MASLOW E A MOTIVAÇÃO DE RECURSOS ... - Artigo Científico
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<strong>MASLOW</strong> E A <strong>MOTIVAÇÃO</strong> <strong>DE</strong> <strong>RECURSOS</strong> HUMANOS: O CASO <strong>DE</strong> UMA<br />
RESUMO<br />
EMPRESA <strong>DE</strong> VEÍCULOS AUTOMOTORES <strong>DE</strong> ARACAJU/SE<br />
Julia Maria de Santana 1<br />
Antonio Eduardo Carvalho Lima 2<br />
Mariela Silveira Lima 3<br />
Este artigo expõe uma pesquisa sobre satisfação laboral e motivação dos colaboradores<br />
de uma Empresa de vendas de veículos automotores de Aracaju. Sabe-se que a<br />
manutenção e produtividade dos colaboradores estão diretamente relacionadas à<br />
motivação, apesar de não exclusivamente a esta, e é a partir dos resultados levantados<br />
por Maslow que se constitui o fundamento da grande parte dos estudos acerca da<br />
motivação no trabalho. Disto isto, justifica-se a escolha das contribuições teóricas deste<br />
estudioso como referencial dessa pesquisa. Assim, o primeiro passo nessa empreitada<br />
foi um diagnóstico do nível de satisfação dos colaboradores, com vistas a, num segundo<br />
momento, orientar/reorientar políticas e estratégias empresariais intrinsecamente ligadas<br />
ao desenvolvimento de Recursos Humanos. Metodologicamente, a pesquisa pautou-se<br />
numa análise quantitativa dos dados de satisfação laboral, coletados através da<br />
aplicação de questionários. Os dados coletados foram submetidos a tratamento<br />
estatístico para identificação do grau de satisfação dos colaboradores. Os resultados da<br />
pesquisa apontaram para uma propensão dos funcionários a manifestarem<br />
comportamentos positivos. No entanto, o grau de satisfação dos colaboradores está<br />
distante da satisfação plena, principalmente no que se refere às necessidades de estima.<br />
O mais elevado grau de satisfação é o referente à auto-realização, seguido pela social,<br />
constatações que demonstram, de certa forma, a discrepância entre os resultados desse<br />
estudo e as proposições formuladas por Maslow na sua Teoria da Hierarquia das<br />
Necessidades Humanas.<br />
1 Licenciada e Bacharel em Geografia/UFS, Pós-graduada em Administração Estratégica e<br />
Empreendedorismo/UNIT, Técnico Operacional/ECT. juliams@correios.com.br<br />
2 Graduado em Gestão de Serviços Financeiros/UNIT, Pós-graduado em Administração Estratégica e<br />
Empreendedorismo/UNIT; Operador de CPD/SAMAM DIESEL<br />
3 Graduado em Gestão de Serviços Financeiros/UNIT, Pós-graduado em Administração Estratégica e<br />
Empreendedorismo/UNIT; Assistente Administrativo e Financeiro/CEAPE-SE.<br />
1
PALAVRAS-CHAVE<br />
ABSTRACT<br />
Maslow, motivação, recursos humanos.<br />
This paper shows a research about satisfaction in the job and collaborators' motivation<br />
of a car sales company in Aracaju City, Sergipe State, Brazil. The collaborators'<br />
productivity are related to the motivation, although this is not the only factor. Like this,<br />
Maslow's theory about human needs represents a very important fundament in<br />
researches about motivation in the job. For this reason, the present research is based in<br />
this theory. The first step of the study was to make a diagnostic of the collaborators'<br />
satisfaction level, looking for to orient managerial strategies that are related to the<br />
development of Human Resources. The methodology of the research follows a<br />
quantitative analysis of the data about satisfaction in the job, collected through<br />
questionnaires. The data was processed with statistic techniques to identify<br />
collaborators' satisfaction degrees. The results of the research they shows a propensity<br />
of the workers to manifest positive behaviors. However, collaborators' satisfaction<br />
degree is far of the complete satisfaction, mainly about esteem need. The greatest<br />
satisfaction degree is related to self-realization, followed by the social needs. It<br />
