A Tecnologia e os Paradigmas na Educação - SME Duque de Caxias
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"A <strong>Tecnologia</strong> e <strong>os</strong> <strong>Paradigmas</strong> <strong>na</strong> <strong>Educação</strong>"<br />
A <strong>Tecnologia</strong> e <strong>os</strong> <strong>Paradigmas</strong> <strong>na</strong> <strong>Educação</strong>: O Paradigma Letrado entre o<br />
Paradigma Oral e o Paradigma Audiovisual (*)<br />
Eduardo O. C. Chaves<br />
I. Da Fala ao Livro Impresso: Do Paradigma Oral ao Paradigma Letrado <strong>na</strong> <strong>Educação</strong><br />
1. A Fala<br />
2. A Escrita<br />
3. A Impressão<br />
A. Tip<strong>os</strong> <strong>de</strong> Conceit<strong>os</strong><br />
a. Conceit<strong>os</strong> Empíric<strong>os</strong> <strong>de</strong> Primeira Or<strong>de</strong>m<br />
b. Conceit<strong>os</strong> Empíric<strong>os</strong> <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>m Superior<br />
c. Conceit<strong>os</strong> Abstrat<strong>os</strong><br />
B. A Fala e a <strong>Educação</strong><br />
II. As <strong>Tecnologia</strong>s da Imagem e do Som: P<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong>s e Limitações do Paradigma Audiovisual <strong>na</strong> <strong>Educação</strong><br />
1. A Imagem<br />
2. O Som<br />
III. O Computador entre dois <strong>Paradigmas</strong>: o Letrado e o Audiovisual<br />
1. O Computador, a <strong>Tecnologia</strong> Digital e Multimídia<br />
2. Multimídia e Leitura<br />
3. Explicitu<strong>de</strong> e Imagi<strong>na</strong>ção<br />
4. Hipertexto<br />
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"A <strong>Tecnologia</strong> e <strong>os</strong> <strong>Paradigmas</strong> <strong>na</strong> <strong>Educação</strong>"<br />
IV. Comentári<strong>os</strong> Fi<strong>na</strong>is<br />
NOTAS<br />
I. Da Fala ao Livro Impresso: Do Paradigma Oral ao Paradigma Letrado <strong>na</strong> <strong>Educação</strong><br />
N<strong>os</strong>sa educação ocorre através <strong>de</strong> n<strong>os</strong>sas interações com outr<strong>os</strong> seres human<strong>os</strong>, com artefat<strong>os</strong>, instituições,<br />
técnicas e normas criad<strong>os</strong> pelo homem para facilitar e organizar a sua vida (a cultura), e com animais, objet<strong>os</strong>,<br />
event<strong>os</strong> e process<strong>os</strong> <strong>na</strong>turais que n<strong>os</strong> cercam (a <strong>na</strong>tureza).<br />
N<strong>os</strong>sa interação com outr<strong>os</strong> seres human<strong>os</strong> não é exclusivamente verbal. Observam<strong>os</strong> outras pessoas, imitam<strong>os</strong><br />
seu comportamento, comportamo-n<strong>os</strong> <strong>de</strong> modo a agradá-las, irritá-las ou provocá-las, sem que seja necessário<br />
trocar uma só palavra com elas. Algumas <strong>de</strong>ssas interações, mesmo que não-verbais, po<strong>de</strong>m, entretanto,<br />
contribuir para a n<strong>os</strong>sa educação, ou para a <strong>de</strong>las.<br />
1. A Fala<br />
Não resta dúvida, porém, <strong>de</strong> que parcela altamente significativa <strong>de</strong> n<strong>os</strong>sa interação com outr<strong>os</strong> seres human<strong>os</strong><br />
envolve o uso da fala. A fala huma<strong>na</strong> tem características especiais em relação ao que se po<strong>de</strong>ria chamar <strong>de</strong><br />
linguagens <strong>de</strong> outr<strong>os</strong> animais.<br />
Antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver a fala, po<strong>de</strong>-se presumir que o comportamento do ser humano era virtualmente<br />
indiferenciável do <strong>de</strong> outr<strong>os</strong> animais vertebrad<strong>os</strong> superiores. Como estes, comunicava-se por gest<strong>os</strong> e grunhid<strong>os</strong>.<br />
Tem se comentado muito, hoje em dia, o fato <strong>de</strong> alguns primatas serem capazes <strong>de</strong> relacio<strong>na</strong>r um som (como o <strong>de</strong><br />
uma palavra) a um <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do objeto ou a uma <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>da ação. O estabelecimento <strong>de</strong>ssa correlação entre um<br />
som e um objeto ou uma ação é o aspecto mais simples e elementar do aprendizado da fala. Ele envolve <strong>na</strong>da<br />
mais do que a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rotular as coisas, dando como que nomes própri<strong>os</strong> a objet<strong>os</strong> e ações.<br />
O aprendizado real da fala, entretanto, envolve a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer abstrações, criar conceit<strong>os</strong>, e usar term<strong>os</strong><br />
gerais para <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>r esses conceit<strong>os</strong>, que servem para evocá-l<strong>os</strong>, sempre que necessário.<br />
A. Tip<strong>os</strong> <strong>de</strong> Conceit<strong>os</strong><br />
Há três principais tip<strong>os</strong> <strong>de</strong> conceit<strong>os</strong>.<br />
a. Conceit<strong>os</strong> Empíric<strong>os</strong> <strong>de</strong> Primeira Or<strong>de</strong>m<br />
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"A <strong>Tecnologia</strong> e <strong>os</strong> <strong>Paradigmas</strong> <strong>na</strong> <strong>Educação</strong>"<br />
O primeiro tipo <strong>de</strong> conceito é aquele que é obtido mediante a abstração (remoção) <strong>de</strong> características concretas e<br />
aci<strong>de</strong>ntais <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s perceptíveis <strong>de</strong> modo a <strong>de</strong>ixar ape<strong>na</strong>s as características essenciais que vári<strong>os</strong> objet<strong>os</strong><br />
físic<strong>os</strong> compartilham e que servem <strong>de</strong> base para que apliquem<strong>os</strong> a eles, e ape<strong>na</strong>s a eles, um <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do termo<br />
geral (nome comum, não próprio). Assim, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> observar um número razoável <strong>de</strong> mesas elaboram<strong>os</strong> o<br />
conceito <strong>de</strong> mesa (e dam<strong>os</strong> a ele o nome “mesa”, se n<strong>os</strong>sa língua for o Português). Esse conceito não <strong>de</strong>screve<br />
nenhuma mesa concreta (particular), mas, sim, ape<strong>na</strong>s as características gerais que todas as mesas compartilham<br />
e que po<strong>de</strong>m ser chamadas, portanto, <strong>de</strong> as características essenciais <strong>de</strong> uma mesa. O termo “mesa” é um termo<br />
geral, comum, não é um nome próprio, e se aplica, portanto, a qualquer objeto que tenha as características<br />
essenciais <strong>de</strong> uma mesa.<br />
Os conceit<strong>os</strong> <strong>de</strong>sse primeiro tipo po<strong>de</strong>m ser chamad<strong>os</strong> <strong>de</strong> conceit<strong>os</strong> empíric<strong>os</strong> (porque <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>m entida<strong>de</strong>s<br />
perceptíveis, a que se po<strong>de</strong> claramente apontar, <strong>de</strong> forma <strong>os</strong>tensiva) e representam a primeira or<strong>de</strong>m (ou o<br />
primeiro nível) <strong>de</strong> conceit<strong>os</strong>.<br />
b. Conceit<strong>os</strong> Empíric<strong>os</strong> <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>m Superior<br />
O segundo tipo <strong>de</strong> conceito é obtido quando refletim<strong>os</strong>, não diretamente sobre as características essenciais <strong>de</strong><br />
objet<strong>os</strong> físic<strong>os</strong>, mas, sim, sobre conceit<strong>os</strong> <strong>de</strong> primeiro nível, como o que acabam<strong>os</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar, e construím<strong>os</strong>, a<br />
partir <strong>de</strong>les, conceit<strong>os</strong> cuj<strong>os</strong> ingredientes básic<strong>os</strong> são outr<strong>os</strong> conceit<strong>os</strong> - abstrações <strong>de</strong> abstrações. Esses são<br />
conceit<strong>os</strong> <strong>de</strong> segundo nível, porque pressupõem <strong>os</strong> conceit<strong>os</strong> <strong>de</strong> primeiro nível e não existiriam sem eles.<br />
Há basicamente duas formas <strong>de</strong> gerar conceit<strong>os</strong> <strong>de</strong>sse tipo:<br />
