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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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Je me représente la carte culturelle du monde comme un entrecroisement de<br />

rayonnements à partir de centres, de foyers, qui ne sont pas définis par la<br />

souveraineté de l’État-nation mais par leur créativité et par leur capacité<br />

d’influencer et de générer dans les autres foyers des réponses. (Ricoeur, 2004)<br />

O para<strong>do</strong>xo é que Ricoeur impede qualquer utilização positiva da «fronteira» e, ao<br />

mesmo tempo, descreve, com recurso ao mapa como metáfora, uma rede de lugares, eles<br />

próprios necessariamente demarca<strong>do</strong>s (não há centro nem foco sem delimitação),<br />

interconecta<strong>do</strong>s por relações dinâmicas, que se aproximam em grande parte <strong>do</strong> que<br />

acontece na «fronteira», ou, pelo menos, <strong>do</strong> que acontece na «fronteira» como alguns<br />

teóricos pós-coloniais a concebem.<br />

Ainda para Ricoeur, a principal consequência <strong>do</strong> afastamento da fronteira enquanto<br />

limite entre culturas é o enfraquecimento de uma identidade coletiva, fixa, imutável, em<br />

prol de uma «identidade narrativa» onde o que impera não é o idêntico mas o diverso, o<br />

móvel e o volúvel, uma identidade que ao mesmo tempo, enquanto narrativa, se vira para o<br />

passa<strong>do</strong> sem deixar contu<strong>do</strong> de se preocupar com a «promessa», ou seja, com um certo<br />

senso <strong>do</strong> devir.<br />

É aqui que intervém a tradução como mediação entre a pluralidade da cultura e a<br />

unidade da humanidade. E de facto entre os centros e focos em questão, nos cruzamentos<br />

e pontos de encontros, ou seja, na «fronteira» pós-<strong>colonial</strong>, é inevitável precisar de<br />

«tradução» (assim como de tradução) e de «tradutores». No entanto, ao encarar a fronteira<br />

no seu senti<strong>do</strong> literal (limites de soberania, fronteiras militares, limites da competência<br />

jurídica), Ricoeur simultaneamente confirma a conceção de um lugar homogéneo, de um<br />

lugar onde se exercita o poder <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, de um lugar sem potencial heurístico, e nega a<br />

fronteira como lugar mais heterogéneo, onde o poder <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> é contesta<strong>do</strong> por parte<br />

<strong>do</strong>s sujeitos locais, um lugar estimulante <strong>do</strong> ponto de vista teórico.<br />

À semelhança <strong>do</strong> que acontece com a «tradução», parece-me indispensável voltar<br />

brevemente à fronteira que tem fundamenta<strong>do</strong> o uso metafórico da palavra. Naturalmente,<br />

não se trata aqui de examinar em pormenor a complexidade <strong>do</strong> fenómeno fronteiriço, mas<br />

de evidenciar algumas das suas características, de esclarecer o caminho que levou <strong>do</strong> uso<br />

literal ao uso metafórico e de ver em que medida o conceito em questão pode ser útil na<br />

configuração de uma perspetiva pós-<strong>colonial</strong> sobre um estu<strong>do</strong> literário.<br />

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