> />

fisiologismo casuísmo (subomo, leilão de<<strong>br</strong> />

cargos públicos - está aí a troca de mi-<<strong>br</strong> />

nistérios que não nos deixa dúvidas - li-<<strong>br</strong> />

beração de verbas e outras maracutaias)<<strong>br</strong> />

só para impedir a instalação da CPI dos<<strong>br</strong> />

Bancos e aprovar as suas reformas<<strong>br</strong> />

neoliberais.<<strong>br</strong> />

As suas reformas também ficarão na<<strong>br</strong> />

história, que<strong>br</strong>a de monopólios, vendas<<strong>br</strong> />

de estatais rentáveis, fim da previdência<<strong>br</strong> />

e de serviço público. De um outro modo,<<strong>br</strong> />

com outros requintes de crueldade, FHC<<strong>br</strong> />

ficará para a história como o presidente<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA E A ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 21 Nacional<<strong>br</strong> />

que exterminou a classe trabalhadora. Ele<<strong>br</strong> />

já acabou com o emprego, agora quer por<<strong>br</strong> />

fim a direitos e conquistas trabalhistas. O<<strong>br</strong> />

que resta? O saláno mínimo de R$ 1<strong>12</strong>,00.<<strong>br</strong> />

Seria cômico se não fosse tão trágico.<<strong>br</strong> />

O povo <strong>br</strong>asileiro, os <strong>br</strong>asileiros de<<strong>br</strong> />

verdade não podem mais suportar a tudo<<strong>br</strong> />

isso passivamente. Quem sabe faz a hora<<strong>br</strong> />

diz a canção de Vandré. E hora da soci-<<strong>br</strong> />

edade <strong>org</strong>anizada dar um basta na ação<<strong>br</strong> />

dos cães selvagens e assassinos. Clama-<<strong>br</strong> />

mos por justiça. E a justiça só se fará<<strong>br</strong> />

quando todos estes cães forem punidos,<<strong>br</strong> />

condenados, banidos. fl<<strong>br</strong> />

Jaime de Bona - Servidor Público Fe-<<strong>br</strong> />

deral lotado no Arsenal da Marinha no<<strong>br</strong> />

Rio de Janeiro, Pres. do SINFA/RJ<<strong>br</strong> />

Informativo Inesc - Maio/96 - N° 66<<strong>br</strong> />

<strong>Governo</strong> FHC retoma práticas de<<strong>br</strong> />

autoritarismo, exclusão e beneficiamento de<<strong>br</strong> />

Estamos atravessando uma situação<<strong>br</strong> />

limite em relação à área das comunica-<<strong>br</strong> />

ções no Brasil. Nas últimas semanas, as<<strong>br</strong> />

práticas adotadas pelo governo Fernando<<strong>br</strong> />

Henrique Cardoso passaram a desmen-<<strong>br</strong> />

tir, de forma cabal, as promessas de am-<<strong>br</strong> />

pliação da participação da sociedade, a<<strong>br</strong> />

atribuição de transparência ao processo<<strong>br</strong> />

de decisão e de superação de privilégios<<strong>br</strong> />

cartoriais que beneficiam a alguns gru-<<strong>br</strong> />

pos econômicos.<<strong>br</strong> />

O caos jurídico e institucional da área<<strong>br</strong> />

das comunicações está agora sando expli-<<strong>br</strong> />

citamaite alimaitado pelo governo FHC.<<strong>br</strong> />

As práticas que geraram as enormes<<strong>br</strong> />

distorções do atual modelo das comuni-<<strong>br</strong> />

cações no Brasil - desde a década de 30 e,<<strong>br</strong> />

especialmaite, a partir da década de 60,<<strong>br</strong> />

durante o regime militar - passaram a ser<<strong>br</strong> />

reediadas etêm sido a tônica das ações do<<strong>br</strong> />

governo FHC, neste que é um período crí-<<strong>br</strong> />

tico de reestruturação tecnológica e eco-<<strong>br</strong> />

nômica dos sistemas de comunicações.<<strong>br</strong> />

A atual conjuntura <strong>br</strong>asileira está as-<<strong>br</strong> />

sumindo feições mais definidas do pro-<<strong>br</strong> />

cesso de convergência tecnológica - a<<strong>br</strong> />

integração crescente entre as tecnologias<<strong>br</strong> />

de telecomunicações, comunicação so-<<strong>br</strong> />

cial e informática - as práticas governa-<<strong>br</strong> />

mentais, entretanto, desconsideram as<<strong>br</strong> />

potencialidades existentes, mostram-se<<strong>br</strong> />

desprovidas de sentido estratégico e es-<<strong>br</strong> />

tão resultando em conseqüências dramá-<<strong>br</strong> />

ticas. A inexistência de políticas públi-<<strong>br</strong> />

cas conseqüentes hipertrofia os traços<<strong>br</strong> />

mais perversos dos impactos culturais,<<strong>br</strong> />

políticos e econômicos dos novos siste-<<strong>br</strong> />

mas de comunicações.<<strong>br</strong> />

Os fatos que aivolveram a aprovação<<strong>br</strong> />

pela Câmara dos Deputados, no dia 14/5,<<strong>br</strong> />

da chamada "Lei Mínima" das telecomu-<<strong>br</strong> />

nicações, constituem o corolário de um<<strong>br</strong> />

grupos na área das comunicações<<strong>br</strong> />

Fórum Pela üemocráliiação da Cominicação<<strong>br</strong> />

conjunto de ações de governo e de<<strong>br</strong> />

posicionamentos do empresariado e da<<strong>br</strong> />

sociedade. Estes fatos constituem um<<strong>br</strong> />

evidente divisor de águas: definiu-se ali<<strong>br</strong> />

uma conduta de governo - e, mais do que<<strong>br</strong> />

isto, poderíamos dizer, do Estado, em<<strong>br</strong> />

função da participação do Congresso Na-<<strong>br</strong> />

cional e da omissão do Judiciário - que<<strong>br</strong> />

está produzindo descaminhos e graves<<strong>br</strong> />

prejuízos para o interesse público.<<strong>br</strong> />

A aprovação, na Câmara dos Deputa-<<strong>br</strong> />

dos, da "Lei Mínima", está ligada á<<strong>br</strong> />

preocupante situação atual da implanta-<<strong>br</strong> />

ção dos serviços de TV a Cabo, MMDS,<<strong>br</strong> />

DTH e LMDS (novas tecnologias de co-<<strong>br</strong> />

municação). Vincula-se, também, ao en-<<strong>br</strong> />

caminhamento da regulamentação da Ra-<<strong>br</strong> />

diodifusão Comunitária e à tramitação da<<strong>br</strong> />

Lei de Impraisa. Estes fatos e circunstân-<<strong>br</strong> />

cias somam-se á já crônica situação da<<strong>br</strong> />

radiodifusão convencional (rádio AM e<<strong>br</strong> />

FM e TV em VHF) e ao descumpnmento<<strong>br</strong> />

sistemático, pelo Congresso Nacional, por<<strong>br</strong> />

quase cinco anos consecutivos, da Lei n 0<<strong>br</strong> />

8.389 de 30/<strong>12</strong>/91, que detenninou a ins-<<strong>br</strong> />

talação do Conselho de Comunicação So-<<strong>br</strong> />

cial, órgão auxiliar do Congresso Nacio-<<strong>br</strong> />

nal, previsto na Constituição.<<strong>br</strong> />

O Quadro que aqui traçamos não dei-<<strong>br</strong> />

xa dúvidas de que o Estado -<<strong>br</strong> />

notadamente os poderes Executivo,<<strong>br</strong> />

Legislativo e Judiciário federais - está<<strong>br</strong> />

se contrapondo, de forma flagrante, ao<<strong>br</strong> />

interesse público e que a área das comu-<<strong>br</strong> />

nicações, que é estratégica para a cons-<<strong>br</strong> />

trução da democracia e para o desenvol-<<strong>br</strong> />

vimento econômico do país, está sujeita<<strong>br</strong> />

ao apetite de grupos políticos e econô-<<strong>br</strong> />

micos e submetida a um quadro de<<strong>br</strong> />

descumprimento e ausência de leis onde<<strong>br</strong> />

predomina o uso da força, caracterizan-<<strong>br</strong> />

do um estado de barbárie.<<strong>br</strong> />

Ao apresentar publicamente estas<<strong>br</strong> />

considerações, o Fóaim Nacional pela<<strong>br</strong> />

democratização faz um derradeiro esfor-<<strong>br</strong> />

ço para que este quadro seja alterado por<<strong>br</strong> />

atitudes politizadas e de considerações ao<<strong>br</strong> />

interesse público, de parte dos diversos<<strong>br</strong> />

agaites sociais envolvidos. f"}<<strong>br</strong> />

Este texto é parte do DOSSIÊ DÁS CO-<<strong>br</strong> />

MUNICAÇÕES do Fórum<<strong>br</strong> />

VÍDEO A VENDA NO CPV<<strong>br</strong> />

"Canção para<<strong>br</strong> />

Zumbi"<<strong>br</strong> />

"Zumbi: você não morreu!"<<strong>br</strong> />

Este grito já é uma canção coletiva<<strong>br</strong> />

da consciência negra. Ele, Zumbi,<<strong>br</strong> />

vive, revive, em todos os negros e ne-<<strong>br</strong> />

gras que se assumem altivamente li-<<strong>br</strong> />

vres. Vive seu Quilombo dos Palmares<<strong>br</strong> />

em todos os quilombos resistentes por<<strong>br</strong> />

esse Brasil afora. Vive e luta e sonha<<strong>br</strong> />

nesse grande quilombo da convivên-<<strong>br</strong> />

cia na alteridade, da justiça com dig-<<strong>br</strong> />

nidade, da libertação total.<<strong>br</strong> />

Este vídeo é mais uma voz a cores,<<strong>br</strong> />

a sons, a sonhos, nessa grande "Can-<<strong>br</strong> />

ção para Zumbi". Sonhando e voando<<strong>br</strong> />

com o pássaro negro livre. Contem-<<strong>br</strong> />

plando emocionalmente a alma negra,<<strong>br</strong> />

que se afirma diferente e solidária, na<<strong>br</strong> />

arte e no trabalho, na mística e na fes-<<strong>br</strong> />

ta. Assumindo comprometidamente,<<strong>br</strong> />

com todo o Afro<strong>br</strong>asil e a Afroamérica<<strong>br</strong> />

e Africamãe, a mensagem do<<strong>br</strong> />

Quilombo dos Palmares, mais atual do<<strong>br</strong> />

que nunca.<<strong>br</strong> />

Produção: Verbo Filmes<<strong>br</strong> />

Duração: 25 minutos<<strong>br</strong> />

Preço: 30,00<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA E A ELA RETORNA"


Quinzena N° 232 - 30/06/96 22 Nacional<<strong>br</strong> />

SINCOHAB - 23/ 05/96 - N 0 82<<strong>br</strong> />

Despenca a popularidade do governo<<strong>br</strong> />

Pesquisas divulgadas durante o últi-<<strong>br</strong> />

mo fim de semana, pela grande impren-<<strong>br</strong> />

sa, mostram que o presidente Fernando<<strong>br</strong> />

Henrique Cardoso precisa se levantar do<<strong>br</strong> />

"berço esplêndido" caso ele decida evitar<<strong>br</strong> />

vaias nas próximas ocasiões em que man-<<strong>br</strong> />

tiver contatos com a população.<<strong>br</strong> />

Montado no sucesso do plano real,<<strong>br</strong> />

desde a posse no cargo FHC vem<<strong>br</strong> />

esnobando as críticas da oposição e da<<strong>br</strong> />

imprensa. E a cada critica falava da es-<<strong>br</strong> />

tabilidade da moeda, do preço da fran-<<strong>br</strong> />

go, dos índices de aprovação que vinha<<strong>br</strong> />

obtendo e negava o crescimento dos nú-<<strong>br</strong> />

meros do desemprego.<<strong>br</strong> />

Mas os mais de R$ 10 bilhões que FHC<<strong>br</strong> />

distribuiu aos banqueiros, o estrago que<<strong>br</strong> />

Atenção-1996-N 0 6<<strong>br</strong> />

Fernando Henrique<<strong>br</strong> />

o desemprego e os baixos salários estão<<strong>br</strong> />

provocando ente os trabalhadores, a cha-<<strong>br</strong> />

cina dos sem-terra em Eldorado do<<strong>br</strong> />

Carajás, o fisiologismo para garantir a<<strong>br</strong> />

aprovação das reformas do Congresso<<strong>br</strong> />

Nacional e, principalmente, a falta de<<strong>br</strong> />

iniciativas do governo federal na área<<strong>br</strong> />

social - segundo especialistas - acordou<<strong>br</strong> />

a opinião pública e fez despencar os ín-<<strong>br</strong> />

dices de aprovação de Fernando<<strong>br</strong> />

Henrique.<<strong>br</strong> />

Ministros e assessores presidenciais,<<strong>br</strong> />

consultados pela grande imprensa no iní-<<strong>br</strong> />

cio desta semana, diziam ser um "fenô-<<strong>br</strong> />

meno isolado e passageiro". Porém, es-<<strong>br</strong> />

pecialistas na matéria, contrariando as<<strong>br</strong> />

análises "chapas <strong>br</strong>ancas", confirmavam<<strong>br</strong> />

a tendência de queda dos índices de<<strong>br</strong> />

FHC, depois de um período de estabili-<<strong>br</strong> />

dade. Quanto ao fato do isolamento da<<strong>br</strong> />

tendência, explicavam que é assim mes-<<strong>br</strong> />

mo que funciona: começam nos grandes<<strong>br</strong> />

centros e daí irradiam-se para as cidades<<strong>br</strong> />

de pequeno porte.<<strong>br</strong> />

<strong>Greve</strong> <strong>Geral</strong><<strong>br</strong> />

A CUT, CGT e Força Sindical anun-<<strong>br</strong> />

ciaram na segunda-feira, 20/5, a convo-<<strong>br</strong> />

cação conjunta da <strong>Greve</strong> <strong>Geral</strong> para o<<strong>br</strong> />

