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A Construção da Relatividade Especial e da Relatividade Geral e ...

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UNIVERSIDADE<br />

CATÓLICA DE<br />

BRASÍLIA<br />

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO<br />

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO<br />

Curso de Física<br />

A CONSTRUÇÃO DA RELATIVIDADE ESPECIAL<br />

E DA RELATIVIDADE GERAL E SUAS<br />

VALIDAÇÕES EXPERIMENTAIS<br />

BRASÍLIA<br />

Autor: Guilherme Bastos Pinheiro<br />

Orientador: Prof. Dr. Paulo Eduardo de Brito<br />

2008<br />

1


GUILHERME BASTOS PINHEIRO<br />

A CONSTRUÇÃO DA RELATIVIDADE ESPECIAL E DA RELATIVIDADE<br />

GERAL E SUAS VALIDAÇÕES EXPERIMENTAIS<br />

Brasília<br />

Junho de 2008<br />

Trabalho de Conclusão de Curso<br />

submetido à Universi<strong>da</strong>de Católica<br />

de Brasília para obtenção do Grau<br />

de Licenciado em Física.<br />

Orientador: Dr. Paulo Eduardo de<br />

Brito


RESUMO<br />

A CONSTRUÇÃO DA RELATIVIDADE ESPECIAL E GERAL E SUAS<br />

COMPROVAÇÕES EXPERIMENTAIS<br />

O desenvolvimento <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de teve início no final do século XIX,<br />

quando a experiência de Michelson e Morley obteve resultados conflitantes com a mecânica<br />

clássica. A partir de então as idéias newtonianas de propagação instantânea <strong>da</strong> luz, de espaço<br />

e de tempo absolutos, deram lugar a novas hipóteses que visaram explicar o motivo pelo qual a<br />

natureza não se comporta conforme a previsão <strong>da</strong> mecânica clássica. Com isso serão,<br />

apresenta<strong>da</strong>s neste trabalho a evolução história <strong>da</strong> teoria relativística, iniciando com as idéias<br />

fun<strong>da</strong>mentais de Isaac Newton conti<strong>da</strong>s em sua obra: Principia (Princípios Matemáticos de<br />

Filosofia Natural) de 1686 e aperfeiçoa<strong>da</strong>s por diversos físicos ao longo de 200 anos. Por fim<br />

serão expostas as novas hipóteses físicas propostas por Jules Henri Poincaré e aperfeiçoa<strong>da</strong><br />

por Albert Einstein que levaram a quebra do paradigma newtoniano. Em segui<strong>da</strong> as<br />

comprovações experimentais <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de especial e geral desde a primeira publicação em<br />

1905, no famoso annus mirabilis.<br />

Palavras-chave: Espaço, Tempo, Simultanei<strong>da</strong>de, Conservação do Momento linear,<br />

Conservação <strong>da</strong> energia.<br />

2


ÍNDICE<br />

1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................1<br />

2. A HERANÇA DE NEWTON.......................................................................................4<br />

2.1 Espaço Absoluto.................................................................................................5<br />

2.2 Tempo Absoluto..................................................................................................6<br />

2.3 A Conservação <strong>da</strong> Energia e do Momento Linear...............................................6<br />

2.4 O Éter.................................................................................................................7<br />

2.5 A Gravitação.......................................................................................................8<br />

2.6 O Sistema solar por Emanuel Kant.....................................................................9<br />

2.7 O Sistema solar segundo Simon Pierre Laplace...............................................10<br />

3. O ESPAÇO E A GEOMETRIA.................................................................................10<br />

3.1 O Espaço Geométrico e o Espaço Representativo ........................................... 11<br />

3.2 Espaço Visual, Tátil e Motor. ............................................................................ 11<br />

3.3 O Mundo Não-Euclidiano .................................................................................12<br />

3.4 O Espaço, o Tempo e a Força ..........................................................................13<br />

4. EXPERIÊNCIA DE MICHELSON E MORLEY.........................................................15<br />

5. O ANNUS MIRABILIS.............................................................................................18<br />

5.1 Os Postulados..................................................................................................18<br />

5.2 A Simultanei<strong>da</strong>de..............................................................................................19<br />

5.3 A Dilatação do Tempo.......................................................................................21<br />

5.4 A Contração <strong>da</strong>s Distâncias..............................................................................23<br />

5.5 As Transformações de Lorentz.........................................................................24<br />

5.6 Efeito Doppler Relativístico ..............................................................................26<br />

5.7 O Momento Relativístico e sua Conservação ...................................................26<br />

5.8 A nova interpretação para massa e energia......................................................29<br />

6. O UNIVERSO DE MINKOWSKI..............................................................................30<br />

7. O PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE GENERALIZADO .............................................33<br />

7.1 A propagação <strong>da</strong> luz em um campo gravitacional.............................................34<br />

7.2 A Ponderabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Energia ..........................................................................34<br />

7.3 Encurvamento dos raios de luz no campo de gravi<strong>da</strong>de...................................37<br />

7.4 Avanço do periélio de mercúrio ........................................................................38<br />

8. AS VALIDAÇÕES EXPERIMENTAIS DA TEORIA RELATIVISTA............................40<br />

8.1 O efeito Doppler-Fizeau ...................................................................................41<br />

8.2 A massa variável dos elétrons ..........................................................................42<br />

8.3 A relativi<strong>da</strong>de e a mecânica quântica................................................................42<br />

8.4 As vali<strong>da</strong>ções <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de geral ..................................................................43<br />

3


9. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................45<br />

9. BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................47<br />

4


1. INTRODUÇÃO<br />

Por que estu<strong>da</strong>r mecânica clássica se atualmente existe a física moderna? Esta<br />

deve ser uma questão levanta<strong>da</strong> por muitos estu<strong>da</strong>ntes quando iniciam o aprendizado<br />

de física moderna. Contudo na<strong>da</strong> pode ser construído sem que primeiro se forme uma<br />

base pela qual todo o entendimento possa ser analisado de maneira satisfatória e<br />

conseqüentemente construtiva. Nesse estudo serão discuti<strong>da</strong>s as principais idéias<br />

sobre as obras de Isaac Newton (1643-1727), que perduraram por mais de duzentos<br />

anos, desde 1687.<br />

A física na época de Newton era conheci<strong>da</strong> como filosofia natural. Diversos<br />

temas eram reunidos em artigos científicos, para a divulgação no meio acadêmico <strong>da</strong><br />

época. Com isso muitos dos conceitos sobre espaço, tempo, força, inércia, e<br />

cinemática, já estavam bastante familiarizados no século XVII. Portanto estas idéias<br />

foram bastante reforça<strong>da</strong>s, o que não deixou dúvi<strong>da</strong>s sobre seus fun<strong>da</strong>mentos ate o<br />

século XIX.<br />

Desta forma to<strong>da</strong>s as observações foram coloca<strong>da</strong>s de maneira que qualquer<br />

filósofo ou geômetra <strong>da</strong> época não discor<strong>da</strong>sse sobre estes fun<strong>da</strong>mentos. Porém os<br />

melhores experimentos do século XVIII não eram tão precisos como os realizados a<br />

partir do século XIX. Por esse motivo quando os conceitos de espaço e tempo são<br />

postos em discussão, muitos estu<strong>da</strong>ntes acreditam compreendê-los corretamente.<br />

Mas isso não é ver<strong>da</strong>deiro. Tendo em vista que tais conceitos tornam-se de certa<br />

maneira abstratos, quando levados aos demais referenciais: como o espaço vazio ou<br />

corpos em movimento em altas veloci<strong>da</strong>des. Uma análise cui<strong>da</strong>dosa deve ser feita<br />

para compreender o sentido destas teorias.<br />

As idéias propostas por Newton foram tão aceitas que se tornaram paradigmas<br />

até o século XIX, embora algumas de suas propostas não concor<strong>da</strong>ram com os<br />

experimentos mais minuciosos, como por exemplo, os de Thomas Young (1773-1829)<br />

em 1805. Young usando a dupla fen<strong>da</strong> observou um comportamento ondulatório <strong>da</strong><br />

luz; as propostas de Fresnell para o éter luminífero questionaram as idéias<br />

newtonianas conti<strong>da</strong>s em Óptica de 1704. Com isso à evolução dos experimentos<br />

começaram a colocar em questionamento conceitos fortemente aceitos, e abrindo<br />

novas possibili<strong>da</strong>des cujas hipóteses e as experiências poderiam revelar.<br />

Idéias como a formação <strong>da</strong> matéria e suas diferenças, eram questiona<strong>da</strong>s e<br />

trata<strong>da</strong>s de diversas formas pelos físicos teóricos antes do século XX. Newton em<br />

pleno século XVII comenta sobre a matéria de maneira filosófica “... entretanto, para<br />

que não parecessem ári<strong>da</strong>s, ilustrei-as com alguns escólios filosóficos, e versei sobre<br />

generali<strong>da</strong>des, em parece fun<strong>da</strong>r-se principalmente a filosofia, como sejam, a<br />

5


densi<strong>da</strong>de e resistência dos corpos, os espaços vazios de corpos, bem como o<br />

movimento <strong>da</strong> luz e dos sons”.<br />

Newton usou a sua teoria dinâmica para exemplificar o conceito de inércia e<br />

sistemas acelerados. Ele exemplificou o movimento com comparações cotidianas, que<br />

poderiam ser feitas e comprova<strong>da</strong>s facilmente. Estas observações foram limita<strong>da</strong>s<br />

devido a construção teórica de sua época, pois existiam hipóteses, mas faltavam às<br />

experimentações adequa<strong>da</strong>s para uma visão mais realista <strong>da</strong>s características<br />

peculiares dos corpos. Como pode ser visto no comentário em (1983, Os Pensadores,<br />

p.21) principia, “Nos corpos vemos somente suas figuras e cores, ouvimos somente os<br />

sons, tocamos somente suas superfícies exteriores, cheiramos somente os cheiros e<br />

provamos os sabores; mas suas substâncias interiores não deverão ser conheci<strong>da</strong>s<br />

nem por nossos sentidos, nem por qualquer ato reflexo de nossas mentes”.<br />

A Óptica em pleno século XVII era vista de duas formas distintas: a corpuscular<br />

e a ondulatória. Robert Hook (1635-1703), René Descartes (1596-1650) e Christian<br />

Huygnes (1629-1695) eram defensores <strong>da</strong> ondulatória e buscavam explicações para o<br />

comportamento <strong>da</strong> luz entre os copos e também no espaço interplanetário. Robert<br />

Hook escreve sobre suas observações, onde afirma “A luz é produzi<strong>da</strong> por vibrações<br />

de um meio sutil e homogêneo e este movimento se propaga por impulso ou on<strong>da</strong>s<br />

simples e de forma perpendicular à linha de propagação”.<br />

Este meio de propagação <strong>da</strong> luz, baseado no éter aristotélico-cartesiano seria<br />

posteriormente analisado por Poincaré, e mantid até a publicação dos trabalhos de<br />

Albert Einstein, que descartou completamente o conceito de um espaço etéreo e<br />

propôs a existência de um espaço vazio entre os planetas e os demais corpos<br />

celestes.<br />

Jules Henri Poincaré (1854-1912), já no final do século XIX, publica uma série de<br />

artigos destinados às mais diversas áreas <strong>da</strong> física. Tratam primeiramente dos<br />

conceitos mecânicos e geométricos antecessores a ele, os quais poderiam ser<br />

substituídos de maneira tal que muitos fenômenos físicos passassem a ser vistos de<br />

forma diferente, contudo não menos reais e possíveis.<br />

Assim as idéias sobre a natureza do espaço são levanta<strong>da</strong>s de forma que a<br />

física poderia ser reformula<strong>da</strong> e aperfeiçoa<strong>da</strong>; diferentemente <strong>da</strong> física clássica com<br />

idéias muitas vezes basea<strong>da</strong>s em conceitos antropomórficos. Estes artigos foram<br />

estu<strong>da</strong>dos por Albert Einstein (1879-1955) antes de 1905, e foram de suma<br />

importância para a criação <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de especial. Einstein posteriormente chegou às<br />

mesmas conclusões <strong>da</strong>s hipóteses de Poincaré, porém indo além dessas quebrando<br />

com o domínio newtoniano e com as idéias do éter aristotélico-cartesiano de mais de<br />

200 anos.<br />

6


Esse novo conceito de relativi<strong>da</strong>de não se tratava somente de uma teoria<br />

inovadora basea<strong>da</strong> em uma série de hipóteses bem formula<strong>da</strong>s, antes de tudo deveria<br />

explicava o universo de maneira mais clara e sucinta que as anteriores, e confirma<strong>da</strong>s<br />

experimentalmente.<br />

As mu<strong>da</strong>nças de idéias seguiram uma disputa entre o velho e o novo de tal forma<br />

que surgiram conflitos, vivenciados pelo próprio Newton em 1687, “Mas aqueles que<br />

não compreendem suficientemente os princípios estabelecidos não perceberão de<br />

modo algum a força <strong>da</strong>s conseqüências, nem se desfarão dos preconceitos adquiridos<br />

já muito antes”, e novamente por Poincaré no final do século XIX, “Mu<strong>da</strong>r os conceitos<br />

<strong>da</strong> ciência chega a ser mais difícil do que mu<strong>da</strong>r os dogmas de uma religião”.<br />

Por fim após as publicações de 1905 no famoso ano miraculoso, até 1916 na<br />

publicação <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de geral, houve uma demora de mais de 15 anos até sua<br />

aceitação no meio cientifico, ocorrendo em 1919 com as observações do eclipse solar.<br />

Chamando a atenção do mundo todo para a nova teoria relativística e finalmente<br />

abrindo as portas para um longo e produtivo século de confirmações, de conquistas<br />

teórico-experimentais dos mais diversos campos <strong>da</strong> ciência.<br />

2. A HERANÇA DE NEWTON<br />

As leis de Newton foram bem fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s pela contribuição de seus<br />

antecessores; Galileu Galilei com a cinemática e o método científico, junto com René<br />

Descartes, com sua filosofia basea<strong>da</strong> na matemática e experimentação. Segundo a<br />

visão de Galileu, todo corpo em movimento possui uma veloci<strong>da</strong>de relativa que pode<br />

ser acrescenta<strong>da</strong> ou diminuí<strong>da</strong> conforme o referencial. Galileu percebeu que os corpos<br />

se movimentam de maneira constante desde que estejam livres de forças resistivas,<br />

assim propõe o principio <strong>da</strong> inércia junto com Descartes. A matemática e a observação<br />

não deixaram dúvi<strong>da</strong>s sobre esses princípios, tanto que Isaac Newton construiu uma<br />

teoria que explicava o mundo mecânico de maneira simples e coesa.<br />

Para isso Newton propõe três axiomas básicos que explicam as interações entre<br />

os corpos. Em suas próprias palavras NEWTON (1983, Os Pensadores, p.14) afirma:<br />