demonstrates the discrepancy among the results of this research and the propositions<br />
formulated by Maslow in his Theory of the Hierarchy of Human Needs.<br />
KEY-WORDS<br />
INTRODUÇÃO<br />
Human resources, Maslow, motivation.<br />
O mundo empresarial vive o que Bueno (2002) denomina de Gerenciamento de<br />
Processos, onde conceitos como gerenciamento esclarecido, sinergia, criatividade,<br />
hierarquia das necessidades inatas e motivação estão conquistando uma nova e receptiva<br />
audiência.<br />
Na atualidade, as organizações empresariais necessitam entender que já não<br />
podem considerar seus colaboradores como meros recursos de que a organização pode<br />
dispor a seu bel-prazer. Precisam tratá-los como pessoas que impulsionam a<br />
organização, como parceiros que nela investem seu capital humano e que têm a legítima<br />
expectativa de retorno de seu investimento (GIL, 2001).<br />
2
Nesse sentido, Cordero (s/d: 36) destaca que<br />
La dirección de una organización en busca de un trabajador motivado,<br />
que sienta orgullo, entusiasmo y diversión en su labor, así como el<br />
utilizar métodos y técnicas gerenciales acordes a las características de<br />
la misma, contribuye al éxito de ésta.<br />
Percebe-se que o contexto atual é marcado por um cenário empresarial cujos<br />
principais obstáculos para o administrador gravitam em relação a uma transposição da<br />
insatisfação laboral, visando a motivação do colaborador e a melhoria de seu<br />
desempenho no trabalho.<br />
É reconhecido que a manutenção e produtividade dos colaboradores estão<br />
diretamente relacionadas à motivação, apesar de não exclusivamente a esta, e é a partir<br />
dos resultados levantados por Maslow que se constitui o fundamento da grande parte<br />
dos estudos acerca da motivação no trabalho. Dito isto, justifica-se a escolha das<br />
contribuições teóricas deste estudioso como referencial dessa pesquisa.<br />
Destarte, o primeiro passo nessa empreitada apontou a necessidade de um<br />
diagnóstico do nível de satisfação dos colaboradores, com vistas a, num segundo<br />
momento, orientar/reorientar políticas e estratégias empresariais intrinsecamente ligadas<br />
ao desenvolvimento de Recursos Humanos.<br />
Metodologia<br />
O presente estudo pautou-se numa análise quantitativa dos dados de satisfação<br />
laboral dos colaboradores de uma Empresa de venda de veículos automotores de<br />
Aracaju.<br />
A coleta de dados foi realizada a partir da aplicação de questionário, adaptado<br />
do Cuestionário de Satisfacción Laboral S4/82, desenvolvido por Meliá e Peiró (1998).<br />
Esse questionário constou de 56 questões de múltipla escolha, com cinco opções de<br />
resposta quanto à satisfação laboral, graduadas em cinco níveis, conforme o Quadro 1.<br />
Os dados coletados foram tabulados e posteriormente submetidos a tratamento<br />
estatístico. Em seguida foram reordenados e agrupados de acordo com cada tipo de<br />
necessidade humana básica, como prega a teoria de Maslow. Por fim, apuraram-se os<br />
graus de satisfação de cada tipo de necessidade humana, a partir de média ponderada.<br />
Devido à inserção do grau “indiferente”, para uma melhor análise dos dados,<br />
resolveu-se atribuir índices que variam de 0,2 a 1, ao grau de satisfação no trabalho. De<br />
acordo com o referido índice, quanto mais próximo de 1 estiver o nível de satisfação,<br />
mais satisfeito estará o colaborador.<br />
3
Grau Significado Índice atribuído<br />
1 Muito Satisfeito 1<br />
2 Satisfeito 0,8<br />
3 Indiferente 0,6<br />
4 Insatisfeito 0,4<br />
5 Muito Insatisfeito 0,2<br />
Quadro 1 - Níveis de Satisfação Laboral<br />
<strong>MOTIVAÇÃO</strong>: ASPECTOS CONCEITUAIS<br />
No estudo do comportamento humano, poucos conceitos têm suscitado tanto<br />
interesse e despertado tantas expectativas como os vinculados aos processos<br />
motivacionais. No entanto, os psicólogos não se mostram unânimes a respeito do papel<br />
que a motivação desempenha na análise explicativa da conduta humana. Palmeri (s/d)<br />
salienta que:<br />