dia 21 de junho, reivindicando política<<strong>br</strong> />

emergencial de geração de empregos, re-<<strong>br</strong> />

forma agrária, aposentadona e salários<<strong>br</strong> />

justos e manutenção dos direitos dos tra-<<strong>br</strong> />

balhadores que estão ameaçados pelas<<strong>br</strong> />

reformas de FHC. D<<strong>br</strong> />

Intelectual não vai à praia, adere<<strong>br</strong> />

A eleição do sociólogo Fernando<<strong>br</strong> />

Henrique Cardoso suscitou uma ques-<<strong>br</strong> />

tão ainda não respondida: podem os in-<<strong>br</strong> />

telectuais resistir à sedução do poder?<<strong>br</strong> />

Acadêmicos de posturas ideológicas di-<<strong>br</strong> />

versas apresentam várias opiniões so-<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>e o problema da participação políti-<<strong>br</strong> />

ca dos profissionais do saber.<<strong>br</strong> />

Nada mais patético que uma reunião<<strong>br</strong> />

de artistas, escritores e jornalistas, que<<strong>br</strong> />

são também intelectuais (embora nem<<strong>br</strong> />

sempre o pareçam), com um presidente<<strong>br</strong> />

da República, para tratar de amenidades.<<strong>br</strong> />

As divindades da cultura popular <strong>br</strong>asi-<<strong>br</strong> />

leira - de Caetano Veloso e Gilberto Gil<<strong>br</strong> />

a Arnaldo Jabor -já foram comer na mão<<strong>br</strong> />

de Fernando Henrique Cardoso e só fal-<<strong>br</strong> />

taram cantar em público o hino da ree-<<strong>br</strong> />

leição. Sinal de tempos? Paradoxos que<<strong>br</strong> />

o exercício da dúvida permanente não<<strong>br</strong> />

consegue resolver.<<strong>br</strong> />

O indomável Caetano Veloso, deus do<<strong>br</strong> />

tropicalismo, manteve-se em silêncio na<<strong>br</strong> />

última reunião de artistas com FHC, em<<strong>br</strong> />

a<strong>br</strong>il. Depois, reservadamente, co<strong>br</strong>ou,<<strong>br</strong> />

com timidez, do presidente - mais para<<strong>br</strong> />

agradar a mulher, Paula Lavigne - o ape-<<strong>br</strong> />

tite do hóspede do Planalto por mais qua-<<strong>br</strong> />

tro anos em Brasília. Nada de aborrecer<<strong>br</strong> />

o anfitrião na frente de todo mundo.<<strong>br</strong> />

Juremir Machado da Silva<<strong>br</strong> />

O historiador Sérgio Buarque de<<strong>br</strong> />

Hollanda tinha razão ao afirmar que no<<strong>br</strong> />

Brasil "até a inimizade pode ser cordial".<<strong>br</strong> />

Conhecida por não fazer concessões,<<strong>br</strong> />

a antropóloga Ruth Cardoso, no papel<<strong>br</strong> />

deslocado de primeira-dama, chamou re-<<strong>br</strong> />

centemente, em entrevista a Jô Soares, a<<strong>br</strong> />

chacina dos agricultores sem-terra do<<strong>br</strong> />

Pará de "incidente desagradabilíssimo".<<strong>br</strong> />

Diante da observação do apresentador,<<strong>br</strong> />

de que se tratava de um massacre, a pen-<<strong>br</strong> />

sadora corrigiu-se com ar de ingenuida-<<strong>br</strong> />

de: "Eu não encontrava a palavra certa".<<strong>br</strong> />

Para afagar um po<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />

Adversária do reformismo da extinta<<strong>br</strong> />

Legião Brasileira de Assistência, a coor-<<strong>br</strong> />

denadora do programa da Comunidade<<strong>br</strong> />

Solidária não ficou nem um pouco<<strong>br</strong> />

constrangida ao destacar algumas das<<strong>br</strong> />

suas iniciativas para a formação profis-<<strong>br</strong> />

sional dos jovens: cursos de construtor<<strong>br</strong> />

de carros alegóricos, baseados na<<strong>br</strong> />

tecnologia carioca mas voltados ao mer-<<strong>br</strong> />

cado carnavalesco paulista, e estágios<<strong>br</strong> />

para DJs com a intenção de suprir as ne-<<strong>br</strong> />

cessidades das discotecas que "florescem<<strong>br</strong> />

em cada esquina". A intelectual impla-<<strong>br</strong> />

cável, guindada ao poder na função de<<strong>br</strong> />

esposa, aderiu ao reformismo deslavado<<strong>br</strong> />

com requintes teóricos, dado que as trans-<<strong>br</strong> />

formações do capitalismo exigem solu-<<strong>br</strong> />

ções imaginativas para a criação de no-<<strong>br</strong> />

vos empregos.<<strong>br</strong> />

Fernando Henrique Cardoso cercou-<<strong>br</strong> />

se de amigos respeitados nas universida-<<strong>br</strong> />

des. Os ministros Francisco Weffort (Cul-<<strong>br</strong> />

tura), Paulor Renato de Sousa (Educa-<<strong>br</strong> />

ção), José Serra (Planejamento) e Bresser<<strong>br</strong> />

Pereira (Administração) são bons exem-<<strong>br</strong> />

plos da desvairada nau intelectual<<strong>br</strong> />

conduzida por FHC em tempos de Plano<<strong>br</strong> />

Real. Oponentes de ocasião do governo<<strong>br</strong> />

de Fernando Collor ajudam agora a cons-<<strong>br</strong> />

truir um Brasil não muito distante daquele<<strong>br</strong> />

sonhado pelo chefe da "República das<<strong>br</strong> />

Alagoas".<<strong>br</strong> />

Mas o casal presidencial sofre com<<strong>br</strong> />

as estocadas dos acadêmicos que não<<strong>br</strong> />

quiseram - ou não puderam - fixar resi-<<strong>br</strong> />

dência em Brasília. Um caso singular é o<<strong>br</strong> />

do filósofo José Arthur Gianotti, 66 anos,<<strong>br</strong> />

que tem uma trajetória de reflexão em<<strong>br</strong> />

comum com Fernando Henrique Cardo-<<strong>br</strong> />

so. Amigos, ex-marxistas, críticos da di-<<strong>br</strong> />

tadura militar, sonharam com um socia-<<strong>br</strong> />

lismo algo indefinido e empregaram suas<<strong>br</strong> />

energias no estudo dos problemas da<<strong>br</strong> />

sociedade <strong>br</strong>asileira. Hoje, Gianotti, pro-<<strong>br</strong> />

fessor aposentado da USP, experimenta<<strong>br</strong> />

a desconfortável tentativa de apoiar FHC<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA E A ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 23 Nacional<<strong>br</strong> />

sem perder o senso crítico. Prímeiro-<<strong>br</strong> />

amigo intelectual do chefe da nação,<<strong>br</strong> />

Gianotti tem repetido que o importante<<strong>br</strong> />

é a tensão entre esquerda e direita, fruto<<strong>br</strong> />

da aliança PSDB-PFL, não se inclinar<<strong>br</strong> />

para o conservadorismo. A amizade tal-<<strong>br</strong> />

vez o impeça de enxergar as verdadei-<<strong>br</strong> />

ras oscilações desse pêndulo que não se<<strong>br</strong> />

envergonha de salvar o Banco Econô-<<strong>br</strong> />

mico para satisfazer ACM nem de a<strong>br</strong>ir<<strong>br</strong> />

vaga de ministro por exigência de Paulo<<strong>br</strong> />

Maluf. Gianotti exige medidas mais con-<<strong>br</strong> />

sistentes no plano social, mas não hesita<<strong>br</strong> />

em colocar sua inteligência a serviço da<<strong>br</strong> />

"coisa pública".<<strong>br</strong> />

O historiador Marco Aurélio Garcia,<<strong>br</strong> />

54 anos, professor do Departamento de<<strong>br</strong> />

História Contemporânea da Unicamp e<<strong>br</strong> />

secretário de Relações Internacionais do<<strong>br</strong> />

Partido dos Trabalhadores, olha a<<strong>br</strong> />

revoada adesista de muitos de seus pares<<strong>br</strong> />

com desencanto. O poder, salienta, "exer-<<strong>br</strong> />

ce forte atração so<strong>br</strong>e intelectuais em<<strong>br</strong> />

geral", pois cria a idéia, nem sempre rea-<<strong>br</strong> />

lista, da passagem da teoria à prática.<<strong>br</strong> />

Garcia lem<strong>br</strong>a que a tradição de adesão<<strong>br</strong> />

da intelectualidade <strong>br</strong>asileira perde-se no<<strong>br</strong> />