● criando, a partir d<strong>os</strong> conceit<strong>os</strong> <strong>de</strong> primeiro nível, conceit<strong>os</strong> mais genéric<strong>os</strong>, que, por serem mais genéric<strong>os</strong>,<br />
abrangem mais entida<strong>de</strong>s e, portanto, integram vári<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> conceit<strong>os</strong>;<br />
● criando, ainda a partir d<strong>os</strong> conceit<strong>os</strong> <strong>de</strong> primeiro nível, conceit<strong>os</strong> mais específic<strong>os</strong>, que, por serem mais<br />
específic<strong>os</strong>, abrangem men<strong>os</strong> entida<strong>de</strong>s e, portanto, diferenciam outr<strong>os</strong> conceit<strong>os</strong>.<br />
O conceito <strong>de</strong> móvel é um conceito mais abrangente do que o conceito <strong>de</strong> mesa, porque abrange o conceito <strong>de</strong><br />
mesa e vári<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> conceit<strong>os</strong> (<strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ira, <strong>de</strong> cama, <strong>de</strong> guarda-roupa, etc.). Na verda<strong>de</strong>, o conceito <strong>de</strong> móvel<br />
representa o gênero do qual o conceito <strong>de</strong> mesa representa a espécie. Não há nenhum objeto físico que p<strong>os</strong>sa ser<br />
classificado como móvel que não seja, ao mesmo tempo, classificável <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> um conceito <strong>de</strong> nível lógico<br />
inferior, como uma mesa, uma ca<strong>de</strong>ira, uma cama, um guarda-roupa, etc. Na psicogênese d<strong>os</strong> conceit<strong>os</strong>, o <strong>de</strong><br />
móvel muito provavelmente é <strong>de</strong>rivado do <strong>de</strong> mesa, ca<strong>de</strong>ira, etc., por generalização.<br />
O conceito <strong>de</strong> mesa <strong>de</strong> café, porém, é um conceito mais específico (e, portanto, men<strong>os</strong> abrangente) do que o<br />
conceito <strong>de</strong> mesa, porque se refere a uma categoria específica - uma espécie - <strong>de</strong> mesa (que, em relação a mesa<br />
<strong>de</strong> café, passa a ser o gênero). É importante notar que, neste caso, o conceito base, que po<strong>de</strong>ríam<strong>os</strong> chamar <strong>de</strong><br />
“âncora”, é o conceito <strong>de</strong> mesa, não o <strong>de</strong> mesa <strong>de</strong> café. Na psicogênese d<strong>os</strong> conceit<strong>os</strong>, o <strong>de</strong> mesa <strong>de</strong> café<br />
certamente é <strong>de</strong>rivado do <strong>de</strong> mesa, por especificação.<br />
c. Conceit<strong>os</strong> Abstrat<strong>os</strong><br />
file:///E|/eeij2007/educação/4%20pilares/infoutil.org/4pilares/text-cont/chaves-leitura.htm (3 of 15)25/11/2007 23:56:04
"A <strong>Tecnologia</strong> e <strong>os</strong> <strong>Paradigmas</strong> <strong>na</strong> <strong>Educação</strong>"<br />
O terceiro tipo <strong>de</strong> conceito abrange <strong>os</strong> conceit<strong>os</strong> abstrat<strong>os</strong>, que não se referem a objet<strong>os</strong> empíric<strong>os</strong>, perceptíveis,<br />
mas, sim, a qualida<strong>de</strong>s intangíveis <strong>de</strong> objet<strong>os</strong> e ações como verda<strong>de</strong>, bonda<strong>de</strong>, beleza, etc. Para chegar a esses<br />
conceit<strong>os</strong> o homem precisa exercer <strong>os</strong> seus po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> abstração num nível ainda mais elevado.<br />
Nenhum animal, a não ser o homem, é capaz <strong>de</strong> construir conceit<strong>os</strong>. A fala não passaria <strong>de</strong> um sem número <strong>de</strong><br />
grunhid<strong>os</strong> e, <strong>na</strong> melhor das hipóteses, nomes própri<strong>os</strong> se não f<strong>os</strong>se essa capacida<strong>de</strong> lógica que tem o ser humano<br />
<strong>de</strong> criar conceit<strong>os</strong> e <strong>de</strong> usar nomes gerais (comuns) para se referir a eles. A fala conceitual é, porém, uma<br />
tecnologia <strong>de</strong> comunicação sofisticada.<br />
(Há muitas formas <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a tecnologia. Neste artigo a tecnologia é concebida, <strong>de</strong> maneira ampla, como<br />
qualquer artefato, método ou técnica criado pelo homem para tor<strong>na</strong>r o seu trabalho mais leve, sua locomoção e<br />
sua comunicação mais fácil, ou simplesmente sua vida mais agradável e divertida).<br />
B. A Fala e a <strong>Educação</strong><br />
Po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> imagi<strong>na</strong>r, portanto, o gran<strong>de</strong> salto que representa, <strong>na</strong> escala evolutiva, o aparecimento da fala. Apesar<br />
<strong>de</strong> ser p<strong>os</strong>sível, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> limites, falar em educação através <strong>de</strong> exemplo e outras interações não-verbais, é<br />
forç<strong>os</strong>o reconhecer que, sem a linguagem (que apareceu primeiro como fala, <strong>de</strong>pois como escrita), não haveria<br />
educação (como a enten<strong>de</strong>m<strong>os</strong> hoje). Historicamente, portanto, a fala conceitual representa a primeira tecnologia<br />
que afetou profundamente a educação.<br />
Sem a fala não haveria o que hoje enten<strong>de</strong>m<strong>os</strong> por educação. Animais, mesmo <strong>os</strong> primatas mais avançad<strong>os</strong>, não<br />
educam, no sentido em que nós educam<strong>os</strong>. Esse processo <strong>de</strong> educar através da fala teve início, provavelmente,<br />
assim que o ser humano se tornou capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver conceit<strong>os</strong>, usar term<strong>os</strong> gerais.<br />
É preciso ressaltar aqui que, no estágio da tradição exclusivamente oral, a educação é algo forç<strong>os</strong>amente pessoal<br />
e “presencial” (termo muito usado hoje para realçar o contraste com “educação a distância”). Para que ela<br />
aconteça duas pessoas têm que estar próximas uma da outra, no espaço e no tempo. Esse mo<strong>de</strong>lo tem se<br />
perpetuado, mesmo <strong>de</strong>pois da introdução <strong>na</strong> educação <strong>de</strong> tecnologias, como a escrita e o livro impresso, que<br />
tor<strong>na</strong>ram p<strong>os</strong>sível uma educação não presencial e assíncro<strong>na</strong> (isto é, que não envolve contigüida<strong>de</strong> espaçotemporal).<br />
Durante milêni<strong>os</strong> o ser humano educou predomi<strong>na</strong>ntemente através da fala. Na verda<strong>de</strong>, n<strong>os</strong> sécul<strong>os</strong> que<br />
imediatamente antece<strong>de</strong>ram o quinto século da era pré-cristã a fala chegou próximo <strong>de</strong> tornou-se uma arte. A<br />
Odisséia e a Ilíada <strong>de</strong> Homero foram, inicialmente e por muito tempo <strong>de</strong>pois, transmitidas oralmente. Se a fala,<br />
em si, já era uma tecnologia, i.e., uma técnica inventada pelo homem para melhor se comunicar com outr<strong>os</strong> seres<br />
human<strong>os</strong>, a <strong>de</strong>clamação, a retórica e a dialética foram tecnologias assessórias da fala, que permitiram que o ser<br />
humano usasse a fala <strong>de</strong> forma mais eficaz - em especial <strong>na</strong> educação (<strong>na</strong>s conversas, <strong>na</strong>s discussões, n<strong>os</strong><br />
<strong>de</strong>bates). Sócrates talvez seja o educador que, nessa época, usando o seu método maiêutico, fez da fala o<br />
instrumento mais eficaz da educação. Mas Sócrates já viveu no limiar <strong>de</strong> importante transição.<br />
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"A <strong>Tecnologia</strong> e <strong>os</strong> <strong>Paradigmas</strong> <strong>na</strong> <strong>Educação</strong>"<br />
2. A Escrita<br />
A transição foi <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> predomi<strong>na</strong>ntemente oral para uma socieda<strong>de</strong> predomi<strong>na</strong>ntemente letrada, isto é,<br />
que faz uso da escrita alfabética. Esta representou o passo tecnológico mais significativo, em term<strong>os</strong> educacio<strong>na</strong>is,<br />
dado a seguir. A escrita é uma tecnologia que n<strong>os</strong> permite, num primeiro momento, registrar a fala, para que outr<strong>os</strong><br />
