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caso, o melão? Na verdade, esse ciclo é promovido pela forma como se organiza o<br />
agronegócio onde os interesses mercantis, o lucro, se sobrepõe a quaisquer vidas<br />
que ousem lhes cruzar o caminho. Perguntamos, então: cabe a quem enxergar os<br />
laços ocultos da injustiça, do descaso com vidas humanas no seio das nossas<br />
terras?<br />
No seguimento podemos ler relatos da invisibilidade oficial.<br />
178<br />
[...] no alto da safra dá 300 pessoas sem cadastro. [...] tem época que pode<br />
ter 30 dentro de uma casa, como ter 15, aí vai depender muito da safra. E é<br />
triste, [...] quando ele aceita, você cadastra, e quando você vai amanhã, já<br />
não é mais ele não. É porque [...] a verba da saúde ela depende do tanto de<br />
habitantes que tem, então é um custo a mais e é como se fosse uma casa<br />
só [...]. (Grupo de pesquisa).<br />
E tem muitos projetos que não só trabalha de carteira assinada não, então<br />
tem muitas pessoas [...] foragida. [...] eu fui numa (casa) e tinha dez homens<br />
e eles não aceitavam cadastro e com três dias estouraram uma boca de<br />
fumo na área e a polícia descobriu que tinha quatro foragidos do presídio,<br />
quer dizer, é uma área que eles não aceitam nem mulher [...]. (Grupo de<br />
pesquisa).<br />
[...] e as mulheres (trabalhadoras do sexo) também é esse mesmo<br />
problema, [...] não aceita de jeito nenhum ser cadastrada. (Grupo de<br />
pesquisa).<br />
Ora, se não existem no cadastro das agentes comunitárias de saúde, não<br />
estão contemplados no censo municipal e, também, possuem frágeis relações de<br />
vínculo trabalhista, como dito “não só trabalha de carteira assinada, não”, em que<br />
medida, esses trabalhadores e trabalhadoras estariam contemplados em ações<br />
locais de saúde? O que nos faz inferir que estariam fora da capacidade do sistema<br />
de captar agravos, por exemplo, os acidentes de trabalho, como as intoxicações<br />
agudas e crônicas causadas pela exposição a agrotóxicos, dentre uma infinidade de<br />
patologias ocupacionais.<br />
Unida a isso temos a sazonalidade do trabalho, que está inteiramente<br />
relacionada ao ambiente, se tem chuva ou se tem seca.<br />
É julho a dezembro, depende muito do inverno, se o inverno se estender<br />
mais e que custe mais a plantar o melão, porque tendo o inverno não se<br />
planta melão, nesse ano o inverno se estendeu muito, então começaram a<br />
plantar só a partir de agosto, então, a partir de agosto é que começa a<br />
chegar à população, aí vai se estender mais, e a safra se estende<br />
dependendo também das chuvas, se começa a chover cedo se acaba<br />
rápido, dezembro, novembro se acaba, senão vai em janeiro, isso aí