“Todo corpo permanece em seu estado de repouso ou de movimento uniforme em linha<br />

reta, a menos que seja obrigado a mu<strong>da</strong>r sue estado por forças impressas nele, (...) A<br />

mu<strong>da</strong>nça do movimento é proporcional à força motriz impressa, e se faz segundo a linha<br />

reta pela qual se imprime essa força, (...), a uma ação sempre se opõe uma reação igual,<br />

ou seja, as ações de dois corpos um sobre o outro são iguais e se dirigem as partes<br />

contrárias”.<br />

Com essas palavras Isaac Newton deduz todos os movimentos e fenômenos<br />

mecânicos no planeta e consegue expandir esse conceito para a lua e os demais<br />

7


planetas do sistema solar, que anteriormente eram tidos como o mundo “supralunar”<br />

regidos por leis perfeitas que não eram as mesmas do mundo sublunar. Newton chega<br />

à conclusão que o movimento é devido à inércia e a interação entre os corpos, seja<br />

diretamente ou não, como é o caso <strong>da</strong> gravitação. Isso permite aos corpos<br />

conservarem seus movimentos em torno do sol e manterem o equilíbrio de todo o<br />

sistema solar.<br />

2.1 Espaço absoluto<br />

Para Newton, existe uma série de espaços distintos quando se observa o<br />

movimento do próprio sistema, mas esse espaço relativo faz parte de um espaço<br />

imutável e estável, onde, NEWTON (1983, Os Pensadores, p.8), afirma:<br />

“O espaço é absoluto, por sua própria natureza sem nenhuma relação com algo externo,<br />

permanece sempre semelhante e imóvel; o relativo é certa medi<strong>da</strong> ou dimensão móvel deste<br />

espaço, a qual nossos sentidos definem por sua situação relativamente aos corpos, e que a plebe<br />

emprega em vez do espaço imóvel, como é a dimensão do espaço subterrâneo, aéreo ou celeste<br />

defini<strong>da</strong> por sua situação relativamente a terra...”.<br />

Percebe-se com isso que a relativi<strong>da</strong>de estava presente nos conceitos de Newton,<br />

porém sua idéia principal sobre o espaço era, “O centro do sistema do mundo esta em<br />

repouso”, logo tudo se move em torno desse espaço sem alterá-lo de nenhuma<br />

maneira.<br />

2.2 Tempo absoluto<br />

Segue-se o raciocínio de Newton para o que era observável em sua época,<br />

usando instrumentos que com pouca precisão de medi<strong>da</strong>, como os usados por Galileu<br />

na cinemática. NEWTON (1983 Os Pensadores, p.8), define o tempo como:<br />

“O tempo, ver<strong>da</strong>deiro e matemático flui sempre igual por si mesmo e por sua natureza,<br />

sem relação com qualquer coisa externa, chamando-se como outro nome duração; o<br />

tempo relativo, aparente e vulgar é certa medi<strong>da</strong> sensível e externa de duração por meio<br />

do movimento (seja exata, seja desigual), a qual vulgarmente se usa em vez do tempo<br />

ver<strong>da</strong>deiro, como é a hora, o dia, o mês, o ano”.<br />

Assim afirma que apesar de conceitos astronômicos sobre o tempo e o movimento dos<br />

corpos, esses jamais interferirão no fluxo do tempo, pois a duração e a permanência<br />

<strong>da</strong>s coisas são sempre as mesmas, quer os movimentos sejam rápidos ou lentos, ou<br />

até mesmo nulos como Newton acreditava.<br />

2.3 A conservação <strong>da</strong> energia e do momento linear<br />

8


Christian Huygens em 1669 observou que quando dois objetos em movimento<br />

colidem como é o caso de duas bolas de aço, a soma <strong>da</strong>s vis viva (força viva ou<br />

energia cinética) de ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s bolas é a mesma antes e depois <strong>da</strong> colisão.<br />

Um corpo após a colisão poderia ter sua veloci<strong>da</strong>de diminuí<strong>da</strong> enquanto que o<br />

outro corpo teria sua veloci<strong>da</strong>de aumenta<strong>da</strong>. Como conseqüência, a soma <strong>da</strong>s duas<br />

vis viva seria sempre a mesma.<br />

Segundo Christian Huygens (apud Ponczek e Rocha, 2002, p.97) “A soma dos<br />

produtos <strong>da</strong> massa de ca<strong>da</strong> corpo duro pelo quadrado <strong>da</strong> sua veloci<strong>da</strong>de é sempre a<br />

mesma antes e depois do encontro”.<br />

Para Gottfried Wilhelm Von Leibniz (1646-1716) a ver<strong>da</strong>deira quanti<strong>da</strong>de de<br />

movimento deveria ter uma relação com o quadrado <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de e não como os<br />

seguidores de René Descartes acreditavam.<br />

Os choques para Descartes eram devidos uma quanti<strong>da</strong>de de movimento criado<br />

por Deus no início e se conservava. A idéia de momento para Descartes era tal que<br />

(apud Ponczek e Rocha, 2002, p.93) “Se um corpo que se move encontra outro mais<br />

forte que ele, não perde na<strong>da</strong> de seu movimento, e se encontra outro mais fraco, a<br />

quem possa mover, perde de seu movimento aquilo que transmite ao outro”.<br />

Estas observações de momento linear e energia foram defini<strong>da</strong>s ao longo de 200 anos<br />

e finalmente consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s no século XIX como leis fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> natureza. A lei <strong>da</strong><br />

conservação <strong>da</strong> energia afirma que a energia não pode ser cria<strong>da</strong> e nem destruí<strong>da</strong>,<br />

mas ela se transforma de um tipo em outra. Pode-se inferir que estavam estabeleci<strong>da</strong>s<br />

duas grandezas físicas de suma importância, a conservação <strong>da</strong> energia e a<br />

conservação do momento linear.<br />

2.4 O Éter<br />

Uma grande questão perdurava na física clássica, o que seria a luz e quais suas<br />

características? Muitos teóricos propuseram diversas hipóteses para a luz, mas devido<br />

a diferentes linhas de pensamento algumas dessas propostas permaneceram<br />

ignora<strong>da</strong>s por um longo período <strong>da</strong> história, A principal teoria <strong>da</strong> Óptica no século XVII<br />

se preocupava mais com a geometria do que com as causas que produziam a luz;<br />

escolha feita por Newton e seus seguidores, contudo existiam teóricos que<br />

discor<strong>da</strong>vam do ponto de vista Newtoniano.<br />

Newton acreditava que a luz era composta de partículas rígi<strong>da</strong>s e se<br />

propagavam em um meio sutil chamado Éter, que possuía densi<strong>da</strong>des relativas; Sua<br />

densi<strong>da</strong>de crescia conforme as distâncias entre os astros. Essa matéria sutil estava<br />

9


presente em todo universo e aju<strong>da</strong>va inclusive no equilíbrio gravitacional entre os<br />

planetas.<br />

Mas este conceito era visto de maneira diferente por Robert Hook, René<br />

Descarte, Christian Huygens, onde a luz se caracterizava como uma propagação em<br />

um meio através de oscilações transversais. Tais teorias deveriam condizer com a<br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz 230.000km/s, medi<strong>da</strong> por Roemer.<br />

Estas hipóteses apresentaram conflitos, quando basea<strong>da</strong>s unicamente no éter,<br />

como aconteceu com Fresnel e Thomas Young que propuseram a idéia de o éter ser<br />

uma substancia sóli<strong>da</strong> e elástica, (apud Ponczek e Rocha, 2002, p.232):<br />

“Este modelo é pelo menos bastante engenhoso e pode <strong>da</strong>r origens a alguns cálculos<br />

satisfatórios; no entanto, dele faz parte uma circunstancia que tem conseqüências<br />

desastrosas (...) a resistência lateral tem sido apenas atribuí<strong>da</strong> a sólidos; de modo que (...)<br />

se pode inferi que o éter luminífero que enche todo o espaço e penetra quase to<strong>da</strong>s as<br />

substancias é não só altamente elástico como também totalmente sólido!”.<br />

Somente James Clark Maxwell (1831-1879) em 1861 através de cálculos em<br />

eletrodinâmica chega a um resultado de suma importância para a óptica e o<br />

eletromagnetismo, onde a equivalência entre a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz e <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s<br />

eletromagnéticas era visível (apud Ponczek e Rocha, 2002, p.264):<br />

“A veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s ondulações transversais no nosso meio hipotético, calcula<strong>da</strong> a<br />

partir <strong>da</strong>s experiências de eletromagnetismo efetua<strong>da</strong>s pelos Srs. Kolhraush e Weber<br />

(311.000km/s), tem um valor tão próximo do valor <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz calculado a partir de<br />

experiências de óptica realiza<strong>da</strong>s pelo Sr. Fizeau que é difícil evitar a inferência de que a luz<br />

consistirá em ondulações transversais do mesmo meio que é a causa dos fenômenos<br />

elétricos e magnéticos.”<br />

As confirmações <strong>da</strong> teoria de Maxwell se deram em 1887 por Heinrich Rudolf<br />

Hertz (1857-1894), que defendia de maneira unicamente didática que a luz era uma<br />

on<strong>da</strong> auto-sustentável, composta por campos eletromagnéticos que se propagavam<br />

sem a necessi<strong>da</strong>de de um meio etéreo.<br />

2.5 A gravitação<br />

O modelo de gravitação criado por Newton, teve o objetivo de explicar os<br />

movimentos <strong>da</strong> lua e dos corpos celestes. Newton conseguiu introduzir suas leis <strong>da</strong><br />

mecânica nas leis de Kepler com extraordinária intuição. Pode concluir que as<br />

mesmas leis que regeriam o movimento na superfície <strong>da</strong> Terra poderiam também ser<br />

considera<strong>da</strong>s para os corpos celestes.<br />

10


A única questão que diferenciava essas manifestações <strong>da</strong> natureza era o<br />

conceito de ação a distancia. Para Newton uma força motriz gera uma aceleração em<br />

um <strong>da</strong>do corpo e é proporcional a esta mesma força. Mas, e no caso desta interação<br />

indireta entre os corpos cuja força age a distância, poderia seguir os mesmos<br />

princípios que ocorrem na interação direta de dois corpos? Newton conclui que sim.<br />

Newton tentou criar um modelo de gravitação onde o éter agiria nos corpos e<br />

devido à variação de sua densi<strong>da</strong>de em relação ao sol, poderia explicar o movimento<br />

<strong>da</strong>s órbitas dos planetas.<br />

Contudo a melhor hipótese para a gravitação foi à ação a distância entre os<br />

corpos, que era diretamente proporcional ao produto <strong>da</strong>s massas e inversamente<br />

proporcional ao quadrado <strong>da</strong>s distancias que separam os centros dos corpos. Ou seja,<br />

nas próprias palavras de Isaac Newton (apud Ponczek e Rocha, 2002, p.105):<br />

“É certo que ela (a gravi<strong>da</strong>de) deve provir de uma causa que penetra nos centros exatos<br />

do sol e dos planetas (...) e que opera de acordo com a quanti<strong>da</strong>de de matéria que eles<br />

contêm, e propaga a sua virtude em todos os lados a imensas distancias, decrescendo<br />

sempre no quadrado inverso <strong>da</strong>s distancias. A gravitação com relação ao sol é composta<br />

a partir <strong>da</strong>s gravitações em relação às varias partículas <strong>da</strong> qual o corpo do sol é<br />

composto; e ao afastar-se do sol, diminui com exatidão na proporção do quadrado inverso<br />

<strong>da</strong>s distancias até a órbita de saturno”.<br />

O principia de Isaac Newton sintetizou to<strong>da</strong> a ciência <strong>da</strong> mecânica e <strong>da</strong><br />

astronomia de maneira tão consoli<strong>da</strong><strong>da</strong> que até o advento <strong>da</strong>s equações do<br />

eletromagnetismo de James Clark Maxwell, no século XIX, foi dominante o<br />

pensamento <strong>da</strong> mecânica. Posteriormente um grande aprimoramento se deu através<br />

<strong>da</strong> unificação do conceito <strong>da</strong> energia e do trabalho nas leis de Newton.<br />

2.6 O sistema solar por Emanuel Kant<br />

Emanuel Kant (1724-1804), (apud Ponczek e Rocha, 2002, p.121) filósofo<br />

alemão, tinha sofrido forte influência do pensamento newtoniano, tanto que propôs em<br />

sua obra: História <strong>Geral</strong> <strong>da</strong> Natureza e Teoria do Céu (1755), um modelo para a<br />

evolução do sistema solar, onde (apud Ponczek e Rocha, 2002, p.121) afirma:<br />

“Eu suponho que, no começo de to<strong>da</strong>s as coisas, to<strong>da</strong>s as matérias de que são<br />

compostos os globos que pertencem ao nosso mundo solar – todos os planetas e<br />

cometas – decompostos em sua matéria primordial elementar – incham todo o espaço do<br />

universo no qual eles atualmente giram. Este estado <strong>da</strong> natureza parece ser, o mais<br />

simples que possa existir, depois do na<strong>da</strong> (...) a composição dos corpos celestes,<br />

distantes um dos outros, seus afastamentos e sua forma, são uma conseqüência mais<br />

tardia. A natureza, imediatamente saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> criação, era tão grosseira e tão sem forma<br />

quanto possível. No entanto nas proprie<strong>da</strong>des essenciais dos elementos que formam o<br />

caos, já se pode encontrar o sinal dessa perfeição que eles adquirem de sua origem, pois<br />

sua essência é uma conseqüência <strong>da</strong> idéia eterna <strong>da</strong> razão divina. As proprie<strong>da</strong>des mais<br />

simples, as mais gerais, que parecem ter sido esboça<strong>da</strong>s sem nenhuma intenção (...) tem<br />

11


desde seu estado mais simples, uma tendência a se transformar em uma constituição<br />

perfeita, por um desenvolvimento natural”.<br />

Para Kant havia duas forças opostas responsáveis pela ordenação do universo:<br />

a atração gravitacional e uma força que gerava a expansão dos gases. A força<br />

gravitacional seria a responsável pela aproximação <strong>da</strong> matéria entorno de pontos de<br />

maior densi<strong>da</strong>de, e obedeceria à lei do inverso do quadrado <strong>da</strong>s distancias proposta<br />

por Newton, enquanto que a força de repulsão provocaria colisões entre as partículas<br />

em difusão, fazendo com que estas adquirissem um movimento rotação em torno dos<br />

pontos de maior densi<strong>da</strong>de.<br />

2.7 O sistema solar segundo Simon Pierre Laplace<br />

Em 1786 Simon Laplace (1749-1827) demonstrou a estabili<strong>da</strong>de do sistema<br />

solar, mostrando que os planetas do sistema solar possuem excentrici<strong>da</strong>des<br />

praticamente constantes e inclinações, umas e relação às outras, sempre muito<br />

pequenas.<br />

Laplace aprimorou a hipótese nebular 1 na obra Exoisution du systeme du<br />

monde de 1796 e concluindo esta abor<strong>da</strong>gem no famoso Traité du mecanique cleste,<br />

publica<strong>da</strong> entre 1799 e 1825.<br />

Com as teorias de Emanuel Kant e Simon Laplace tanto a astronomia quando<br />

a mecânica Newtoniana estava de sobremodo sedimenta<strong>da</strong>s e tornou-se o paradigma<br />

do pensamento científico até o final do século XIX e início do século XX.<br />

3. O ESPAÇO E A GEOMETRIA<br />

No final do século XIX a ciência estava passando por reformulações <strong>da</strong> qual a<br />

geometria ganhava novas fronteiras. A descrição dos sólidos pela geometria<br />

Euclidiana era insuficiente devido às convenções idealiza<strong>da</strong>s. Os sólidos reais não<br />

condiziam com esta geometria e necessitava de algo mais abrangente para descrevê-<br />

los.<br />

To<strong>da</strong> a criação <strong>da</strong> geometria baseava-se em uma aproximação entre as<br />

experiências cotidianas e uma transfiguração para a geometria idealiza<strong>da</strong>.<br />