tempo. "No Brasil, praticamente não exis-<<strong>br</strong> />

te o fenômeno de uma camada intelectu-<<strong>br</strong> />

al excluída do poder. Mas o que mais me<<strong>br</strong> />

preocupa no momento é a inação. Boa<<strong>br</strong> />

parte da intelectualidade, mesmo entre os<<strong>br</strong> />

que não se comprometeram com FHC,<<strong>br</strong> />

está pouco critica. Impera o pensamento<<strong>br</strong> />

único", desabafa. De esquerda ou de di-<<strong>br</strong> />

reita, os intelectuais resistem a duvidar<<strong>br</strong> />

de si mesmos.<<strong>br</strong> />

Sujar as mão ou não,<<strong>br</strong> />

eis a questão<<strong>br</strong> />

Com a imprensa "apática ou submis-<<strong>br</strong> />

sa" - salvo exceções como o persistente<<strong>br</strong> />

Carlos Heitor Cony e o debochado José<<strong>br</strong> />

Simão - e as universidades anestesiadas.<<strong>br</strong> />

Marco Aurélio teme pelo futuro. Sem<<strong>br</strong> />

contestar a necessidade de participação<<strong>br</strong> />

dos intelectuais em algum tipo de insti-<<strong>br</strong> />

tuição, logo, de poder, reconhece a con-<<strong>br</strong> />

tradição entre "sujar as mãos" - deixar o<<strong>br</strong> />

discurso e mergulhar na experiência - e<<strong>br</strong> />

permanecer critico. "FHC, como presi-<<strong>br</strong> />

dente da República, não pode ter a mes-<<strong>br</strong> />

ma autonomia que possuia enquanto so-<<strong>br</strong> />

ciólogo",justifica. Poucos se arrependem<<strong>br</strong> />

de trocar a liberdade de pensar pelo pra-<<strong>br</strong> />

zer de comandar.<<strong>br</strong> />

Na dança dos governos, alguns casos<<strong>br</strong> />

provocaram muito polêmica. Entre eles,<<strong>br</strong> />

a presença do ensaísta e diplomado Sér-<<strong>br</strong> />

gio Paulo Rouanet no cargo de secretá-<<strong>br</strong> />

rio da Cultura de Fernando Collor, bem<<strong>br</strong> />

como a de Celso Lafer, especialista em<<strong>br</strong> />

Direito Internacional, no Mnistério das<<strong>br</strong> />

Relações Exteriores. O próprio FHC<<strong>br</strong> />

quase foi seduzido por Collor e só não<<strong>br</strong> />

capitulou porque Mário Covas puxou-<<strong>br</strong> />

lhe as orelhas. Mas a transição que pro-<<strong>br</strong> />

vocou maior falatório foi a do ex-diri-<<strong>br</strong> />

gente petista Francisco Weffort ao gru-<<strong>br</strong> />

po de colaboradores diretos de Fernando<<strong>br</strong> />

Henrique. Weffort, escaldado, não quer<<strong>br</strong> />

falar do assunto. Marco Aurélio Garcia,<<strong>br</strong> />

ao contrário, jogou-se com tudo na are-<<strong>br</strong> />

na e encontrou atenuantes para Rouanet,<<strong>br</strong> />

"um homem sofisticado, sem tradição<<strong>br</strong> />

política, que sucumbiu à atração exercida<<strong>br</strong> />

pelo poder so<strong>br</strong>e a vaidade das pessoas",<<strong>br</strong> />

não perdoou Weffort, que esteve na co-<<strong>br</strong> />

ordenação do programa de governo de<<strong>br</strong> />

Lula e escreveu, durante a campanha elei-<<strong>br</strong> />

toral de 1994, violento artigo contra a<<strong>br</strong> />

aliança PSDB-PFL.<<strong>br</strong> />

Weffort continuou,<<strong>br</strong> />

sem fazer nada<<strong>br</strong> />

"Weffort atacou a união de Fernando<<strong>br</strong> />

Henrique com Antônio Carlos Magalhães<<strong>br</strong> />

num texto intitulado: "A Segunda Re-<<strong>br</strong> />

volução Democrática", publicado no li-<<strong>br</strong> />

vro "Treze Razões Para Votar em Lula",<<strong>br</strong> />

editado pelo PT. No dia 4 de outu<strong>br</strong>o de<<strong>br</strong> />

1994, utilizou o mesmo título na Folha<<strong>br</strong> />

de São Paulo para anunciar sua adesão a<<strong>br</strong> />

FHC", recorda Garcia. Indignado com a<<strong>br</strong> />

"traição", afirma que o mais grave con-<<strong>br</strong> />

siste em Weffort continuar no Ministé-<<strong>br</strong> />

rio da Cultura depois de dezoito meses<<strong>br</strong> />

"sem fazer nada" ou satisfazendo-se em<<strong>br</strong> />

"atrair financiamentos privados para o<<strong>br</strong> />

setor". Marco Aurélio vê em Francisco<<strong>br</strong> />

Weffort o protótipo do estrago que o fas-<<strong>br</strong> />

cínio pelo poder pode fazer no imaginá-<<strong>br</strong> />

rio de um intelectual. Questão de ângu-<<strong>br</strong> />

lo: Weffort acha que está patrocinando<<strong>br</strong> />

uma revolução cultural.<<strong>br</strong> />

Na era da diversidade, a posição de<<strong>br</strong> />

Marco Aurélio Garcia encontra vários<<strong>br</strong> />

tipos de relativização (ou de agravantes).<<strong>br</strong> />

O cientista político José Álvaro Moisés,<<strong>br</strong> />

50 anos, professor da USP e secretário<<strong>br</strong> />

nacional de Apoio à Cultura no ministé-<<strong>br</strong> />

rio de Francisco Weffort, assegura ter<<strong>br</strong> />

uma visão positiva do interesse dos inte-<<strong>br</strong> />

lectuais pelo poder. Segundo ele, também<<strong>br</strong> />

petista em revoada, "o compromisso com<<strong>br</strong> />

a transformação da sociedade e com o<<strong>br</strong> />

combate às desigualdades inaceitáveis"<<strong>br</strong> />

implica sair da cômoda postura contem-<<strong>br</strong> />

plativa e correr os nscos da atuação. "O<<strong>br</strong> />

fascínio pelo poder explica-se pela pos-<<strong>br</strong> />

sibilidade de ultrapassar o domiruo limi-<<strong>br</strong> />

tado das teses acadêmicas e ir á prática",<<strong>br</strong> />

analisa.<<strong>br</strong> />

José Álvaro entende que criticar, in-<<strong>br</strong> />

terpretar e mudar se caizam, exigindo a<<strong>br</strong> />

"utilização das estruturas do poder para<<strong>br</strong> />

concretizar projetos legítimos". Também<<strong>br</strong> />

interessado nas paradigmáticas adesões<<strong>br</strong> />

de Rouanet e Weffort, Moisés relem<strong>br</strong>a<<strong>br</strong> />

com satisfação o fato de ter dito a Bár-<<strong>br</strong> />

bara Freitag, esposa de Sérgio Paulo<<strong>br</strong> />

Rouanet, que se o diplomata considera-<<strong>br</strong> />

va possível fazer algo pela cultura acei-<<strong>br</strong> />

tando o convite de Collor, não devena<<strong>br</strong> />

vacilar. Direto, Moisés defende FHC dos<<strong>br</strong> />

que o repudiam por ter-se aliado aos con-<<strong>br</strong> />

servadores e apresenta três razões para,<<strong>br</strong> />

enquanto intelectual, permanecer no pos-<<strong>br</strong> />

to que ocupa: "O Ministério da Cultura<<strong>br</strong> />

criou condições para democratizar o aces-<<strong>br</strong> />

so da população aos bens culturais, des-<<strong>br</strong> />

centralizou recursos e mobilizou novos<<strong>br</strong> />

investidores e parceiros".<<strong>br</strong> />

Entusiasmado com o apoio de FHC<<strong>br</strong> />

aos programas da Cultura, José Álvaro<<strong>br</strong> />

Moisés destaca a distribuição, em 1995,<<strong>br</strong> />

de 72% dos recursos do Mnistério (de<<strong>br</strong> />

um total de 86 milhões de reais), para as<<strong>br</strong> />

regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.<<strong>br</strong> />

Os investimentos privados passaram de<<strong>br</strong> />

15 milhões de reais, em 1994, a 56 mi-<<strong>br</strong> />

lhões de reais, em 1996. Elementos que<<strong>br</strong> />

levam o intelectual a engajar-se na sus-<<strong>br</strong> />

tentação a FHC, a contestar os que o ro-<<strong>br</strong> />

tulam de neoliberal, a valorizar a estra-<<strong>br</strong> />

tégia econômica, a legitimar as medidas<<strong>br</strong> />

adotadas para "salvar" o sistema finan-<<strong>br</strong> />

ceiro da bancarrota e a mostrar-se favo-<<strong>br</strong> />

rável às reformas administrativa e da<<strong>br</strong> />

Previdência. "Estou vivendo a realidade<<strong>br</strong> />

do serviço público; a estabilidade defen-<<strong>br</strong> />

de o emprego, mas também o corporati-<<strong>br</strong> />

vismo", exemplifica. Depois disso, vári-<<strong>br</strong> />

os adversários políticos de Moisés certa-<<strong>br</strong> />

mente obterão para ele uma cadeira cati-<<strong>br</strong> />

va no panteão dos hereges. Sem dar bola,<<strong>br</strong> />

o professor entende que FHC pode e deve<<strong>br</strong> />

fazer mais na área social. Aos intelectu-<<strong>br</strong> />

ais, em contrapartida, cabena encontrar<<strong>br</strong> />

coragem para escapar das "criticas ocas".<<strong>br</strong> />

Alheio ao oposicionismo fervoroso de<<strong>br</strong> />

Marco Aurélio Garcia e ao adesismo<<strong>br</strong> />

apaixonado de José Álvaro Moisés, Le-<<strong>br</strong> />

ôncio Martins Rodrigues, 61 anos, pro-<<strong>br</strong> />

fessor titular de Ciência Política na Uni-<<strong>br</strong> />

camp, acha que o "poder fascina quem<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA EA ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 24 Nacional<<strong>br</strong> />

gosta de política, intelectual ou não. Para<<strong>br</strong> />

muitos, o poder funciona como afrodisía-<<strong>br</strong> />

co e terapia ocupacional".<<strong>br</strong> />

Rodrigues sublinha que "os intelectu-<<strong>br</strong> />

ais costumam ser críticos do poder capi-<<strong>br</strong> />

talista, mas não do socialista, o super-<<strong>br</strong> />

poder". No Brasil, em todo o caso, as<<strong>br</strong> />

universidades servem de reservatório de<<strong>br</strong> />

quadros para o Estado. "Ao contrário do<<strong>br</strong> />

que ocorre em outros paises", insiste o<<strong>br</strong> />

cientista político, "não existe uma<<strong>br</strong> />

intelectualidade <strong>br</strong>asileira fortemente se-<<strong>br</strong> />

parada da política". A aproximação a<<strong>br</strong> />

FHC, entretanto, não lhe parece motiva-<<strong>br</strong> />

da por relações pessoais, mas pelo fato<<strong>br</strong> />

de que o liberalismo é dominante no mun-<<strong>br</strong> />

do atual e a maioria dos intelectuais, com<<strong>br</strong> />

a derrocada das clássicas utopias de es-<<strong>br</strong> />

querda, denvou para as posições liberais.<<strong>br</strong> />

"Mais resistentes do que estes, só as ba-<<strong>br</strong> />

ratas e os trotskistas", afirma.<<strong>br</strong> />

Se Lula vencesse, os<<strong>br</strong> />

intelectuais adeririam<<strong>br</strong> />

Apesar de ver na separação entre sa-<<strong>br</strong> />

ber e poder um benefício para as ciênci-<<strong>br</strong> />

as, Leôncio Martins Rodngues afirma que<<strong>br</strong> />

não presenciamos nada de novo: FHC não<<strong>br</strong> />

produziu nenhum efeito inusitado ao atrair<<strong>br</strong> />

intelectuais para o seu governo. Deu-se a<<strong>br</strong> />

continuidade de uma tradição, não a ruptu-<<strong>br</strong> />

ra. "Os intelectuais de esquerda", ironiza,<<strong>br</strong> />

"também querem o poder, e Lula, o ex-ope-<<strong>br</strong> />

rário, é uma ilha, cercado de intelectuais<<strong>br</strong> />

por todos os lados. Se o PT ganhar uma<<strong>br</strong> />

eleição presidencial, todos aderirão ao po-<<strong>br</strong> />

der" . Anda mais cédco, o historiador gaú-<<strong>br</strong> />

cho Décio Freitas - intelectual de esquerda<<strong>br</strong> />

que redescobnu Zumbi, escreveu páginas<<strong>br</strong> />

fundamentais da históna dos vaicidos no<<strong>br</strong> />

Brasil e amaigou o exílio durante a ditadu-<<strong>br</strong> />

ra militar - afimia: "Os intelectuais têm,<<strong>br</strong> />

além do fascínio pelo poder, a taitação do<<strong>br</strong> />

autoritarismo, o que é própno de quem<<strong>br</strong> />

julga ser detaitor da verdade". Afínnação<<strong>br</strong> />

que ajuda a compreender os recaites co-<<strong>br</strong> />

mentários, depois desmentidos, de FHC a<<strong>br</strong> />

respeito da hipótese de fechamaito do Con-<<strong>br</strong> />

gresso. Democratas na oposição, os inte-<<strong>br</strong> />

lectuais sentem-se incomodados pelo<<strong>br</strong> />

"formalismo" das instituições etêm von-<<strong>br</strong> />

tade de eliminar os aitraves á realiza-<<strong>br</strong> />

ção de seus projetos sempre apresenta-<<strong>br</strong> />

dos como perfeitos.<<strong>br</strong> />

Enquanto os intelectuais discutem, o<<strong>br</strong> />

povo passa fome, a reforma agrária exi-<<strong>br</strong> />

ge mortes de inocentes para tentar avan-<<strong>br</strong> />

çar, o econômico condena o social a espe-<<strong>br</strong> />

rar e os governantes encontram teorias<<strong>br</strong> />

fantásticas para justificar o injustificável.<<strong>br</strong> />

A imprensa <strong>br</strong>asileira, forte nas necessá-<<strong>br</strong> />

rias denúncias aos desmandos oficiais,<<strong>br</strong> />

atinge o seu nível mais alto de vulgarida-<<strong>br</strong> />

de das últimas décadas e pauta-se pelo<<strong>br</strong> />

horror à reflexão e à análise; as universi-<<strong>br</strong> />

dades chafurdam no marasmo; os paisa-<<strong>br</strong> />

dores estão sujeitos a morrer de tédio. A<<strong>br</strong> />

históna das idéias é a história das ilu-<<strong>br</strong> />

sões e das vaidades. G<<strong>br</strong> />

Juremír Machado da Silva, 34 anos,<<strong>br</strong> />

jornalista e historiador gaúcho, é dou-<<strong>br</strong> />

tor em Sociologia pela Sorbonne de<<strong>br</strong> />

Paris. Professor da Faculdade de Mei-<<strong>br</strong> />

os de Comunicação da PUC-RS, é au-<<strong>br</strong> />

tor de Cai a Noite em Palomas.<<strong>br</strong> />

Boletim Dieese - A<strong>br</strong>il/96 - N 0 181 internacional<<strong>br</strong> />

Entre 21 de outu<strong>br</strong>o e 11 de novem-<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>o de 1995, um grupo de dirigentes e<<strong>br</strong> />