p<strong>os</strong>sam receber as palavras que a distância e/ou o tempo <strong>os</strong> impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> escutar.<br />
Hoje em dia há tecnologias que gravam a fala em si, ou que a levam a locais remot<strong>os</strong>, mas antes da invenção <strong>de</strong><br />
fonógraf<strong>os</strong>, telefones e <strong>de</strong> outr<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> telecomunicação sonor<strong>os</strong>, tínham<strong>os</strong> que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da escrita para levar<br />
a fala codificada a locais remot<strong>os</strong>. Com a escrita tem<strong>os</strong> comunicação lingüística remota, comunicação lingüística a<br />
distância.<br />
A escrita foi, portanto, a primeira tecnologia que permitiu que a fala f<strong>os</strong>se congelada, perpetuada, e transmitida a<br />
distância. Com a escrita, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser necessário capturar a fala <strong>na</strong>quele instante passageiro e volátil antes que<br />
ela se dissipasse no espaço. A escrita tornou p<strong>os</strong>sível o registro da fala e a sua transmissão para localida<strong>de</strong>s<br />
distantes no espaço e remotas no tempo.<br />
Na realida<strong>de</strong>, com o passar do tempo, a escrita acabou por criar um novo estilo <strong>de</strong> comunicação: a linguagem<br />
tipicamente escrita, que não é a mera transcrição da fala. Além disso, a escrita também criou um novo estilo <strong>de</strong><br />
fala. O teatro, por exemplo, é a fala <strong>de</strong>codificada da escrita. Alguém escreve a peça, ou o roteiro, e outr<strong>os</strong> a<br />
representam, falando. [1]<br />
Muit<strong>os</strong> expressaram receio, quando a escrita se disseminou, <strong>de</strong> que ela f<strong>os</strong>se subverter a memória e,<br />
conseqüentemente a educação, até então calcada <strong>na</strong> memória, e <strong>de</strong> que ela f<strong>os</strong>se uma forma <strong>de</strong> comunicação<br />
essencialmente inferior à fala.<br />
Sócrates, pelo que consta, nunca escreveu <strong>na</strong>da. A julgar pel<strong>os</strong> relat<strong>os</strong> que <strong>de</strong>le e <strong>de</strong> suas idéias n<strong>os</strong> <strong>de</strong>ixa Platão,<br />
isso não se <strong>de</strong>u por acaso: Sócrates, como já assi<strong>na</strong>lam<strong>os</strong>, tinha preconceit<strong>os</strong> contra a escrita (sem a qual não há<br />
leitura). Pelo men<strong>os</strong> é isto que fica claro no fam<strong>os</strong>o diálogo Fedro.<br />
No capítulo XXV <strong>de</strong> Fedro, Sócrates conta a seguinte história, que ele chama <strong>de</strong> mito, acerca da invenção da<br />
escrita, que ele atribui ao <strong>de</strong>us egípcio Teuto (a quem <strong>os</strong> Greg<strong>os</strong> chamavam <strong>de</strong> Hermes). Teuto, orgulh<strong>os</strong>o <strong>de</strong> sua<br />
principal invenção (ele também teria sido o inventor do número e do cálculo, da geometria e da astronomia), veio<br />
m<strong>os</strong>trá-la ao rei Tam<strong>os</strong>, que lhe perguntou qual a utilida<strong>de</strong> da invenção. Eis o que disse Teuto:<br />
“Aqui, ó rei, está um conhecimento que melhorará a memória do povo egípcio e o fará mais sábio.<br />
Minha invenção é uma receita para a memória e um caminho para a sabedoria”.<br />
A isso o rei ceticamente respon<strong>de</strong>u:<br />
“Ó habilid<strong>os</strong>o Teuto, a um é dado criar artefat<strong>os</strong>, a outro julgar em que medida males e benefíci<strong>os</strong><br />
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"A <strong>Tecnologia</strong> e <strong>os</strong> <strong>Paradigmas</strong> <strong>na</strong> <strong>Educação</strong>"<br />
advêm <strong>de</strong>les para aqueles que <strong>os</strong> empregam. E assim acontece contigo: em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> teu apreço<br />
pela escrita, que é tua filha, não vês o seu verda<strong>de</strong>iro efeito, que é o op<strong>os</strong>to daquele que dizes. Se<br />
<strong>os</strong> homens apren<strong>de</strong>rem a escrita, ela gerará o esquecimento em suas almas, pois eles <strong>de</strong>ixarão <strong>de</strong><br />
exercitar suas memórias, ficando <strong>na</strong> <strong>de</strong>pendência do que está escrito. Assim, eles se lembrarão<br />
das coisas não por esforço próprio, vindo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si própri<strong>os</strong>, mas, sim, em função <strong>de</strong> apoi<strong>os</strong><br />
extern<strong>os</strong>. O que você inventou não é uma receita para a memória, mas ape<strong>na</strong>s um lembrete. Não é<br />
o verda<strong>de</strong>iro caminho para a sabedoria que você oferece a<strong>os</strong> seus discípul<strong>os</strong>, mas ape<strong>na</strong>s um<br />
simulacro, pois dizendo-lhes muitas coisas, sem ensiná-l<strong>os</strong>, você fará com que pareçam saber<br />
muito, quando, em sua maior parte, <strong>na</strong>da sabem. E eles serão um fardo para seus companheir<strong>os</strong>,<br />
pois estarão chei<strong>os</strong>, não <strong>de</strong> sabedoria, mas da pretensão da sabedoria.”<br />
A seguir Sócrates comenta:<br />
“Você sabe, Fedro, esta é a coisa estranha sobre a escrita, que ela se parece com a pintura. Os<br />
produt<strong>os</strong> do pintor ficam diante <strong>de</strong> nós como se estivessem viv<strong>os</strong>, mas se você <strong>os</strong> questio<strong>na</strong>, eles<br />
mantêm um silêncio majestático. O mesmo acontece com as palavras escritas: elas parecem falar<br />
com você como se f<strong>os</strong>sem inteligentes, mas se você, <strong>de</strong>sejando ser instruído, lhes pergunta<br />
alguma coisa sobre o que dizem, elas continuam a lhe dizer a mesma coisa, para sempre. Uma vez<br />
escrita, uma comp<strong>os</strong>ição, seja lá qual for, se espalha por todo lugar, caindo <strong>na</strong>s mã<strong>os</strong> não só d<strong>os</strong><br />
que a enten<strong>de</strong>m, mas também daqueles que não <strong>de</strong>veriam lê-la. A comp<strong>os</strong>ição escrita não sabe<br />
diferenciar entre as pessoas certas e as pessoas erradas. E quando alguém a trata mal, ou <strong>de</strong>la<br />
abusa injustamente, ela precisa sempre recorrer ao seu pai, pedindo-lhe que venha em sua ajuda,<br />
pois é incapaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se por si própria”. [2]<br />
É curi<strong>os</strong>o que Platão (embora não Sócrates) tenha se valido da escrita para perpetuar esses diálog<strong>os</strong> socrátic<strong>os</strong><br />
contrári<strong>os</strong> à escrita. Provavelmente ele discordasse <strong>de</strong> seu mestre neste aspecto. Caso contrário, dificilmente<br />
teríam<strong>os</strong> <strong>os</strong> diálog<strong>os</strong> socrátic<strong>os</strong> registrad<strong>os</strong>. [3]<br />
3. A Impressão<br />
A impressão representa o estágio seguinte no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das tecnologias <strong>de</strong> comunicação. A<br />
escrita, antes da impressão, tinha alcance limitado, porque era feita a mão. Copiar um livro a mão, por exemplo,<br />
era algo que levava tempo e ficava caro. Por isso, antes do surgimento da impressão, havia relativamente pouc<strong>os</strong><br />
livr<strong>os</strong>, e o número <strong>de</strong> pessoas alfabetizadas era pequeno. Ape<strong>na</strong>s aprendiam a ler e a escrever, e, portanto,<br />
recebiam educação num sentido parecido com o atual, <strong>os</strong> intelectuais, isto é, as pessoas que estavam incumbidas<br />
da preservação da cultura - geralmente monges e clérig<strong>os</strong>. Num contexto assim é <strong>de</strong> imagi<strong>na</strong>r que a educação não<br />
florescesse como fenômeno <strong>de</strong> massa. Nem mesmo <strong>os</strong> reis, <strong>os</strong> príncipes e <strong>os</strong> nobres - isto é, as pessoas que<br />
ocupavam <strong>os</strong> escalões mais alt<strong>os</strong> da socieda<strong>de</strong> - eram alfabetizad<strong>os</strong>: não havia porque <strong>de</strong>vessem saber ler e<br />
escrever, pois não havia o que ler. Escrever era uma arte manual cuj<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> eram pouc<strong>os</strong> e pouco<br />