Durante la etapa precientífica, la Motivación se reducía a la actividad<br />
voluntaria, mientras que, en la etapa científica, hablar de Motivación<br />
implica referirse a instintos, tendencias e impulsos, que proporcionan<br />
la energía necesaria; pero, además, hay también claras referencias a<br />
las actividades cognitivas, que dirigen la conducta hacia determinadas<br />
metas. Por tanto, el concepto de Motivación en la actualidad debe<br />
considerar la coordinación del sujeto para activar y dirigir sus<br />
conductas hacia metas<br />
Este autor ainda considera que, de forma geral, o termo motivação é um<br />
conceito utilizado para designar as forças que atuam sobre, ou dentro de, um organismo,<br />
para iniciar e dirigir as condutas destinadas a modificar ou manter o curso de vida deste,<br />
mediante a obtenção de objetivos que incrementam a probabilidade de sobrevivência,<br />
tanto no plano biológico, quanto no plano social.<br />
Também buscando uma definição pertinente para o termo motivação, Heredia<br />
(1999) afirma que:<br />
Las definiciones más compartidas de lo que es la motivación<br />
implican al conjunto de procesos que se interesan por las causas<br />
de que se hagan o se dejen de hacer determinadas cosas, o de<br />
qué se hagan de una forma y no de otra.<br />
Trata-se, portanto, de um conceito teórico não somente básico para a Psicologia,<br />
mas também, “ambicioso en cuanto al alcance, atractivo por las metas planteadas y<br />
tremendamente complejo por la diversidad de componentes que conlleva”<br />
(FERNÁN<strong>DE</strong>Z-ABASCAL, 1997 apud HEREDIA, 1999).<br />
4
A motivação humana também tem sido um dos maiores desafios na gestão<br />
organizacional para muitos psicólogos, gerentes e executivos. Inúmeras pesquisas têm<br />
sido elaboradas e diversas teorias têm tentado explicar o funcionamento desta força<br />
ainda desconhecida, que leva as pessoas a agirem em direção do alcance de um objetivo<br />
determinado.<br />
No entanto, quando uma pessoa se direciona a um objetivo, ela não está<br />
necessariamente motivada a atingir uma meta. Para Cordero (s/d) existem dois tipos de<br />
motivação as intrínsecas e as extrínsecas.<br />
Las primeras vienen de adentro de uno mismo y las<br />
recompensas son propias del individuo, que ama la actividad<br />
que realiza. En el segundo caso, se deben a factores externos, los<br />
que son dados por otros. Las personas realizan su trabajo para<br />
ganar una recompensa o evitar um castigo externo.<br />
Nessa mesma perspectiva, Bueno (2002) afirma que as pessoas podem agir<br />
levadas por um impulso interno (fator intrínseco), por uma necessidade interior. Neste<br />
caso, existe vontade própria para alcançar o objetivo, existe motivação. Já quando os<br />
fatores são externos, há apenas movimento que configura uma situação passageira, uma<br />
necessidade momentânea que somente dura enquanto persistirem os estímulos que o<br />
geraram.<br />
Desta forma, pode-se inferir que a motivação é interior a cada indivíduo e leva-o<br />
a agir de modo espontâneo para alcançar determinado objetivo. Não se pode motivar<br />
uma pessoa, mas sim criar um ambiente compatível com seus objetivos, no qual a<br />
pessoa se sinta motivada.<br />
Comungando dessa linha teórica da motivação intrínseca, Maslow, em sua<br />
Teoria da Hierarquia das Necessidades, considera<br />
a motivação como uma força gerada por necessidades<br />
insatisfeitas e manifestada como uma busca de satisfação destas<br />
necessidades. Assim, estar motivado significa estar propenso a<br />
agir para satisfazer necessidades. Além disso, entende-se, em<br />
conformidade com esta linha teórica, que a motivação aumenta<br />
ou diminui de intensidade na proporção inversa do aumento ou<br />
diminuição da intensidade da satisfação relativa às necessidades<br />
(grifos dos autores) (GOMES e QUELHAS, 2003: 6).<br />
Por este raciocínio, levando-se em consideração o ambiente empresarial, pode-<br />