assessores sindicais, além de técnicos<<strong>br</strong> />

do DIEESE, visitou os Estados Unidos<<strong>br</strong> />

para conhecer de perto o movimento<<strong>br</strong> />

sindical daquele país, as características<<strong>br</strong> />

das relações de trabalho e como as ques-<<strong>br</strong> />

tões ligadas às inovações tecnológicas<<strong>br</strong> />

têm sido enfrentadas pelos trabalhado-<<strong>br</strong> />

res norte-americanos. Essa missão - a<<strong>br</strong> />

exemplo da relatada no Boletim n" 179<<strong>br</strong> />

-foi realizada no âmbito do Programa<<strong>br</strong> />

de Capacitação desenvolvido em 1994,<<strong>br</strong> />

em Átibaia (SP). Desta vez, o relato de<<strong>br</strong> />

viagem foi elaborado pela subseção do<<strong>br</strong> />

DIEESE na Confederação Nacional<<strong>br</strong> />

dos Trabalhadores na Agricultura<<strong>br</strong> />

(Contag).<<strong>br</strong> />

A programação das visitas aos Esta-<<strong>br</strong> />

dos Unidos foi efetuada com a colabora-<<strong>br</strong> />

ção da principal central sindical norte-<<strong>br</strong> />

americana, a AFL-CIO. Segundo seus<<strong>br</strong> />

assessores, a caitral tem hoje cerca de<<strong>br</strong> />

13,5 milhões de trabalhadores filiados,<<strong>br</strong> />

que representam certa de 15% da Popu-<<strong>br</strong> />

Estados Unidos: Aspectos do<<strong>br</strong> />

Panorama Sindical<<strong>br</strong> />

lação Economicamente Ativa (PEA).<<strong>br</strong> />

Outros 3% são filiados a outras entida-<<strong>br</strong> />

des sindicais não são representados pela<<strong>br</strong> />

central.<<strong>br</strong> />

A base sindical da AFL-CIO é com-<<strong>br</strong> />

posta por 88 sindicatos nacionais ou in-<<strong>br</strong> />

ternacionais, cinqüaita federações esta-<<strong>br</strong> />

duais, mais Porto Rico, e 60 mil sindica-<<strong>br</strong> />

tos de base. Também há departamaitos<<strong>br</strong> />

nos continaites, que têm por finalidade<<strong>br</strong> />

"disseminar idéias"<<strong>br</strong> />

A AFL-CIO foi fundada em 1955,<<strong>br</strong> />

quando duas centrais sindicais indepen-<<strong>br</strong> />

dentes a AFL e a CIO - se uniram. A<<strong>br</strong> />

direção da central, eleita no final de ou-<<strong>br</strong> />

tu<strong>br</strong>o (as eleições ocorreram na primei-<<strong>br</strong> />

ra semana de visitas da missão), propõe-<<strong>br</strong> />

se atuar na defesa dos direitos sociais,<<strong>br</strong> />

que atualmente enfrentam ataques no<<strong>br</strong> />

Congresso norte-americano, de maioria<<strong>br</strong> />

republicana. Outro problema a ser en-<<strong>br</strong> />

frentado pela nova diretoria é a diminui-<<strong>br</strong> />

ção da base sindical além das condições<<strong>br</strong> />

de vida e trabalho, que pioraram signifi-<<strong>br</strong> />

cativamente no país nos últimos tempos.<<strong>br</strong> />

As negociações das questões traba-<<strong>br</strong> />

lhistas são normalmente difíceis nos Es-<<strong>br</strong> />

tados Unidos. O setor empresaria! norte-<<strong>br</strong> />

americano sempre teve uma postura ex-<<strong>br</strong> />

tremamente anti-sindical. Durante o pe-<<strong>br</strong> />

ríodo de crescimento econômico sem<<strong>br</strong> />

competitividade externa (1955/1973), os<<strong>br</strong> />

custos dos reajustes salariais e dos bene-<<strong>br</strong> />

fícios eram repassados aos preços, sob a<<strong>br</strong> />

ótica da filosofia "melhores salános, mais<<strong>br</strong> />

consumo e maior produção". Natural-<<strong>br</strong> />

mente, esse ganho se deu ao longo de<<strong>br</strong> />

muitos anos, tanto que não foi acompa-<<strong>br</strong> />

nhado por um processo infl aciona no<<strong>br</strong> />

A partir da década de 70, os Estados<<strong>br</strong> />

Unidos começaram a se reestruturar para<<strong>br</strong> />

enfrentar a competitividade de outros<<strong>br</strong> />

países, tomando inviável qualquer repas-<<strong>br</strong> />

se dos custos aos preços. Assim, a pos-<<strong>br</strong> />

tura anti-sindical do setor empresarial<<strong>br</strong> />

tornou-se ainda mais evidente,<<strong>br</strong> />

explicitando os conflitos que agora exi-<<strong>br</strong> />

gem que o movimaito sindical repaise<<strong>br</strong> />

suas ações. Além disso, o movimento sin-<<strong>br</strong> />

dical norte-americano e os trabalhadores<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA E A ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 25 Internacional<<strong>br</strong> />

têm unia postura muito individualista em<<strong>br</strong> />

relação à compreensão e à busca de so-<<strong>br</strong> />

luções de problemas: não discutem o de-<<strong>br</strong> />

semprego do ponto de vista estrutural;<<strong>br</strong> />

não cogitam a solidariedade com o mo-<<strong>br</strong> />

vimento sindical de outros paises; só de-<<strong>br</strong> />

fendem os interesses dos associados; são<<strong>br</strong> />

contra o NAFTA ( o mercado comum da<<strong>br</strong> />

América do Norte) por causa da dimi-<<strong>br</strong> />

nuição do emprego e redução de salári-<<strong>br</strong> />

os de seus associados, não discutindo<<strong>br</strong> />

também as questões de forma mais<<strong>br</strong> />

a<strong>br</strong>angente. Um exemplo disso é a falta<<strong>br</strong> />

de articulação entre os sindicatos norte-<<strong>br</strong> />

americanos, canadenses e mexicanos.<<strong>br</strong> />

A busca da parceria é a tônica que<<strong>br</strong> />

transparece nas descrições das ações do<<strong>br</strong> />

movimento sindical enos relatos dos pró-<<strong>br</strong> />

prios ativistas norte-americanos. Para<<strong>br</strong> />

eles, não há dúvida quanto á busca do<<strong>br</strong> />

lucro da empresa como garantia de em-<<strong>br</strong> />

prego, salários e benefícios.<<strong>br</strong> />

A seguir, destacam-se os principais<<strong>br</strong> />

pontos discutidos durante a viagem.<<strong>br</strong> />

EMPREGO<<strong>br</strong> />

A discussão do emprego é feita por<<strong>br</strong> />

empresa ou setor. Quando se fala do de-<<strong>br</strong> />

semprego, não se discute o tema com uma<<strong>br</strong> />

abordagem mais ampla, como um pro-<<strong>br</strong> />

blema estrutural. Muitos expositores dis-<<strong>br</strong> />

seram que a discussão estrutural deve ser<<strong>br</strong> />

feita pela central. Além, disso, acreditam<<strong>br</strong> />

que, realizando-se o treinamento adequa-<<strong>br</strong> />

do, os trabalhadores que perderem seus<<strong>br</strong> />

empregos estarão aptos a conseguir ou-<<strong>br</strong> />

tra atividade, tanto que estudiosos e sin-<<strong>br</strong> />

dicalistas afirmaram que as taxas de de-<<strong>br</strong> />

semprego têm se mantido estáveis nos<<strong>br</strong> />

Estados Unidos, mas assiste-se ao aumen-<<strong>br</strong> />

to da precarização do trabalho<<strong>br</strong> />

A maior parte dos trabalhadores con-<<strong>br</strong> />

segue um novo posto de trabalho, um<<strong>br</strong> />

salário menor e menos benefícios, de pior<<strong>br</strong> />

qualidade. Um exemplo desse problema<<strong>br</strong> />

é o caso da AT&T, onde o número de<<strong>br</strong> />

trabalhadores foi reduzido drasticamen-<<strong>br</strong> />

te. Em 1^87, a empresa empregava 28<<strong>br</strong> />

mil telefonistas e , hoje, apenas 3 mil. A<<strong>br</strong> />

tendência é a de que o quadro de funcio-<<strong>br</strong> />

nários diminua ainda mais. No entanto,<<strong>br</strong> />

o número de postos de trabalho no setor<<strong>br</strong> />

de telecomunicações aumentou desde<<strong>br</strong> />

1984, a exemplo do total de empresas do<<strong>br</strong> />

setor, muitas delas terceirizadas.<<strong>br</strong> />

A geração de novos postos de traba-<<strong>br</strong> />

lho concentra-se nas áreas de serviços,<<strong>br</strong> />

responsáveis por 70% das novas coloca-<<strong>br</strong> />

ções. Além disso, há pouco emprego para<<strong>br</strong> />

mão-de-o<strong>br</strong>a não especializada. São co-<<strong>br</strong> />

muns, ainda, os programas de incentivo à<<strong>br</strong> />

aposaitadoria, de danissão voluntária com<<strong>br</strong> />

indenizações e programas de realocação<<strong>br</strong> />

feitos pela empresa e o sindicato.<<strong>br</strong> />

A discussão da redução da jornada de<<strong>br</strong> />

trabalho não está na pauta sindical. Pelo<<strong>br</strong> />

Contrário, os trabalhadores costumam re-<<strong>br</strong> />

alizar horas extras, o que não gera no-<<strong>br</strong> />

vos empregos. Ainda que não seja ape-<<strong>br</strong> />

nas pela utilização de uma jornada ex-<<strong>br</strong> />

traordinária, só a indústria automobilis-<<strong>br</strong> />

tica de Detroit desempregou 150 mil tra-<<strong>br</strong> />

balhadores nos últimos anos.<<strong>br</strong> />

A redução dos empregos atingiu igual-<<strong>br</strong> />

mente outras áreas de atividade. No se-<<strong>br</strong> />

tor público, 100 mil trabalhadores já dei-<<strong>br</strong> />

xaram seus postos através dos progra-<<strong>br</strong> />

mas de incentivo e, nos próximos três<<strong>br</strong> />

anos, devem sair mais 60 mil. A redução<<strong>br</strong> />

de empregos atingiu também o setor têx-<<strong>br</strong> />

til. Em vinte anos, o número de trabalha-<<strong>br</strong> />

dores passou de 200 mil para 100 mil.<<strong>br</strong> />

Atualmente, cerca de 50% das roupas<<strong>br</strong> />

vendidas nos Estados Unidos são impor-<<strong>br</strong> />

tadas de outros países. A estratégia hoje<<strong>br</strong> />

é competir no mercado de roupas mais<<strong>br</strong> />

caras e com melhor qualidade.<<strong>br</strong> />

Uma atuação mais agressiva do movi-<<strong>br</strong> />

mento sindical noite-amencano ocorreu na<<strong>br</strong> />

Xerox. A empresa realizava demissões nos<<strong>br</strong> />

Estados Unidos e empregava no México.<<strong>br</strong> />

O sindicato entrou na discussão, fez uma<<strong>br</strong> />

proposta de reestartura- ção que garantiu<<strong>br</strong> />

o lucro e trouxe empregos de volta.<<strong>br</strong> />

Apesar desse exemplo, o núcleo de<<strong>br</strong> />

mercado de trabalho está diminuindo nos<<strong>br</strong> />

Estados Unidos. Não adianta só trabalhar<<strong>br</strong> />

bem: não há estabilidade e confiança no<<strong>br</strong> />

futuro mesmo para quem está empregado<<strong>br</strong> />

REESTRUTURAÇÃO<<strong>br</strong> />

PRODUTIVA<<strong>br</strong> />

Um dos problanas mais destacados nas<<strong>br</strong> />

conversas com os dingaites sindicais diz<<strong>br</strong> />

respeito á queda da qualidade de vida e de<<strong>br</strong> />

trabalho no pai s. Apesar de o padrão de vida<<strong>br</strong> />

ainda ser um dos melhores do mundo, de<<strong>br</strong> />

van caindo muito, com a piora de vános<<strong>br</strong> />

indicadores soaais como saúde, educação,<<strong>br</strong> />

mortalidade infantil e alfabetização.<<strong>br</strong> />

O nível de rendimentos do trabalho<<strong>br</strong> />

também tem se reduzido. Entre 1945 e<<strong>br</strong> />

1973, os salários subiam e, simultanea-<<strong>br</strong> />

mente, diminuíam as diferenças entre os<<strong>br</strong> />

níveis salariais. De 1973 e 1993, o salá-<<strong>br</strong> />

rio real caiu e a renda ficou mais con-<<strong>br</strong> />

centrada: os salários cresceram para os<<strong>br</strong> />

20% mais ricos, mantiveram-se estáveis<<strong>br</strong> />

para outros 20% e diminuíram para os 60%<<strong>br</strong> />

mais po<strong>br</strong>es.<<strong>br</strong> />

A negociação de benefícios, que po-<<strong>br</strong> />

deria contribuir para a maior estabilida-<<strong>br</strong> />

de dos rendimentos ou melhoria do nível<<strong>br</strong> />

de vida, praticamente ocorre apenas nas<<strong>br</strong> />

categorias mais <strong>org</strong>anizadas Nesses ca-<<strong>br</strong> />

sos, os baieficios são a<strong>br</strong>angaites (segu-<<strong>br</strong> />

ro-saúde, fundos de paisão etc). E che-<<strong>br</strong> />

gam a do<strong>br</strong>ar o salário mensal. Porém na<<strong>br</strong> />

maioria das novas colocações, os salári-<<strong>br</strong> />

os são inferiores e os benefícios não exis-<<strong>br</strong> />

tem ou são menores, contribuindo com a<<strong>br</strong> />

queda da renda e da qualidade de vida.<<strong>br</strong> />

Diante de uma situação que se toma<<strong>br</strong> />

mais difícil para os trabalhadores, tem<<strong>br</strong> />

aumentado, nos Estados Unidos, o<<strong>br</strong> />

percentual de pessoas com mais de um<<strong>br</strong> />

emprego e o número de pessoas empre-<<strong>br</strong> />

gadas na família.<<strong>br</strong> />

Ao mesmo tempo, os trabalhadores<<strong>br</strong> />

têm sofrido com novas doenças, algumas<<strong>br</strong> />

que, normalmaite, decorrem da repetição<<strong>br</strong> />

de uni mesmo movimento, comum em de-<<strong>br</strong> />

terminadas profissões. Difícil é o sindica-<<strong>br</strong> />

to provar que a doaiça é profissional, já<<strong>br</strong> />

que alguns sintomas só surgem muito tem-<<strong>br</strong> />

po depois de realizado o trabalho<<strong>br</strong> />

As alterações introduzidas no merca-<<strong>br</strong> />

do de trabalho e o desemprego provoca-<<strong>br</strong> />

do por elas causam impactos psicológi-<<strong>br</strong> />

cos negativos tanto em quem perdeu o<<strong>br</strong> />

emprego quanto em quem o manteve.<<strong>br</strong> />

Quem fica na empresa sente-se um so-<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>evivente, mas continua inseguro. Para<<strong>br</strong> />

esses trabalhadores, os projetos de par-<<strong>br</strong> />

ceria entre sindicatos e empresas são po-<<strong>br</strong> />

sitivos, pois conseguem melhores resul-<<strong>br</strong> />

tados na questão da instabilidade, nego-<<strong>br</strong> />

ciando mais garantias<<strong>br</strong> />

Outro problema ocorre nos casos de<<strong>br</strong> />

reestruturação realizada de cima para<<strong>br</strong> />

baixo, quando os trabalhadores se tor-<<strong>br</strong> />

nam mais individualistas, desligados do<<strong>br</strong> />

ponto de vista psicológico, vulneráveis,<<strong>br</strong> />

obedientes e passivos.<<strong>br</strong> />

Para os que mudaram de setor ou de<<strong>br</strong> />

emprego, a qualidade do novo trabalho<<strong>br</strong> />

é muito importante, e não conta apenas<<strong>br</strong> />

a remuneração. A situação, porém, épior<<strong>br</strong> />

para trabalhadores de setores mais tra-<<strong>br</strong> />

dicionais e de empresas mais antigas. Há<<strong>br</strong> />

uma desestruturação social, que se re-<<strong>br</strong> />

flete na vida do trabalhador e de sua fa-<<strong>br</strong> />

mília, segundo avaliações feitas por uma<<strong>br</strong> />

professora da Universidade de Pittsburg.<<strong>br</strong> />

Como forma de diminuir esses pro-<<strong>br</strong> />

blemas, ao menos em alsuns dos casos.<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA EA ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 26 Internacional<<strong>br</strong> />