dissemi<strong>na</strong>d<strong>os</strong>.<br />
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"A <strong>Tecnologia</strong> e <strong>os</strong> <strong>Paradigmas</strong> <strong>na</strong> <strong>Educação</strong>"<br />
Quando Gutenberg inventou a impressão <strong>de</strong> tipo móvel, por volta <strong>de</strong> 1450, tudo começou a mudar.<br />
As mesmas críticas que foram feitas à escrita foram feitas à impressão, e com muito mais razão, como bem<br />
ressalta Walter Ong, em Oralida<strong>de</strong> e Cultura Escrita - A <strong>Tecnologia</strong> da Palavra:<br />
“A fortiori, a impressão está sujeita a essas mesmas acusações [que foram feitas à escrita].<br />
Aqueles que se perturbam com as apreensões <strong>de</strong> Platão quanto à escrita se sentirão ainda mais<br />
inquiet<strong>os</strong> ao <strong>de</strong>scobrir que a impressão criou recei<strong>os</strong> semelhantes quando foi introduzida pela<br />
primeira vez. Hieronimo Squarciafico, que <strong>na</strong> verda<strong>de</strong> promoveu a impressão d<strong>os</strong> clássic<strong>os</strong> latin<strong>os</strong>,<br />
também argumentou em 1477 que a ‘abundância <strong>de</strong> livr<strong>os</strong> tor<strong>na</strong> <strong>os</strong> homens men<strong>os</strong> atent<strong>os</strong>’ (citado<br />
em Lowry 1979, pp. 29-31): ela <strong>de</strong>strói a memória e enfraquece a mente ao aliviá-la do trabalho<br />
árduo (novamente a queixa contra o computador <strong>de</strong> bolso), rebaixando o sábio em favor do<br />
compêndio <strong>de</strong> bolso. Obviamente, outr<strong>os</strong> viram a impressão como um nivelador bem-vindo: tod<strong>os</strong><br />
se tor<strong>na</strong>m sábi<strong>os</strong> (Lowry 1979, pp. 31-32)”. [4]<br />
No entanto, no caso da impressão <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> sobre a educação foram ainda mais ampl<strong>os</strong> e mais profund<strong>os</strong>. Numa<br />
cultura oral, ou mesmo em uma cultura letrada, mas em que livr<strong>os</strong> são escass<strong>os</strong>, como era o caso da cultura<br />
p<strong>os</strong>terior à invenção da escrita mas anterior à da impressão, quem quisesse apren<strong>de</strong>r alguma coisa tinha que se<br />
<strong>de</strong>slocar até a presença <strong>de</strong> uma pessoa que conhecesse bem esse conteúdo e estivesse disp<strong>os</strong>ta a ensiná-lo. Por<br />
isso <strong>os</strong> estudi<strong>os</strong><strong>os</strong> eram itinerantes <strong>na</strong> Ida<strong>de</strong> Média: tinham que ficar se locomovendo atrás d<strong>os</strong> mestres que lhes<br />
interessavam, a<strong>os</strong> pés d<strong>os</strong> quais se sentavam para absorver suas palavras e retê-las <strong>na</strong> memória! O livro<br />
impresso, que rapidamente se popularizou, era uma excelente memória auxiliar que tor<strong>na</strong>va <strong>de</strong>snecessário reter<br />
<strong>na</strong> memória tudo que era necessário saber.<br />
Assim, o livro impresso começou a dissemi<strong>na</strong>r a prática <strong>de</strong> dar ao aprendizado o ritmo do apren<strong>de</strong>nte, não do<br />
ensi<strong>na</strong>nte. Com o livro impresso também tornou-se fácil e comum apren<strong>de</strong>r com alguém que está distante no<br />
espaço - ou no tempo! Assim, a impressão, e o seu produto, o livro impresso, tor<strong>na</strong>ram p<strong>os</strong>sível, pela primeira vez,<br />
a prática generalizada do ensino a distância. Com o livro facilmente disponível e relativamente barato, estimulou-se<br />
e muito o auto-aprendizado sistemático (com o auxílio do livro).<br />
Assim, o livro impresso, além <strong>de</strong> compartilhar com a escrita a acusação <strong>de</strong> que contribuía para o enfraquecimento<br />
da memória, po<strong>de</strong> ter sido objeto <strong>de</strong> críticas no sentido <strong>de</strong> que acentuava a remoção, da educação, daquele<br />
caráter <strong>de</strong> relacio<strong>na</strong>mento presencial entre mestre e discípulo, que, numa tradição oral, lhe era indispensável e,<br />
numa tradição letrada, mas anterior à impressão, se consi<strong>de</strong>rava ainda importante para ela.<br />
O livro, po<strong>de</strong>-se confiantemente dizer, foi o primeiro produto cultural <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> massa. Se a fala foi a<br />
tecnologia que tornou p<strong>os</strong>sível a educação, o livro impresso foi a tecnologia que lhe causou a primeira gran<strong>de</strong><br />
revolução. [5]<br />
[topo]<br />
II. As <strong>Tecnologia</strong>s da Imagem e do Som: P<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong>s e Limitações do Paradigma Audiovisual <strong>na</strong> <strong>Educação</strong><br />
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"A <strong>Tecnologia</strong> e <strong>os</strong> <strong>Paradigmas</strong> <strong>na</strong> <strong>Educação</strong>"<br />
Os quinhent<strong>os</strong> an<strong>os</strong> <strong>de</strong> 1450, quando Gutenberg criou sua prensa, até por volta <strong>de</strong> 1950 foram <strong>os</strong> an<strong>os</strong> da escrita.<br />
Os últim<strong>os</strong> cinqüenta an<strong>os</strong>, porém, foram <strong>os</strong> an<strong>os</strong> da imagem e do som, representad<strong>os</strong> pela televisão (que foi<br />
precedida do rádio por cerca <strong>de</strong> vinte an<strong>os</strong>).<br />
1. A Imagem<br />
É verda<strong>de</strong> que a pintura sempre existiu. A pintura é uma forma <strong>de</strong> linguagem não verbal. Parece provável que as<br />
primeiras linguagens escritas tenham sido pictóricas, não alfabéticas. A pintura, diferentemente da linguagem<br />
alfabética, é uma forma a<strong>na</strong>lógica <strong>de</strong> representação da realida<strong>de</strong>. Como tal, a pintura, enquanto tecnologia, é<br />
extremamente antiga.<br />
Depois da invenção e do uso dissemi<strong>na</strong>do da linguagem alfabética, a pintura continuou a ser usada como meio <strong>de</strong><br />
comunicação, especialmente em benefício d<strong>os</strong> a<strong>na</strong>lfabet<strong>os</strong>. Nas catedrais medievais, as pinturas chegaram a uma<br />
forma extremamente sofisticada <strong>de</strong> arte e <strong>de</strong> meio <strong>de</strong> comunicação.<br />
A gran<strong>de</strong> inovação, <strong>na</strong> área <strong>de</strong> tecnologia da imagem, surgiu com a fotografia. Muit<strong>os</strong> acreditaram, quando surgiu a<br />
fotografia, que ela pu<strong>de</strong>sse matar a pintura: por que iria alguém preferir uma representação imprecisa e<br />
i<strong>na</strong><strong>de</strong>quada da realida<strong>de</strong>, se po<strong>de</strong>ria ter uma cópia perfeita (se bem que em duas dimensões)? [6]<br />
Depois da fotografia, vieram o cinema, e, quase cinqüenta an<strong>os</strong> <strong>de</strong>pois, a televisão e o ví<strong>de</strong>o: a imagem em<br />
movimento e (<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma breve fase <strong>de</strong> cinema mudo) acompanhada do som.<br />
Da mesma forma que se acreditou que a fotografia pu<strong>de</strong>sse matar a pintura, cogitou-se <strong>de</strong> que o cinema pu<strong>de</strong>sse<br />
matar o teatro. Nada disso aconteceu. Especula-se, ainda, se a televisão vai matar o cinema. Aqui a questão ainda<br />
está aberta.<br />
Na educação, a imagem tem uma função muito importante, se bem que, hoje, freqüentemente sub-utilizada <strong>na</strong><br />
escola. É <strong>de</strong> crer que, no mundo antigo e medieval, em que a maioria da população era a<strong>na</strong>lfabeta, a imagem<br />
tivesse um papel educacio<strong>na</strong>l bem mais proeminente - semelhante ao que p<strong>os</strong>sui, hoje, <strong>na</strong> educação não-formal,<br />
que se realiza fora <strong>de</strong> context<strong>os</strong> escolares. Mesmo <strong>de</strong>pois da impressão, a imagem continuou a ter um papel<br />
bastante educacio<strong>na</strong>l importante <strong>na</strong> educação, se bem que o mais das vezes esse papel f<strong>os</strong>se supletivo ao da<br />
escrita. As já mencio<strong>na</strong>das catedrais também tinham um objetivo pedagógico, além do <strong>de</strong>vocio<strong>na</strong>l.<br />