se afirmar que o importante para uma organização não é a motivação dos seus<br />
colaboradores, mas a satisfação destes em relação às suas necessidades pessoais, posto<br />
5
que, por meio desta é que será possível obter comportamentos positivos, traduzidos em<br />
esforço, dedicação e bom desempenho no trabalho.<br />
<strong>MASLOW</strong> E A <strong>MOTIVAÇÃO</strong> <strong>DE</strong> PESSOAS<br />
Amplamente estudado em administração, o conceito de motivação é pesquisado<br />
sob diferentes enfoques. Ricco (2004), citando Lèvy-Leboyer (1994), distingue duas<br />
categorias de agrupamento das teorias motivacionais: uma que se prende à descrição do<br />
conteúdo e uma que procura analisar o processo motivacional (Quadro 1).<br />
DATA AUTOR TEORIA CONTEÚDO PROCESSO<br />
1937 Clark Hull Princípio de estímulo resposta X<br />
1938 Murray Teoria das Necessidades X<br />
1939 Lewin Teoria de Campo X<br />
1948 Skinner Princípio do Reforço X<br />
1954 Maslow Hierarquia das Necessidades X<br />
1959 Herzberg Teoria da Motivação-higiene X<br />
1959 Vroom Teoria da Expectância X<br />
1960 Mcgregor Teoria “X” e “Y” X<br />
1961 McClelland Fatores “n” motivadores X<br />
1965 Adams Teoria da Equidade X<br />
1970 Locke Teoria dos Objetivos e Intenções X<br />
1971 House Teoria do Caminho-reta X<br />
1972 Alderfer Teoria ERC X<br />
Quadro 2 - Classificação das Principais Teorias da Motivação<br />
Fonte: Oliveira (2000) apud Ricco (2004).<br />
As teorias de processo analisam os mecanismos motivacionais apoiando-se na<br />
existência de três premissas: objetivos pessoais, finalidades para esses objetivos e<br />
resultado esperado. Já as teorias que apresentam o conteúdo como foco, fundamentam-<br />
se na noção de necessidade, partindo da observação dos comportamentos mais simples<br />
para daí enfocar as variáveis propriamente ditas.<br />
Nesse último grupo de teorias encontra-se a Teoria da Hierarquia das<br />
Necessidades Humanas, de Abraham Maslow. Na formulação dessa teoria, Maslow se<br />
baseia em sua experiência clínica e parte da premissa de que as necessidades humanas<br />
possuem origem biológica, estando organizadas e dispostas em níveis, numa hierarquia<br />
que traz subjacente a idéia do homem enquanto ser capaz de obter o<br />
autodesenvolvimento e o crescimento pessoal.<br />
Essa hierarquia das necessidades tem como representação semiótica essencial<br />
uma pirâmide, em cuja base estão as necessidades primárias - fisiológicas - e no topo as<br />
necessidades secundárias - de auto realização (Figura 1):<br />
6
1. Necessidades fisiológicas: representam as necessidades instintivas de<br />
sobrevivência: alimentação, sono, repouso, abrigo e/ou desejo sexual;<br />
2. Necessidades de segurança: surgem quando as necessidades fisiológicas<br />
estão relativamente satisfeitas. Representam a contrapartida da<br />
insegurança natural das pessoas: estabilidade, proteção, moradia,<br />
estrutura, privacidade;<br />
3. Necessidades sociais: surgem no comportamento quando as necessidades<br />
fisiológicas e de segurança são relativamente satisfeitas. Entre outras, as<br />
necessidades sociais estão relacionadas à necessidade de associação,<br />
participação, amizade, grupos sociais, afeto e amor;<br />
4. Necessidades de estima: relaciona-se ao sentimento das pessoas de<br />
sentirem-se valorizadas pelos que o rodeiam. Envolvem: auto-estima,<br />
status, prestígio, confiança perante o mundo;<br />
5. Necessidades de auto-realização: são as que permitem a cada pessoa<br />
identificar seu próprio potencial e autodesenvolver-se continuamente.<br />
Suas formas e expressões variam de pessoa para pessoa, obedecendo as<br />
diferenças individuais entre os seres humanos.<br />
AUTO-REALIZAÇÃO<br />
ESTIMA<br />
SOCIAL<br />
SEGURANÇA<br />
FISIOLÓGICA<br />
Figura 1 - Pirâmide Representativa da Hierarquia das Necessidades Humanas<br />
(Teoria de Maslow)<br />
Na concepção de Pisandelli (s/d), da teoria da Hierarquia das Necessidades<br />
Humanas pode-se apreender os seguintes aspectos:<br />