há um programa nos Estados unidos - o<<strong>br</strong> />

ESOP - que possibilita aos trabalhado-<<strong>br</strong> />

res assumirem a propriedade e o contro-<<strong>br</strong> />

le da empresa. Muitas vezes, quando<<strong>br</strong> />

uma empresa está em situação muito<<strong>br</strong> />

ruim, com risco de fechar, os trabalha-<<strong>br</strong> />

dores compram suas ações, a recuperam,<<strong>br</strong> />

garantem seus empregos e, na maioria<<strong>br</strong> />

das vezes, a vendem para ganhar algum<<strong>br</strong> />

dinheiro e não terem responsabilidade<<strong>br</strong> />

por sua administração, segundo dizem<<strong>br</strong> />

os próprios sindicalistas.<<strong>br</strong> />

Um exemplo diferente, porém, é o da<<strong>br</strong> />

companhia aérea United Airline. Os fun-<<strong>br</strong> />

cionários - com exceção dos pilotos -<<strong>br</strong> />

compraram 55% das ações da empresa,<<strong>br</strong> />

que estava em boa situação financeira, e<<strong>br</strong> />

se propõem a continuar a administrá-la.<<strong>br</strong> />

O sindicato, em conjunto com os tra-<<strong>br</strong> />

balhadores sindicalizados, está fazendo<<strong>br</strong> />

uma séria de modificações na forma de<<strong>br</strong> />

gestão, com trabalhos experimentais na<<strong>br</strong> />

área de qualidade dos serviços e garantia<<strong>br</strong> />

de emprego. Atualmente, discutem a com-<<strong>br</strong> />

pra da USAir.<<strong>br</strong> />

SALÁRIO E REMUNERAÇÃO<<strong>br</strong> />

Enquanto o salário minimo definido<<strong>br</strong> />

nos EUA é de US$ 4,50 por hora, a média<<strong>br</strong> />

salarial do trabalhador sindicalizado está<<strong>br</strong> />

em tomo de US$ 14,00 por hora, excluí-<<strong>br</strong> />

dos os benefícios. Com sua inclusão, a<<strong>br</strong> />

média sobe para US$ 25,00. No entanto,<<strong>br</strong> />

para os não <strong>org</strong>anizados, a média é de<<strong>br</strong> />

US$<strong>12</strong>,00, podendo haver, ou não, a in-<<strong>br</strong> />

clusão de algum tipo de beneficio.<<strong>br</strong> />

Os benefícios têm um papel muito im-<<strong>br</strong> />

portante para o trabalhador norte-amen-<<strong>br</strong> />

cano. Com eles, o salário pode do<strong>br</strong>ar,<<strong>br</strong> />

além de garantir questões importantes para<<strong>br</strong> />

a qualidade de vida do trabalhador e de<<strong>br</strong> />

sua família. E o caso, por exemplo, de um<<strong>br</strong> />

bom seguro-saúde, que nos Estados Uni-<<strong>br</strong> />

dos - país onde praticamente inexiste aten-<<strong>br</strong> />

dimento pela rede de saúde pública - é<<strong>br</strong> />

muito caro. A complementação da apo-<<strong>br</strong> />

sentadona tem a mesma importância.<<strong>br</strong> />

Nomialmente, esses benefícios são ob-<<strong>br</strong> />

tidos pelos sindicatos e a eles só tem direito<<strong>br</strong> />

o trabalhador sindicalizado. Muitas empre-<<strong>br</strong> />

sas estão mexendo nesses baiefícios, e não<<strong>br</strong> />

nos salános, para reduzir custos.<<strong>br</strong> />

A questão salarial e a perda de pos-<<strong>br</strong> />

tos de trabalho estão entre as razões para<<strong>br</strong> />

que o movimento sindical norte-ameri-<<strong>br</strong> />

cano adote posições contrárias ao<<strong>br</strong> />

NAFTA. A General Motors, por exem-<<strong>br</strong> />

plo, a<strong>br</strong>iu uma empresa no México pa-<<strong>br</strong> />

gando US$ 5,00 por hora aos funcioná-<<strong>br</strong> />

rios, sem benefícios, enquanto um tra-<<strong>br</strong> />

balhador em Detroit ganha US$ 25,00,<<strong>br</strong> />

fora os benefícios. Mesmo assim, o car-<<strong>br</strong> />

ro não chega a um preço mais barato nos<<strong>br</strong> />

Estado Unidos<<strong>br</strong> />

O caso da General Motors não é iso-<<strong>br</strong> />

lado, pois a diferença entre os salários<<strong>br</strong> />

pagos no México e nos Estados Unidos<<strong>br</strong> />

é muito grande. Outras empresas, como<<strong>br</strong> />

a Ford, por exemplo, também estão se<<strong>br</strong> />

transferindo do país, alegando a neces-<<strong>br</strong> />

sidade de reduzir custos.<<strong>br</strong> />

Tanto o surgimento de novos postos<<strong>br</strong> />

quanto as alternativas de investimento<<strong>br</strong> />

oferecidas, como o ESOP, implicam a re-<<strong>br</strong> />

dução de salários. Os níveis de remune-<<strong>br</strong> />

ração mais baixos são caracteiísticos da<<strong>br</strong> />

maioria das novas ocupações. Além dis-<<strong>br</strong> />

so, alguns empregados aceitam o corte em<<strong>br</strong> />

seus rendimentos para investir na empre-<<strong>br</strong> />

sa, às vezes, através da compras de ações.<<strong>br</strong> />

O programa ESOP é uma das formas de<<strong>br</strong> />

participação dos trabalhadores.<<strong>br</strong> />

Mas não é apenas através da aquisi-<<strong>br</strong> />

ção de ações que os trabalhadores procu-<<strong>br</strong> />

ram participar das empresas. Muitas ne-<<strong>br</strong> />

gociações têm incluído a participação nos<<strong>br</strong> />

lucros ou o estabelecimento de bônus, sem-<<strong>br</strong> />

pre em benefício dos trabalhadores.<<strong>br</strong> />

FORMAÇÃO PROFISSIONAL<<strong>br</strong> />

Os Estados Unidos não dispõem de<<strong>br</strong> />

um programa governamental de forma-<<strong>br</strong> />

ção profissional. Muitas prefeituras, po-<<strong>br</strong> />

rém, apoiam financeiramente programas<<strong>br</strong> />

desenvolvidos por empresas, sindicatos<<strong>br</strong> />

ou através de parcerias.<<strong>br</strong> />

Com relação ás empresas, os investi-<<strong>br</strong> />

mento são maciços, além de serem co-<<strong>br</strong> />

muns os trabalhos de parceria entre a<<strong>br</strong> />

empresa e o sindicato. As razões são bas-<<strong>br</strong> />

tante claras, há a necessidade de fazer os<<strong>br</strong> />

trabalhadores se ajustarem à nova <strong>org</strong>a-<<strong>br</strong> />

nização do trabalho, às novas tarefas e<<strong>br</strong> />

aumentarem sua produtividade.<<strong>br</strong> />

Ao mesmo tempo, a fonnação profis-<<strong>br</strong> />

sional tem sido a grande "arma" do mo-<<strong>br</strong> />

vimento sindical contra o desemprego. Há<<strong>br</strong> />

muitos programas de treinamento e<<strong>br</strong> />

retreinamento tanto para garantir o em-<<strong>br</strong> />

prego de quem fica como para assegurar<<strong>br</strong> />

a obtaição de um novo posto de trabalho<<strong>br</strong> />

para quem vai sair. Mesmo porque o<<strong>br</strong> />

mercado de trabalho tem mudado muito,<<strong>br</strong> />

e não simplesmente reduzido a oferta de<<strong>br</strong> />

emprego. Os sindicalistas acreditam que<<strong>br</strong> />

todo trabalhador encontrará uma nova<<strong>br</strong> />

colocação, desde que disponha de uma<<strong>br</strong> />

boa formação profissional, mesmo que<<strong>br</strong> />

seja para desenvolver um tipo de servi-<<strong>br</strong> />

ço mais precário. De qualquer modo,<<strong>br</strong> />

muitos desses programas só se destinam<<strong>br</strong> />

a trabalhadores sindicalizados, sendo re-<<strong>br</strong> />

alizados fora do horário de trabalho.<<strong>br</strong> />

Por outro lado, a educação fonnal está<<strong>br</strong> />

sendo muito criticada devido à sua ma<<strong>br</strong> />

qualidade, e por não preparar o jovem<<strong>br</strong> />

para a nova realidade do mercado de tra-<<strong>br</strong> />

balho, que exige cada vez mais novas<<strong>br</strong> />

qualificações e habilidades do trabalha-<<strong>br</strong> />

dor, mantendo-se preso a questões obso-<<strong>br</strong> />

letas. Essa crítica atinge tanto o aisino<<strong>br</strong> />

básico quanto o intermediário e supenor.<<strong>br</strong> />

Durante o período de viagem da mis-<<strong>br</strong> />

são, foram visitados vános programas de<<strong>br</strong> />

fonnação em diferentes setores, como os<<strong>br</strong> />

têxteis de Nova York, a Alliance, em Nova<<strong>br</strong> />

Jersey, ligado á empresa AT&T de tele-<<strong>br</strong> />

comunicações, e o da Ford, em Detroit<<strong>br</strong> />

RELAÇÕES (APH AL/<<strong>br</strong> />

TRABALHO<<strong>br</strong> />

Para as empresas, um dos pontos mais<<strong>br</strong> />

importantes, no momento, é o aumento<<strong>br</strong> />

da flexibilidade que lhes permita ganhai<<strong>br</strong> />

qualidade e produtividade. Dizem que a<<strong>br</strong> />

concorrência é a nova guerra mundial.<<strong>br</strong> />

Em conseqüência, adotam as posturas<<strong>br</strong> />

anti-sindicais e gastam milhões de dóla-<<strong>br</strong> />

res com advogados para que defendam<<strong>br</strong> />

seus interesses.<<strong>br</strong> />

Raramente o sistema de contratação<<strong>br</strong> />

é nacional. As negociações normalmente<<strong>br</strong> />

ocorrem por empresa, começando, em<<strong>br</strong> />

geral, pelas mais importantes, que aca-<<strong>br</strong> />

bam servindo de base para as demais ne-<<strong>br</strong> />

gociações Poucas categorias negociam<<strong>br</strong> />

regionalmente.<<strong>br</strong> />

Entre 80% e 90% das negociações são<<strong>br</strong> />

feitas pelos sindicatos, com a ajuda da<<strong>br</strong> />

federação do setor, ou de sua estrutura<<strong>br</strong> />

regional, que fornece os dados mais glo-<<strong>br</strong> />

bais. Há também contratos de vários sin-<<strong>br</strong> />

dicatos com várias empresas. Normal-<<strong>br</strong> />

mente, no setor privado, os contratos têm<<strong>br</strong> />

duração de três anos, prevendo-se rea-<<strong>br</strong> />

justes durante seu período de vigência<<strong>br</strong> />

Os trabalhadores temporários das em-<<strong>br</strong> />

presas não são a<strong>br</strong>angidos pelos contra-<<strong>br</strong> />

tos, mas, em algumas ocasiões, existem<<strong>br</strong> />

cláusulas que garantem alguns direitos<<strong>br</strong> />

Nos Estados Unidos não existe Justi-<<strong>br</strong> />

ça do Trabalho, assim como não ha le-<<strong>br</strong> />

gislação trabalhista nacional Cada esta-<<strong>br</strong> />

do dispões de legislação própria e. por<<strong>br</strong> />

vezes, até os municípios têm normas le-<<strong>br</strong> />

gais próprias.<<strong>br</strong> />

Nos locais onde o movimento sindical<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA EA ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 27 Internacional<<strong>br</strong> />