Muit<strong>os</strong> a<strong>na</strong>listas acham que, hoje, em função da influência generalizada da televisão, estam<strong>os</strong> passando para uma<br />
cultura da imagem e do som, <strong>de</strong>ixando para trás a cultura letrada que imperou durante tant<strong>os</strong> sécul<strong>os</strong>, a partir da<br />
invenção da impressão. Por isso <strong>os</strong> jovens, hoje, preferem ver televisão a ler, ou preferem ver a versão filmada <strong>de</strong><br />
um livro a ler o próprio livro. Até mesmo quando lêem, a leitura d<strong>os</strong> jovens é afetada pela imagem: as revistas que<br />
lêem são geralmente em quadrinh<strong>os</strong>. Quando escrevem, sua linguagem escrita é uma mera transcrição da fala.<br />
file:///E|/eeij2007/educação/4%20pilares/infoutil.org/4pilares/text-cont/chaves-leitura.htm (8 of 15)25/11/2007 23:56:04
"A <strong>Tecnologia</strong> e <strong>os</strong> <strong>Paradigmas</strong> <strong>na</strong> <strong>Educação</strong>"<br />
Como a televisão faz excelente uso, ao lado da imagem, da linguagem falada, po<strong>de</strong> argumentar-se que as novas<br />
gerações estão retroagindo para o nível da cultura oral: são razoavelmente hábeis e proficientes <strong>na</strong> comunicação<br />
oral, mas altamente <strong>de</strong>ficientes <strong>na</strong> comunicação escrita (seja <strong>na</strong> leitura, seja <strong>na</strong> escrita, propriamente dita). A<br />
linguagem corporal das novas gerações também é, em geral, bastante eficiente, mesmo quando usada<br />
inconscientemente. Há muito material importante para estudo e pesquisa aí por parte d<strong>os</strong> educadores.<br />
2. O Som<br />
Aqui se trata <strong>de</strong> fazer referência, ainda mais brevemente do que n<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> anteriores, à tecnologia do som - quer<br />
se dizer, <strong>de</strong> um lado à tecnologia da gravação, reprodução e transmissão do som; <strong>de</strong> outro lado à tecnologia da<br />
música e d<strong>os</strong> instrument<strong>os</strong> musicais.<br />
Se a escrita permitiu o registro e a perpetuação da fala, isto se <strong>de</strong>u transformando a fala em algo diferente, a<br />
saber, símbol<strong>os</strong> visuais. Aqui, porém, estam<strong>os</strong> <strong>de</strong>stacando o registro da fala enquanto fala, não como algo<br />
diferente. (É verda<strong>de</strong> que sempre foi p<strong>os</strong>sível reconstituir a fala a partir da escrita, mas isso é outra coisa).<br />
A tecnologia <strong>de</strong> gravação, reprodução e transmissão do som permite que o som seja transmitido à distância. Com<br />
isso foi p<strong>os</strong>sível o aparecimento do telefone e do rádio - tecnologias que são ainda extremamente importantes<br />
hoje, até mesmo <strong>na</strong> educação (principalmente não formal).<br />
Na área <strong>de</strong> tecnologia do som merece <strong>de</strong>staque especial a música. Tanto quanto se sabe, o ser humano sempre<br />
cantou. Des<strong>de</strong> que apren<strong>de</strong>u a falar, é <strong>de</strong> crer que tenha começado a colocar letras em suas melodias. Para <strong>os</strong><br />
sons musicais, a notação musical <strong>de</strong>sempenha o mesmo papel que, para a fala, <strong>de</strong>sempenha a escrita.<br />
A tecnologia do som envolve, ainda, por fim, um outro aspecto, o da criação <strong>de</strong> sons previamente inexistentes no<br />
mundo <strong>na</strong>tural, como é o caso d<strong>os</strong> instrument<strong>os</strong> musicais. Combi<strong>na</strong>d<strong>os</strong>, <strong>os</strong> instrument<strong>os</strong> musicais eventualmente<br />
tor<strong>na</strong>ram p<strong>os</strong>sível a orquestra, que representa uma tecnologia bastante sofisticada.<br />
A música é uma tecnologia <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> potencial <strong>na</strong> educação, embora freqüentemente sub-utilizada.<br />
[topo]<br />
III. O Computador entre dois <strong>Paradigmas</strong>: o Letrado e o Audiovisual<br />
Quando o computador surgiu, logo <strong>de</strong>pois da Segunda Guerra, e, especialmente, quando o correio eletrônico e <strong>os</strong><br />
"bate-pap<strong>os</strong>" ("chats") se popularizaram, re<strong>na</strong>sceu a esperança em muit<strong>os</strong> educadores <strong>de</strong> que as pessoas<br />
voltariam a ler e escrever, porque o computador era primariamente um meio <strong>de</strong> comunicação baseado <strong>na</strong> palavra<br />
escrita.<br />
file:///E|/eeij2007/educação/4%20pilares/infoutil.org/4pilares/text-cont/chaves-leitura.htm (9 of 15)25/11/2007 23:56:04
"A <strong>Tecnologia</strong> e <strong>os</strong> <strong>Paradigmas</strong> <strong>na</strong> <strong>Educação</strong>"<br />
Mesmo recentemente, a revista Época (em sua edição <strong>de</strong> 14/6/99) <strong>de</strong>dicou uma reportagem <strong>de</strong> capa sobre a<br />
divulgada melhoria <strong>na</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> redação <strong>de</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> jovens, que foi atribuída ao fato <strong>de</strong> que <strong>os</strong> exames<br />
vestibulares estão cada vez mais exigindo redações e ao fato <strong>de</strong> que <strong>os</strong> jovens precisam ler e escrever bastante<br />
para interagir pela Internet ("Vestibular e Internet Melhoram Text<strong>os</strong> d<strong>os</strong> Jovens").<br />
A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão escrita, alegou-se, entre outras coisas, é <strong>de</strong>corrente da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura que se<br />
faz. É principalmente aqui que entra a Internet que, segunda a revista, estaria sendo uma das fontes a forçar <strong>os</strong><br />
jovens a ler (e a escrever) mais.<br />
Logo, porém, este sonho <strong>de</strong> que a Internet vai obrigar n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> jovens a ler e a escrever mais po<strong>de</strong> começar a ser<br />
<strong>de</strong>sfeito. Já se po<strong>de</strong> interagir com a voz pela Internet, como se o computador f<strong>os</strong>se um telefone, e logo a interação<br />
se fará inteiramente por multimídia, como se o computador f<strong>os</strong>se um vi<strong>de</strong>ofone.<br />
1. O Computador, a <strong>Tecnologia</strong> Digital e Multimídia<br />
A tecnologia digital revolucionou as tecnologias da escrita e da impressão, da fala e do som, e da imagem. Com<br />
ela tornou-se p<strong>os</strong>sível transformar em númer<strong>os</strong> (dígit<strong>os</strong>, don<strong>de</strong> tecnologia digital) palavras escritas e impressas,<br />
palavras faladas, outr<strong>os</strong> sons, gráfic<strong>os</strong>, <strong>de</strong>senh<strong>os</strong>, imagens estáticas e em movimento. Tudo passou a ser número<br />
e passou a po<strong>de</strong>r ser transmitido, <strong>na</strong> velocida<strong>de</strong> da luz, para qualquer canto do mundo. Com o computador, surgiu<br />
multimídia: um megameio <strong>de</strong> comunicação que incorpora, em um mesmo ambiente, tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />
comunicação anteriores.<br />
Em seu sentido mais lato, o termo "multimídia" se refere à apresentação ou recuperação <strong>de</strong> informações que se<br />
faz, com o auxílio do computador, <strong>de</strong> maneira multissensorial, integrada, intuitiva e interativa.<br />
É oportuno mencio<strong>na</strong>r que multimídia, como caracterizada aqui, só teve condições <strong>de</strong> aparecer no momento em<br />
que as tecnologias <strong>de</strong> edição e impressão <strong>de</strong> text<strong>os</strong>, <strong>de</strong> gravação e transmissão <strong>de</strong> sons e vozes, <strong>de</strong> gravação e<br />
transmissão <strong>de</strong> imagens, <strong>de</strong> telecomunicações e <strong>de</strong> processamento <strong>de</strong> dad<strong>os</strong> alcançaram a fase da eletrônica<br />
digital. Essas tecnologias atravessaram uma fase mecânica, e, p<strong>os</strong>teriormente, uma fase elétrica, <strong>na</strong>s quais pouca<br />
coisa tinham em comum. Foi só ao alcançar a fase digital que se aproximaram e estão se integrando. E o<br />
computador, máqui<strong>na</strong> digital por excelência, está no centro <strong>de</strong> todas elas.<br />
É a esse conjunto <strong>de</strong> tecnologias, envolvendo mídias que apelam a mais <strong>de</strong> um sentido <strong>de</strong> uma só vez, operando<br />