a) Somente quando um nível inferior de necessidade está satisfeito ou<br />
adequadamente atendido é que o nível imediatamente mais elevado<br />
surge como determinante no comportamento. De outra forma, quando<br />
uma necessidade de nível mais baixo é atendida, ela deixa de ser fator<br />
7
motivador, dando oportunidade para que um nível mais elevado possa<br />
se desenvolver;<br />
b) Nem todas as pessoas conseguem chegar ao topo da pirâmide de<br />
necessidades. Devido as diferenças individuais e sociais algumas<br />
pessoas chegam a se preocupar fortemente com necessidades de auto-<br />
realização, enquanto outras, ficam preocupadas exclusivamente com<br />
necessidade de segurança e fisiológicas, sem conseguir satisfazê-las;<br />
c) Quando as necessidades mais baixas estão razoavelmente satisfeitas,<br />
as necessidades localizadas nos níveis mais elevados começam a<br />
dominar o comportamento. Contudo, quando alguma necessidade de<br />
nível mais baixo deixa de ser satisfeita, ela volta a ser fator<br />
predominante no comportamento;<br />
d) Cada pessoa possui sempre mais de uma motivação. Todos os níveis<br />
atuam conjuntamente no organismo, as necessidades mais elevadas<br />
exercendo domínio sobre as mais baixas, desde que estas estejam<br />
suficientemente satisfeitas ou atendidas. Toda necessidade está<br />
intrinsecamente relacionada ao estado de satisfação ou insatisfação de<br />
outras necessidades. Seu efeito sobre o organismo é sempre global e<br />
nunca isolado;<br />
e) Qualquer comportamento motivado é como um canal pelo qual,<br />
muitas necessidades fundamentais, podem ser expressas ou satisfeitas<br />
conjuntamente;<br />
f) Qualquer frustração ou possibilidade de frustração da satisfação de<br />
certas necessidades passa a ser considerada ameaça psicológica. Essa<br />
ameaça é que produz as reações gerais de emergência no<br />
comportamento humano. Essas reações de emergência alteram<br />
substancialmente o comportamento, assim como o grau de motivação<br />
do indivíduo na realização de tarefas que não estejam relacionadas à<br />
eliminação dessa frustração.<br />
Apesar de não ter sido cientificamente comprovada, a teoria de Maslow, devido<br />
à eficiente estruturação de suas idéias, foi aceita como de grande contribuição para a<br />
evolução das técnicas administrativas. No entanto, Bueno (2002) destacar como pontos<br />
criticáveis:<br />
8
• A difícil articulação operacional para o gerenciamento das necessidades<br />
básicas;<br />
• A impossibilidade da padronização do comportamento humano.<br />
Citando Hoffman (1992), Santos Júnior, Fischer e Henrique (s/d), asseveram que<br />
as idéias de Maslow estão longe de serem consideradas esclerosadas e ainda figuram<br />
como ponta na Psicologia, inclusive na Psicologia norte americana, e nas Ciências<br />
Sociais.<br />
NÍVEL <strong>DE</strong> SATISFAÇÃO E <strong>MOTIVAÇÃO</strong> DOS <strong>RECURSOS</strong> HUMANOS<br />
Conforme a Teoria de Maslow, as necessidades humanas acompanham a ordem<br />
a seguir: necessidades fisiológicas - segurança - social - estima - auto-realização. Desta<br />
forma, a necessidade de segurança dos colaboradores somente se manifestaria e se<br />
tornaria o centro organizador do seu comportamento depois que as necessidades<br />
fisiológicas estivessem satisfeitas, o mesmo acontecendo com a necessidade de estima<br />
em relação à social, e assim sucessivamente.<br />
No entanto, como se observa na Figura 3, o sentimento de insatisfação dos<br />
colaboradores da Empresa pesquisada referente às necessidades de segurança, é até<br />
ligeiramente superior à insatisfação relativa às necessidades fisiológicas. Tal resultado<br />
deixa explícito que, embora estas ainda estejam longe de serem satisfeitas em sua<br />
plenitude, aquelas não permanecem latentes, inclusive manifestando-se de modo tão<br />
intenso quanto estas.<br />
AUTO-REALIZAÇÃO<br />
ESTIMA<br />
SOCIAL<br />
SEGURANÇA<br />
FISIOLÓGICA<br />
50,54%<br />
55,97%<br />
59,89%<br />