Jules Henri Poincaré (1854-1912) em 1902 publicou uma série de artigos<br />

científicos reunidos no livro à ciência e a hipótese, que avaliavam as questões<br />

1 Segundo essa hipótese o Sistema Solar teria se originado há cerca de 4.600 milhões de anos a partir de<br />

uma vasta nuvem de gás e poeira - a nebulosa solar<br />

12


epistemológicas <strong>da</strong> física vigente, e discutiam novas hipóteses para os fenômenos <strong>da</strong><br />

natureza e para a geometria.<br />

O conceito do espaço para Poincaré necessitava de uma análise cui<strong>da</strong>dosa<br />

porque em princípio a geometria utiliza<strong>da</strong> na física ate então era a geometria<br />

Euclidiana. Mas o que aconteceria se as descrições do espaço, e dos corpos<br />

estivessem sujeitas às impressões sensórias errôneas?<br />

Foi partindo desta hipótese que Poincaré propôs alguns exemplos que<br />

mostravam as limitações dos sentidos e as implicações que acarretariam na visão <strong>da</strong><br />

física.<br />

3.1 O espaço geométrico e o espaço representativo<br />

O espaço geométrico possui proprie<strong>da</strong>des singulares. Ele é contínuo, infinito,<br />

tem três dimensões, é homogêneo e isotrópico na geometria Euclidiana. Mas como<br />

seria a descrição deste espaço se fossem usa<strong>da</strong>s às representações e sensações do<br />

ser humano?<br />

Poincaré buscou classificar o espaço de duas maneiras distintas: o espaço<br />

geométrico idealizado pelos geômetras e o espaço representativo, resultado <strong>da</strong><br />

percepção sensorial humana, POINCARÉ (1984, A ciência e a Hipótese, p.55) afirma:<br />

“Diz-se, frequentemente, que as imagens dos objetos exteriores estão localiza<strong>da</strong>s no<br />

espaço, que mesmo elas só podem ser forma<strong>da</strong>s com essa condição. Diz-se também, que<br />

esse espaço, serve, assim, de quadro as nossas sensações e representações é idêntico<br />

ao espaço dos geômetras. Possuindo to<strong>da</strong>s as suas proprie<strong>da</strong>des.<br />

Todos os que pensam assim, a frase acima deve ter parecido bem extraordinária. Mas<br />

convém examinar se não estão sendo vítimas de alguma ilusão que uma análise<br />

cui<strong>da</strong>dosa poderia dissipar”.<br />

3.2 Espaço visual, tátil e motor.<br />

Quando se enxerga um objeto, a imagem deste é forma<strong>da</strong> dentro dos olhos, na<br />

parte que corresponde à retina. Esta imagem é contínua, mas com duas dimensões<br />

apenas.<br />

Poincaré observa que esse espaço percebido pelos olhos se diferencia do<br />

espaço de três dimensões dito pelos geômetras. Esse espaço pode ser chamado de<br />

puro espaço visual, a luz que chega a retina será interpreta<strong>da</strong> de uma forma<br />

diferencia<strong>da</strong>, dependendo do local onde a informação se situa na retina.<br />

A visualização <strong>da</strong> terceira dimensão de um objeto ocorrerá quando a posição<br />

entre os olhos e o objeto sofrerem uma acomo<strong>da</strong>ção.<br />

13


Nesse caso alem <strong>da</strong> visão propriamente dita uma outra variável teve que ser<br />

acrescenta<strong>da</strong> para a percepção do espaço visual completo.Se uma impressão tátil<br />

pode contrapor-se a uma impressão puramente visual, então qual <strong>da</strong>s duas<br />

impressões seria a correta? Somente a junção <strong>da</strong>s duas impressões <strong>da</strong>ria uma<br />

descrição mais realista, qualquer uma dessas impressões sensoriais isola<strong>da</strong>s seria<br />

contraditória quando conflita<strong>da</strong>s uma com a outra.<br />

Sendo assim a percepção completa de um corpo necessita <strong>da</strong> relação entre<br />

visão e posição dos olhos. Um objeto retangular somente seria identificado se um<br />

observador pudesse variar sua posição relativa a este objeto.<br />

Em outras palavras, POINCARÉ (1984, A ciência e a Hipótese, p.57) diz que “a<br />

terceira dimensão nos é revela<strong>da</strong> de duas maneiras diferentes: pelo esforço de<br />

acomo<strong>da</strong>ção e pela convergência dos olhos”. O espaço Motor corresponde aos<br />

movimentos musculares, esses nos informam a direção pela qual estamos nos<br />

orientando.<br />

A conclusão de Poincaré acarreta numa distinção clara entre o espaço ideal<br />

dos geômetras e o espaço representativo. O que ocorre é uma tentativa de levar as<br />

percepções do espaço representativo para o espaço geométrico, POINCARÉ (1984, A<br />

ciência e a Hipótese, p.59) afirma:<br />

“Nenhuma de nossas sensações isola<strong>da</strong>s, teriam podido nos levar à idéia do espaço. Só<br />

pudemos chegar a ela pelo estudo <strong>da</strong>s leis segundo as quais essas sensações se<br />

sucedem (...) Quer um objeto mude de estado ou de posição, isso se traduz para nos<br />

sempre <strong>da</strong> mesma maneira? Por uma modificação num conjunto de impressões”.<br />

3.3 O mundo não-euclidiano<br />

Poincaré expõe as representações de espaço como sendo uma aproximação<br />

de nossas percepções, dessa forma, ele propõe uma conjectura exótica, de um mundo<br />

cujas leis <strong>da</strong> natureza são diferentes <strong>da</strong>s que regem nosso universo real.<br />

Nesse universo imaginário, haveria um centro aquecido, cuja temperatura<br />

decairia até chegar ao zero absoluto em seus limites espaciais.<br />

Seres que habitassem esse mundo teriam uma geometria diferencia<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

euclidiana, pois se baseariam a partir de suas percepções sensoriais.<br />

Caso um objeto fosse deslocado <strong>da</strong> parte central desse mundo em direção às<br />

bor<strong>da</strong>s, ele sofreria contrações que dependeriam <strong>da</strong> temperatura em ca<strong>da</strong> ponto; com<br />

isso as descrições de corpos rígidos em mundo hipotético não seriam como as do<br />

mundo real,pois um corpo que se deslocasse em tais situações teria um deslocamento<br />

não-euclidiano.<br />

14


Nesse mundo cujas leis diferenciam-se <strong>da</strong>s do mundo real, Poincaré propõe<br />

um possível comportamento <strong>da</strong> luz. POINCARÉ (1984, A ciência e a Hipótese, p.64)<br />

afirma:<br />

“Apresentaria ain<strong>da</strong>, uma outra hipótese, suporei que a luz atravesse meios diversamente<br />

refringentes, de tal modo que o índice de refração seja inversamente proporcional a R²-r².<br />

É fácil ver que, nessas condições os raios luminosos não mais serão retilíneos, mas<br />

circulares.”<br />

Essas hipóteses fantasiosas segundo Poincaré, descreveram fenômenos que<br />

não são cotidianos, mas que são possíveis do ponto de vista geométrico.<br />

Poincaré apresentou uma idéia de universo quadridimensional, que em<br />

determina<strong>da</strong>s situações poderia ser perceptível a seres que se baseassem em leis<br />

naturais próprias.<br />

Um exemplo de geometria não-euclidiana, comenta<strong>da</strong> por Poincaré é a<br />

geometria de Riemann (1826-1866), cuja forma é curva. Propunha um novo axioma a<br />

priori incompatível com o 3° axioma de Euclides. Por um ponto, só podemos fazer<br />

passar uma paralela a uma reta <strong>da</strong><strong>da</strong>.<br />

Riemann encontrou uma forma de representar um espaço curvo que em certas<br />

circunstâncias; em um ponto podem passar infinitas retas.<br />

A conclusão de Poincaré é que POINCARÉ (1984, A ciência e a Hipótese,<br />

p.54): “nenhuma geometria é mais ver<strong>da</strong>deira do que a outra; o que ela pode ser é<br />

mais cômo<strong>da</strong>.”<br />

3.4 O espaço, o tempo e a força.<br />

A crítica de Poincaré às ciências unicamente experimentais teve grande<br />

importância no processo <strong>da</strong> criação <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de,ele percebeu que por mais<br />

desenvolvidos que foram os experimentos de sua época, existiu ain<strong>da</strong> sim um grande<br />

limite no desenvolvimento <strong>da</strong> ciência que acarretou em informações incompletas,<br />

POINCARÉ (1984, A ciência e a Hipótese, p.81) afirma:<br />

“Por outro lado, se os princípios <strong>da</strong> mecânica, só têm a experiência como fonte, não serão<br />

eles, unicamente, aproximativas e provisórias? Novas experiências não poderão nos<br />

levar, um dia, a modificá-las ou ate mesmo a abandoná-los? Essas são questões que se<br />

colocam naturalmente e a dificul<strong>da</strong>de <strong>da</strong> solução deriva, antes de mais na<strong>da</strong>, do fato de<br />

que os tratados de Mecânica não definem com clareza o que é experiência, o que é<br />

raciocínio matemático, o que é convenção e o que é hipótese.”<br />

Esse raciocínio de Poincaré o levou a questionar as bases <strong>da</strong> mecânica<br />

newtoniana. As afirmações <strong>da</strong> visão absoluta de Newton foram origina<strong>da</strong>s por falhas<br />

15


na construção <strong>da</strong> mecânica. Não existiam experimentos que demonstrassem a idéia<br />

de espaço e tempo absoluto. Para POINCARÉ (1984, A ciência e a Hipótese, p.81),<br />

estas hipóteses deixaram de lado o mais importante na construção <strong>da</strong> ciência, a<br />

experimentação.<br />

Em contraposição as idéias de Newton, Poincaré afirmou:<br />

“1° não existe espaço absoluto e só conhecemos movimentos relativos; contudo<br />

enunciamos, quase sempre, fatos mecânicos como se houvesse um espaço absoluto<br />

como referencia.<br />

2° não existe tempo absoluto; dizer que dois períodos de tempo são iguais é uma<br />

afirmação que não tem nela própria, nenhum sentido, e só pode vir a ter sentido por<br />

convenção.<br />

3° Não só não temos a intuição direta de dois períodos de tempo, como também não<br />

temos, sequer, a <strong>da</strong> simultanei<strong>da</strong>de de dois acontecimentos que se dão em lugares<br />

diferentes; é o que expliquei num artigo intitulado Mesure du Temps”.<br />

As convenções na física simplificam diversos problemas, mas muitas vezes<br />

deixam conclusões precipita<strong>da</strong>s. Poincaré comenta o conceito de inércia, mas não<br />

acha qualquer experimento possível que o comprovasse ver<strong>da</strong>deiramente.<br />

Um exemplo que Poincaré apresenta refere-se à aparente ausência de forças<br />

externas na análise <strong>da</strong> inércia.<br />

Por mais que se busquem experimentos que possam comprovar a lei <strong>da</strong><br />

inércia, jamais se conheceu um corpo que estivesse ausente de forças, e<br />

conseqüentemente descrevesse um movimento retilíneo e uniforme.<br />

A lei <strong>da</strong> inércia proposta por Galileu e em segui<strong>da</strong> aperfeiçoa<strong>da</strong> por Newton<br />

seria nesse contexto um caso particular de uma lei mais generaliza<strong>da</strong>, POINCARÉ<br />

(1984, A ciência e a Hipótese, p.82) afirma:<br />

“O princípio <strong>da</strong> inércia, que não é uma ver<strong>da</strong>de a priori, seria, então, um fato experimental?<br />

Mas, alguma vez, já se fizeram experiências com corpos que não estivessem sob ação de<br />

nenhuma força e, se isso foi feito, como é que se soube que esses corpos não estavam<br />

submetidos a nenhuma força?”<br />

Essas observações anteciparam as conclusões <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de especial e<br />

geral, cujo princípio <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de foi expandido para sistemas acelerados.<br />

As antigas questões a respeito <strong>da</strong> mecânica, não foram as únicas observações<br />

que Poincaré fez. Ele cita uma série de novas teorias que complementam a<br />

eletrodinâmica de Maxwell. Na teoria de Lorentz, Poincare fala sobre as partículas<br />

eletriza<strong>da</strong>s antes <strong>da</strong> descoberta por Joseph John Thomson (1856-1940) em 1897. As<br />

interações entre matéria e Éter também foram apresenta<strong>da</strong>s sem que se chegasse a<br />

conclusões convincentes para Poincaré. Mas uma de suas observações mais<br />

importantes refere-se ao comportamento de corpos em altas veloci<strong>da</strong>des. POINCARÉ<br />

(1984, A ciência e a Hipótese, p.178) sugeriu que um fenômeno físico causaria<br />

variação na massa inerte de um corpo, mas que possivelmente não alteraria a<br />

ver<strong>da</strong>deira massa.<br />

16


“Quando a veloci<strong>da</strong>de varia, a massa real, a massa mecânica, permanece constante, é,<br />

por assim dizer, sua própria definição; mas a inércia eletromagnética, que contribui para<br />

formar a massa aparente, cresce com a veloci<strong>da</strong>de, obedecendo a uma lei. Deve,<br />

portanto, haver uma correlação entre a veloci<strong>da</strong>de e a relação entre a massa e a carga,<br />

quanti<strong>da</strong>des que podem ser calcula<strong>da</strong>s; já o dissemos, pela observação dos desvios dos<br />

raios sobe ação de um imã ou de um campo elétrico.”<br />

4. EXPERIÊNCIA DE MICHELSON E MORLEY<br />

A mecânica ao final do século XIX já a mais de 150 anos explicará as interações<br />

<strong>da</strong> matéria, seja com as três leis de Newton, seja com a gravitação; e uma <strong>da</strong>s suas<br />

conclusões mais importantes era que as leis <strong>da</strong> mecânica são as mesmas em todos os<br />

sistemas galileanos, ou seja, inerciais.<br />

Em outras palavras qualquer experiência realiza<strong>da</strong> em sistemas galileanos não<br />

poderá dizer se um corpo está em movimento ou em repouso inercial. Contudo em<br />

sistema não galileanos, esta reali<strong>da</strong>de mu<strong>da</strong>, mesmo a mais simples experiência<br />

prova isso.<br />

A Terra apesar de sua grande massa e baixa veloci<strong>da</strong>de rotacional é um sistema<br />

acelerado, e muitos experimentos foram realizados chegando às mesmas conclusões,<br />

a terra gira em torno de um eixo de rotação. Um experimento simples capaz de<br />

observar essa rotação é o pendulo de Foucault usado em 1851, por Jean Bernard<br />