<strong>de</strong> maneira integrada, intuitiva e interativa, sob a coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção do computador, que o termo "multimídia" é, hoje,<br />
normalmente, aplicado.<br />
2. Multimídia e Leitura<br />
O que o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>scrito <strong>na</strong> seção anterior n<strong>os</strong> sugere é que o computador evolui <strong>na</strong> direção <strong>de</strong> um<br />
equipamento que vai englobar tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação convencio<strong>na</strong>is. O computador pré-multimídia já<br />
file:///E|/eeij2007/educação/4%20pilares/infoutil.org/4pilares/text-cont/chaves-leitura.htm (10 of 15)25/11/2007 23:56:04
"A <strong>Tecnologia</strong> e <strong>os</strong> <strong>Paradigmas</strong> <strong>na</strong> <strong>Educação</strong>"<br />
havia englobado <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação impress<strong>os</strong>, e, portanto, escrit<strong>os</strong> (aí incluído o correio convencio<strong>na</strong>l). O<br />
computador multimídia está englobando <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação sonor<strong>os</strong> e visuais. Tudo indica que num futuro<br />
próximo o computador se fundirá com o telefone, com o rádio e com o televisor, proporcio<strong>na</strong>ndo-<strong>os</strong> um meio <strong>de</strong><br />
comunicação multimídia interativa e bidirecio<strong>na</strong>l entre as pessoas.<br />
Se hoje, em parte <strong>de</strong>vido à presença da televisão não interativa e unidirecio<strong>na</strong>l, se constata que a motivação para<br />
a leitura, e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura, <strong>de</strong> n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> jovens já diminuíram bastante, o que dizer quando eles pu<strong>de</strong>rem<br />
interagir audiovisualmente com seus pares com <strong>os</strong> quais hoje se comunicam por correio eletrônico e por "batepap<strong>os</strong>"<br />
escrit<strong>os</strong>?<br />
Será realístico esperar que um jovem que que tem acesso, mediante o seu computador, a 500 ca<strong>na</strong>is <strong>de</strong> televisão<br />
digital, em que vári<strong>os</strong> d<strong>os</strong> programas permitem comunicação interativa e bidirecio<strong>na</strong>l, e que po<strong>de</strong> se comunicar<br />
com seus pares através <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o-fone (ou vi<strong>de</strong>o mail) e que tem à sua disp<strong>os</strong>ição literalmente milhares <strong>de</strong> "batepap<strong>os</strong>",<br />
não mais necessariamente escrit<strong>os</strong>, mas sim, envolvendo áudio e ví<strong>de</strong>o -- será realístico esperar que esse<br />
jovem se interesse pela leitura convencio<strong>na</strong>l, do livro impresso, ou mesmo pela leitura não-convencio<strong>na</strong>l, feita <strong>na</strong><br />
tela, e enriquecida por estruturas <strong>de</strong> hipertexto?<br />
3. Explicitu<strong>de</strong> e Imagi<strong>na</strong>ção<br />
No entanto, será uma gran<strong>de</strong> perda se nós não conseguirm<strong>os</strong> fazer com que <strong>os</strong> jovens se interessem pela leitura,<br />
tanto a convencio<strong>na</strong>l, linear, como a que o computador tor<strong>na</strong> p<strong>os</strong>sível, a leitura do hipertexto.<br />
Nós, <strong>os</strong> que crescem<strong>os</strong> em um ambiente em que o livro era a principal forma <strong>de</strong> acesso a mund<strong>os</strong> -- imaginári<strong>os</strong><br />
ou reais -- que extrapolavam <strong>os</strong> limites <strong>de</strong> n<strong>os</strong>so quotidiano presencial, isto é, que n<strong>os</strong> levavam a realida<strong>de</strong>s,<br />
virtuais ou não, que não estavam circundadas pelas cercas <strong>de</strong>marcatórias do n<strong>os</strong>so espaço e do n<strong>os</strong>so tempo --<br />
nós, <strong>os</strong> que crescem<strong>os</strong> nesse ambiente, provavelmente nunca n<strong>os</strong> ren<strong>de</strong>rem<strong>os</strong> totalmente a<strong>os</strong> encant<strong>os</strong><br />
(certamente inegáveis) do audiovisual.<br />
O livro convencio<strong>na</strong>l exercita n<strong>os</strong>sa imagi<strong>na</strong>ção <strong>de</strong> maneiras que a televisão, por mais rica que seja em resolução,<br />
<strong>de</strong>talhes, e cores, nunca o fará. Na realida<strong>de</strong>, quanto mais rica em <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> informacio<strong>na</strong>l for a tecnologia da<br />
televisão (ou do computador multimídia) provavelmente men<strong>os</strong> ela exercitará a n<strong>os</strong>sa imagi<strong>na</strong>ção, porque <strong>os</strong><br />
espaç<strong>os</strong> do imaginário já terão tod<strong>os</strong> sido preenchid<strong>os</strong> pela imagi<strong>na</strong>ção do diretor do programa que é transmitido.<br />
O programa <strong>de</strong> televisão é, e <strong>de</strong>verá permanecer, basicamente um "pacote" fechado.<br />
O livro convencio<strong>na</strong>l, por outro lado, n<strong>os</strong> apresenta, por assim dizer, um enredo cuj<strong>os</strong> <strong>de</strong>talhes audiovisuais têm<br />
que ser preenchid<strong>os</strong> pelo leitor. É o leitor, através <strong>de</strong> sua imagi<strong>na</strong>ção, que dá carne e <strong>os</strong>so à feição d<strong>os</strong><br />
perso<strong>na</strong>gens, que elabora e <strong>de</strong>fine <strong>os</strong> contorn<strong>os</strong> específic<strong>os</strong> das paisagens e d<strong>os</strong> ambientes.<br />
As pessoas criadas em ambiente mais letrado do que audiovisual, quando, tendo lido um livro, vêem,<br />
p<strong>os</strong>teriormente, a sua versão filmada, geralmente concluem que o filme é mais pobre do que aquilo que haviam<br />
imagi<strong>na</strong>do. Por mais criativo que seja o diretor do filme, ele, ao filmar a história <strong>de</strong> um livro, cristaliza uma versão<br />
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"A <strong>Tecnologia</strong> e <strong>os</strong> <strong>Paradigmas</strong> <strong>na</strong> <strong>Educação</strong>"<br />
audiovisual daquilo que cada leitor po<strong>de</strong> construir por si próprio, que sempre <strong>de</strong>ixa a <strong>de</strong>sejar em relação ao que o<br />
leitor criativo do livro po<strong>de</strong> criar.<br />
Por outro lado, quando vem<strong>os</strong> um filme e, p<strong>os</strong>teriormente, lem<strong>os</strong> o livro em que foi baseado, dificilmente<br />
conseguim<strong>os</strong> exercitar n<strong>os</strong>sa imagi<strong>na</strong>ção tão livremente como quando lem<strong>os</strong> o livro antes <strong>de</strong> ver o filme. Para<br />
quem viu a novela Gabriela antes <strong>de</strong> ler o livro <strong>de</strong> Jorge Amado, a figura <strong>de</strong> Gabriela terá sempre, e, talvez<br />
inevitavelmente, o r<strong>os</strong>to, o corpo, o jeito <strong>de</strong> Sônia Braga. O meio audiovisual tem mais <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> informacio<strong>na</strong>l do<br />
que o meio escrito, e, por isso, <strong>de</strong>ixa men<strong>os</strong> espaço para a imagi<strong>na</strong>ção. [7]<br />
4. Hipertexto<br />
A Web, <strong>na</strong> Internet, é, em primeiro lugar, uma aplicação que faz uso <strong>de</strong> hipertexto. “Hipertexto” é um conceito<br />
inventado para <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>r texto que é lido <strong>de</strong> forma não linear. O conceito <strong>de</strong> certo modo existe há muito tempo, sem<br />
que tenha recebido um nome. Uma enciclopédia é, tipicamente, hipertexto: ninguém a lê começando no primeiro<br />
verbete iniciado com a letra “a” e termi<strong>na</strong>ndo com o último verbete da letra “z”. O leitor procura uma enciclopédia<br />
porque está interessado em <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do assunto. A leitura do verbete correspon<strong>de</strong>nte po<strong>de</strong> levar o leitor associar<br />
o que está lendo com o assunto <strong>de</strong> outr<strong>os</strong> verbetes, que ele vai consultar, em função das associações <strong>de</strong> idéias<br />
em sua mente, não da linearida<strong>de</strong> ou da lógica que o autor procurou imprimir ao texto.<br />