74,48%<br />
69,15%<br />
23,37%<br />
27,10%<br />
26,36%<br />
19,31%<br />
24,88%<br />
26,09%<br />
16,98%<br />
6,21%<br />
13,75%<br />
SATISFEITO INDIFERENTE INSATISFEITO<br />
Figura 2 - Grau Relativo de Satisfação/Insatisfação dos Colaboradores da Empresa<br />
Pesquisada Segundo a Teoria das Necessidades Humanas (Teoria de Maslow)<br />
5,97%<br />
9
No caso das necessidades de estima em relação às sociais, os resultados da<br />
pesquisa mostram uma discrepância ainda maior em relação aos pressupostos da<br />
hierarquia das necessidades. As necessidades de estima dos funcionários apresentam-se<br />
com um grau relativo de satisfação significativamente menor do que o referente às<br />
necessidades sociais, indicando que a intensidade da manifestação daquelas é mais<br />
acentuada do que a destas.<br />
O grau relativo de satisfação referente à necessidade de auto-realização foi da<br />
ordem de 74,48%, o mais elevado entre os colaboradores da Empresa pesquisada, o que<br />
também deixa explícito a divergência dos resultados da pesquisa e as prescrições<br />
propugnadas por Maslow.<br />
O grau médio global de satisfação dos funcionários da empresa pesquisada, em<br />
relação às necessidades humanas pregadas por Maslow foi de 0,61, o que indica que os<br />
colaboradores estão satisfeitos, mas muito distantes do grau 1, correspondente à<br />
satisfação plena (Figura 3).<br />
MÉDIA GLOBAL<br />
AUTO-REALIZAÇÃO<br />
ESTIMA<br />
SOCIAL<br />
SEGURANÇA<br />
FISIOLÓGICAS<br />
0,20 0,40 0,60 0,80 1,00<br />
0,61<br />
0,66<br />
0,69<br />
0,72<br />
0,79<br />
0,77<br />
Figura 3 - Grau de Satisfação dos Colaboradores da Empresa Pesquisada Segundo a<br />
Teoria das Necessidades Humanas (Teoria de Maslow)<br />
Após a necessidade de auto-realização, as necessidades sociais são as que<br />
demonstram o mais elevado grau de satisfação (0,77). Os fatores com maior índice de<br />
satisfação dentro dessa necessidade são as relações pessoais com seus superiores e com<br />
os clientes. Em pesquisa semelhante sobre a satisfação dos recursos humanos da<br />
Biblioteca Central da Universidade Federal de Santa Catarina, Estefano (1996) concluiu<br />
que o fato de a maioria dos colaboradores entrevistados lidar freqüentemente com o<br />
público/cliente, faz com que esta satisfação decorra da interação entre as colaboradores<br />
e os clientes, ocasião em que se processa o feedback, resultando na importância do<br />
trabalho realizado.<br />
10
O menor grau de satisfação apresentado pelos colaboradores da Empresa em<br />
estudo, está relacionado à necessidade de estima, correspondente a 0,66. Dentre os<br />
fatores responsáveis por esse índice destaca-se o sistema de prêmios e incentivos (0,58)<br />
e as diárias e gratificações (0,61), indicando que, apesar do grau de satisfação auto-<br />
realização está elevado em relação à estima, fatores de ordem financeira ainda pesam<br />
consideravelmente na motivação dos colaboradores da Empresa em questão.<br />
Apesar de apresentar uma média global de satisfação razoável, a necessidade de<br />
alavancar a satisfação no trabalho é um dos pontos a serem considerados no presente<br />
estudo, como campo de possíveis atuações gerenciais, com o intuito de aumentar a<br />
motivação do colaborador na execução de suas atividades. Esta premissa é enfatizada<br />
por Bergamini (1997), citando Archer, ao afirmar que o grau de satisfação é diretamente<br />
proporcional à propensão do desenvolvimento de um comportamento positivo, assim,<br />
quanto maior o grau de satisfação, maior será a tendência do colaborador a um<br />
comportamento positivo, e vice-versa.<br />
Estas conclusões apontam para uma não confirmação dos pressupostos<br />
maslownianos da hierarquia das necessidades, no presente estudo. Este resultado,<br />
todavia, não constitui surpresa, pois conforme acentua Duro (s/d):<br />
na prática, não há uma linearidade na vida das pessoas, uma seqüência<br />
tão lógica e fechada de ordenação dos desejos e das suas satisfações.<br />