Leon Foucault (1819-1868) para demonstrar o movimento rotacional <strong>da</strong> Terra ao longo<br />

do dia.<br />

Partido do princípio <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de de Galileu e Newton pode-se perceber o<br />

movimento acelerado <strong>da</strong> terra em torno do seu próprio eixo usando um compasso<br />

giroscópio, ou o desvio para o leste dos corpos em que<strong>da</strong> livre, ou desvio para a<br />

direita do plano de tiro no hemisfério norte ou mesmo observando o sentido dos<br />

ciclones que giram em sentidos contrários dependendo do hemisfério em que se<br />

encontram.<br />

Mas até a segun<strong>da</strong> metade do século XIX não havia experiências que<br />

demonstrassem qual a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> terra em relação ao vento de Éter, que preenchia<br />

o espaço interplanetário. Apesar <strong>da</strong> translação <strong>da</strong> terra em torno do sol ser com uma<br />

veloci<strong>da</strong>de de aproxima<strong>da</strong>mente 30 km/s, em certos momentos pode-se considerar<br />

este movimento como retilíneo e uniforme.<br />

A Terra movendo-se de forma retilínea em um curto período poderia ser<br />

considera<strong>da</strong> como um sistema galileano, em relação aos eixos fixados no sol e<br />

dirigidos para as estrelas distantes. O princípio Galileano <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de é<br />

considerável a este movimento <strong>da</strong> terra e por mais rápido que seja esse movimento as<br />

experiências mecânicas feitas na superfície <strong>da</strong> terra foram incapazes de percebê-lo.<br />

17


Assim a mecânica mostrou-se incapaz de discriminar o sistema onde a terra se<br />

move no espaço, do sistema de Ptolomeu onde ela está imóvel no universo. A rotação<br />

<strong>da</strong> terra não ultrapassa 1/2 km/s e é facilmente detecta<strong>da</strong>, porém sua translação<br />

jamais foi detecta<strong>da</strong> anteriormente por qualquer experimento.<br />

Mas usando os conceitos <strong>da</strong> óptica os físicos Albert Michelson(1852-1931) e<br />

Eduard Morley(1838-1923) que acreditavam firmemente que o principio galileano <strong>da</strong><br />

relativi<strong>da</strong>de que é válido para a mecânica, não o seria para a óptica. Com a crença na<br />

infinitude <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz aceita até 1881, previa que um raio luminoso lançado<br />

na direção e no sentido do movimento <strong>da</strong> terra teria sua veloci<strong>da</strong>de altera<strong>da</strong> pelo fator<br />

(c-v), Um outro raio luminoso lançado no sentido oposto afastar-se-ia dela com<br />

veloci<strong>da</strong>de (c+v).<br />

Sendo assim a mecânica prevê uma diferença de 2v entre os dois raios<br />

luminosos, conseqüência esta, evidente e necessária <strong>da</strong>s leis <strong>da</strong> adição <strong>da</strong>s<br />

veloci<strong>da</strong>des. Era essa diferença de 2v que os físicos <strong>da</strong> época acreditavam poder<br />

detectar usando experimentos de óptica especialmente precisos e capazes de obter<br />

interferências nos feixes luminosos.<br />

A óptica no século XIX possuía as experiências mais refina<strong>da</strong>s que existiam<br />

desde então, sua precisão atingia níveis incríveis de bilionésimos, ou seja, as<br />

interferências construtivas e destrutivas permitiam detectar desvios de 0,3 metros em<br />

300.000km de percurso. A famosa experiência de Michelson teve o objetivo de por em<br />

evidência a translação <strong>da</strong> terra usando as proprie<strong>da</strong>des <strong>da</strong> luz. O aparelho usado por<br />

Michelson era horizontal, um feixe luminoso de cor pura (monocromática) vindo do<br />

sentido <strong>da</strong> fonte bateria a 45° num vidro semi-refletor, uma parte do feixe refletia-se<br />

para um espelho, enquanto a outra parte atravessava o vidro e ia para um segundo<br />

espelho.<br />

Figura 1: Esquema do interferômetro de Michelson<br />

18


Após a reflexão normal em ambos os espelhos, o primeiro raio atravessaria em<br />

parte e chegaria a uma luneta, outro raio luminoso iria ser refletido no segundo<br />

espelho e lançado para a mesma luneta. Pela figura 1, é possível observar isto. Pela<br />

diferença de caminho L e L + ∆ r, é possível medir a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz.<br />

Assim os raios divididos no vidro semi-refletor, se juntariam novamente e<br />

produziriam riscas de interferência, construtivas e destrutivas. Mas o inesperado<br />

aconteceu, nenhuma alteração nas riscas foi perceptível.<br />

A precisão do experimento de Michelson e Morley poderia detectar interferências<br />

com veloci<strong>da</strong>des de ate 1/6 <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de de translação <strong>da</strong> Terra, ou seja, com<br />

apenas 5km/s o interferômetro teria funcionado como previam, mas isso não ocorreu.<br />

5. O ANNUS MIRABILIS<br />

Em 1905 Albert Einstein (1879-1955) reformulou a mecânica clássica e a nossa<br />

concepção do tempo absoluto. Ele descobriu a razão pela qual a natureza se opunha<br />

à previsão <strong>da</strong> adição <strong>da</strong>s veloci<strong>da</strong>des no caso <strong>da</strong> luz. Para Einstein a questão não<br />

teria sentido para a natureza, o conflito nas medi<strong>da</strong>s provinha dos conceitos errôneos<br />

sobre o espaço e sobre o tempo.<br />

Não seria possível refazer a mecânica sem abandonar as idéias de propagação<br />

instantânea, e de tempo e de espaço absoluto. O tempo e o espaço na<strong>da</strong> significam<br />

alem <strong>da</strong>quilo que percebemos ou <strong>da</strong>quilo que medimos. Einstein a<strong>da</strong>ptou a noção do<br />

tempo conforme a experiência com a propagação <strong>da</strong> luz e com o eletromagnetismo.<br />

Esse tempo relativo deu origem a uma nova mecânica que explica não só o resultado<br />

de Michelson, mas um grande número de outros resultados conhecidos por intermédio<br />

<strong>da</strong> nova teoria.<br />

5.1 Os postulados<br />

Albert Einsten, em seus trabalhos sobre a eletrodinâmica dos corpos em<br />

movimento, abor<strong>da</strong> dois novos conceitos que até então não haviam sido defendidos<br />

com ver<strong>da</strong>deira coragem. Até essa época as leis <strong>da</strong> física ain<strong>da</strong> estavam sendo<br />

unifica<strong>da</strong>s, o que era ver<strong>da</strong>deiro em mecânica, talvez não o fosse em óptica, ou em<br />

termodinâmica.<br />

19


Um longo período construtivo se deu até 1905, o que acreditavam estar<br />

solucionado em to<strong>da</strong> a física. Mas os cientistas <strong>da</strong> época só precisavam explicar dois<br />

fenômenos interessantes, a radiação do corpo negro e a veloci<strong>da</strong>de constante <strong>da</strong> luz.<br />

Einstein em uma atitude ousa<strong>da</strong> propôs dois postulados que serviram de base<br />

para a sua teoria, partindo dessas hipóteses para explicar diversos fenômenos<br />

mecânicos e eletromagnéticos.<br />

O primeiro postulado afirma que não existe nenhum experimento capaz de<br />

detectar o movimento absoluto, foi o que Michelson e Morley observaram quando<br />

tentaram medir a veloci<strong>da</strong>de de translação <strong>da</strong> Terra em relação ao vento de éter.<br />

O segundo postulado afirma que a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz independe do movimento<br />

<strong>da</strong> fonte, ou seja, Einstein defendia a idéia de que veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz teria a mesma<br />

medi<strong>da</strong>, fosse medi<strong>da</strong> por qualquer observador, estando em movimento ou em<br />

repouso inercial.<br />

Com essas afirmações Einstein chega à conclusão de que tudo é relativo e a<br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz é um limite imposto pela natureza, seja para o movimento dos<br />

corpos ou para propagação de campos.<br />

A mecânica clássica aceitava as idéias dos sólidos perfeitamente rígidos, que<br />

conseguiam transmitir instantaneamente uma informação de uma ponta a outra do<br />

corpo. Mas na reali<strong>da</strong>de os sólidos por mais rígidos que sejam, transmitem a<br />

informação através de sua substancia, por deformação elástica, e com uma veloci<strong>da</strong>de<br />

muito inferior que a <strong>da</strong> luz.<br />

Com essa falsa crença de veloci<strong>da</strong>des ilimita<strong>da</strong>s surgem solidários os conceitos<br />

de tempo absoluto, de espaço absoluto, e de sólidos perfeitos que também implicam<br />

em massa absoluta. Porém uma limitação <strong>da</strong>s veloci<strong>da</strong>des implicou em tempo relativo,<br />

espaço relativo e massa relativa.<br />

5.2 A simultanei<strong>da</strong>de<br />

A física dá o nome de acontecimento ao resultado de uma dupla coincidência no<br />

tempo e no espaço. Um exemplo pode ser observado quando duas esferas que<br />

tenderiam para um mesmo lugar se chocam no mesmo instante. Este choque possui<br />

um valor intrínseco que depende unicamente <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s do espaço, do tempo e <strong>da</strong>s<br />

massas <strong>da</strong>s mesmas. Todos os observadores estarão em acordo quanto à existência<br />

de um efeito físico como a quebra ou o recuo dos corpos.<br />

Assim a física resume-se á constatação de acontecimentos assim definidos,<br />

sendo então de fun<strong>da</strong>mental importância, as medi<strong>da</strong>s de tempo e de comprimentos<br />

nos eventos. Quando se mede o tempo usando um relógio ou um pêndulo, é<br />

20


necessário observar um ponteiro com uma divisão defini<strong>da</strong>. Por isso medir um período<br />

é observar o fluxo do tempo no começo e no final do fenômeno.<br />

No começo do século XX, eram feitas correções dos atrasos ou adiantamentos<br />

dos relógios. Uma série de situações mostrava a importância de se ter relógios<br />

sincronizados; dentre estas umas que necessitavam de correção eram as viagens de<br />

trens. Os horários de parti<strong>da</strong> e de chega<strong>da</strong> deveriam estar de acordo, para que não<br />

ocorressem colisões. O estudo do sincronismo era de fun<strong>da</strong>mental importância para a<br />

organização <strong>da</strong>s viagens de trem. Mas em mecânica clássica, a simultanei<strong>da</strong>de possui<br />

um significado absoluto, pois se acredita que as transmissões são instantâneas, o que<br />

Einstein discor<strong>da</strong>va. Sendo assim nenhuma medi<strong>da</strong> humana real de tempo e espaço<br />

(comprimento) poderia ser rigorosa sem o conhecimento <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des <strong>da</strong> luz, ou<br />

seja, <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s eletromagnéticas que são importantíssimas para to<strong>da</strong>s as medi<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />

física.<br />

Com objetos em baixas veloci<strong>da</strong>des não se percebe estes efeitos sobre o tempo<br />

e o comprimento, mas no caso de movimentos rápidos e de medições precisas, a<br />

reali<strong>da</strong>de é diferente do ideal absoluto <strong>da</strong> mecânica clássica.<br />

A medi<strong>da</strong> do tempo deve ser basea<strong>da</strong> na análise <strong>da</strong> simultanei<strong>da</strong>de. Para<br />

sincronizar relógios em um <strong>da</strong>do referencial, Einstein partiu do princípio que dois<br />

eventos em um referencial são simultâneos se sinais luminosos provenientes dos<br />

eventos atingem um observador eqüidistante no mesmo instante, pois sabendo que a<br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz é constante, pode-se estimar o tempo que ela (a luz) leva para<br />

chegar até o observador que deve estar a meio caminho <strong>da</strong>s fontes luminosas.<br />

Isso implica que há distâncias iguais no mesmo referencial, dois eventos ocorrem<br />

ao mesmo tempo. Observa-se desta maneira que acontecimentos simultâneos em um<br />

determinado referencial, são acontecimentos que ocorrem no mesmo instante<br />

marcados por relógios locais, devi<strong>da</strong>mente sincronizados.<br />

Porém quando se escolhe outro referencial inercial, a simultanei<strong>da</strong>de se torna<br />

relativa. Quando se analisa o movimento relativo de um segundo observador, percebe-<br />

se que duas fontes luminosas que emitem feixes luminosos no mesmo instante em um<br />

<strong>da</strong>do referencial serão percebi<strong>da</strong>s de maneira diferente em outro referencial por um<br />

observador que se mova junto com este segundo referencial.<br />

O que ocorre neste caso é a aproximação do observador em direção a uma <strong>da</strong>s<br />

fontes e o afastamento relativo à segun<strong>da</strong> fonte que se afasta com a mesma<br />

veloci<strong>da</strong>de relativa do referencial em repouso inercial.<br />

O observador em movimento relativo às fontes irá perceber em tempos<br />

diferentes os dois sinais luminosos, ou seja, um ocorre antes que o outro. Com isso se<br />

21


ele tiver dois relógios em mãos que são acionados quando um <strong>da</strong>do sinal luminoso<br />

atinge o mesmo, esse observador em movimento relativo às duas fontes perceberá<br />

que um dos relógios em suas mão acionará a marcação do tempo antes que o outro.<br />

5.3 A dilatação do tempo<br />

Quando Albert Einstein analisou situações físicas basea<strong>da</strong>s em seus postulados,<br />

ele buscou uma explicação simples e fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>, usando o teorema de Pitágoras<br />

<strong>da</strong> geometria. Einstein então propôs o famoso “gen<strong>da</strong>nken” (experimento mental) onde<br />

um observador em um referencial inercial R, marca segundo um relógio local, o tempo<br />

que um feixe luminoso leva pra sair <strong>da</strong> base do mesmo ate um espelho situado a certa<br />

altura neste referencial inercial.<br />

Partido <strong>da</strong> hipótese <strong>da</strong> invariância <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz, e do princípio <strong>da</strong><br />

relativi<strong>da</strong>de galileana, este observador em movimento retilíneo uniforme percebe um<br />

movimento vertical do feixe de luz e marca o tempo de trajeto com base no espaço<br />

percorrido de i<strong>da</strong> e volta na direção vertical a uma veloci<strong>da</strong>de constante visto na<br />

figura2.<br />

Figura 2: Observador no referencial R<br />

Mas quando um segundo observador situado no referencial R’ em repouso<br />

inercial, mas com uma veloci<strong>da</strong>de relativa à R analisa o trajeto <strong>da</strong> luz quando sai <strong>da</strong><br />

base do referencial R’, que vai ate o espelho e volta para a base, percebe que o feixe<br />

luminoso não se move somente na vertical, mas também no sentido do movimento do<br />

referencial R, ou seja, em duas dimensões como visto na figura 3.<br />

22


Figura 3: Observador no referencial R'<br />

Isto implica que para o observador situado no referencial R’ ele irá calcular o<br />

tempo de percurso <strong>da</strong> luz que se move na vertical e na horizontal por um principio de<br />

componentes vetoriais, descrevendo uma espécie de triangulo em seu movimento<br />

constante.<br />

O observador perceberá que o tempo medido por seu relógio será maior que o<br />

tempo medido pelo relógio do primeiro observador em movimento junto com a fonte<br />

luminosa no referencial R.<br />

O fato <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz não poder aumentar ou diminuir seu valor na<br />

relativi<strong>da</strong>de especial, infere que para um observador posicionado ao lado de uma fonte<br />

luminosa emitindo feixes luminosos na direção vertical gastará menos tempo no seu<br />

trajeto ate o espelho do que a luz do ponto de vista do outro observador no referencial<br />