participou do processo de reestruturação,<<strong>br</strong> />

houve o fortalecimento do sindicato. Algu-<<strong>br</strong> />

mas federações já estão preparadas, com<<strong>br</strong> />

especialistas ou assessoria própria, para ana-<<strong>br</strong> />

lisar os livros contáveis das empresas.<<strong>br</strong> />

AGRICULTURA<<strong>br</strong> />

Apesar de sua expressiva produção<<strong>br</strong> />

agrícola, apenas 2% da população traba-<<strong>br</strong> />

lha na agricultura, nos Estados Unidos.<<strong>br</strong> />

A utilização de moderna tecnologia,<<strong>br</strong> />

baseada em computadores, satélites, no-<<strong>br</strong> />

vas máquinas e equipamentos, já é uma<<strong>br</strong> />

realidade. São empregadas nas lavouras<<strong>br</strong> />

colheitadeiras com sensor que medem a<<strong>br</strong> />

umidade da planta e colhem seletivamen-<<strong>br</strong> />

te. Também há máquinas que usam ima-<<strong>br</strong> />

gem de satélites para analisar as condições<<strong>br</strong> />

do solo e distribuir o adubo ou agrotóxicos<<strong>br</strong> />

na medida adequada a cada 10 m2. Com<<strong>br</strong> />

isso, o número de trabalhadores nas pro-<<strong>br</strong> />

pnedades rurais é pequeno. Um exemplo<<strong>br</strong> />

usado por um dos expositores revela que,<<strong>br</strong> />

em uma fazenda de arroz com 5 mil ha,<<strong>br</strong> />

trabalha somente oito empregados.<<strong>br</strong> />

As definições de uma a<strong>br</strong>angente po-<<strong>br</strong> />

lítica agrícola ocorrem a cada cinco anos.<<strong>br</strong> />

O trabalho de extensão rural é desen-<<strong>br</strong> />

volvido desde 1814. Os programas são<<strong>br</strong> />

locais e, muitas vezes, financiados pelo<<strong>br</strong> />

próprio condado. Dele participam pesso-<<strong>br</strong> />

as da comunidade, que definem onde será<<strong>br</strong> />

implantado e que tipo de treinamento de-<<strong>br</strong> />

ver ser realizado. Os pequenos produto-<<strong>br</strong> />

res estão em busca de novas alternativas<<strong>br</strong> />

de produção de alimentos, inclusive des-<<strong>br</strong> />

tinados à exportação.<<strong>br</strong> />

As fazendas familiares não são mais<<strong>br</strong> />

consideradas viáveis, atestam vános es-<<strong>br</strong> />

tudos elaborados nos Estados Unidos. As<<strong>br</strong> />

pequenas propriedades e cidades menores<<strong>br</strong> />

estão sendo abandonadas por muitos fa-<<strong>br</strong> />

zendeiros e, principalmente, seus filhos.<<strong>br</strong> />

Mesmo os comerciantes estão migrando<<strong>br</strong> />

para as cidades maiores.<<strong>br</strong> />

Quando as pequenas cidades não são<<strong>br</strong> />

abandonadas, representantes do setor de<<strong>br</strong> />

alimentação revelam que muitos peque-<<strong>br</strong> />

nos e médios proprietários vendem ou alu-<<strong>br</strong> />

gam suas propriedades para o setor<<strong>br</strong> />

agroindustrial, tomando-se empregados da<<strong>br</strong> />

empresa. A produção, no caso da avicul-<<strong>br</strong> />

tura, por exemplo, costuma ser totalmai-<<strong>br</strong> />

te automatizada e padronizada, facilitan-<<strong>br</strong> />

do a ação da empresa.<<strong>br</strong> />

A representação sindical de quem tra-<<strong>br</strong> />

balha na produção rural se dá através do<<strong>br</strong> />

sindicato da alimentação, mas são pou-<<strong>br</strong> />

cos os sindicalizados. Como não existe<<strong>br</strong> />

legislação trabalhista para os trabalha-<<strong>br</strong> />

dores da agricultura, a sindicalização<<strong>br</strong> />

deles toma-se mais difícil. Com isso,<<strong>br</strong> />

os fazendeiros podem pagar abaixo do<<strong>br</strong> />

mínimo, quando não há qualquer tipo<<strong>br</strong> />

de contrato de trabalho.<<strong>br</strong> />

Quase toda a mão-de-o<strong>br</strong>a é com-<<strong>br</strong> />

posta por migrantes que não possuem<<strong>br</strong> />

qualquer direito trabalhista, o que acar-<<strong>br</strong> />

reta condições de trabalho muito precá-<<strong>br</strong> />

ria. Normalmente, eles ganham por pro-<<strong>br</strong> />

dução e há a exploração de mão-de-o<strong>br</strong>a<<strong>br</strong> />

de crianças. Os principais estados que<<strong>br</strong> />

empregam mão-de-o<strong>br</strong>a migrante são<<strong>br</strong> />

Califórnia, Novo México e Arizona.<<strong>br</strong> />

MEDIAÇÃO<<strong>br</strong> />

O trabalho de mediação nos Estados<<strong>br</strong> />

Unidos é desenvolvido através da Fe-<<strong>br</strong> />

deral Mediation and Conciliation<<strong>br</strong> />

Service (FCMS), um órgão oficial de<<strong>br</strong> />

mediação e conciliação, que no entan-<<strong>br</strong> />

to, é autônomo dentro do governo, sem<<strong>br</strong> />

pertencer a nenhum ministério.<<strong>br</strong> />

O sistema conta com duzentos medi-<<strong>br</strong> />

adores, espalhados por dezenove distri-<<strong>br</strong> />

tos, com orçamento próprio. O governo<<strong>br</strong> />

incentiva a mediação mas não interfere<<strong>br</strong> />

no processo.<<strong>br</strong> />

A lei de negociação, cnada em 1935,<<strong>br</strong> />

permite que se chame um mediador<<strong>br</strong> />

quando surge um impasse. O pedido<<strong>br</strong> />

deve ser feito pelas duas partes e o nome<<strong>br</strong> />

deve ser de consenso. Não é co<strong>br</strong>ado<<strong>br</strong> />

nada por esse serviço.<<strong>br</strong> />

Os mediadores não são funcionári-<<strong>br</strong> />

os públicos e podem ser demitidos a<<strong>br</strong> />

qualquer momento. Os critérios para<<strong>br</strong> />

admissão são:<<strong>br</strong> />

a. dez anos de experiência como ne-<<strong>br</strong> />

gociador dos trabalhadores ou patronal<<strong>br</strong> />

e que tenha aceitabilidade;<<strong>br</strong> />

b. neutro: sem relações pessoais com<<strong>br</strong> />

qualquer dos lados;<<strong>br</strong> />

c. confidencialidade: não pode reve-<<strong>br</strong> />

lar nada.<<strong>br</strong> />

Cada mediador participa, em média,<<strong>br</strong> />

de duzentas negociações por ano. Seu<<strong>br</strong> />

papel é o de observar, fazer perguntas e<<strong>br</strong> />

argumentar, tentando mudar posições rí-<<strong>br</strong> />

gidas. Se não há consaiso e acordo se<<strong>br</strong> />

toma impossível, não há um tribunal que<<strong>br</strong> />

solucione o conflito. Pode haver greve<<strong>br</strong> />

ou adiamento das negociações. Como<<strong>br</strong> />

não exercem o papel de árbitros, se não<<strong>br</strong> />

há consenso, se retiram. Às vezes, po-<<strong>br</strong> />

dem recomendar algo em particular.<<strong>br</strong> />

Para fazer a mediação, os mediado-<<strong>br</strong> />

res recebem dados da empresa e do sin-<<strong>br</strong> />

dicato, que lhes permitam saber qual a<<strong>br</strong> />

situação exata da negociação. No trans-<<strong>br</strong> />

curso do trabalho, tentam passar a im-<<strong>br</strong> />

pressão de que foram as partes que re-<<strong>br</strong> />

solveram o conflito. Caso existam pon-<<strong>br</strong> />

tos que fiquem em aberto, após o acor-<<strong>br</strong> />

do, o mediador pode voltar para resol-<<strong>br</strong> />

ver pontos pendentes. Normalmente, os<<strong>br</strong> />

pontos que geram mais conflitos são es-<<strong>br</strong> />

tabilidade no emprego, salário, seguro e<<strong>br</strong> />

formação.<<strong>br</strong> />

Os mediadores do FCMS consideram<<strong>br</strong> />

que o fórum é importante para discutir<<strong>br</strong> />

questões novas, como produtividade e<<strong>br</strong> />

salário, integração econômica e<<strong>br</strong> />

tecnologia.<<strong>br</strong> />

Embora existam contratos que duram<<strong>br</strong> />

até quinze anos, os sindicatos preferem<<strong>br</strong> />

que eles sejam estabelecidos com menor<<strong>br</strong> />

duração.<<strong>br</strong> />

O FCMS também está desenvolven-<<strong>br</strong> />

do trabalhos no sentido de implantar a<<strong>br</strong> />

mediação em outros países, como El<<strong>br</strong> />

Salvador, Equador e África do Sul. No<<strong>br</strong> />

entanto, para serviço, o sistema de rela-<<strong>br</strong> />

ções industriais e de mediação não é per-<<strong>br</strong> />

feito, devendo ser copiado e adaptado em<<strong>br</strong> />

cada país, respeitando-se as diferenças<<strong>br</strong> />

e os costumes próprios.<<strong>br</strong> />

ARBITRAGEM<<strong>br</strong> />

Se para a mediação existe um <strong>org</strong>a-<<strong>br</strong> />

nismo oficial, a arbitragem é desenvol-<<strong>br</strong> />

vida por uma entidade privada, sem fins<<strong>br</strong> />

lucrativos, a Associação Amencana de<<strong>br</strong> />

Arbitragem, fundada em 1933.<<strong>br</strong> />

A entidade não recebe dinheiro públi-<<strong>br</strong> />

co, mas co<strong>br</strong>a taxa administrativa de<<strong>br</strong> />

quem utiliza seus serviços e o dos sóci-<<strong>br</strong> />

os. Possui 35 escritórios regionais espa-<<strong>br</strong> />

lhados pelo país e conta com 25 mil ár-<<strong>br</strong> />

bitros em seu quadro de pessoal, 2 mil<<strong>br</strong> />

deles atuando na área trabalhista. Apro-<<strong>br</strong> />

ximadamente a metade deles é constituí-<<strong>br</strong> />

da por advogados, mas há professores e<<strong>br</strong> />

intelectuais, entre outros.<<strong>br</strong> />

A associação trata de aproximada-<<strong>br</strong> />

mente 60 mil casos de arbitragem por<<strong>br</strong> />

ano, algumas inclusive entre empresas.<<strong>br</strong> />

Para atuar, é necessário que uma das<<strong>br</strong> />

partes faça o pedido da arbitragem. Com<<strong>br</strong> />

a solicitação, a entidade envia uma lista<<strong>br</strong> />

com nove nomes de árbitros e seus res-<<strong>br</strong> />

pectivos currículos, tanto para a empre-<<strong>br</strong> />

sa como para o sindicato, e as partes in-<<strong>br</strong> />

teressadas têm dez dias para responder,<<strong>br</strong> />

em ordem de preferência. Caso a lista<<strong>br</strong> />

não seja aceita, é elaborada uma segun-<<strong>br</strong> />

da. Se a arbitragem é pedida por uma<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA E A ELA RETORNA


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 28 Internacional<<strong>br</strong> />

das partes, e a outra se recusa a partici-<<strong>br</strong> />

par, o processo é feito assim mesmo.<<strong>br</strong> />

A mediação precede a arbitragem. Na<<strong>br</strong> />

mediação, as duas partes chegam a um<<strong>br</strong> />

acordo, enquanto na arbitragem os dois<<strong>br</strong> />

lados podem sair não muito satisfátos com<<strong>br</strong> />

o desenrolar do processo, na medida em<<strong>br</strong> />

que uma proposta tem de ser escolhida.<<strong>br</strong> />

O árbitro, em qualquer processo,<<strong>br</strong> />

tem de ser neutro e imparcial, não po-<<strong>br</strong> />

dendo ter discussão privada com ne-<<strong>br</strong> />

nhuma das partes. Não pode, também.<<strong>br</strong> />

conceder entrevistas à imprensa. Du-<<strong>br</strong> />

rante o processo, o árbitro ouve os dois<<strong>br</strong> />

lados, encerra a audiência e tem trinta<<strong>br</strong> />

dias para emitir sua posição final. Às<<strong>br</strong> />

vezes, pede documentos de evidência e<<strong>br</strong> />

pode prorrogar o prazo. Depois de en-<<strong>br</strong> />

tregue a decisão, a associação encer-<<strong>br</strong> />

ra seu trabalho. Se uma das partes, ou<<strong>br</strong> />

as duas, considerar que houve qual-<<strong>br</strong> />

quer cálculo errado, pode pedir a rea-<<strong>br</strong> />

bertura do caso.<<strong>br</strong> />

Caso o processo envolva uma ques-<<strong>br</strong> />

tão muito técnica, é possível optar por<<strong>br</strong> />

árbitos especialistas no assunto. As par-<<strong>br</strong> />

tes também podem levar técnicos que<<strong>br</strong> />

auxiliam na decisão, ou apresentar teste-<<strong>br</strong> />

munhas peritas. Esse comportamento é<<strong>br</strong> />

mais freqüente na área comercial.<<strong>br</strong> />

O trabalho de arbitragem custa cer-<<strong>br</strong> />

ca de US$ 600,00 por dia e o pagamen-<<strong>br</strong> />

to é feito pelas duas partes. As arbitra-<<strong>br</strong> />

gens são pouco freqüentes na negocia-<<strong>br</strong> />

ção coletiva, sendo mais comuns nas<<strong>br</strong> />

questões trabalhistas. □<<strong>br</strong> />

O Trabalho - 22 de Maio a 5 de Junho/96 - N» 394<<strong>br</strong> />

"Renasce " o movimento operário<<strong>br</strong> />

A fundação do Labor Party simboliza a inauguração de uma nova etapa nos EUA,<<strong>br</strong> />