Logo se percebeu que a aplicação do conceito <strong>de</strong> hipertexto po<strong>de</strong>ria ser muito mais ampla, e que, em especial, ele<br />
po<strong>de</strong>ria vir a servir como princípio organizador para um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> acesso ao enorme conjunto <strong>de</strong> informações<br />
disponíveis <strong>na</strong> Internet.<br />
Sistemas <strong>de</strong> hipertexto, elaborad<strong>os</strong> em papel ou eletronicamente, fazem uso <strong>de</strong> referências cruzadas. Numa<br />
enciclopédia impressa em papel, um verbete faz referência a outro, a bibliografia faz referência a materiais<br />
extern<strong>os</strong> à enciclopédia, e, se algum artigo <strong>na</strong> enciclopédia é realmente bom, materiais extern<strong>os</strong> (artig<strong>os</strong> e livr<strong>os</strong>)<br />
po<strong>de</strong>m fazer referência a ele. Além disso, a enciclopédia p<strong>os</strong>sui índices a<strong>na</strong>lític<strong>os</strong> (por gran<strong>de</strong>s temas) e<br />
remissiv<strong>os</strong> (on<strong>de</strong> <strong>os</strong> principais conceit<strong>os</strong>, pessoas, ou event<strong>os</strong> são listad<strong>os</strong>, com uma indicação d<strong>os</strong> verbetes, ou<br />
d<strong>os</strong> volumes e pági<strong>na</strong>s, em que são discutid<strong>os</strong>). No caso <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> hipertexto eletrônic<strong>os</strong>, como é o caso da<br />
Web, as referências cruzadas são chamadas <strong>de</strong> “links” (el<strong>os</strong> <strong>de</strong> ligação). Se o leitor estiver usando uma interface<br />
gráfica, basta clicar em cima <strong>de</strong> um link (vam<strong>os</strong> <strong>de</strong>ixar em Inglês, porque o termo já foi incorporado à n<strong>os</strong>sa<br />
linguagem) e o sistema traz a informação ali referenciada.<br />
Um sistema <strong>de</strong> hipertexto só tem <strong>os</strong> links que o autor introduziu - tant<strong>os</strong> quant<strong>os</strong> ele <strong>de</strong>sejou. O leitor po<strong>de</strong> seguir<br />
qualquer link - mas fica, <strong>na</strong>turalmente, limitado a<strong>os</strong> links que o autor colocou no sistema. Por outro lado, índices<br />
a<strong>na</strong>lític<strong>os</strong> e remissiv<strong>os</strong> também funcio<strong>na</strong>m como links, e, neste caso, o leitor tem oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saltar para<br />
qualquer parte do sistema. Também é p<strong>os</strong>sível, através <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> in<strong>de</strong>xação total do texto (que in<strong>de</strong>xam<br />
todas as palavras), saltar para lugares que não foram antecipad<strong>os</strong> pelo autor do texto, fato que tor<strong>na</strong> p<strong>os</strong>sível ao<br />
leitor <strong>de</strong> certo modo criar o seu texto pessoal.<br />
[topo]<br />
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"A <strong>Tecnologia</strong> e <strong>os</strong> <strong>Paradigmas</strong> <strong>na</strong> <strong>Educação</strong>"<br />
IV. Comentári<strong>os</strong> Fi<strong>na</strong>is<br />
Não me parece que p<strong>os</strong>sam<strong>os</strong> chegar, neste momento, a uma conclusão única acerca do impacto do computador<br />
sobre a educação, em geral, e a leitura, em especial.<br />
No entanto, po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> arriscar algumas conclusões provisórias à guisa <strong>de</strong> comentári<strong>os</strong> fi<strong>na</strong>is.<br />
● Se o termo “tecnologia” é <strong>de</strong>finido <strong>de</strong> maneira ampla, como neste texto, o uso da tecnologia <strong>na</strong> educação<br />
não é algo novo: <strong>na</strong> verda<strong>de</strong>, é coexistente com a própria educação; [8]<br />
● Des<strong>de</strong> a invenção da escrita alfabética até o presente, a leitura, que é a contrapartida da escrita, tem sido<br />
parte integrante d<strong>os</strong> process<strong>os</strong> educacio<strong>na</strong>is, sendo hoje quase imp<strong>os</strong>sível concebê-l<strong>os</strong> à margem da<br />
leitura, cujo aprendizado, domínio e constante exercício tem sido pré-requisito fundamental para a<br />
educação;<br />
● O fenome<strong>na</strong>l sucesso das tecnologias audiovisuais, em especial <strong>de</strong>pois da Segunda Guerra, exemplificado<br />
pela onipresença da televisão <strong>na</strong> vida das pessoas hoje, sugere que, pelo men<strong>os</strong> em parte, e<br />
especialmente para as novas gerações, o principal paradigma <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> informação e, por que não,<br />
<strong>de</strong> educação, esteja se tor<strong>na</strong>ndo predomi<strong>na</strong>ntemente audiovisual, e não mais letrado, como o foi n<strong>os</strong><br />
últim<strong>os</strong> 2.500 an<strong>os</strong>, e, em especial, n<strong>os</strong> 500 an<strong>os</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a invenção da imprensa por Gutenberg;<br />
● O aparecimento do computador como meio <strong>de</strong> comunicação, dadas as suas limitações iniciais para<br />
representar informações audiovisuais, e, conseqüentemente, sua ênfase <strong>na</strong> escrita, e dado o fascínio que<br />
sempre exerceu sobre crianças e jovens, levou muit<strong>os</strong> educadores a acreditar que ele po<strong>de</strong>ria ensejar um<br />
re<strong>na</strong>scimento do interesse <strong>na</strong> escrita e <strong>na</strong> leitura, em <strong>de</strong>trimento d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação audiovisuais;<br />
● A rápida transformação do computador em meio <strong>de</strong> comunicação multimídia, entretanto, n<strong>os</strong> leva a encarar<br />
com gran<strong>de</strong>s reservas essa p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong>, visto que as informações disponíveis <strong>na</strong> Internet, o correio<br />
eletrônico, <strong>os</strong> bate-pap<strong>os</strong>, o “Internet-fone”, etc., ten<strong>de</strong>rão a fazer cada vez mais uso da imagem e do som,<br />
em <strong>de</strong>trimento da escrita, e, portanto, da leitura;<br />
● Um d<strong>os</strong> gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safi<strong>os</strong> da educação n<strong>os</strong> dias <strong>de</strong> hoje, portanto, é encontrar formas <strong>de</strong> não permitir que<br />
a transformação do computador em meio <strong>de</strong> comunicação multimídia acabe por <strong>de</strong>cretar um <strong>de</strong>clínio ainda<br />
mais acentuado do paradigma letrado <strong>na</strong> educação, pois isto provavelmente redundaria em um retraimento<br />
da imagi<strong>na</strong>ção, visto que <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> informacio<strong>na</strong>l, como é o caso d<strong>os</strong><br />
mei<strong>os</strong> audiovisuais e da multimídia, caracterizam-se mais pela explicitu<strong>de</strong> do que pela provocação à<br />
imagi<strong>na</strong>ção;<br />
● Nesse contexto, a tecnologia do hipertexto representa uma excelente perspectiva ainda não explorada<br />
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"A <strong>Tecnologia</strong> e <strong>os</strong> <strong>Paradigmas</strong> <strong>na</strong> <strong>Educação</strong>"<br />
educacio<strong>na</strong>lmente;<br />
A p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exploração educacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> temas relacio<strong>na</strong>d<strong>os</strong> à realida<strong>de</strong> virtual representa outra excelente<br />
perspectiva <strong>de</strong> uso educacio<strong>na</strong>l do computador, feita a ressalva <strong>de</strong> que as ferramentas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
espaç<strong>os</strong> virtuais também ten<strong>de</strong>rão a ser mais voltadas para a multimídia do que para a escrita / leitura.<br />
[topo]<br />
NOTAS<br />
[1] Literalmente, não havia teatro antes da escrita - só improvisação. No teatro, portanto, a comunicação se dá em<br />
dois temp<strong>os</strong>: da fala imagi<strong>na</strong>da pelo autor da peça para o texto escrito, e do texto escrito para a fala interpretada<br />
do ator. (Pressupõe-se, aqui, que ler uma peça não é equivalente a assistir a ela representada no teatro). [Retor<strong>na</strong>]<br />