R’, com movimento relativo à fonte luminosa.<br />

O tempo marcado pelo observador R em movimento retilíneo uniforme é<br />

chamado de tempo próprio e a diferença entre o tempo próprio para o tempo marcado<br />

pelo observador em repouso inercial é <strong>da</strong><strong>da</strong> pelo fator relativístico γ .<br />

1<br />

γ =<br />

(1)<br />

v²<br />

1−<br />

c²<br />

1<br />

∆t′<br />

= ∆t<br />

v²<br />

1−<br />

c²<br />

(2)<br />

23


Onde ( ∆ t') é o tempo que passa para o observador em repouso inercial e ( ∆ t)<br />

é o tempo próprio do outro observador que se encontra em movimento. A relação<br />

entre os tempos marcados pelos dois observadores é <strong>da</strong><strong>da</strong> pela razão entre as<br />

diferenças <strong>da</strong>s veloci<strong>da</strong>des do referencial e <strong>da</strong> luz, dentro, no fator relativístico γ .<br />

5.4 A contração <strong>da</strong>s distâncias<br />

Outra conseqüência dos postulados de Einstein e o efeito <strong>da</strong> contração <strong>da</strong>s<br />

distâncias. Esse fenômeno ocorre quando comparamos duas medi<strong>da</strong>s de<br />

comprimento em referenciais inerciais diferentes.<br />

Como não existe simultanei<strong>da</strong>de e ca<strong>da</strong> referencial possui seu próprio tempo,<br />

deve-se, então concluir que o espaço e o tempo estão diretamente ligados, e a<br />

alteração de um deles resulta na alteração do outro.<br />

No caso <strong>da</strong>s distancias, quando se estabelece uma medi<strong>da</strong> de comprimento,<br />

marcam-se duas posições no espaço ao mesmo tempo. Para ca<strong>da</strong> referencial tem-se<br />

um comprimento relacionado, que depende <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de relativa entre o referencial R<br />

em repouso inercial e o referencial R’ em movimento retilíneo uniforme.<br />

Lembrando que em uma medi<strong>da</strong> deve-se haver uma coincidência nos<br />

marcadores do tempo, porém como ca<strong>da</strong> referencial tem um fluxo do tempo<br />

característico isso influencia na contração <strong>da</strong>s distancias onde:<br />

v²<br />

L L0<br />

1−<br />

c²<br />

= (3)<br />

Sendo L a medi<strong>da</strong> do comprimento no referencial em repouso inercial R’, e L0<br />

o comprimento próprio do referencial R em movimento constante, a diferença nas<br />

medi<strong>da</strong>s destes comprimentos se dá pelo fator relativístico γ . Onde quanto mais a<br />

veloci<strong>da</strong>de do referencial se aproxima <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz, maior será a contração do<br />

espaço para o referencial em movimento, visto pelo outro observador.<br />

O mesmo é percebido para o referencial R em repouso inercial, como não se<br />

pode determinar o movimento absoluto dos corpos, a percepção do observador R’ em<br />

movimento quando analisa a medi<strong>da</strong> do comprimento no referencial R que se distancia<br />

ou aproxima-se de R’. O Comprimento próprio, medido no próprio referencial sempre<br />

será maior que as demais medi<strong>da</strong>s de comprimento em outros referenciais em<br />

movimento.<br />

5.5 As transformações de Lorentz<br />

24


Quando se parte <strong>da</strong> hipótese <strong>da</strong> invariabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz, a<br />

cinemática deve ser descrita de uma nova maneira, para isso os cientistas que<br />

estu<strong>da</strong>vam as discrepâncias na medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz, dentre eles George<br />

Francis Firtzgerald (1851-1901) e posteriormente Hendrick Antoon Lorentz (1853-<br />

1928) propuseram uma transformação de veloci<strong>da</strong>de que impunha o limite <strong>da</strong><br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz, de um referencial em movimento relativo para outro referencial<br />

qualquer.<br />

Essas transformações de veloci<strong>da</strong>de hoje conheci<strong>da</strong>s como as transformações<br />

de Lorentz, foram úteis no modelo relativístico de Albert Einstein, mesmo que<br />

divergentes entre seus conceitos básicos.<br />

Enquanto Hendrick Atoon Lorentz acreditava que a alteração <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz no experimento de Michelson e Morley era devido à contração do<br />

equipamento pelo movimento relativo ao éter, Albert Einstein simplesmente descartou<br />

a idéia do vento de éter e se baseou unicamente no limite imposto pela natureza para<br />

a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz. Para isso as transformações de Lorentz foram adequa<strong>da</strong>s tanto<br />

no caso de baixas veloci<strong>da</strong>des relativas entre os referenciais inerciais que implicam<br />

diretamente nas transformações de Galileu quanto para altas veloci<strong>da</strong>des impondo o<br />

limite para elas.<br />

Incorporou dessa forma tanto a antiga teoria <strong>da</strong> cinemática como também<br />

possibilitou a explicação nas discrepâncias <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz<br />

conflitantes com a mecânica clássica e ain<strong>da</strong> levou a previsão de novos fenômenos<br />

físicos baseados numa mecânica relativística.<br />

As componentes vetoriais <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de de uma partícula em movimento em<br />

relação ao referencial R’ que também se move em relação ao referencial R em<br />

repouso inercial, quando observa<strong>da</strong>s deste ponto são descritos de forma que:<br />

V<br />

x'<br />

Vx<br />

− u<br />

uVx<br />

1−<br />

c²<br />

= (4)<br />

Onde Vx’ é a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> partícula em relação ao referencial R’, Vx é a<br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> partícula em relação ao referencial R e u é a veloci<strong>da</strong>de relativa entre os<br />

referenciais inerciais. O denominador <strong>da</strong> equação é o fator que limita o sistema a<br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz.<br />

V<br />

y'<br />

Vy<br />

=<br />

⎛ uVx<br />

γ ⎜1−<br />

⎝ c²<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

(5)<br />

25


V<br />

z'<br />

Vz<br />

=<br />

⎛ uVx<br />

γ ⎜1−<br />

⎝ c²<br />

Quando a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> partícula no referencial R’ é perpendicular ao<br />

deslocamento do próprio referencial, as veloci<strong>da</strong>des em relação ao eixo Y e Z em um<br />

plano cartesiano são obti<strong>da</strong>s através <strong>da</strong> divisão entre a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> partícula em<br />

relação ao seu referencial R e o fator relativístico γ , vezes a relação que limita o<br />

sistema à veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz. Onde y V e V z são as veloci<strong>da</strong>des em relação ao<br />

referencial R em repouso inercial.<br />

Com o uso <strong>da</strong>s transformações de Lorentz pode-se chegar à relação que permite<br />

calcular a diferença de sincronização de dois ou mais relógios que estejam em<br />

diferentes referenciais inerciais. Como a medi<strong>da</strong> do tempo é relativa junto à medi<strong>da</strong> do<br />

espaço, deve-se conhecer a veloci<strong>da</strong>de relativa u do referencial R’ em relação ao<br />

referencial R, e medir o comprimento próprio percorrido pelo observador durante a<br />

viagem para poder sincronizar os dois relógios.<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

− uL<br />

c²<br />

(6)<br />

0<br />

∆ t =<br />

(7)<br />

Onde ∆ t é a diferença entre os tempos marcados nos dois referenciais, u é a<br />

veloci<strong>da</strong>de do referencial R’, L0 é o comprimento próprio percorrido dividido pelo<br />

quadrado <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz.<br />

5.6 Efeito Doppler relativístico<br />

O efeito Doppler é um fenômeno ondulatório previsto na mecânica clássica que<br />

relaciona a mu<strong>da</strong>nça de freqüência com o movimento entre fonte/observador. O<br />

famoso físico Armand Fizeau (1819-1896) conseguiu fazer uma relação entre fontes<br />

luminosas em movimento relativo e um receptor, e chegou à conclusão de que a<br />

freqüência <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s luminosas sofre uma alteração devido ao movimento relativo<br />

entre fonte/observador como acontece com as on<strong>da</strong>s mecânicas.<br />

Apesar <strong>da</strong> proposta ousa<strong>da</strong> de Fizeau preceder em mais de 50 anos a<br />

publicação <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de especial de 1905, esta previsão do efeito Doppler-Fizeau é<br />

uma conseqüência dos postulados de Albert Einstein onde:<br />

26


= ν<br />

0<br />

u<br />

1+<br />

c<br />

u<br />

1−<br />

c<br />

ν (8)<br />

A variável ν é a freqüência observa<strong>da</strong> em outro referencial, ν 0 é a freqüência<br />

original observa<strong>da</strong> no próprio referencial <strong>da</strong> fonte luminosa e a razão u/c é a relação<br />

entre a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> fonte luminosa com a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz.<br />

Os sinais numéricos dentro <strong>da</strong> equação se relacionam ao movimento relativo<br />

entre a fonte e o observador, sendo positivo no numerador e negativo no denominador<br />

<strong>da</strong> equação, quando a fonte e observador se aproximam. Quando o movimento entre<br />

fonte/observador é de recessão os sinais numéricos <strong>da</strong> equação são alterados em<br />

cima e embaixo do numerador.<br />

5.7 O momento relativístico e sua conservação<br />

Quando dois corpos considerados rígidos se chocam em um sistema em que o<br />

somatório <strong>da</strong>s forças externas é nulo, pode-se afirmar que a quanti<strong>da</strong>de de movimento<br />

antes e depois <strong>da</strong> colisão é a mesma. Este evento na física é chamado de<br />

conservação do momento linear.<br />

Partindo do princípio <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de galileana, a conservação do momento deve<br />

ser váli<strong>da</strong> para altas veloci<strong>da</strong>des. Tanto quanto é para baixas veloci<strong>da</strong>des. Se o<br />

evento for interpretado segundo as transformações de Lorentz, impondo um limite para<br />

a veloci<strong>da</strong>de de um feixe luminoso, a conservação do momento terá um novo formato.<br />

A definição clássica para o momento linear é o produto <strong>da</strong> massa pela<br />

veloci<strong>da</strong>de, mas quando essa concepção é analisa<strong>da</strong> em um choque de dois corpos<br />

rígidos que se encontram em referenciais inerciais diferentes, essa interpretação gera<br />

uma violação na conservação do momento linear final do sistema.<br />

Isso ocorre por causa de três fatores que devem ser analisados cui<strong>da</strong>dosamente.<br />

Primeiramente sabe-se pelos postulados de Einstein que existe um limite para a<br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz; o movimento de um fóton ou de uma partícula em diferentes<br />

referenciais deve obedecer às transformações de Lorentz, e não as de Galileu.<br />

A própria experiência com interferômetro argumenta em favor <strong>da</strong>s<br />

transformações de Lorentz. Como o segundo postulado de Einstein afirma que to<strong>da</strong>s<br />

as leis <strong>da</strong> física são váli<strong>da</strong>s para referenciais galileanos, logo princípios fun<strong>da</strong>mentais<br />

<strong>da</strong> natureza como a conservação do momento deve ser irrefutável.<br />

27


Por último fica a questão, sobre o que deve ser reformulado, o princípio <strong>da</strong><br />

conservação do momento segundo a interpretação clássica ou o principio <strong>da</strong><br />

relativi<strong>da</strong>de galileana?<br />

Albert Einstein achou a resposta mais adequa<strong>da</strong> para esta questão, preferiu<br />

manter suas idéias originais e alterar o conceito clássico para o momento linear, para<br />

que esse concor<strong>da</strong>sse com a nova mecânica relativística.<br />

No choque entre duas esferas rígi<strong>da</strong>s ou quaisquer outros corpos, existem três<br />

componentes vetoriais para o momento linear.<br />

Quando duas esferas provenientes de dois referenciais inerciais em movimento<br />

relativo se chocam, o somatório <strong>da</strong>s componentes vetoriais do momento <strong>da</strong>s esferas<br />

de mesma direção ao movimento do referencial R’, se conserva.<br />

Mas as demais componentes vetoriais do momento <strong>da</strong>s esferas não se<br />

conservam quando analisa<strong>da</strong>s antes e depois <strong>da</strong> colisão. O somatório destas<br />

componentes vetoriais para o momento na direção perpendicular ao movimento do<br />

referencial R’ é diferente de zero; violando a conservação do momento linear, logo o<br />

princípio <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de.<br />

A solução para esse problema veio <strong>da</strong> a<strong>da</strong>ptação do momento linear para as<br />

transformações de Lorentz. Isso implicou que para baixas veloci<strong>da</strong>des tanto dos<br />

corpos quanto dos referenciais destes corpos, sejam menores que c a forma do<br />

momento linear, volta a ter a mesma interpretação clássica, massa vezes veloci<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> partícula.<br />

Porém, quando se observam as colisões em altas veloci<strong>da</strong>des, e as interpretam<br />

segundo as transformações de Lorentz no lugar <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de clássica, o resultado é<br />

diferente.<br />

Percebe-se que o espaço percorrido nas direções perpendicular ao movimento<br />

do referencial R’, não sofre deformação como efeito relativístico. Porém esse evento<br />

ocorre no referencial R’ em movimento, tendo então um tempo próprio em função de<br />

sua veloci<strong>da</strong>de relativa à R. Sendo assim a variação do espaço em função do tempo<br />

deve ser altera<strong>da</strong> do tempo próprio <strong>da</strong> partícula para o tempo do outro referencial.<br />

Como conseqüência, a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> partícula do ponto de vista do observador<br />

em repouso em R terá o fator relativístico γ para corrigi-lo.<br />

Logo, isso implica que o momento de uma partícula observado no referencial R<br />

que vem de R’, será <strong>da</strong>do por:<br />

r<br />

Ρ =<br />

r<br />

mv<br />

v²<br />

1− c²<br />

(9)<br />

28


Onde o momento P r é <strong>da</strong>do pelo produto <strong>da</strong> massa m pela veloci<strong>da</strong>de, corrigi<strong>da</strong><br />

pelo fator relativístico γ . Quando considerados os princípios <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de especial,<br />

percebe-se que a massa <strong>da</strong> partícula aumenta conforme a veloci<strong>da</strong>de do referencial<br />

<strong>da</strong> mesma se aproxima <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz.<br />

Essa interpretação do momento relativístico implica que qualquer corpo<br />

independente de sua massa inicial jamais poderá chegar à veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz, pois sua<br />

massa tenderia ao infinito.<br />

Esse limite imposto pela natureza para veloci<strong>da</strong>des finitas vai contra a afirmação<br />