com repercussões importantes no plano internacional<<strong>br</strong> />

Entre os dias 6 e 9 de junho próxi-<<strong>br</strong> />

mos, na cidade operária de Cleveland,<<strong>br</strong> />

ocorrerá o congresso da fundação do<<strong>br</strong> />

Labor Party (Partido do Trabalho) dos<<strong>br</strong> />

Estados Unidos. Ele contará com repre-<<strong>br</strong> />

sentações de sindicatos que têm na base<<strong>br</strong> />

mais de um milhão de trabalhadores.<<strong>br</strong> />

Sua bandeira principal é: "Os patrões<<strong>br</strong> />

têm dois partidos. Os trabalhadores de-<<strong>br</strong> />

vem tem pelo menos um".<<strong>br</strong> />

A burguesia nos EUA se inquieta com<<strong>br</strong> />

o que chama de "renascimento do movi-<<strong>br</strong> />

mento operário". O congresso não é um<<strong>br</strong> />

fato isolado. Vários são os elementos de<<strong>br</strong> />

reação à piora das condições de vida e<<strong>br</strong> />

trabalho. <strong>Greve</strong>s importantes, como na<<strong>br</strong> />

Boeing ou na General Motors, são faces<<strong>br</strong> />

da resistência que se aprofunda. No re-<<strong>br</strong> />

cente congresso da coitral sindical AFL-<<strong>br</strong> />

CIO, (leia abaixo) uma verdadeira revol-<<strong>br</strong> />

ta botou para correr a antiga direção.<<strong>br</strong> />

Os trabalhadores norte-americanos<<strong>br</strong> />

enfrentam um dos periodos mais difíceis<<strong>br</strong> />

de sua história. O salário médio caiu cer-<<strong>br</strong> />

ca de 30% desde 1973. A ofensiva do<<strong>br</strong> />

capital é <strong>org</strong>anizada pelos dois partidos<<strong>br</strong> />

da burguesia: os republicanos (Reagan-<<strong>br</strong> />

Bush) e os democratas do atual presi-<<strong>br</strong> />

dente Clinton. Foi ele quem assinou o<<strong>br</strong> />

acordo de livre comércio (Nafta), pelo<<strong>br</strong> />

qual milhares de trabalhadores vão per-<<strong>br</strong> />

der seus postos de trabalho, transferidos<<strong>br</strong> />

para o México onde o custo do trabalho<<strong>br</strong> />

é 20 vezes mais baixo.<<strong>br</strong> />

A fundação do Labor Party significa<<strong>br</strong> />

que, pela primeira vez em grande esca-<<strong>br</strong> />

la, a classe operária americana se <strong>org</strong>a-<<strong>br</strong> />

niza em um partido independente, o que<<strong>br</strong> />

lhe permite enfrentar o monopólio da<<strong>br</strong> />

representação política pelos explorado-<<strong>br</strong> />

res. E um fato cuja importância ultra-<<strong>br</strong> />

passa as fronteiras dos EUA. Os mili-<<strong>br</strong> />

tantes norte-americanos da AcIT (Acor-<<strong>br</strong> />

do Internacional dos Trabalhadores) são<<strong>br</strong> />

parte integrante desse processo desde o<<strong>br</strong> />

início.<<strong>br</strong> />

Mobilizações<<strong>br</strong> />

A revista patronal Nation's Business<<strong>br</strong> />

publicou em fevereiro um artigo ("O<<strong>br</strong> />

movimento operário volta á vida") so-<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>e a central sindical AFL-CIO. A re-<<strong>br</strong> />

vista afirma:<<strong>br</strong> />

"O movimento operário se desemba-<<strong>br</strong> />

raçou de seus velhos chefes. Seus novos<<strong>br</strong> />

dirigentes são ofensivos, provocativos, e<<strong>br</strong> />

dizem que querem <strong>org</strong>anizar também os<<strong>br</strong> />

trabalhadores não sindicalizados a fim de<<strong>br</strong> />

fazer pressão para obter os melhores acor-<<strong>br</strong> />

dos para seus mem<strong>br</strong>os, usando, muitas<<strong>br</strong> />

vezes, táticas de confrontação. "Vocês ve-<<strong>br</strong> />

rão um movimento operário muito mais<<strong>br</strong> />

<strong>org</strong>anizado no ano 2000. Um movimen-<<strong>br</strong> />

to mais potente e mais numeroso", decla-<<strong>br</strong> />

rou J. Sweeney, novo presidente da AFL-<<strong>br</strong> />

CIO, que pretende mobilizar centenas de<<strong>br</strong> />

quadros profissionalizados para <strong>org</strong>ani-<<strong>br</strong> />

zar os trabalhadores não-sindicalizados,<<strong>br</strong> />

para obter melhores acordos e mobilizar<<strong>br</strong> />

seus apoiadores para transformar a ques-<<strong>br</strong> />

tão do aumento de salários em uma ques-<<strong>br</strong> />

tão nacional."<<strong>br</strong> />

No final de 1995, a vitória da greve<<strong>br</strong> />

na Boeing marcou a luta dos trabalhado-<<strong>br</strong> />

res americanos. Por 69 dias ela mobili-<<strong>br</strong> />

zou 32.500 trabalhadores da empresa em<<strong>br</strong> />

3 estados por melhores salários e garan-<<strong>br</strong> />

tias de emprego. O sindicato obteve qua-<<strong>br</strong> />

se tudo: aumento de salário, compromis-<<strong>br</strong> />

so da Boeing com não remanejamento dos<<strong>br</strong> />

funcionários e assistência médica.<<strong>br</strong> />

"Dormiu no volante"<<strong>br</strong> />

Sweeney foi eleito em outu<strong>br</strong>o pas-<<strong>br</strong> />

sado, derrotando Lane Kirkland que di-<<strong>br</strong> />

rigiu a entidade por 16 anos, com uma<<strong>br</strong> />

plataforma dizendo: "A América preci-<<strong>br</strong> />

sa de um aumento de salários, os lucros<<strong>br</strong> />

aumentam, a produtividade aumenta, os<<strong>br</strong> />

salários dos dingente das empresas au-<<strong>br</strong> />

mentam, mas os salários e assistência<<strong>br</strong> />

médica dos trabalhadores só diminuem".<<strong>br</strong> />

A Eleição de Sweeney deu-se num<<strong>br</strong> />

momento critico para o movimento sin-<<strong>br</strong> />

dical nos EUA, quando o nome de<<strong>br</strong> />

Kirkland estava associado à complacên-<<strong>br</strong> />

cia e ao próprio declínio do movimento<<strong>br</strong> />

nos últimos anos.<<strong>br</strong> />

"O movimento sindical dormiu no<<strong>br</strong> />

volante. Atacado por anos durante os go-<<strong>br</strong> />

vernos Reagan e Bush, ficamos inertes"<<strong>br</strong> />

declarou Vic Kamber, que assessora 18<<strong>br</strong> />

sindicatos. <strong>Geral</strong>d McEntee, presidente<<strong>br</strong> />

da Federação de Empregados Munici-<<strong>br</strong> />

pais e Estaduais, disse: "Nos últimos 20<<strong>br</strong> />

anos, o movimento sindical perdeu uma<<strong>br</strong> />

parte de sua potência e de sua influên-<<strong>br</strong> />

cia. Hoje temos uma segunda chance".<<strong>br</strong> />

E uma observação plena de sentido, so-<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>e um processo que será observado com<<strong>br</strong> />

interesse em todo mundo, so<strong>br</strong>e o qual<<strong>br</strong> />

O Trabalho voltará a informar.<<strong>br</strong> />

A AFL-CIO<<strong>br</strong> />

Produto da fusão, nos anos 40, da<<strong>br</strong> />

American Federation of Labor (AFL)<<strong>br</strong> />

com o Congress Industry Organization<<strong>br</strong> />

(CIO), a AFL-CIO é a grande central sin-<<strong>br</strong> />

dical americana. E um dos pilares princi-<<strong>br</strong> />

pais da Confederação Internacional de<<strong>br</strong> />

Organizações Sindicais Livres (CIOSL).<<strong>br</strong> />

A burocracia que a dirigiu sempre<<strong>br</strong> />

apoiou política e financeiramente o Par-<<strong>br</strong> />

tido Democrata. No final dos anos 60 sua<<strong>br</strong> />

direção chegou a sustentar a interven-<<strong>br</strong> />

ção americana no Vietnã.<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRATICA EA ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 29 Internacional<<strong>br</strong> />

Mas com o resultado da ofensiva do ca-<<strong>br</strong> />

pital contra os trabalhadores, com a<<strong>br</strong> />

precanzação geral das relações de tra-<<strong>br</strong> />

balho, começou a ruir a base so<strong>br</strong>e a qual<<strong>br</strong> />

se sustentava aquela burocracia.<<strong>br</strong> />

Num pnmáro momento, a central se<<strong>br</strong> />

enfraqueceu, e perdeu filiados. Mas uma<<strong>br</strong> />

diferenciação "interna", que também é uma<<strong>br</strong> />

reação, levou à eleição de John Sweeney,<<strong>br</strong> />

dirigaite do Sindicato Internacional dos<<strong>br</strong> />

Empregados nos Serviços (SEIU)por quin-<<strong>br</strong> />

ze anos, que assume agora a central com<<strong>br</strong> />

treze milhões de trabalhadores.<<strong>br</strong> />

Labor rompe monopólio<<strong>br</strong> />

A decisão de criar um Labor Party<<strong>br</strong> />

ganha cada vez mais trabalhadores. Os<<strong>br</strong> />

dois principais partidos são, pura e sim-<<strong>br</strong> />

Carta Capital, <strong>12</strong> Junho/1996 - N 0 25<<strong>br</strong> />

plesmente, dominados pelos patrões e<<strong>br</strong> />

não atendem às aspirações de milhões<<strong>br</strong> />

de trabalhadores. Os Partidários do Par-<<strong>br</strong> />

tido Operário - em inglês, LPA - prepa-<<strong>br</strong> />

raram pacientemente, por 4 anos, a fun-<<strong>br</strong> />

dação de um partido com base nos sin-<<strong>br</strong> />

dicatos, e puderam constatar um interes-<<strong>br</strong> />

se crescente.<<strong>br</strong> />

O LPA é uma <strong>org</strong>anização fundada<<strong>br</strong> />

por dirigentes do importante Sindicato<<strong>br</strong> />

dos Trabalhadores do Petróleo, Quími-<<strong>br</strong> />

ca e Energia nuclear (OC AW) há 4 anos.<<strong>br</strong> />

Diretórios do LPA foram constniídos por<<strong>br</strong> />

todo o pais, apoiados por um número<<strong>br</strong> />

crescente de seções de diferentes sindi-<<strong>br</strong> />

catos (nos EUA os sindicatos, nacionais,<<strong>br</strong> />

tem base em seções locais).<<strong>br</strong> />

Por exemplo, o conselho executivo da<<strong>br</strong> />

seção 876 do Sindicato dos Trabalhado-<<strong>br</strong> />

res do Comércio e da Alimentação<<strong>br</strong> />

(UFCW) - 18 mil associados emprega-<<strong>br</strong> />

dos de supermercados em Detroit - deci-<<strong>br</strong> />

diu por imensa maiona, no dia 26 de<<strong>br</strong> />

março, enviar uma delegação ao congres-<<strong>br</strong> />

so que vai constituir o Partido Operário.<<strong>br</strong> />

Como declarou um fundador do LPA,<<strong>br</strong> />

"no dia 9 dejunho, assim que terminar o<<strong>br</strong> />

congresso, os patrões ainda terão dois<<strong>br</strong> />

partidos, mas, ao menos, nós teremos o<<strong>br</strong> />

nosso".<<strong>br</strong> />

"Quem vai defender os trabalhado-<<strong>br</strong> />

res? " (Panfleto do LPA). O asno e o ele-<<strong>br</strong> />

fante são símbolos tradicionais dos par-<<strong>br</strong> />

tidos Republicano e Democrata. □<<strong>br</strong> />

Pela Jornada de Trabalho<<strong>br</strong> />

de zero às 24 horas!<<strong>br</strong> />

Até a virado do século, o berço da revolução industrial<<strong>br</strong> />

acaba com a rotina das 9 às 5<<strong>br</strong> />

A Grã-Bretanha, berço da revolução<<strong>br</strong> />

industrial, será o primeiro pais europeu<<strong>br</strong> />

a substituir a familiar rotina de trabalho<<strong>br</strong> />

das nove ás cinco por uma cultura de 24<<strong>br</strong> />

horas, na virada do século. Segundo pes-<<strong>br</strong> />

quisa publicada em Londres nesta sema-<<strong>br</strong> />

na, o aumento de trabalho de meio perí-<<strong>br</strong> />

odo, temporário e de contrato, implicam<<strong>br</strong> />

diferentes turnos de trabalho.<<strong>br</strong> />

Cada vez mais, concluiu a Mintel,<<strong>br</strong> />

empresa de pesquisa de mercado, haverá<<strong>br</strong> />

mais turnos de trabalho iniciando nas pri-<<strong>br</strong> />

meiras horas da manhã ou no final da tar-<<strong>br</strong> />

de. Assim, trens e ônibus terão de se adap-<<strong>br</strong> />

tar as mudanças. Vários supennercados<<strong>br</strong> />

Tesco, uma das maiores redes <strong>br</strong>itânicas,<<strong>br</strong> />

já ficam abertos 24 horas; certos bancos<<strong>br</strong> />

oferecem serviço telefônico de 24 horas.<<strong>br</strong> />

Ao mesmo tempo, a força de traba-<<strong>br</strong> />

lho também terá de se tomar mais flexí-<<strong>br</strong> />

vel, segundo a pesquisa. Profissionais de<<strong>br</strong> />

qualquer área terão de estar sempre em<<strong>br</strong> />

sintonia com a evolução tecnológica. A<<strong>br</strong> />

boa noticia é que aqueles com mais de<<strong>br</strong> />

50 anos serão apreciados pela sua expe-<<strong>br</strong> />

riência. Portanto, o sistema de aposen-<<strong>br</strong> />

tadoria hoje existente sofrerá grandes<<strong>br</strong> />

mudanças. Um dado positivo, pois de<<strong>br</strong> />

1995 ao ano 2010 haverá acréscimo de<<strong>br</strong> />

28% na população <strong>br</strong>itânica situada na<<strong>br</strong> />

faixa de 55 a 64 anos; em contrapartida.<<strong>br</strong> />

haverá decréscimo de 22% na popula-<<strong>br</strong> />

ção entre 25 e 34 anos.<<strong>br</strong> />

Embora 70% dos entrevistados te-<<strong>br</strong> />

nham manifestado á Mintel preferên-<<strong>br</strong> />

cia por uma força de trabalho flexí-<<strong>br</strong> />

vel, em que os empregados planejam<<strong>br</strong> />

seus horários de trabalho, a escassez<<strong>br</strong> />

de empregos em empresas que antes<<strong>br</strong> />

mantinham seus empregados durante<<strong>br</strong> />

toda sua vida profissional, parece ser<<strong>br</strong> />

a maior preocupação. Para muitos, a<<strong>br</strong> />

segurança de ter um trabalho passou<<strong>br</strong> />

a ser mais importante que o próprio<<strong>br</strong> />

salário.<<strong>br</strong> />

o FIIIíô DO mim<<strong>br</strong> />

^<<strong>br</strong> />

Os nervos nineties (anos noventa<<strong>br</strong> />

nervosos) não estão sendo nenhum mar<<strong>br</strong> />

de rosas para os <strong>br</strong>itânicos. Dois terços<<strong>br</strong> />

dos entrevistados pela enquete da<<strong>br</strong> />

Mintel disseram que suas preocupações<<strong>br</strong> />

com o trabalho estão afetando suas vi-<<strong>br</strong> />

das comojamais. A grande maioria dos<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>itânicos está ciente de que, cada vez<<strong>br</strong> />

mais, terá de lidar com os riscos eco-<<strong>br</strong> />

nômicos. Em outros tempos eram o<<strong>br</strong> />

Estado e a empresa que arcavam com<<strong>br</strong> />

os riscos econômicos. □<<strong>br</strong> />

Por Gianni Carta, de Londres<<strong>br</strong> />

A VENDA NO CPV<<strong>br</strong> />

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A TEORIA<<strong>br</strong> />