[2] Plato. Phaedrus. Chicago: Bobbs-Merrill Company, Inc.. Tradução do grego por R. Hackforth e tradução <strong>de</strong>sta<br />
passagem do Inglês por Eduardo Chaves. Acerca <strong>de</strong>ssa passagem ver “From Internet to Gutenberg”, magnífica<br />
conferência apresentada por Umberto Eco <strong>na</strong> Aca<strong>de</strong>mia Italia<strong>na</strong> <strong>de</strong> Estud<strong>os</strong> Avançad<strong>os</strong> <strong>na</strong> América, no dia 12 <strong>de</strong><br />
Novembro <strong>de</strong> 1996, disponível <strong>na</strong> Internet no seguinte en<strong>de</strong>reço: www.italynet.com/columbia/internet.htm. [Retor<strong>na</strong>]<br />
[3] É interessante também notar, neste contexto, que o que Sócrates consi<strong>de</strong>ra uma <strong>de</strong>svantagem da escrita - o<br />
fato <strong>de</strong> que ela não respon<strong>de</strong> às n<strong>os</strong>sas perguntas - Mortimer J. Adler e Charles van Doren consi<strong>de</strong>ram uma<br />
vantagem: as perguntas que nós fazem<strong>os</strong> ao texto escrito, som<strong>os</strong> nós mesm<strong>os</strong> que tem<strong>os</strong> que tentar respon<strong>de</strong>r - e<br />
isso é bom, porque n<strong>os</strong> <strong>de</strong>safia, porque n<strong>os</strong> tor<strong>na</strong> ativ<strong>os</strong> <strong>na</strong> leitura. Eis o que dizem, em seu livro How to Read<br />
a Book: “Ouvir uma série <strong>de</strong> preleções é, por exemplo, em muit<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong>, como ler um livro, e ouvir um poema<br />
é como lê-lo. Muitas das regras formuladas neste livro [<strong>de</strong>dicado a como ler um livro] se aplicam à experiência <strong>de</strong><br />
ouvir. Entretanto, há boa razão para se colocar mais ênfase <strong>na</strong> ativida<strong>de</strong> da leitura e colocar men<strong>os</strong> ênfase <strong>na</strong><br />
ativida<strong>de</strong> da audição. A razão é que audição é aprendizado por [“from”] um ensi<strong>na</strong>nte presente enquanto leitura é<br />
aprendizado por [“from”] um ensi<strong>na</strong>nte ausente. Se você faz uma pergunta a um ensi<strong>na</strong>nte presente, ele<br />
provavelmente vai respondê-la. Se você fica perplexo por algo que ele diz, você po<strong>de</strong> se poupar o trabalho <strong>de</strong><br />
refletir perguntando a ele o que ele quis dizer. Se, contudo, você formula uma pergunta a um livro, é você mesmo<br />
que vai ter que respondê-la! Neste aspecto, o livro é mais como a <strong>na</strong>tureza ou o mundo. Quando você o questio<strong>na</strong>,<br />
ele só respon<strong>de</strong> se você se dá ao trabalho <strong>de</strong> pensar e a<strong>na</strong>lisar”. Adler, Mortimer J. e van Doren, Charles. How to<br />
Read a Book. New York: Simon and Schuster, 1940. A citação está <strong>na</strong> p.13. O Aurélio (pelo men<strong>os</strong> <strong>na</strong> edição<br />
consultada) não registra “ensi<strong>na</strong>nte” — nem “apren<strong>de</strong>nte”. Deveria fazê-lo: são term<strong>os</strong> que preenchem <strong>de</strong> forma<br />
significativa uma lacu<strong>na</strong> <strong>na</strong> língua portuguesa. É verda<strong>de</strong>, porém, que Adler e van Doren já estão falando <strong>de</strong> livr<strong>os</strong><br />
impress<strong>os</strong>, mas o que dizem se aplica também a livr<strong>os</strong> manuscrit<strong>os</strong>. Mas, com isso, chegam<strong>os</strong> à seção seguinte.<br />
[Retor<strong>na</strong>]<br />
[4] Oralida<strong>de</strong> e Cultura Escrita - A <strong>Tecnologia</strong> da Palavra. Campi<strong>na</strong>s, Papirus, 1982, 1998. Tradução do<br />
file:///E|/eeij2007/educação/4%20pilares/infoutil.org/4pilares/text-cont/chaves-leitura.htm (14 of 15)25/11/2007 23:56:04
"A <strong>Tecnologia</strong> e <strong>os</strong> <strong>Paradigmas</strong> <strong>na</strong> <strong>Educação</strong>"<br />
origi<strong>na</strong>l Inglês por Enid Abreu Dobránszky. A citação feita está <strong>na</strong> p.95. O livro citado é Lowry, Martin. The World<br />
of Aldus Manutius: Business and Scholarship in Re<strong>na</strong>issance Venice. Ithaca: Cornel University<br />
Press, 1979. [Retor<strong>na</strong>]<br />
[5] A impressão e o livro impresso revolucio<strong>na</strong>ram mais do que a educação. Sem eles não teria havido a Reforma<br />
Protestante, não teria surgido a ciência mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong>, não teriam se fortalecido as línguas vernáculas mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong>s, não<br />
teriam surgido as literaturas mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong>s, como as conhecem<strong>os</strong>, não teria acontecido o Século das Luzes, não teriam<br />
aparecido <strong>os</strong> estad<strong>os</strong> <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is mo<strong>de</strong>rn<strong>os</strong>, e, assim, provavelmente não teríam<strong>os</strong> tido tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> <strong>de</strong>senvolviment<strong>os</strong><br />
<strong>de</strong>sses <strong>de</strong>correntes (como a Revolução America<strong>na</strong>, a Revolução Francesa, etc.). [Retor<strong>na</strong>]<br />
[6] Note-se que quem faz observação como essa pressupõe que a função da pintura é representar a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
forma tão fi<strong>de</strong>dig<strong>na</strong> p<strong>os</strong>sível. Neste caso, a fotografia, representando a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma ainda mais fi<strong>de</strong>dig<strong>na</strong> do<br />
que qualquer pintura, tor<strong>na</strong>ria esta forma <strong>de</strong> arte obsoleta. [Retor<strong>na</strong>]<br />
[7] É verda<strong>de</strong>, porém, que mesmo o meio audiovisual po<strong>de</strong> optar por omitir <strong>de</strong>talhes, <strong>de</strong>ixando espaço à<br />
imagi<strong>na</strong>ção. A diferença básica entre filmes erótic<strong>os</strong> e <strong>de</strong> sexo explícito está no grau <strong>de</strong> explicitu<strong>de</strong> que estes<br />
p<strong>os</strong>suem e que, <strong>na</strong>queles, é preenchido pela n<strong>os</strong>sa imagi<strong>na</strong>ção. Até certo ponto, o meio escrito também po<strong>de</strong> se<br />
valer <strong>de</strong>sses recurs<strong>os</strong>. O que tor<strong>na</strong> Dom Casmurro um livro clássico é, em gran<strong>de</strong> medida, a capacida<strong>de</strong> que ali<br />
<strong>de</strong>monstra Machado <strong>de</strong> Assis <strong>de</strong> sugerir, sem dizer, insinuar, sem explicitar, <strong>de</strong> não sucumbir à tentação <strong>de</strong> dar<br />
resp<strong>os</strong>ta a todas as indagações do leitor. [Retor<strong>na</strong>]<br />
[8] O que tor<strong>na</strong> a tecnologia até aqui usada (fala, escrita, livro impresso) transparente e, portanto, invisível para <strong>os</strong><br />
educadores é o fato <strong>de</strong> que estão totalmente familiarizad<strong>os</strong> com ela. [Retor<strong>na</strong>]<br />
[topo]<br />
* Eduardo O C Chaves (eduardo@chaves.com.br), Professor Titular <strong>de</strong> Fil<strong>os</strong>ofia da <strong>Educação</strong> da Universida<strong>de</strong><br />
Estadual <strong>de</strong> Campi<strong>na</strong>s, on<strong>de</strong> se encontra <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1974, é Consultor do Programa "Sua Escola a 2000 por Hora"<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu início. Maiores informações sobre ele po<strong>de</strong>m ser encontradas em seus sites: chaves.com.br, edutec.<br />
net, pai<strong>de</strong>ia.com.br, aynrand.com.br e liberty.com.br. Este texto foi origi<strong>na</strong>lmente publicado em Mídia,<br />
<strong>Educação</strong> e Leitura, organized by Maria Inês Ghilardi Luce<strong>na</strong>, (Editora Anhembi Morumbi e Associação<br />
Brasileira <strong>de</strong> Leitura, São Paulo e Campi<strong>na</strong>s, 1999), com <strong>os</strong> trabalh<strong>os</strong> apresentad<strong>os</strong> no Encontro sobre Mídia,<br />
<strong>Educação</strong> e Leitura, que se realizou durante 12º Congresso <strong>de</strong> Leitura (COLE), Campi<strong>na</strong>s, SP, 1999.<br />
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