[...] É comum observar pessoas que priorizam a necessidade de autorealização<br />
e que não têm as demais satisfeitas [...]<br />
Por isso, os seguidores de Maslow propuseram a denominada teoria neo-<br />
maslowiana que ajustou o modelo clássico de Maslow à realidade dos conflitos das<br />
pessoas (Figura 5).<br />
FISIOLÓGICA<br />
Figura 5 - Pirâmide Representativa da Hierarquia das Necessidades Humanas<br />
segundo os Teóricos Neo-maslownianos<br />
11
A nova configuração piramidal deixa claro que há uma necessidade básica de<br />
sobrevivência que antecede todas as demais. A partir daí, as demais necessidades não<br />
apresentam hierarquia uma sobre as outras, ou seja, variam de indivíduo para indivíduo,<br />
podendo alterar-se a depender do momento e da realidade que a pessoa está vivendo.<br />
A adoção da escola neo-maslowniana como referência, permite identificar a<br />
necessidade mais importante de um colaborador, em um determinado momento,<br />
deixando de considerá-lo como parte de uma fórmula quase matemática. Tal vertente<br />
leva em conta o pressuposto primordial para o entendimento dos anseios da pessoa<br />
humana: o ser humano é único e tem suas prioridades transformadas numa freqüência<br />
de anos, dias e até horas.<br />
CONSI<strong>DE</strong>RAÇÕES FINAIS<br />
A motivação no trabalho é um tema bastante complexo, visto que, é difícil tratar<br />
as diversidades das preferências humanas, as diferenças individuais, os valores pessoais<br />
e a relevância que cada colaborador atribui às necessidades expostas por Maslow.<br />
Apesar da Teoria de Maslow ter sido refutada em muitos aspectos da pesquisa<br />
em questão, pode-se seguramente assinalar que, todas as teorias elaboradas acerca da<br />
motivação do ser humano, sofrerão limitações em razão da complexidade da natureza<br />
humana.<br />
De acordo com os dados analisados, o nível de satisfação mensurado para os<br />
colaboradores da Empresa pesquisada está abaixo do nível de satisfação plena.<br />
Considerando que a Teoria de Maslow prega que a propensão para manifestar<br />
comportamentos positivos (esforço, dedicação, comprometimento), é fruto da satisfação<br />
laboral do colaborador, os resultados da pesquisa realizada levam a concluir que o<br />
desempenho dos funcionários se encontra abaixo de um nível considerado ótimo.<br />
Diante do exposto, evidencia-se a necessidade de ações que modifiquem a forma<br />
de gerir os recursos humanos na Empresa, com vistas à alavancagem da satisfação<br />
laboral como forma de motivar os funcionários. Como já explicitado, é na consolidação<br />
de uma satisfação laboral que se assenta a motivação, e uma conseqüente otimização do<br />
desempenho dos colaboradores e aumento da eficiência e eficácia organizacionais.<br />
A partir dessa análise é possível propor, dentre outras, as seguintes intervenções<br />
em nível gerencial e de sistema administrativo:<br />
a) Adoção de um sistema regular de feedback aos funcionários;<br />
12
) Implantação de um programa de desenvolvimento de lideranças;<br />
c) Solicitação de idéias e envolvimento dos colaboradores em decisões sobre<br />
suas áreas de atuação;<br />
d) Adoção de uma abrangente política de promoção de funcionários;<br />
e) Implementação de programa de participação dos colaboradores nos lucros da<br />
Empresa, como forma de dar aos funcionários uma razão financeira para<br />
excelência no desempenho de suas atribuições.<br />
Esses aspectos, elaborados a partir das necessidades com menor grau de<br />
satisfação, influenciam sobremaneira a motivação dos colaboradores, sendo necessário<br />
uma atuação gerencial eficiente, de modo a proporcionar condições para que a missão<br />
organizacional seja cumprida na sua plenitude.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
BERGAMINI, Cecília Whitaker. Motivação: mitos, crenças e mal-entendidos. In:<br />
BERGAMINI, C. W. e CODA, R. (Org). Psicodinâmica da vida organizacional:<br />
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