<strong>da</strong> mecânica clássica, que acreditava em veloci<strong>da</strong>des ilimita<strong>da</strong>s e alterações em<br />

campos gravitacionais que poderiam se propagar no espaço interplanetário<br />

instantaneamente, independente <strong>da</strong> distância. Corpos que se encontrassem a<br />

veloci<strong>da</strong>des iguais a <strong>da</strong> luz necessitariam de energia cinética infinita; contradizendo<br />

to<strong>da</strong> uma visão <strong>da</strong> conservação <strong>da</strong> energia na natureza.<br />

5.8 A nova interpretação para massa e energia<br />

Normalmente quando se fala de energia, a primeira idéia que vem a mente são<br />

os tipos de energia manifestas na natureza. Dentre to<strong>da</strong>s as energias estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s na<br />

física, duas delas mostram-se fun<strong>da</strong>mentais para a compreensão <strong>da</strong> natureza. São<br />

elas a energia cinética e a energia potencial.<br />

A idéia de energia cinética desde Leibniz e Huygens era compreendi<strong>da</strong> como<br />

dependente do quadrado <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de dos corpos. Portanto quanto maior a<br />

veloci<strong>da</strong>de do corpo maior seria sua energia cinética.<br />

Como na relativi<strong>da</strong>de especial as idéias clássicas de tempo, de espaço, de<br />

massa e momento precisaram ser reformula<strong>da</strong>s, na<strong>da</strong> mais natural do que interpretar<br />

o conceito de trabalho, segundo os princípios teóricos <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de especial.<br />

Nota-se que to<strong>da</strong> e qualquer veloci<strong>da</strong>de deve ser considera<strong>da</strong> segundo as<br />

transformações de Lorentz, logo quando se pensa em variações <strong>da</strong> energia cinética de<br />

um corpo deve-se levar em consideração a relativi<strong>da</strong>de do tempo e do espaço que irão<br />

influenciar nas medi<strong>da</strong>s de veloci<strong>da</strong>de e energia.<br />

Segundo a mecânica, uma força resultante externa aplica<strong>da</strong> a um corpo ao longo<br />

de um espaço realizará trabalho, ou seja, quando se mu<strong>da</strong> o estado de movimento de<br />

um corpo, uma energia é transforma<strong>da</strong> de um tipo em outra para que este estado<br />

inercial seja alterado.<br />

Logo duas grandezas fun<strong>da</strong>mentais variam nesse processo, o tempo e o espaço<br />

durante essa força motriz sobre um corpo. Com relação às bases <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de<br />

29


especial, o tempo e o espaço não são absolutos, logo o momento linear desse corpo<br />

deve seguir os princípios dos postulados de Einstein. Assim a força resultante deve<br />

ser expressa em termos de variação do momento linear em função <strong>da</strong> variação do<br />

tempo.<br />

r<br />

r<br />

dP<br />

=<br />

dt<br />

Fr , ext<br />

(10)<br />

Sendo r Fr a força resultante externa que realiza o trabalho em um corpo, dP r a<br />

variação do momento relativístico e dt a variação do tempo em relação ao referencial<br />

do corpo.<br />

Sabe-se que o trabalho é o produto de uma força resultante externa pelo<br />

deslocamento de um corpo no espaço, logo:<br />

∫<br />

w = Fr<br />

dx<br />

(11)<br />

w = ∆K<br />

(12)<br />

w ∫<br />

dP<br />

dx<br />

dt<br />

= (13)<br />

O trabalho de uma força sobre uma partícula no espaço é igual à variação de<br />

sua energia cinética, cuja Fr é a força resultante externa, e dx o deslocamento <strong>da</strong><br />

partícula. ∆ K É a variação <strong>da</strong> energia cinética <strong>da</strong> mesma.<br />

Como a força externa é a variação do momento linear em função <strong>da</strong> variação do<br />

tempo, essa expressão matemática pode ser reescrita com as condições <strong>da</strong><br />

relativi<strong>da</strong>de especial.<br />

⎛ ⎞<br />

⎜ ⎟<br />

⎜ 1<br />

= mc²<br />

−1<br />

⎟<br />

⎜ v²<br />

⎟<br />

⎜ 1−<br />

⎟<br />

⎝ c²<br />

⎠<br />

K (14)<br />

γ =<br />

1<br />

v²<br />

1−<br />

c²<br />

( 1)<br />

K = mc²<br />

γ −<br />

(15)<br />

Onde γ mc ² é a soma <strong>da</strong> energia total <strong>da</strong> partícula, mc ² é a energia de repouso<br />

<strong>da</strong> partícula, sendo a energia cinética a diferença dessas duas funções.<br />

Percebe-se que mesmo uma partícula em repouso inercial possui uma energia<br />

intrínseca que se relaciona com a quanti<strong>da</strong>de de matéria <strong>da</strong> mesma, em outras<br />

palavras, Einstein chegou a uma relação matemática que unifica dois conceitos<br />

fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> física.<br />

30


A Lei <strong>da</strong> Conservação <strong>da</strong>s Massas de Antoine Laurent Lavoisier (1743-1794) e a<br />

Lei <strong>da</strong> Conservação <strong>da</strong> Energia de Wilian Thomson (1824-1907). Dois conceitos<br />

distintos, segundo a física clássica, se unificaram de forma a revelar uma nova<br />

característica <strong>da</strong> natureza, a duali<strong>da</strong>de massa-energia.<br />

6. O UNIVERSO DE MINKOWSKI<br />

Pouco tempo depois <strong>da</strong> publicação <strong>da</strong> Teoria <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de restrita o<br />

matemático Hermann Minkowski (1864-1909) desenvolve um novo formalismo para o<br />

conceito do espaço e do tempo. Partindo <strong>da</strong>s teorias de Lorentz e Einstein, Minkowski<br />

busca uma descrição mais abrangente para o universo, MINKOVSKY (2001, O<br />

princípio <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de, p.93) afirma:<br />

“As consideração sobre e espaço e o tempo que desejo expor-vos brotam do terreno <strong>da</strong><br />

física experimental. Ai reside a sua força. A sua tendência é radical. Daqui em diante os<br />

conceitos do espaço e de tempo considerados como autônomos, vão desvanecer-se<br />

como sombras e somente se reconhecerá existência independente a uma espécie de<br />

união entre os dois”.<br />

Minkowski <strong>da</strong> mesma forma que Lorentz e Einstein, consideram dois sistemas de<br />

referencia que possuem um movimento relativo entre eles. Porém ele vai além quando<br />

considera um evento como a relação entre quatro dimensões, três espaciais e uma<br />

temporal.<br />

As coordena<strong>da</strong>s espaciais X, Y e Z são substituí<strong>da</strong>s por uma única coordena<strong>da</strong><br />

espacial que resume to<strong>da</strong> a posição no espaço. Um evento que ocorra em um <strong>da</strong>do<br />

referencial pode então ser relacionando com um outro referencial que possua as<br />

coordena<strong>da</strong>s X’, Y’, Z’ e t’ o tempo próprio.<br />

Analisando um evento em relação ao tempo t e ao espaço agora identificado<br />

como X’’ para as três coordena<strong>da</strong>s. Percebe-se que todo movimento terá uma relação<br />

direta entre a posição inicial e o tempo inicial, com a posição final e o tempo final.<br />

Quando a razão entre a variação do espaço e a variação do tempo é igual à<br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz, o evento pode ser descrito como:<br />

∆ R² = ∆X<br />

² + ∆Y<br />

² + ∆Z<br />

²<br />

(16)<br />

c² t = ∆R²<br />

∆ (17)<br />

c² t = ∆X<br />

² + ∆Y<br />

² + ∆Z<br />

²<br />

∆ (18)<br />

( ∆X<br />

² + ∆Y<br />

² + ² )<br />

∆ S² = c²<br />

∆t²<br />

−<br />

∆Z<br />

(19)<br />

c ² dt²<br />

dx²<br />

+ dy²<br />

+ dz²<br />

= (20)<br />

31


Onde C ∆ t é a separação temporal do evento, e ∆ S é a separação espacial do<br />

evento. O termo c <strong>da</strong> ao termo temporal (C ∆ t) a dimensão de comprimento. Na forma<br />

diferencial essa relação é escrita como:<br />

( dX ² + dY ² )<br />

dS ² c²<br />

dt²<br />

− + dZ<br />

= (21)<br />

Um pulso de luz se propagando com simetria esférica percorreria o espaço a<br />

uma veloci<strong>da</strong>de constante.<br />

Se em um espaço de três dimensões, considerarem o intervalo entre dois<br />

eventos como a distancia percorri<strong>da</strong> por um feixe de luz entre dois pontos no espaço<br />

de quatro dimensões, será observado que este espaço não é unicamente Euclidiano.<br />

O intervalo ds entre dos eventos quaisquer é um absoluto, e terá o mesmo valor<br />

calculado por qualquer observador em estado inercial. Isto pode ser interpretado como<br />

sendo o espaço-tempo absoluto, apesar de o espaço e o tempo serem relativos.<br />

Esta inter-relação de eventos ocorrendo em quatro dimensões pode ser<br />

simplifica<strong>da</strong> para duas dimensões como Minkowski propôs em um congresso em<br />

1908.<br />

Como foi dito antes um evento que ocorre no espaço e no tempo será descrito<br />

por uma figura chama<strong>da</strong> de cone de luz, que apresenta eventos no passado, no<br />

presente e no futuro.<br />

Como a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz é um limite imposto pela natureza, todos os eventos<br />

físicos que ocorreram no passado e estarão interligados no futuro deverão estar<br />

presentes dentro do cone de luz como pode ser visto na figura 4:<br />

Figura 4: Cone de luz<br />

A região exterior ao cone de luz não poderá ser atingi<strong>da</strong>, pois para isso as<br />

razões entre espaço e tempo seriam superiores a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz.<br />

32


Tudo que abrange a matéria e campos eletromagnéticos estará relacionado a<br />

uma seqüência de eventos, que são descritos por posições e tempos infinitesimais.<br />

Uma linha do universo mostrará tudo que ocorreu com a substância no passado<br />

e que interferirá nos futuros eventos.<br />

7. O PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE GENERALIZADO<br />

Em 1911 Albert Einstein publicou um artigo cientifico intitulado sobre a influência<br />

<strong>da</strong> gravi<strong>da</strong>de na propagação <strong>da</strong> luz em que apresenta exemplos de dois referenciais<br />

não galileanos em que se observava uma equivalência mecânica entre um referencial<br />

K em um campo gravitacional e outro referencial K’ com uma aceleração constante<br />

sem a presença de qualquer campo gravitacional.<br />

Dois corpos situados um em ca<strong>da</strong> referencial não galileano teriam a mesma<br />

percepção de forças apesar de naturezas supostamente diferentes como o próprio<br />

EISNTEIN (2001, O Principio <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de, p.128) afirma:<br />

“Em relação ao sistema acelerado K’ isto resulta diretamente do principio de Galileu, mas<br />

em relação ao sistema K, que esta em repouso num campo de gravi<strong>da</strong>de homogêneo<br />

resulta do fato experimental de todos os corpos terem em tal campo, movimentos<br />

idênticos uniformemente acelerado (...) Chegaremos, porém a uma interpretação muito<br />

satisfatória de tal lei experimental, se admitirmos que os sistemas K e K’ se equivalem<br />

completamente do ponto de vista físico...”<br />

Einstein busca primeiramente uma relação entre a massa que resiste ao<br />

movimento (massa inercial) e a massa que cria o campo de gravi<strong>da</strong>de (massa<br />

gravitacional) e tenta desta maneira relacionar os fenômenos inferidos na relativi<strong>da</strong>de<br />

especial com um campo gravitacional.<br />

Para isto Einstein levantou a hipótese de que: se um corpo acrescido de massa<br />

inercial em função de sua energia cinética também não poderia ser acrescido de uma<br />

massa gravitacional?<br />

Se caso esta hipótese de Einstein estivesse errado uma fenômeno estranho<br />

aconteceria. Dois corpos feitos de mesmo material e energias de repousos iguais<br />

teriam massas inerciais de igual magnitude, logo teriam o mesmo peso em um campo<br />

gravitacional homogêneo. Contudo se estes mesmos copos possuíssem energia de<br />

repouso diferentes em função <strong>da</strong> energia cinética de ca<strong>da</strong> um, eles teriam ain<strong>da</strong> assim<br />

um mesmo peso em um campo gravitacional? Com esta questão Einstein procurou<br />

formular uma lei que generalizasse o princípio <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de.<br />

7.1 A propagação <strong>da</strong> luz em um campo gravitacional<br />

33


Primeiramente em um sistema K situado na superfície <strong>da</strong> Terra em um campo<br />

gravitacional, tem como base o plano X e Y em coordena<strong>da</strong>s cartesianas e o eixo Z<br />

será a altura neste referencial.<br />

Um outro referencial K’ que possui uma aceleração uniforme de igual módulo a<br />

aceleração gravitacional na superfície <strong>da</strong> Terra possui como base o plano X’ e Y’,<br />

sendo o eixo Z’ a altura neste referencial não inercial.<br />

Neste caso EISNTEIN (2001, O princípio <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de, p.129) afirma:<br />

“Enquanto nós cingirmos aos fenômenos puramente mecânicos abrangidos pelo domínio<br />

de vali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mecânica Newtoniana, não oferece dúvi<strong>da</strong> a equivalência dos sistemas K e<br />

K’; mas essa equivalência só atingirá um significado de maior profundi<strong>da</strong>de se admitirmos<br />

para todos os fenômenos físicos, isto é, se as leis <strong>da</strong> natureza referi<strong>da</strong>s a K coincidirem<br />

inteiramente com as leis referi<strong>da</strong>s a K’. Com a aceitação disto, teremos adquirido um<br />

princípio que, se for realmente ver<strong>da</strong>deiro, terá um grande valor heurístico, porque nos<br />

permitirá, através de considerações teóricas dos fenômenos que se passam em relação a<br />

um sistema de referencia uniformemente acelerado, obter informação acerca do curso dos<br />

fenômenos num campo de gravi<strong>da</strong>de homogêneo”.<br />

7.2 A ponderabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> energia<br />

Quando um corpo recebe uma quanti<strong>da</strong>de de energia por irradiação a sua massa<br />

inercial deve aumentar com a relação E / c²<br />

. Para Einstein o fato de um aumento de<br />

energia alterar a massa inerte, resultará no aumento de seu peso quanto este corpo<br />

interagir com um campo gravitacional.<br />

Se dois sistemas matérias S1 e S2 sobre o eixo Z, com instrumentos de medi<strong>da</strong><br />

de tempo idênticos em ca<strong>da</strong> um, estiverem a uma distancia h um do outro terão um<br />

potencial gravitacional em S2 maior que S1 situado na origem do referencial acelerado<br />

K.<br />

Se o sistema material S2 emitir para S1 certa quanti<strong>da</strong>de de energia em forma de<br />

radiação eletromagnética, a energia de repouso de S1 irá aumentar com a relação <strong>da</strong><br />

energia emiti<strong>da</strong> por S2, que equivale ao acréscimo de massa inerte transportado pela<br />

radiação em uma diferença de potencial gravitacional <strong>da</strong>do por:<br />

1<br />

= E<br />

2<br />

E2<br />

+ Φ<br />

c²<br />

E (22)<br />

E1 é a energia que o sistema S1 situado na base do referencial recebe de S2, E2<br />