MARXISTA<<strong>br</strong> />

DO VALOR<<strong>br</strong> />

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"A TEORIA EMERGE DA PRATICA EA ELA RETORNA"


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 30 Internacional<<strong>br</strong> />

Documento -Junho/1996<<strong>br</strong> />

El Senor Presidente<<strong>br</strong> />

Fim de século: cambalacho<<strong>br</strong> />

Quando a loucura toma conta do cotidiano, quando a loucura não é exceção mas<<strong>br</strong> />

regra, é necessário evocar Raul Seixas, o Maluco Beleza, quando canta:<<strong>br</strong> />

"Controlando a minha maluquei,<<strong>br</strong> />

misturada com a minha lucidez, vou fi-<<strong>br</strong> />

car, ficar com certeza maluco beleza ".<<strong>br</strong> />

Os processos de transição democrá-<<strong>br</strong> />

tica na América Latina contemporânea,<<strong>br</strong> />

têm nos presenteado com - no mínimo -<<strong>br</strong> />

cunosas reificações de canções que acre-<<strong>br</strong> />

ditou-se esquecidas em algum porão<<strong>br</strong> />

abandonado de nostalgia e saudade.<<strong>br</strong> />

O Tango Cambalacho, que retrata<<strong>br</strong> />

com a clareza da visão popular a inver-<<strong>br</strong> />

são de valores nos século XX, identifi-<<strong>br</strong> />

cado como um "século problemático e<<strong>br</strong> />

fe<strong>br</strong>il" em que "tanto vale um burro<<strong>br</strong> />

como um grande professor", "tanto vale<<strong>br</strong> />

ser direito como avesso", fornece cha-<<strong>br</strong> />

ves interpretativas que nenhum livro de<<strong>br</strong> />

sociologia poderá fornecer. Mesmo se o<<strong>br</strong> />

seu autor pedir para o esquecer.<<strong>br</strong> />

E difícil esquecer, e nem sempre pos-<<strong>br</strong> />

sível. Isso sabemos. Mas, quando esque-<<strong>br</strong> />

cer é ser cúmplice com o que não se quer<<strong>br</strong> />

NUNCA MAIS, é um dever lem<strong>br</strong>ar. O<<strong>br</strong> />

travestismo intelectual e político devia ser<<strong>br</strong> />

punido nas nossas frágeis democracias<<strong>br</strong> />

latino americanas. Por que suportar em<<strong>br</strong> />

silâicio, alguém que, despudoradamaite,<<strong>br</strong> />

diz na sua cara: enganei um bobo, na cas-<<strong>br</strong> />

ca do ovo.<<strong>br</strong> />

Quando um intelectual pede a um<<strong>br</strong> />

povo que os donos do poder querem<<strong>br</strong> />

desmemonado, que esqueça, deve saber<<strong>br</strong> />

que faz um pedido difícil de ser atendi-<<strong>br</strong> />

do. So<strong>br</strong>etudo por aqueles que, talvez por<<strong>br</strong> />

um erro de apreciação, alguma vez o<<strong>br</strong> />

misturaram com intelectuais da estirpe<<strong>br</strong> />

de um Octávio lanni, um Chico de Oli-<<strong>br</strong> />

veira, aqueles intelectuais que foram e<<strong>br</strong> />

são um exemplo de virtude que Max<<strong>br</strong> />

Weber tanto apreciava quanto praticou<<strong>br</strong> />

até o fim dos seus dias: a integridade.<<strong>br</strong> />

A capacidade de ser leal a si mesmo.<<strong>br</strong> />

As transições democráticas tem pre-<<strong>br</strong> />

senteado os eleitores com surpresas do<<strong>br</strong> />

tipo: votar um presidente "socializante"<<strong>br</strong> />

e desco<strong>br</strong>ir, na verdade que elegeu um<<strong>br</strong> />

presidente privatizante.<<strong>br</strong> />

Presidentes que pedem que se esque-<<strong>br</strong> />

Rolando Latartc*<<strong>br</strong> />

ça o passado que, astutamente, manipu-<<strong>br</strong> />

laram para serem eleitos. Para chegarem<<strong>br</strong> />

aos corredores do poder. "Me esqueça",<<strong>br</strong> />

cinicamente dizem aos imbecis que acre-<<strong>br</strong> />

ditaram nas suas maitiras. Imbecis que<<strong>br</strong> />

taidem a não acordar, nem com os tapas<<strong>br</strong> />

descarados do camaleônico enganador<<strong>br</strong> />

que invade todos os dias as telas da TV.<<strong>br</strong> />

Obviamente, estamos nos referindo<<strong>br</strong> />

a Carlos Saúl Menem, presidente da Ar-<<strong>br</strong> />

gentina.. Um peronista que prometeu<<strong>br</strong> />

uma "revolução produtiva" que iria ge-<<strong>br</strong> />

rar empregos a mil por hora, e inicia<<strong>br</strong> />

seu segundo mandato presidencial com<<strong>br</strong> />

a taxa de desemprego superior a 20%<<strong>br</strong> />

da população economicamente ativa,<<strong>br</strong> />

um pais (Argentina) entregue aos capi-<<strong>br</strong> />

tais privados que abocanharam o capi-<<strong>br</strong> />

tal social (as estatais do petróleo, avi-<<strong>br</strong> />

ões, telefones) constando com o san-<<strong>br</strong> />

gue- mesmo - suor e lágrimas de gera-<<strong>br</strong> />

ções inteiras.<<strong>br</strong> />

Carlos Saúl Menem, um provincia-<<strong>br</strong> />

no de uma das mais po<strong>br</strong>es províncias<<strong>br</strong> />

argentina, La Rioja. Um perseguido pela<<strong>br</strong> />

ditadura de Videla & Cia (1976-83), uma<<strong>br</strong> />

ditadura que arrancou a vida de 30.000<<strong>br</strong> />

argentinos em nome da civilização oci-<<strong>br</strong> />

dental e cristã, supostamente represen-<<strong>br</strong> />

tadas pela fúria homicida com que os<<strong>br</strong> />

militares - com as bênçãos da Igreja -<<strong>br</strong> />

desencadearam contra a população civil<<strong>br</strong> />

desarmada, supostamente para defender<<strong>br</strong> />

essa população da subversão e do terror.<<strong>br</strong> />

Terror e subversão que ninguém exe-<<strong>br</strong> />

cutou melhor do que os mariscais do<<strong>br</strong> />

medo, os anjos do Inferno que assola-<<strong>br</strong> />

ram a Argentina há apenas 20 anos atrás,<<strong>br</strong> />

assaltando a vida pública e privada com<<strong>br</strong> />

ousadia nunca antes vista.<<strong>br</strong> />

Carlos Saúl Menem, um peronista<<strong>br</strong> />

preso por essa ditadura, anistia todos os<<strong>br</strong> />

militares culpados do genocídio e outros<<strong>br</strong> />

delitos contra os direitos humanos, que<<strong>br</strong> />

foram condenados por tribunais civis<<strong>br</strong> />

durante o governo de Alfonsin.<<strong>br</strong> />

O presidente perdoa todos os milita-<<strong>br</strong> />

res que mataram, seqüestraram, tortura-<<strong>br</strong> />

ram, enriqueceram ilicitamente, duran-<<strong>br</strong> />

te o regime de facto de Videla &<<strong>br</strong> />

Algozes. Oferece dinheiro aos parentes<<strong>br</strong> />

de desaparecidos.<<strong>br</strong> />

Qualquer semelhança e/ou coincidên-<<strong>br</strong> />

cia são resultado do mero acaso.<<strong>br</strong> />

Se em qualquer outra parte da Amé-<<strong>br</strong> />

rica Latina, um oportunista e vendido<<strong>br</strong> />

qualquer, presidente de qualquer coisa,<<strong>br</strong> />

sorrir asquerosamente na sua cara para<<strong>br</strong> />

lhe dizer: "você está comendo melhor<<strong>br</strong> />

com seu salário de 1 <strong>12</strong> dólares", não se<<strong>br</strong> />

assuste demasiado. Pode ser um reflexo<<strong>br</strong> />

do seu próprio rosto na tela da TV Sor-<<strong>br</strong> />

ria, o Porco está triste por ter roubado<<strong>br</strong> />

seu dinheiro.<<strong>br</strong> />

E se em algum outro país da Améri-<<strong>br</strong> />

ca Latina, povoado de analfabetos e dou-<<strong>br</strong> />

tores, um doutor aparecer na tela da sua<<strong>br</strong> />

TV, ou no seu ouvido, ou no seu bolso,<<strong>br</strong> />

pedindo para você esquecê-lo, talvez<<strong>br</strong> />

você, como eu, se sinta tentado a cantar:<<strong>br</strong> />

"Tu és aquele difícil de esquecer." - )<<strong>br</strong> />

* Sociólogo. Professor do Departamento de<<strong>br</strong> />

Ciências Sociais da Universidade Federal<<strong>br</strong> />

da Paraíba. Mem<strong>br</strong>o do Setor de Estudos e<<strong>br</strong> />

Assessoria a Movimentos Populares-<<strong>br</strong> />

SEAMPO e da Associação Internacional de<<strong>br</strong> />

Sociologia (ISA/AIS). Autor do livro Max<<strong>br</strong> />

Weber: Ciência e valores, publicado em<<strong>br</strong> />

1996pela Editora Cortei na coleção "Ques-<<strong>br</strong> />

tões da Nossa Época".<<strong>br</strong> />

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( ) Exterior - Semestral US$ 60,00 ( ) Exterior - Anual US$ <strong>12</strong>0,00<<strong>br</strong> />

Nome completo<<strong>br</strong> />

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Bairro C. Postal Fone( )...<<strong>br</strong> />

Cidade Estado Cep<<strong>br</strong> />

Profissão/Categona<<strong>br</strong> />

TRABALHO QUE FAZ NO MOVIMENTO:<<strong>br</strong> />

Assinatura: Data:<<strong>br</strong> />

O pagamento deverá ser feito em nome do CPV - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro em cheque nominal caizado, ou<<strong>br</strong> />

vale postal DESDE QUE SEJA ENDEREÇADO PARA A AGÊNCIA BELA VISTA - CEP: 01390-970 Código da Agencia 403.300<<strong>br</strong> />

QUINZENA<<strong>br</strong> />

Publicação do CPV - Caixa Postal 65.107 - Cep: 01390-970 São Paulo, Fone: (OU) 285-6288<<strong>br</strong> />

"A TEORIA EMERGE DA PRÁTICA E A ELA RETORNA"<<strong>br</strong> />

Apto.


Quinzena N 0 232 - 30/06/96 32 Cultura<<strong>br</strong> />

Transgressões<<strong>br</strong> />

Todo mandato é minucioso<<strong>br</strong> />

e cruel<<strong>br</strong> />

eu gosto<<strong>br</strong> />

das frugais transgressões<<strong>br</strong> />

por exemplo inventar o bom<<strong>br</strong> />

amor<<strong>br</strong> />

aprender<<strong>br</strong> />

nos corpos e em seu corpo<<strong>br</strong> />

ouvir a noite e não dizer<<strong>br</strong> />

amém<<strong>br</strong> />

traçar<<strong>br</strong> />

cada um o mapa de sua audácia<<strong>br</strong> />

mesmo que nos esqueçamos<<strong>br</strong> />

de esquecer<<strong>br</strong> />

é certo<<strong>br</strong> />

que a recordação nos esquece<<strong>br</strong> />

obedecer cegamente deixa<<strong>br</strong> />

cego<<strong>br</strong> />

crescemos<<strong>br</strong> />

somente na ousadia<<strong>br</strong> />

só quando transgrido alguma<<strong>br</strong> />

ordem<<strong>br</strong> />

o futuro<<strong>br</strong> />

se torna respirável<<strong>br</strong> />

todo mandato é minucioso<<strong>br</strong> />

e cruel<<strong>br</strong> />

eu gosto<<strong>br</strong> />

das frugais transgressões<<strong>br</strong> />

Mario Benedetti<<strong>br</strong> />

O Boletim QUINZENA divulga textos, artigos, e documentos produzidos pelos movimentos. Caso você queira<<strong>br</strong> />

divulgar algimi documento no QUINZENA, basta enviar-nos. Pedimos, dentro do possível, ater-se a S laudas. Textos<<strong>br</strong> />

que ultrapassem este limite estarão sujeitos a cortes, por imposição de espaço.<<strong>br</strong> />

Atenção Poetas do Quinzena: estamos esperando sua contribuição desesperadamenteü!<<strong>br</strong> />

Seja a contra-capa do próximo QUINZENA!<<strong>br</strong> />

'A TEORIA EMERGE DA PRÁTICA E A ELA RETORNA"

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