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Honra e humor em um grupo popular brasileiro

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A subjugação da mulher é maior <strong>em</strong> <strong>grupo</strong>s nos quais impera o valor de honra<br />

masculina? Esta é <strong>um</strong>a pergunta <strong>em</strong> aberto.(15) Não há dúvida sobre a importância<br />

deste valor no Sul. Desde os estudos folclóricos dos anos 50, a honra do hom<strong>em</strong> gaúcho<br />

t<strong>em</strong> sido repetidamente ressaltada. No entanto, <strong>em</strong> recentes pesquisas etnográficas<br />

gaúchas, achamos diversos ex<strong>em</strong>plos de como as mulheres usam este sist<strong>em</strong>a <strong>em</strong> seu<br />

benefício (Fonseca, 1984; Grossi, 1988; Leal, 1989). (16) Por meio de fofocas, piadas e<br />

acusações - domínios f<strong>em</strong>ininos por excelência - as mulheres manipulam a imag<strong>em</strong><br />

pública dos homens. Diante da ‘irresponsabilidade’ dos homens, elas ficam vulneráveis,<br />

<strong>em</strong> perigo de suc<strong>um</strong>bir à decadência material; contudo, pela palavra f<strong>em</strong>inina, os<br />

homens estão sujeitos a sanções simbólicas de importância proporcional. (17)<br />

Da reciprocidade rompida à compl<strong>em</strong>entaridade ilusória<br />

Na literatura antropológica, é com<strong>um</strong> tomar como evidente a<br />

compl<strong>em</strong>entaridade dos papéis sexuais dentro da família. Na organização familiar que<br />

observei, a diferenciação dos papéis do hom<strong>em</strong> e da mulher é inegável. Entretanto, seria<br />

útil colocar <strong>em</strong> debate dois conceitos que andam regularmente de mãos dadas com a<br />

idéia de compl<strong>em</strong>entaridade.<br />

Primeiro vejamos a dicotomia conceitual mulher/casa versos hom<strong>em</strong>/rua. Esta<br />

dicotomia, particularmente b<strong>em</strong> adaptada à progressiva separação dos espaços f<strong>em</strong>inino<br />

e masculino na família burguesa do século XIX, deve ser aplicada com cautela <strong>em</strong><br />

outros contextos. Em certos casos, <strong>em</strong> que os homens sa<strong>em</strong> diariamente do bairro<br />

residencial, deixando este espaço às mulheres, o conceito i pode corresponder a <strong>um</strong>a<br />

verdadeira separação de espaços físicos. Contudo, no bairro que estudei os homens são<br />

onipresentes: no boteco, na esquina, nos jogos de futebol e i nas casas. São jovens, ou<br />

homens casados s<strong>em</strong> <strong>em</strong>prego fixo regular; são ‘encostados’ ou aposentados; são<br />

comerciantes ou artesãos que trabalham <strong>em</strong> casa: A rua é <strong>um</strong> cenário povoado pelos<br />

dois sexos - os homens parados <strong>em</strong> <strong>grupo</strong>s na frente de alg<strong>um</strong> boteco, as mulheres <strong>em</strong><br />

movimento, indo e vindo nas suas rotinas. Nessa rua, o público e o privado se<br />

confund<strong>em</strong>. Por conversas, cheiros, sons e olhares, há <strong>um</strong> contato contínuo entre<br />

pessoas dentro de casa, no quintal e na rua. Essa permeabilidade do espaço doméstico<br />

não deixa de ter resultados no que diz respeito à segregação e à hierarquia dos sexos.<br />

(18)

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