é a energia que foi emiti<strong>da</strong> por S2 como radiação, E / ² a massa inerte transporta<strong>da</strong><br />

2 c<br />

de S2 para S1, Φ é a diferença de potencial gravitacional.<br />

Einstein chegou a esta conclusão, analisando este fenômeno de irradiação e<br />

recepção de energia em um sistema K’ dotado de aceleração uniforme γ sem a<br />

presença de qualquer campo gravitacional.<br />

34


Sobre isso EINSTEIN (2001, O principio <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de, p.131) afirma:<br />

“De acordo, porém com o nosso postulado <strong>da</strong> equivalência de K e K’ podemos<br />

estabelecer, em vez do sistema K colocado no campo de gravi<strong>da</strong>de homogêneo, um<br />

sistema K’, que não está sujeito à gravi<strong>da</strong>de, mas está animado de movimento<br />

uniformemente acelerado no sentido positivo do eixo Z’ do sistema K’. Os sistemas<br />

materiais S1 e S2 supor-se-ão então rigi<strong>da</strong>mente ligados ao eixo Z’ em K’. O processo <strong>da</strong><br />

transferência de energia de S2 para S1 por radiação (...) a radiação atingirá S1 quando<br />

tiver decorrido o tempo h/c. Neste instante, porém S1 possui em relação a K0, a<br />

veloci<strong>da</strong>de V = yh / c . Por esse motivo, e atendendo à teoria <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de habitual, a<br />

radiação que chega a S1 não possui a energia E2. Mas sim uma energia maior...”.<br />

Para Einstein quando a radiação passa de S2 para S1 uma massa inercial<br />

E / ² , fornece ao exterior o trabalho / ²<br />

2 c<br />

E2 c yh . Se, contudo S1 emitir uma<br />

quanti<strong>da</strong>de E1 de energia em forma de radiação a massa inercial E / ² realizará<br />

trabalho ate chegar a S2 que esta em um potencial gravitacional mais elevado. Isto<br />

mostra uma equivalência entre a massa gravitacional e a massa inercial.<br />

Em um sistema K’ acelerado uniformemente, o sistema material S2 possui um<br />

relógio próprio para medir a freqüência <strong>da</strong> radiação V2 que será emiti<strong>da</strong>. Se S1 possui<br />

um relógio idêntico ao de S2 este medirá a freqüência V2 que chega a S1.<br />

Se em relação ao referencial K’ houver um referencial K0 estacionário que meça<br />

a mesma freqüência <strong>da</strong> radiação emiti<strong>da</strong> por S2 e comparar com a freqüência recebi<strong>da</strong><br />

por S1 que está acelerado, perceberá que em S1 a freqüência que chega é maior que a<br />

emiti<strong>da</strong> por S2.<br />

Isto se deve ao fato de que no momento <strong>da</strong> emissão <strong>da</strong> radiação por S2 o tempo<br />

de trajeto de S2 para S1 ser o percurso <strong>da</strong> altura h que separa ambos, dividi<strong>da</strong> pela<br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz.<br />

Estando S1 acelerado com magnitude γ no sentido Z’ positivo a veloci<strong>da</strong>de de S1<br />

em relação ao referencial K0 estacionário será:<br />

1 c<br />

v = yt<br />

(23)<br />

h<br />

v γ<br />

c<br />

= (24)<br />

Isto implicará numa variação <strong>da</strong> freqüência <strong>da</strong><strong>da</strong> pelo efeito Doppler<br />

Relativístico e a relação entre a freqüência emiti<strong>da</strong> por S2 e a observa<strong>da</strong> por S1 será:<br />

⎛ h ⎞<br />

ν1 = ν 2⎜1+<br />

γ ⎟ (25)<br />

⎝ c ⎠<br />

Como o sistema acelerado K’ sem campo gravitacional é equivalente ao sistema<br />

K em um campo gravitacional, pode-se interpretar este resultado como sendo causado<br />

pela diferença de potencial gravitacional entre S2 e S1, sendo que S1 está na origem do<br />

sistema K.<br />

35


Sabendo que γ é a aceleração do campo gravitacional e a diferença de altura<br />

entre S1 e S2 é h, obterá a diferença de potencial gravitacional Φ logo o desvio de<br />

freqüência para um valor maior no sentido Z negativo será:<br />

Φ = γh<br />

(26)<br />

⎛ Φ ⎞<br />

1 = ν 2⎜1+<br />

⎟<br />

⎝ c²<br />

⎠<br />

ν (27)<br />

Logo Com estas hipóteses Einstein sugeriu que a freqüência <strong>da</strong> luz emiti<strong>da</strong> na<br />

superfície do sol quando chegar a Terra terá um desvio para o vermelho devido à<br />

diferença de potencial gravitacional entre o Sol e a terra.<br />

Einstein sugere que a luz que sai de um campo gravitacional terá sua<br />

freqüência reduzi<strong>da</strong>, e a luz que se aproxima de um campo gravitacional terá sua<br />

freqüência aumenta<strong>da</strong>. No caso de corpos com alto campo gravitacional como é o<br />

caso do Sol tem-se o chamado, desvio para o vermelho, e o desvio para o azul no<br />

espectro visível de radiação eletromagnética. Esta alteração de freqüência em uma<br />

diferença de potencial gravitacional, sugere que dois relógios idênticos, um situado em<br />

S2 e o outro situado em S1 terão, uma diferença na marcação do tempo equivalente a<br />

diferença de potencial gravitacional. Para sincronizar estes dois relógios deve-se<br />

atrasar o relógio S2 e um fator de (1+ Φ/c²).<br />

O efeito <strong>da</strong> diferença de potencial gravitacional sobre os relógios de S2 e S1 tem<br />

uma conseqüência importante na medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz, EINSTEIN (2001, O<br />

principio <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de, p.137) afirma:<br />

“... Assim para medir o tempo num local em que o potencial gravítico tenha o valor Φ<br />

relativamente à origem <strong>da</strong>s coordena<strong>da</strong>s, devemos utilizar um relógio que apresente<br />

quando colocado naquela origem – um ritmo (1+ Φ/c²) vezes mais lento que o do relógio<br />

utilizado para medir o tempo na referi<strong>da</strong> origem. Sendo assim se designarmos por C a<br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz na origem <strong>da</strong>s coordena<strong>da</strong>s, então a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz, C, num local de<br />

potencial gravítico Φ será <strong>da</strong>do por:<br />

⎛ Φ ⎞<br />

c = c0<br />

⎜1+<br />

⎟<br />

⎝ c²<br />

⎠<br />

O princípio <strong>da</strong> Constância <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz não é, pois, segundo esta teoria, válido na<br />

forma que usualmente se põe na base <strong>da</strong> teoria habitual <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de.”<br />

7.3 Encurvamento dos raios de luz no campo de gravi<strong>da</strong>de<br />

Uma conseqüência <strong>da</strong> inconstância <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz em um campo<br />

gravitacional pode ser obti<strong>da</strong> com a analise do princípio de Huygens. Quando um raio<br />

luminoso passa de um meio menos denso ou mesmo o vácuo para um meio mais<br />

36


denso, o raio luminoso sofre uma mu<strong>da</strong>nça em seu trajeto devido à alteração <strong>da</strong><br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz dentro deste meio mais denso.<br />

Sabe-se que em ca<strong>da</strong> meio com certa densi<strong>da</strong>de, um raio luminoso terá uma<br />

veloci<strong>da</strong>de de propagação característica. O que Einstein propôs foi à curvatura <strong>da</strong> luz<br />

em um campo gravitacional devido à relação entre o raio luminoso e a veloci<strong>da</strong>de<br />

deste em função do potencial gravitacional visto na figura 5:<br />

Figura 5: Desvio de um raio de luz em um campo gravitacional<br />

O resultado desta interação entre de radiação e a gravi<strong>da</strong>de é o desvio na<br />

trajetória de qualquer radiação eletromagnética.<br />

Partindo do princípio <strong>da</strong> equivalência entre o referencial K e K’, um raio luminoso<br />

que passasse pelo sistema K’ acelerado uniformemente, sofreia uma curvatura<br />

aparente em relação à base X’ e Y’.<br />

Isto ocorre por causa <strong>da</strong> aproximação acelera<strong>da</strong> entre a base do sistema K’ e a<br />

trajetória retilínea <strong>da</strong> luz. Caso um observador hipoteticamente medisse a posição<br />

relativa do raio luminoso em um intervalo de tempo t’, perceberia que a posição<br />

aparente do raio descreve uma curva semelhante a um corpo em que<strong>da</strong> livre dotado<br />

de veloci<strong>da</strong>de horizontal.<br />

O ângulo de curvatura em um campo gravitacional para um raio luminoso que<br />

tangencia este campo é <strong>da</strong>do por:<br />

2GM<br />

=<br />

c²<br />

∆<br />

α (28)<br />

Onde G representa a constante de gravitação universal, M a massa do corpo<br />

celeste, ∆ a distancia perpendicular entre a trajetória do raio de luz e o centro do corpo<br />

celeste, c a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz. EINSTEIN (2001, O principio <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de, p.139)<br />

propôs um experimento que poderia comprovar sua teoria, onde afirma:<br />

“Um raio de luz que passe junto ao Sol sofreria assim uma deflexão de 4.10 (-6) = 0,83<br />

segundos de arco. A distancia angular entre uma estrela e o centro do sol apresenta-se<br />

37


acresci<strong>da</strong> deste valor. Como as estrelas fixas <strong>da</strong>s regiões do céu que são vizinhas do sol<br />

se tornam visíveis quando há eclipses solares, esta conseqüência <strong>da</strong> teoria pode<br />

confrontar-se com a experiência.<br />

Para o planeta júpiter, o desvio previsto atinge cerca de 1/100 do valor que atrás se<br />

indicou. Seria de extrema conveniência que os astrônomos se ocupassem <strong>da</strong> questão que<br />

aqui foi esboça<strong>da</strong>, ain<strong>da</strong> que ela se apresente insuficientemente fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> com os<br />

raciocínios anteriores, ou até inteiramente aventurosa.”.<br />

7.4 Avanço do periélio de mercúrio<br />

A ferramenta matemática usa<strong>da</strong> por Einstein para a generalização do princípio<br />

<strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de foi basea<strong>da</strong> em uma geometria não Euclidiana com base no universo<br />

quadridimensional proposto por Minkowski.<br />

Uma experiência relativamente simples demonstra a necessi<strong>da</strong>de de buscar uma<br />

outra geometria além <strong>da</strong> Euclidiana para explicar o comportamento do espaço-tempo<br />

em um campo gravitacional. EINSTEIN (2001, O principio <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de, p.213)<br />

sugere o seguinte experimento mental:<br />

“Suporemos invariável a distância entre os copos, e inexistente qualquer movimento<br />

relativo entre as partes de um mesmo corpo; mas admitiremos que ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s massas<br />

– vista por um observador imóvel em relação à outra – apresente em torno <strong>da</strong> reta que<br />

une as duas massas, um movimento de rotação de veloci<strong>da</strong>de angular constante (<br />

havendo assim um movimento relativo verificável entre as duas massas). Imaginemos<br />

agora que, por meio de réguas ( em repouso relativo), se fazem medições sobre as<br />

superfícies dos dois corpos ( S1 e S2), chegando-se a conclusão que é esférica a<br />

superfície de S1 e elipsoi<strong>da</strong>l de revolução a de S2.”.<br />

Com essa afirmação se forem medi<strong>da</strong>s as razões entre as circunferências e o<br />

diâmetro de S1 o resultado será igual π para S1, conforme a geometria Euclidiana que<br />

usa corpos rígidos.<br />

Porém no caso de S2 em rotação, existe uma contração <strong>da</strong>s distancias que para<br />

um observador estacionário será menor que no referencial em rotação. Esse<br />

fenômeno implica que a razão entre a circunferência e o diâmetro que não sofre<br />

contração, será um valor diferente de π. Este é um exemplo forte a favor <strong>da</strong> escolha<br />

de uma nova geometria para descrição do espaço-tempo e a matéria.<br />

Com o uso do calculo tensorial, e um universo quadridimensional Einstein<br />

publicou em 1916 a teoria <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de generaliza<strong>da</strong>, que prevê novos fenômenos<br />

físicos e explicam outros que a gravitação Newtoniana deixa sem respostas.<br />

È o caso do avanço do Periélio de Mercúrio observado no século XIX. Este<br />

avanço do Periélio devia ser causado pela perturbação dos outros planetas. Mas<br />

mesmo com tais perturbações corrigi<strong>da</strong>s, a mecânica clássica não explicou este<br />

fenômeno, ver figura 6.<br />

38


Figura 6: Avanço do periélio de mercúrio<br />

Somente com a criação <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de geral, a solução para este problema<br />

tornou-se viável. A descrição do avanço angular do periélio de Mercúrio e dos demais<br />

corpos celestes é <strong>da</strong>do por:<br />

24a²<br />

=<br />

T ² c²<br />

ε (29)<br />

( 1−<br />

e²<br />

)<br />

Nesta formula a é o semi-eixo maior, c o valor <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz, e a<br />

excentrici<strong>da</strong>de, T o tempo de revolução em segundos.<br />

No caso <strong>da</strong> rotação orbital de Mercúrio o cálculo estabelece um valor de 43’’<br />

arco de segundo por século em conformi<strong>da</strong>de com os resultados dos astrônomos<br />

como calculou Le Verrier (1811-1877).<br />

8. AS VALIDAÇÕES EXPERIMENTAIS DA TEORIA RELATIVISTA<br />

Os experimentos de Michelson e Morley em 1881 não foram os únicos que<br />

apresentaram argumentos a favor <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de <strong>Especial</strong> e <strong>Geral</strong>. Albert Einstein em<br />

1905 se baseou em duas experiências importantes. A experiência de Fizeau em<br />

óptica, e a indução magnética de Michael Fara<strong>da</strong>y (1791-1867) e Heinrich Friedrich<br />

Emil Lenz (1804-1865) que foram as bases para os postulados <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de<br />

especial.<br />

A experiência de Fizeau estudou o comportamento <strong>da</strong> luz dentro de um fluido<br />

em movimento tendo em vista o efeito <strong>da</strong> refração <strong>da</strong> luz e a veloci<strong>da</strong>de relativa entre<br />

a luz e o fluido. Supõe-se que em um fluido de benzeno um feixe de luz se desloca a<br />

uma veloci<strong>da</strong>de de 200.000km/s, devido à refração. Se este fluido se deslocasse a<br />

uma veloci<strong>da</strong>de de 50km/s, qual seria a veloci<strong>da</strong>de relativa entre a luz e o fluido<br />

segundo a mecânica clássica?<br />

39


A veloci<strong>da</strong>de relativa segundo a visão clássica seria de 200.050km/s. Mas a<br />

medi<strong>da</strong> mostra que a veloci<strong>da</strong>de relativa do fluido e a luz quando se deslocam em<br />

mesmo sentido e em direções contrárias é aproxima<strong>da</strong>mente de 200.028 km/s. A<br />

previsão clássica não explicou este fenômeno, pois tentara explicar este fenômeno<br />

com as transformações galileanas. As previsões teóricas que mais se aproximam do<br />

valor medido é, contudo as transformações de Lorentz prevista na relativi<strong>da</strong>de<br />

especial.<br />

A hipótese Einstein sobre os referenciais Galileanos não terem preferência,<br />

pode ser verifica<strong>da</strong> observado o fenômeno <strong>da</strong> indução eletromagnética. Einstein<br />

percebeu as experiências em eletromagnetismo poderiam ser expandi<strong>da</strong>s para to<strong>da</strong>s<br />

as áreas <strong>da</strong> física, com isso quando se observa a criação de uma corrente elétrica<br />

induzi<strong>da</strong>, percebe-se que independentemente do movimento do imã ou de expiras, a<br />

tensão induzi<strong>da</strong> surge <strong>da</strong> mesma forma.<br />

Einstein partiu desta observação e postulou sobre a incapaci<strong>da</strong>de de perceber<br />

o movimento absoluto entre os corpos.<br />

8.1 O efeito Doppler-Fizeau<br />

Se um átomo em repouso emitir radialmente, radiação eletromagnética, de<br />

comprimento λ perceberá uma freqüência natural destas on<strong>da</strong>s eletromagnéticas.<br />

