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1.2 Saúde no Ceará: recuperação dos percursos e desafios para as políticas<br />
públicas na atualidade<br />
Relembramos brevemente alguns aspectos do Ceará até os anos de<br />
1980, quando a pobreza, a fome e a desnutrição eram epidemias vividas que<br />
fizeram dobrar muitos sinos no sertão, nas serras e também no litoral, como bem<br />
destaca Freedhein (1993, p. 17): “antes de 1987, um em cada dez bebês morria<br />
antes de atingir um ano de idade e quando isso ocorria os sinos da Igreja<br />
badalavam pela perda de cada vida. A maioria das crianças morriam de doenças<br />
imunopreveníveis”.<br />
Ainda, conforme a autora, antes de 1987, o Ceará tinha a menor<br />
cobertura de imunização (25%) de todos os estados do Nordeste e uma das mais<br />
elevadas taxas de mortalidade infantil (102 em 1.000), sendo a principal causa de<br />
mortalidade infantil a diarreia, seguida de infecções respiratórias e parasitárias e<br />
desnutrição crônica. Segundo a autora, as causas básicas para tal situação<br />
consistiam na precária condição de saúde da população, com a renda insuficiente e<br />
desigual, que produzia a nutrição precária, condições inadequadas de vida com<br />
serviços de saúde insuficientes. A autora destaca que, nesse contexto histórico,<br />
[...] mais de 65% da terra do Ceará pertence a menos de 7% da população<br />
(SPCA, 1985) e aproximadamente 60% da força de trabalho recebe menos<br />
de um salário mínimo, sendo que nas áreas rurais esse percentual sobe<br />
para 80%. Em 1989, cerca de 76% dos hospitais e 85% dos médicos e<br />
enfermeiros concentravam-se na capital, que nesse período detém<br />
somente 20% da população do estado. Em muitos municípios a única<br />
instalação de saúde existente situa-se a 30 km de onde as pessoas moram<br />
e pouca gente dispõe de transporte, sendo o transporte público incerto e<br />
oneroso para muitos. (FREEDHEIN, 1993, p. 13).<br />
Essa situação de enorme pobreza era vinculada às secas utilizadas como<br />
mecanismo de domínio e subjugo da população por parte dos políticos. Assim,<br />
ocorreu a migração das pessoas para as cidades e para outros estados e regiões do<br />
País. Esse panorama caracterizado por ausência de políticas públicas efetivas teve<br />
primórdios de mudança mais consistentes a partir da década de 1980, quando o<br />
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