Caso este átomo se desloque com uma veloci<strong>da</strong>de V r relativa a um observador, este<br />

medira uma variação <strong>da</strong> freqüência <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s eletromagnéticas <strong>da</strong>do por:<br />

∆λ<br />

Vr =<br />

λ c<br />

Onde ∆ λ é a variação <strong>da</strong> freqüência recebi<strong>da</strong> menos à freqüência emiti<strong>da</strong>, V r<br />

a veloci<strong>da</strong>de relativa entre emissor-observador e c a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz no vácuo.<br />

Este efeito <strong>da</strong> variação <strong>da</strong> freqüência é conhecido como o Efeito Doppler-<br />

Fizeau clássico. Porém a mecânica relativista prevê que um desvio de freqüência deve<br />

ser corrigido pelo fator relativístico γ . O afastamento real <strong>da</strong>s riscas espectrais deve<br />

ser proporcional a ( λ²<br />

)<br />

∆ se a veloci<strong>da</strong>de V r for puramente radial.<br />

Entre 1938 a 1941, Ives e Stilwell fizeram experiências sutis e cruciais medindo<br />

a emissão de radiação por átomos em movimento. Em 1962 fizeram experimentos<br />

mais precisos, atingindo veloci<strong>da</strong>de de ate 3000km/s destes átomos emissores. As<br />

variações <strong>da</strong>s freqüências observa<strong>da</strong>s sempre provaram ser igual à ( λ²<br />

)<br />

proporcional ao quadrado do efeito Doppler clássico ∆ λ .<br />

(30)<br />

∆ ,<br />

40


A constante K deve ser igual k = 1/<br />

2 segundo a relativi<strong>da</strong>de especial.<br />

Experimentadores encontraram ( = 0 , 498 ± 0,<br />

025)<br />

k . Este efeito foi chamado de efeito<br />

Doppler transversal, que era inaceitável em mecânica clássica.<br />

Outro caso de desvios espectrais ocorre nas chama<strong>da</strong>s estrelas binárias.<br />

Quando duas estrelas esta próximas, ambas são influencia<strong>da</strong>s pelo campo<br />

gravitacional de sua vizinha. O efeito é de uma órbita entorno do centro de massa, isso<br />

foi verificado no século XIX e analisado a partir dos desvios de freqüência de ambas<br />

as estrelas. Quando o movimento de uma <strong>da</strong>s estrelas era de recessão a luz que saia<br />

desta sofria uma diminuição em sua freqüência devido ao efeito Doppler-relativístico,<br />

enquanto que a outra estrela orbitária em direção contrária a primeira e em sentido<br />

oposto, emitindo luz com um aumento na freqüência, pois essa estaria se<br />

aproximando do observador neste momento.<br />

8.2 A massa variável dos elétrons<br />

Segundo a relativi<strong>da</strong>de especial, todo corpo em translação em altas<br />

veloci<strong>da</strong>des terá uma variação de sua massa inerte a um fator γ . Em 1915 Guye e<br />

Lavanchy fizeram experiências com elétrons em tubos Crookes de raios catódicos.<br />

Estes experimentadores estabeleceram uma diferença de potencial elétrico de<br />

100.000 volts. A veloci<strong>da</strong>de dos elétrons atingiu cerca de 165.000km/s, ou seja, mais<br />

<strong>da</strong> metade <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz. Quando calcularam a razão entre a carga elétrica e<br />

as respectivas massas, perceberam que houve um aumento de 15% na massa inerte<br />

como afirma a relativi<strong>da</strong>de especial.<br />

Em 1964 W. Bertazzi acelerou elétrons com uma diferença de potencial elétrico<br />

variando de 500.000 volts ate 15 milhões de volts, A variação <strong>da</strong>s massas inertes<br />

chegaram até dez vezes a massa de repouso de um elétron.<br />

A essa diferença de potencial a veloci<strong>da</strong>de dos elétrons segundo a mecânica<br />

clássica deveria ir de 1,41c ate 7,75c, enquanto que pela relativi<strong>da</strong>de a veloci<strong>da</strong>de<br />

desses elétrons deveria chegar ate 0.87c. E foi esta veloci<strong>da</strong>de de 0,87c que foi<br />

observa<strong>da</strong>.<br />

Um outro efeito relativístico é a transferência de massa inerte por meio de<br />

radiação. As reações nucleares mostram que os nucleons não conservam mesma<br />

massa inerte antes e depois de serem fissionado. É esta diferença de massa inercial<br />

que se transforma em energia nas usinas termonucleares. As variações nas energias<br />

de repouso de partículas são claramente observa<strong>da</strong>s nos aceleradores de partículas<br />

sendo que as previsões relativísticas se confirmaram nestas usinas e laboratórios.<br />

41


8.3 A relativi<strong>da</strong>de e a mecânica quântica<br />

A teoria quântica começou a ser desenvolvi<strong>da</strong> desde as experiências de Max<br />

Planck (1858-1947) no final do século XIX e ganhou grande impulso em 1905 com a<br />

explicação do efeito fotoelétrico por Albert Einstein.<br />

A natureza mostrou outro segredo quando as experiências demonstram que a<br />

luz é feita de quanti<strong>da</strong>des discretas de energia e possuem um comportamento<br />

ondulatório-corpuscular.<br />

Desde as teorias de Joseph John Thomson (1856-1940) ate o modelo atômico<br />

proposto do Niels Bohr (1885-1962), a teoria atômica mostrou a organização eletrônica<br />

dentro dos átomos. Mas entre 1923 e 1924 Louis de Broglie (1892-1987) propôs uma<br />

nova hipótese, <strong>da</strong> qual a matéria também apresenta comportamento dual.<br />

Erwin Rudolf Josef Alexander Schrödinger (1887-1961) pouco tempo depois<br />

equacionou o átomo de hidrogênio baseado no comportamento ondulatório do elétron.<br />

o resultado foi surpreendente, pois explicou a razão pela qual a energia em um átomo<br />

deve ser quantiza<strong>da</strong> e ain<strong>da</strong> previu novos fenômenos quânticos.<br />

Contudo experimentos realizados entre 1927 e 1933, mostraram que os<br />

elétrons em um átomo possuem um campo magnético intrínseco e que não havia<br />

explicação para isso.<br />

Foi, porém o jovem físico inglês Paul Andrien Maurice Dirac (1902-1984) que<br />

expandiu os conceitos <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de para a mecânica quântica usando-as nas<br />

equações de Schrödinger, Dirac encontrou automaticamente um novo número<br />

quântico e que apareceu automaticamente nas equações, e mais ain<strong>da</strong> previu um<br />

outro tipo de partículas que teriam carga elétrica oposta à do elétron, mas com mesma<br />

massa inerte.<br />

8.4 As vali<strong>da</strong>ções <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de geral<br />

O desvio <strong>da</strong> luz, proposto por Einstein em 1911 foi observado no eclipse solar<br />

de 1919 em Sobral Ceará. O valor encontrado para este desvio foi duas vezes maior<br />

do que o proposto por Einstein no principio <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de geral. Este fato ocorreu<br />

porque Einstein quando propôs o desvio <strong>da</strong> luz em um campo gravitico usou os<br />

cálculos clássicos para o campo gravitacional.<br />

Einstein em 1916 quando publicou a teoria <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de geral corrigiu estes<br />

cálculos e afirmou que os desvios dos raios luminosos provenientes de uma estrela<br />

42


quando passassem nas proximi<strong>da</strong>des do sol seria de 1,74 segundo de arco, igual ao<br />

valor obtido em 1919.<br />

A dilatação do tempo em um campo gravitico foi observa<strong>da</strong> usando relógios<br />

atômicos em diferentes altitudes. Como os relógios atômicos possuem ritmos de<br />

vibração característicos, a sincronização destes situados em satélites somente foi<br />

possível através <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de geral, que afirma existir um atraso em dois relógios<br />

quando submetidos a uma diferença de potencial gravitico.<br />

Em 1960 dois físicos de Harvard puseram em evidencia os desvios espectrais<br />

para o vermelho e para o azul. Se um fóton de 14keV emitido por um núcleo excitado<br />

de Ferro-57 deverá ser absorvido por um núcleo de Cobalto-57 caso estejam a uma<br />

mesma altura, ou seja, a um mesmo potencial gravitico. Mas quando estes dois<br />

átomos foram colocados uma altura de 22 metros um do outro não houve a absorção<br />

<strong>da</strong> radiação pelo cobalto. Isso ocorreu devido à diferença de potencial gravitico<br />

previsto pela teoria <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de geral. Mas as absorções nestas condições só<br />

ocorreram quando houve um movimento relativo entre os átomos, acarretando no o<br />

efeito Doppler relativístico, conseqüentemente alterou a freqüência emiti<strong>da</strong> e a<br />

absorvi<strong>da</strong> ate a absorção.<br />

Outra situação que necessita <strong>da</strong> intervenção <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de especial<br />

e <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de geral, é o caso dos GPS (Global Position sistem). O GPS é<br />

composto por vinte e nove satélites geoestacionários que a todo o momento enviam e<br />

recebem informações <strong>da</strong> Terra.<br />

Estes sinais informam a posição de uma pessoa ou de um objeto a todo o<br />

momento para um receptor. Contudo a informação é transmiti<strong>da</strong> através de on<strong>da</strong>s<br />

eletromagnéticas a grandes distancias acima <strong>da</strong> atmosfera, com isso tanto a posição<br />

do objeto na terra quanto dos satélites no espaço sofrem alterações e necessitam de<br />

correções de tempo e posição. Como a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz é constante e sofre<br />

pequenos desvios em campos gravitacionais em baixos campos gravitacionais, pode-<br />

se estimar qual é a imprecisão <strong>da</strong> posição e do tempo nas informações no GPS.<br />

Estes satélites possuem relógios atômicos, com alta precisão de medi<strong>da</strong>s de<br />

tempo, contudo seus períodos devem ser sincronizados todo momento por causa <strong>da</strong><br />

alteração nas medi<strong>da</strong>s de tempo influencia<strong>da</strong>s pela diferença de potencial<br />

gravitacional previsto na Relativi<strong>da</strong>de <strong>Geral</strong>.<br />

Esta tecnologia revolucionou os sistemas de transporte, terrestre, marítimo e<br />

aéreo, e sem tal tecnologia não teríamos todo o conforto que essa tecnologia nos<br />

propõe, sendo até mesmo de suma importância para encontrar pessoas seqüestra<strong>da</strong>s<br />

ou veículos roubados.<br />

43


9. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

To<strong>da</strong> a evolução <strong>da</strong> física só foi possível graças à contribuição teórica de<br />

filósofos e físicos ao longo dos séculos de estudo, de observação e de<br />

experimentação. A mecânica aristotélica foi modifica<strong>da</strong>, graças à percepção de Galileu<br />

e Descartes que viram a importância <strong>da</strong> construção teórica, basea<strong>da</strong> em<br />

experimentos. Com estabelecimento de um método cientifico pode-se compreender a<br />

natureza sem que para isso se baseie em hipóteses especulativas.<br />

O estudo histórico <strong>da</strong> evolução <strong>da</strong> física proporciona aos estu<strong>da</strong>ntes a visão<br />

critica necessária para o seu desenvolvimento profissional tanto na educação quanto<br />

na carreira científica. Ao estu<strong>da</strong>r os fun<strong>da</strong>mentos de uma teoria através <strong>da</strong> leitura dos<br />

conceitos originais percebe-se a riqueza teórica apresenta<strong>da</strong>. Muitas vezes chega-nos<br />

o conhecimento simplificado por causa <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de didática.<br />

Mas conhecer as origens de uma teoria permite uma constatação direta com<br />

os argumentos propostos pelo teórico, o que gera um amadurecimento científico de<br />

suma importância. O desenvolvimento <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de <strong>Especial</strong> e <strong>Geral</strong> por Albert<br />

Einstein foi baseado em princípios fun<strong>da</strong>mentais tirados de experimentos mecânicos e<br />

elétricos como no caso <strong>da</strong> conservarão do momento e <strong>da</strong> energia e as experiências de<br />

Fizeau em óptica e de Fara<strong>da</strong>y no eletromagnetismo.<br />

Assim esta teoria apesar de suas hipóteses extraordinária, pode mostrar seus<br />

resultados antes mesmo de serem postos à prova, pois seus fun<strong>da</strong>mentos partiram <strong>da</strong><br />

analise dos fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> física e de experimentos cruciais para a ciência.<br />

A idéia que se a respeito <strong>da</strong> criação <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de na grande parte dos livros<br />

didáticos são apresenta<strong>da</strong>s como postulados au<strong>da</strong>ciosos propostos por Albert<br />

Einstein. Mas com esses estudos sobre a construção de sua teoria percebe-se que<br />

seus fun<strong>da</strong>mentos não estavam unicamente firmados em questões lógicas, mas<br />

unidos com a física experimental, e desta harmonia entre o modelo teórico e a<br />

experimentação nasceu estas idéias revolucionárias, causadoras de um profundo<br />

impacto na vi<strong>da</strong> moderna.<br />

A ousadia de propor novas teorias ao invés de manter as anteriores, deve ser<br />

vista como um bom exemplo na evolução <strong>da</strong> física, pois a ciência muitas vezes resiste<br />

à mu<strong>da</strong>nça quando tenta salvar conceitos físicos conflitantes com a experiência. Este<br />

foi o caso <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de quando foi proposta.<br />

Apesar de a teoria relativística tornar-se consoli<strong>da</strong><strong>da</strong> ao longo do século XX,<br />

deve-se sempre ter em vista que o julgamento <strong>da</strong> veraci<strong>da</strong>de de uma teoria deve ser<br />

formado excepcionalmente através de experimentos. Isso vale também para a<br />

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elativi<strong>da</strong>de. Ela estará segura <strong>da</strong> forma como se encontrar, desde que suas<br />

afirmações não venham conflitar com novos experimentos que as porá a prova.<br />

9. BIBLIOGRAFIA<br />

CRAWFORD, Paulo. Facul<strong>da</strong>de de Ciências, Universi<strong>da</strong>de de Lisboa. 2007.<br />

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